quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Denunciado pela oposição, Mantega acha que é alvo de 'fogo amigo'

O ministro mais antigo e poderoso começou o ano enredado por uma trama de US$ 25 milhões em supostas propinas que já lhe custou um pedido, por parte de adversários do governo, de investigação pela Procuradoria Geral da República e uma onda de boatos sobre sua saída do cargo.

Mas Guido Mantega, da Fazenda, não só encara as especulações com bom humor e obra de "fogo amigo", como gosta de ser ministro como talvez nenhum outro, o que afasta a hipótese de pedir demissão. E goza de prestígio junto à presidenta Dilma Rousseff, o que reduz as chances de bilhete azul.

A solicitação à Procuradoria para que investigue suposta improbidade administrativa de Mantega foi apresentada por parlamentares inimigos do governo nesta quarta-feira (14). Eles querem saber se o ministro prevaricou, ao manter no comando da Casa da Moeda dirigente suspeito de praticar irregularidades.

Demitido no fim de janeiro, Luiz Felipe Denucci foi acusado, em reportagens da imprensa, de ter recebido US$ 25 milhões no exterior de empresas que fariam negócios com a Casa da Moeda. A informação teria chegado a jornalistas por ação de políticos ligados ao PTB, cujo líder na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), Mantega diz ser o patrono da indicação de Denucci.

Antes de se tornarem públicas, as denúncias chegaram ao ministro, como ele próprio reconhece. Mas o afastamento de Denucci não foi imediato, o que, para a oposição, caracterizaria improbidade, daí a denúncia levada à Procuradoria Geral.

Na segunda-feira (13), a Comissão de Ética da Presidência decidiu abrir um processo contra Denucci, pois entende que ele deveria ter atualizado as informações sobre suas finanças pessoais perante o governo.

A ida da oposição à Procuradoria, o movimento da Comissão de Ética e tentativas de parlamentares de forçar a presença de Mantega no Congresso para prestar esclarecimentos estão criando um clima negativo em torno do ministro. E deram origem a boatos, em Brasília, de que ele já até teria pedido demissão, algo que Mantega negou nesta terça-feira (14), depois de participar de reunião de Dilma com partidos aliados.

“Eu vou continuar remando, sim, como tenho remado há seis anos”, afirmou Mantega, ao ser questionado depois da reunião se iria sair ou continuar no governo. Para ele, o que se fala sobre seu afastamento “são piadas de mau gosto”.

A presença de Mantega na entrevista foi uma determinação da própria presidenta, o que sinaliza como ela encara a situação do auxiliar. O ministro não queria contato com a imprensa, para não ter de responder perguntas sobre sua permanência, e tinha deixado o Palácio do Planalto assim que a reunião acabara. Estava a caminho da Fazenda, quando Dilma mandou que ele voltasse e falasse com a imprensa sobre a reunião do chamado Conselho Político, na qual o governo pediu apoio à sua política econômica.

Dias atrás, quando as especulações sobre a demissão de Mantega começaram, Dilma divulgara uma nota em defesa do auxiliar. “As pessoas que espalham esses rumores prestam um desserviço ao país. Não se sabe a quais interesses inconfessáveis elas servem.

"No ano passado, quando reportagens diziam que Mantega deixaria o governo – aparentemente com informações disparadas do círculo próximo ao então ministro Antonio Palocci -, Dilma orientou assessores a procurarem a imprensa para dizer, em nome dela, que o ministro da Fazenda ficaria.

A exemplo do que ocorreu em 2011, Mantega acha, segundo a reportagem apurou, que mais uma vez as “piadas de mau gosto” partem de gente de dentro do governo que gostaria de tirá-lo do cargo.

Uma certa rigidez de postura do ministro tem contribuído de fato para um certo mal-estar, como por exemplo a instransigência dele quanto ao tamanho do pagamento de juros da dívida pública ao “mercado”.

No ano passado, diante de uma arrecadação de impostos que se mostrou acima do previsto, Mantega convenceu Dilma a guardar R$ 10 bilhões para aumentar o pagamento de juros. Setores do governo e parlamentares aliados tinham esperança de que a bolada pudesse ser usada para repor no orçamento parte dos gastos cortados no início de 2011 e para que fossem pagas obras propostas por congressistas (emendas).

Neste ano, Mantega começa com a mesma postura. Investimentos e pagamento de juros são prioridade, gastos com emendas não.

O ministro também tem sido duro no acolhimento de pedidos de nomeação em cargos no Banco do Brasil formulados pelo presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS).

Por enquanto, porém, o ministro segue no cargo, pelo qual, segundo a reportagem apurou, ele tem um gosto que não encontra paralelo entre outros colegas. Hoje, com seis anos de Fazenda, Mantega é o terceiro ministro há mais tempo no cargo. Perde para Delfim Netto (sete anos) e Pedro Malan (oito anos). Se for até o fim com Dilma Rousseff, vai figurar na galeria de ministros da Fazenda como o mais longevo da história do Brasil República.


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