quarta-feira, 4 de maio de 2011

Governo faz pressão para mudar texto do Código

Planalto articula para que Rebelo recue da dispensa de recuperar mata nativa

04 de maio de 2011


BRASÍLIA

Após pedidos da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, de alguns ministros e da bancada do PT, o Planalto pressionou o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator da reforma do novo Código Florestal, a tirar da proposta do texto a ideia de dispensar a recuperação da mata nativa nas parcelas de todas propriedades rurais até 4 módulos fiscais - entre 20 e 400 hectares, dependendo do município.

Pela proposta de Rebelo, essas propriedades não precisariam recompor a vegetação nativa da reserva legal desmatada ilegalmente até julho de 2008.

Essa concessão, que havia sido feita pelo relator para garantir votos da bancada ruralista, tinha o apoio do governo apenas para os produtores da agricultura familiar, que representam cerca de 8% dos imóveis rurais do País.

Restavam ontem ainda outros pontos de discordância entre Rebelo e o governo, como a liberação genérica do cultivo de alimentos em áreas protegidas, classificado como "objeto de interesse social".

Ontem à noite, Rebelo foi chamado ao Planalto para uma nova rodada de negociações com o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). O governo esperava dele novos ajustes na proposta apresentada na véspera, antes da votação prevista para ocorrer hoje.

Encerrada a reunião, o governo ainda apostava em um acordo. "Estamos perto de chegar a um acordo. O governo foi proativo. Teve iniciativa de apresentar propostas e cedeu em vários pontos para facilitar as negociações", resumiu Vaccarezza.

Rebelo, então, sinalizou que faria novos ajustes em sua proposta até hoje. "Houve uma prova do vestido de noiva e mostrou-se que precisava de um novo ajuste para chegarmos a uma peça para votação."

Mobilização. A movimentação no Planalto do Planalto começou cedo. O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, reuniu-se com a ex-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, e representantes de ONGs. Em seguida, o governo passou a manobrar politicamente para avançar num acordo e evitar um embate em plenário.

A bancada ruralista, reunida pela manhã em uma casa do Lago Sul, se articulou com o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), e pressionou para que os parlamentares aprovassem ontem à noite ao menos um requerimento de urgência, para evitar um novo adiamento na votação. Ruralistas e ambientalistas prometem lotar as galerias da Câmara, hoje.

Apesar de a base aliada do Planalto também incluir a Frente Parlamentar da Agropecuária, só os petistas defendiam ontem que não fosse aprovada a flexibilização na recuperação da mata nativa em todas as propriedades. Mas o governo quer evitar que a presidente Dilma Rousseff recorra a veto de parte da reforma do Código Florestal.

A ex-ministra Marina Silva disse que o governo tinha como barrar a votação. "Não é questão de chegar a 95% de consenso. Os 5% que faltam são de fundamental importância", declarou.

O presidente da Câmara confirmou os planos de pôr a reforma hoje em votação. "Estou peitando o governo porque a proposta apresentada é boa. É óbvio que também prometi que colocaria o projeto em pauta", afirmou Marco Maia.

Em fevereiro, para se eleger presidente da Câmara, ele comprometeu-se com os ruralistas a votar logo o Código.

O novo texto de Rebelo expôs as divergências também no governo. "Quero um texto de convergência. Essa proposta do Aldo está distante da proposta do governo", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "A proposta do Aldo é boa", afirmou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, antes de participar da mesma reunião.



Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110504/not_imp714562,0.php

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