sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Lula: Duvido que exista um país com mais liberdade de comunicação do que este

O presidente Lula lançou um desafio em entrevista ao portal Terra, publicada nesta quinta-feira (23): “eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que este País, da parte do governo.”

Segundo Lula, grupos familiares “dominam toda a comunicação do país, a verdade é essa”, e ocorreram muitos descontentamentos da mídia pelo fato de o governo ter dividido a verba publicitária “para o Brasil inteiro”.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Críticas

Olha, primeiro, na nossa passagem pela Terra – não pelo “Terra”, pela Terra –, a gente ouve coisas absurdas que a gente gosta e que a gente não gosta. Veja, qualquer pessoa neste país tem o direito de me acusar de qualquer coisa, é livre. Aliás, foi o PT que, no congresso de São Bernardo do Campo, decidiu que era proibido proibir. Isso é um slogan do PT, no congresso de 1991. O que acontece concretamente é o seguinte: muitas vezes, uma crítica que você recebe é tida como democrática; uma crítica que você faz é tida como antidemocrática, como se determinados setores da imprensa fossem acima de Deus, e que ninguém pudesse ser criticado, ou seja, escreveu, está dito, acabou e é sagrado, como se fosse a Bíblia Sagrada. Não é verdade, não é verdade. A posição de um presidente é tomada como ser humano, um jornalista escreve como ser humano, o juiz julga como ser humano, ou seja, todos nós temos um padrão de comportamento e de julgamento.

TV pública

Agora estão dizendo: “Porque a TV Pública é a TV do Lula”. Nunca disseram que a TV Pública de São Paulo é do governador de São Paulo, que as outras são dos outros governadores. Agora, uma TV, para um presidente que está terminando o mandato daqui a três meses, é TV Lula. Esse carregamento de composto de muita, de muita… eu diria, de muito preconceito, ou de muita… eu diria, até, às vezes, ódio, demonstra o quê? O pessoal… O velho Frias me dizia: “Lula, o pessoal do andar de cima não vai permitir você subir lá”. Quem me dizia isso era o velho Frias, repetidas vezes: “Lula, cuidado, que o pessoal do andar de cima não vai permitir você chegar naquele andar”. Então, o pessoal se comporta como se o pessoal da senzala estivesse chegando à “casa grande”, e ficam transmitindo uma coisa absurda. Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação, nesse momento do Brasil! Eu duvido, duvido…

Não corremos o risco do México

Olhe, eu acho que, sinceramente, as pessoas deveriam olhar para o Brasil e olhar para outros países, e todo mundo deveria agradecer a Deus o Brasil ser do jeito que ele é, o Brasil ter o governo que ele tem e ter o povo que tem. Eu lembro que o João Roberto Marinho, o João Roberto Marinho, quando voltou da eleição do México passada, em uma conversa que ele teve comigo, ele disse: “Ô Presidente, eu estava no México, e foi de lá que eu aprendi a valorizar a democracia no Brasil. Porque, aqui tem o resultado eleitoral, todo mundo acata o resultado. Lá no México, eu vi um milhão de pessoas na rua contra o resultado eleitoral”. Aqui no Brasil, nós não corremos esse risco, porque este país tem um outro jeito de exercitar a democracia, e a democracia, ela só será exercitada… Vocês estão lembrados quando eu dizia… quando eu era dirigente sindical ainda: democracia não é o povo ter o direito de gritar que está com fome. Democracia é o povo ter o direito de comer. E nós estamos chegando lá, nós estamos chegando lá. Então, as pessoas que talvez tenham problemas de… ideológicos, problemas de preconceito, que não admitem…

A capitalização da Petrobras na Bovespa

Depois de amanhã eu vou à Bovespa. A Bovespa, que tinha ódio de mim. E quando tinha medo de mim, ela tinha apenas 11 mil pontos. Hoje, ela já chegou a 72, já chegou a 68, ou seja, está acima dos 60 mil pontos, e vai exatamente um presidente da República, que tanta gente tinha medo, fazer a maior capitalização da história da Humanidade. Aí eu vou dizer: nunca antes na história do planeta Terra houve uma capitalização da magnitude que vai acontecer na sexta-feira, com a minha presença.

Tirar os sapatos nos EUA

Eu, quando eu tomei posse, eu disse para os meus ministros: se alguém tirar o sapato – se eu souber, também, não vou saber porque não estou com eles –, mas se alguém chegar lá para tirar o sapato, é melhor vir embora, porque eu mando embora. Então, a única coisa que eu acho que vai acontecer lá é o seguinte: o Brasil vai sair mais honrado desse processo, o Brasil vai sair mais forte, e não vai ser o Lula que vai ganhar, o Lula está fora disso em dezembro, meu filho.

Resposta a FHC

Eles não sabem o que é popular porque eles nunca estiveram perto do povo. Essa gente, essa gente que não gosta de mim, eles, na época das eleições, até sorriem para os pobres, até fazem promessa para os pobres. Mas, depois das eleições, um pobre não passa perto deles um quilômetro. Então, isso é uma confusão maluca entre o populismo e o popular. O que é o populismo? É um cara que não tem nada a ver com ninguém e que aparece fazendo promessas, aparece fazendo política demagógica. Não é o nosso caso. Todas as políticas minhas são decididas, Bob… Já foram 72 conferências nacionais – setenta e duas –, conferências que começam lá no município, vão para o estado e vêm para cá. Em algumas conferências participaram 300 mil pessoas até chegar à conferência nacional, e aí nós decidimos as políticas públicas. Então, eles… Realmente, eu acho que tem muita gente incomodada, e eu não tenho culpa, eu não tenho culpa. Tem muita gente… Tiradentes incomodou muita gente no Brasil. A Coroa Portuguesa, durante muito tempo, ficou incomodada com todos aqueles que diziam que era preciso mudar. Ficaram incomodados até com Dom Pedro quando ele quis mudar. Por que não ficar comigo?

Reforma política não é coisa do presidente

Olha, porque a reforma política não é uma coisa do Presidente da República. A reforma política é uma coisa dos partidos políticos. Veja… e do jeito que os partidos se comportam, parece que a gente tem um monte de partidos e todos criticando a legislação que regulamenta a política no Brasil, todo mundo quer uma reforma política, mas ninguém mexe, e do jeito que mexe agradaa muita gente. Então, veja, eu mandei duas propostas de reforma, de coisas que precisariam mudar para poder melhorar a política brasileira.

Os partidos políticos pós-eleições

Agora, eu acho que… eu não concordo com o Lembo que não tem partido político. O PT é um grande partido político. Nas pesquisas de opinião pública, o PT aparece com 30% de preferência em qualquer pesquisa que se faça, demonstração de que esse é um partido como poucas vezes no mundo você teve um partido assim. Você teve o PRI itali… o Partido Comunista mexicano, que era extremamente forte, e aí sim era populismo; você tinha o Partido Comunista italiano, que tinha 30% dos votos, e era um baita de um partido na Itália, embora nunca tenha chegado ao poder; você tinha a social-democracia, que revezava o poder em uma parte da Europa; você tinha os socialistas franceses, que revezavam; e você tem, no Brasil, o PT, que é um partido organizado nacionalmente, e muito forte.

O candidato Tiririca

Eu acho, eu acho… Não, não sei se é voto de protesto. Ele pode surpreender. Eu acho legal o Romário estar entrando na política, acho legal o Bebeto estar entrando na política, o Marcelinho, porque, veja, antigamente a política o que era, gente? Antigamente a política era advogado, professor, funcionário público e empresário. Ora, se você tem jogador de futebol, se você tem movimento indígena, se você tem… todo mundo tem que se apresentar, e o Congresso estará melhor representado. Se as pessoas trabalharem corretamente, serão valorizadas. Se as pessoas não trabalharem corretamente, no próximo mandato cairão fora, como já provou a história da Humanidade aqui neste país. Então, eu estou tranquilo com relação à necessidade da reforma política. A cada dia uma pessoa sonha e cria um partido político. É democrático também. Agora, na época de disputar eleição, aí você precisa normatizar quem é que participa no que, porque, quando nós fomos criados em [19]80, nós tínhamos que legalizar o partido em 15 estados e, dentro de cada estado, em 20% dos municípios; era um trabalho imenso, e ter 3% de voto…

As mudanças na comunicação brasileira

Deixa eu contar uma coisa para vocês. Eu acho que as pessoas não estão compreendendo ainda o que aconteceu na comunicação neste país. Eu digo pelos meus filhos, ou seja, lá em casa, lá em casa ninguém compra mais jornal. Lá em casa a molecada toda lê o que tiver que ler pela internet, em tempo real. Você não tem que esperar… ah,, vamos ver o que vai acontecer amanhã ou depois de amanhã. Você entrou ali, pegou. Então, as pessoas, são 68 milhões de brasileiros que acessam a internet, ou seja, um quarto das residências brasileiras que já têm computador. A tendência natural é isso ir crescendo de uma forma tão rápida… Com a questão da Banda Larga. Porque você sabe que no Brasil é assim, né? De vez em quando todo mundo fala que vai resolver o problema mas todo mundo só quer cuidar daquele que tem rentabilidade. Então, vamos fazer as coisas em São Paulo, vamos fazer as coisas no Rio de Janeiro, vamos fazer as coisas nas capitais, nas cidades grandes. Mas aí quando vai…

Cidadania nas comunidades das UPAs

Mas vamos levar cidadania. Eu quero que vocês vejam o que está acontecendo com a implantação das UPAs nas favelas, com a geração de emprego, com a geração de oportunidade, e essas coisas a gente só vê se a gente for. Se a gente quiser fazer jornalismo sentado em um gabinete e não sair para ver o que está acontecendo pelo Brasil, nós podemos cometer o erro das pessoas que foram exiladas, voltaram e não se deram conta de que o Brasil tinha mudado. Ficaram achando que o Brasil era o Brasil de 64. Então é preciso arejar a cabeça para ver o que está acontecendo no Brasil: o povo está feliz, o povo está
percebendo que tem futuro, e eu não sei se isso incomoda algumas pessoas… tem gente que não gostaria que tivesse sido assim, não é? Tem gente que acha que: “Bom, mas tem muita gente bem. Esse governo vai terminar o seu mandato com mais de 80% de bom e ótimo. Onde que existe isso?”. Porque as pessoas estão vendo que as coisas estão acontecendo. Eu acho normal e não fico com raiva quando um cidadão de classe média, em um bar, seja no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Belo Horizonte, tomando o seu uísque com os amigos, critique o Bolsa Família de assistencialista. Eu acho normal. Ele dá de gorjeta o Bolsa Família.

Investimentos em educação

Às vezes, no fundo, no fundo, é falta de conhecimento do problema, é falta de focar o problema, priorizar aquele problema e determinação. Se eu fosse ficar discutindo se a gente tinha dinheiro ou não, para sair de 20 bilhões na Educação para 70 bilhões, eu não saía. Se eu fosse sair, da Educação… se eu fosse discutir se eu tinha dinheiro para sair de 2 bilhões para 16 bilhões, do Pronaf, eu não saía. Ou seja, porque… É sempre, o papel do tesoureiro é sempre dizer: “Não tem dinheiro, não tem dinheiro, não tem dinheiro”. E o papel do administrador é dizer: “Nós precisamos fazer isso, nós precisamos fazer isso, nós precisamos fazer isso”. Quando você chega a um ponto de acordo, aí a coisa flui. Por isso é que o Brasil está vivendo este momento extraordinário de reconhecimento de toda a imprensa internacional, de reconhecimento de todos os empresários brasileiros e, sobretudo, dessa combinação fantástica entre aquilo que vê a classe mais rica do país e aquilo que vê a classe mais pobre. Todos estão ganhando e todos estão se aproximando. Quando o pobre deixa de ser menos pobre, quem é que ganha? A classe média e a classe empresarial. Quando os pobres ficam mais pobres, quem perde? O Brasil inteiro.

Clique aqui para ler a íntegra da entrevista.

Blog do Planalto


Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/nacional-2/lula:-duvido-que-exista-um-pais-com-mais-liberdade-de-comunicacao-do-que-este-21871.html

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