Embora chocante, pela explicitude, a declaração do “príncipe” não deixa de guardar coerência com o que, há muito tempo, pensa o ex-presidente.
Em seu discurso de despedida do Senado, ao preparar-se para assumir seu primeiro mandato, ele foi bem claro sobre o que pensava sobre os rumos do Brasil.
(…)um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas — ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista.
Ele é, embora sob um verniz intelectual pedante, um dos “adoradores do mercado” a quem o presidente Lula ao lançar as regras nacionalistas de exploração do pré-sal, chamando-os de “exterminadores do futuro” do país.
A visão de Fernando Henrique é pouco distante da idéia do Brasil como colônia, um país aberto, em suas riquezas naturais e humanas, a uma ordem econômica na qual as relações econômicas internacionais não passem pelas comportas de um Estado soberano, que reduza a drenagem realizada pelo capital internacional, pelas economias centrais.
Nessa visão, o povo trabalhador – e seus direitos – não é o senhor e destinatário dos frutos da riqueza do país e do trabalho que executa, mas é parte do maldito “custo Brasil”.
O povo, numa palavra, é um problema.
Porque, para Fernando Henrique, a conquista e a cooptação das classes médias – e sua capacidade de formar “o pensamento do homem comum” que cabe à mídia impor como convicção inquestionável.
Daí ele preocupar-se em, também no mundo digital, estabelecer a hegemonia conservadora que controla a mídia convencional. Atucanar a internet, para que ela não se contraponha ao pensamento único que o controle da comunicação pelo poder econômico, eis o conselho de Fernando Henrique, em resumo.
No mais, é a culpa do traidor que se expressa em tudo o que ele diz. Lula, pra ele, é o fantasma de Vargas que o assombra e apavora. Tanto que repete a mesma cantilena de que, como atribui a Getúlio- também Lula “cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes”.
O artigo de FHC, para quem teve paciência e estômago para lê-lo, parece mesmo uma catarse psicanalítica. Até mesmo o fato de terem os tucanos se tornado a UDN do século 21 está fantasticamente explicitado quando ele diz que seria um “erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população”.
Ora, repudiar a corrupção é o óbvio e o natural, transformar este repúdio no centro dos problemas nacionais, é sim o falso moralismo que encobre a imoralidade maior que é roubar do Brasil e do povo brasileiro seus direitos, suas riquezas e seu destino.
E é exatamente isso que o vendedor da Vale sugere, ao propor que “é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários”.
Fernando Henrique Cardoso tornou-se o Lacerda de beca e capelo.
Fonte: http://www.tijolaco.com/
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