De um lado, há uma visão demasiado subjetivista, que entende a juventude com uma espécie de estado de espirito ou atitude diante do mundo. Materializada no culto ao corpo e em padrões de consumo, a juventude é alçada, assim, à condição de ideal para todas as idades. No extremo oposto, bastante arbitrário, as percepções e experiências específicas deste segmento da sociedade acabam ocultadas pela delimitação estanque de faixas de idade. Neste caso, ser jovem equivale a ter de 16 a 29 anos, por exemplo.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Juventude e socialismo: questões fundamentais
De um lado, há uma visão demasiado subjetivista, que entende a juventude com uma espécie de estado de espirito ou atitude diante do mundo. Materializada no culto ao corpo e em padrões de consumo, a juventude é alçada, assim, à condição de ideal para todas as idades. No extremo oposto, bastante arbitrário, as percepções e experiências específicas deste segmento da sociedade acabam ocultadas pela delimitação estanque de faixas de idade. Neste caso, ser jovem equivale a ter de 16 a 29 anos, por exemplo.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Nova Carreira Docente das Ifes é uma afronta ao bom-senso, à pesquisa e à inteligência
No começo do Governo Lula, os salários dos professores das Universidades Federais estavam muito defasados. Depois de 8 anos de acocho e abandono das Ifes, no Governo Fernando Henrique, esperava-se que as coisas melhorassem com Lula.
Durante o Governo atual, a recuperação da universidade brasileira foi visível. Muitos concursos foram feitos, inclusive para cobrir as milhares de aposentadorias dos anos anteriores, e chegou-se finalmente a uma fórmula para contratação, que seria baseada na produtividade da Universidade, que é o chamado professor-equivalente. Mesmo que os critérios só levem em consideração a formação de alunos, foi um grande avanço ao jogo de contratações que sempre tivemos, onde o Ministro definia a quantidade de docentes a ser contratada, fazendo com que a amizade valesse mais do que o mérito. A expansão das universidades foi excepcional, especialmente fora das grandes capitais.
Mas um dos principais problemas simplesmente não foi enfrentado, que é a baixa produtividade de muitas Universidades, e o salário muito defasado em relação a qualquer outra categoria do serviço público federal. Para se ter uma idéia do que estou falando, e muitos acharem que os professores ganham muito, o salário de um professor Dedicação Exclusiva, Adjunto 4, com doutorado, hoje é de R$ 7.100,00 bruto (incluído gratificações). Veja que não estou falando em começo de carreira, e sim em alguém que já está quase no topo dela, com muito tempo de casa, e no máximo da qualificação. Os outros concursos federais, em sua grande maioria, paga muito mais do que isso para um graduado.
No caso da carreira docente, tivemos o enfraquecimento da discussão com a divisão sindical entre Andes e Proifes. Para quem não sabe, o Sindicato Nacional é o Andes, mas que não conseguia legitimidade junto à categoria. Com isso se formou o Proifes, cuja idéia era a de discutir essa nova realidade com o Governo. Mas o que se viu foi um grupo de sindicalistas abduzidos e submissos ao Governo, que foram enrolados e prejudicaram todo o processo de discussão salarial.
Os professores receberam um aumento muito pequeno, que mal cobriu a inflação do período de 8 anos do Governo Lula, com uma promessa de envio de um novo plano de carreiras para os docentes. Esta longa explanação inicial foi apenas para situar o leitor.
Eis que o Governo divulgou seu Projeto de Lei para a carreira docente. O texto é uma aberração ao bom senso de qualquer negociação. (veja no slide acima.
Primeiro que parte do princípio que todo professor trabalha muito pouco. Diz que a partir de agora, para conseguir progredir na carreira será preciso trabalhar o dobro (ou mais do que isso), e que fazer parte da pós-graduação não vale quase nada.
Segundo, que não há quase aumento salarial. Pede-se para trabalhar muito mais, para ganhar praticamente a mesma coisa. Aquele professor Adjunto 4 que falei antes, que ganha hoje R$ 7.100,00, passa a ganhar R$ 7.900,00.
Você pode pensar, ele está ganhando 10% a mais, não é bom?
Vamos entender como funciona hoje o regime de trabalho na Universidade.
Na prática temos dois grupos de professores. O de 20 horas e o de 40 horas (a DE aí incluída). Para o segundo grupo, exige-se que o docente ministre 4 turmas (graduação/mestrado/doutorado) ou que este tenha pesquisa aprovada, e aí reduz sua carga horária para 2 turmas no semestre. Em alguns departamentos a carga é bem maior, e em outros é verdade que é menor, e o docente sem pesquisa fica com apenas 3 turmas, mas aí a discussão é a falta de controle.
No meu caso, eu sou Coordenador de Curso (pela legislação teria carga horária de sala de aula de uma turma), tenho pesquisa aprovada, e estou com 3 turmas, sendo duas na graduação e uma na pós.
Pelo novo Projeto de Lei, para o professor conseguir progredir, ele terá que dar no mínimo 3 turmas na graduação. Como ele precisa estar na pós, pois também não progride, e a pós exige uma turma no mínimo por ano, além da pesquisa aprovada, na prática os professores darão quase o dobro de aulas se quiserem progredir na carreira.
Em outras palavras, estão querendo que os professores trabalhem o dobro para ganharem quase a mesma coisa. Não estão partindo apenas do pressuposto de que trabalham pouco, mas também do que são desprovidos de inteligência.
A parte boa é que criou mais uma categoria de progressão, a de professor sênior, mas não reconhece os casos onde professores já se dedicaram, e ficaram por muito tempo parados por falta de opção de progressão. Ao invés de manter a distância para o topo da carreira dos atuais, quer aumentar ainda mais, fazendo com que professores que sejam adjunto há tempos fique na mesma situação de quem entrou quase agora.
Aqueles que me conhecem sabem que sou um defensor da docência e da sala de aula. É algo que me dá grande realização pessoal, e gosto muito mais da graduação do que da pós-graduação, mas este projeto é um escárnio. É algo que não dá nem para começar a discutir.
Ataca frontalmente a pesquisa no início da carreira, e imputa à universidade brasileira a idéia de que deve virar um escolão de terceiro grau.
O pior é ver que os professores estão totalmente desmobilizados da discussão sobre a carreira, e não há muito gás das associações para mudar esta situação. Por sua vez, a Andifes se faz de morta e batem continência para o Governo em qualquer situação.
Com este cenário, onde reitores e dirigentes sindicais batem palmas para o Governo em qualquer circunstância, a submissão é o carro-chefe de qualquer discussão, e inevitavelmente o professor será prejudicado.
Fonte: http://acertodecontas.blog.br/educacao/nova-carreira-docente-das-ifes-uma-afronta-ao-bom-senso-e-pesquisa/
O que é que a PM bahiana (não) tem?
Por Luiz Eduardo Soares*
Mais uma vez, o Brasil discute segurança pública na crise. A Bahia está convulsionada e a consciência nacional contempla o enigma sob fogo cruzado. PM em greve, selvageria nas ruas, saques, medo, mortes. Cenário para músculos e paixões, pouco afeto à inteligência. Na crise, quem manda é a crise, com sua dinâmica inconstante e imprevisível. A questão corrente é: o que fazer, agora? Quando o doente está na UTI, a urgência exige mobilização de todos os recursos disponíveis para salvá-lo. Não é momento para seminários e filosofia. Entretanto, será preciso atravessar o dia seguinte com os olhos postos no futuro e a pergunta decisiva: o que fazer para evitar crises cíclicas desse porte? O que as motiva? Como reverter suas causas? Já houve dezenas como esta, nos últimos vinte anos.
O governo estadual denuncia o vandalismo da insurreição armada e tenta reafirmar sua autoridade. A União presta a assistência possível na emergência, deslocando tropas e o ministro da Justiça. A categoria rebelada denuncia salários indignos e condições de trabalho aviltantes. Critica a omissão dos poderes públicos. Aponta a falta de perspectivas, na medida em que o Congresso se esquiva e não vota a PEC-300, que criaria um piso salarial nacional, com base no que paga o DF. Parlamentares e governos estaduais contra-argumentam, indicando as limitações orçamentárias: a magnitude da reivindicação corporativa expressa na PEC é tal que, aprovada e aplicada, quebraria os Estados.
O que dizer sobre esse vozerio desencontrado, cheio de som e fúria? Todos têm razão; ninguém tem razão. Explosões violentas são inaceitáveis; condições trabalhistas ultrajantes, também. Alternativas são indispensáveis, mas têm de ser realistas e viáveis. Quem as negociará, em nome da massa policial? Quem gritar mais alto na praça pública? Quem comandar nas ruas um movimento que chantageia o governo e o obriga a ceder ao lider de ocasião, sem organicidade representativa? Quem dispuser de carisma e audácia para sensibilizar assembléias, pavimentando carreiras político-partidárias posteriores, sem qualquer compromisso com a reforma da segurança no país e os mais elevados interesses da sociedade e das instituições? Essa tem sido a via brasileira para a selvageria despolitizada e o oportunismo de demagogos, que não enxergam um milímetro além do corporativismo mais estreito, fazendo eco à insensibilidade das autoridades e à apatia governamental. A alternativa a esse mundo desastroso é a sindicalização, não dos servidores das PMs tais como elas existem, o que seria impraticável e inconstitucional, mas dos membros de uma organização de novo tipo, regida por novos marcos constitucionais. Quando trabalhadores sentem-se oprimidos, não encontram canais de participação, não têm acesso a instrumentos de associação e representação, a energia represada transborda e se converte em combustível de explosões que produzem efeitos negativos para a sociedade, governos e a própria categoria profissional. Sem sindicatos, com associações semi-clandestinas e mutiladas, os trabalhadores se dividem, não acumulam experiência, não estabelecem negociações regulares, não amadurecem, politicamente, e terminam envolvidos em movimentos disruptivos nos quais destacam-se os mais impetuosos, cuja liderança negativa acaba sendo fortalecida por governantes acuados, os quais, tendo negligenciado entendimentos orgânicos, cedem às circunstâncias e recuam, na emergência.
Mas há pressupostos a esclarecer para que minha análise seja compreendida.
Na raiz do caos está a arquitetura institucional da segurança pública legada pela ditadura, que passou intocada pela transicão democrática, encontrou abrigo na Constituição e permanece excluída da agenda pública. O artigo 144 atribui, em matéria de segurança, grande responsabilidade aos estados e suas polícias, cujo ciclo de trabalho é, irracionalmente, dividido entre militares e civis; confere papel apenas coadjuvante à União e esquece dos municípios, na contramão do que ocorre com as demais políticas públicas. As PMs são definidas como força reserva do Exército e submetidas a um modelo organizacional concebido à sua imagem e semelhança. Por isso, têm até 13 níveis hierárquicos, uma estrutura fortemente verticalizada e rígida, e regimentos disciplinares próprios, cuja constitucionalidade é, aliás, no caso das PMs, mais do que duvidosa. A boa forma de uma organização é aquela que melhor serve ao cumprimento de suas funções. As características organizacionais do Exército atendem à sua missão constitucional, porque tornam possível o “pronto emprego”, qualidade essencial às ações bélicas destinadas à defesa nacional. Nesse contexto, entende-se o veto à sindicalização.
A missão das polícias no Estado democrático de direito é inteiramente diferente daquela que cabe ao Exército. O dever das polícias é prover segurança aos cidadãos, garantindo o cumprimento da Lei, ou seja, protegendo seus direitos e liberdades contra eventuais transgressões que os violem. No repertório cotidiano das atividades das PMs, confrontos armados que exigem pronto-emprego representam menos de 1%. Não faz sentido estruturar toda uma organização para atender a 1% de suas ações. Para estas, bastam unidades especiais, configuradas para tais finalidades. O funcionamento usual das instituições policiais com presença uniformizada e ostensiva nas ruas, cujos propósitos são sobretudo preventivos, requer, dada a variedade, a complexidade e o dinamismo dos problemas a superar, os seguintes atributos: descentralização; valorização do trabalho na ponta; flexibilidade no processo decisório nos limites da legalidade, do respeito aos direitos humanos e dos princípios internacionalmente concertados que regem o uso comedido da força; plasticidade adaptativa às especificidades locais; capacidade de interlocução, liderança, mediação e diagnóstico; liberdade para adoção de iniciativas que mobilizem outros segmentos da corporação e intervenções governamentais inter-setoriais. Idealmente, o(a) policial na esquina é um(a) micro-gestor(a) da segurança em escala territorial limitada com amplo acesso à comunicação intra e extra-institucional, de corte horizontal e transversal.
Engana-se quem acredita que mais rigor hierárquico, mais centralização, menos autonomia na ponta e regimentos mais duros garantem mais controle interno, menos corrupção, desmandos e brutalidade. Se fosse assim, nossas polícias militares seriam campeãs de virtude. Pelo contrário, sacrificamos a eficiência no altar da disciplina para colher tempestades e saldos negativos em todos os fronts.
Não há nenhuma razão para que as PMs copiem o modelo organizacional do Exército, o que não as impediria, necessariamente, de adotar elementos da estética, da ética e da ritualística militar. Nesse novo contexto, a sindicalização tornar-se-ia legal e legítima. Quem teme sindicatos e supõe possível manter a ordem reprimindo demandas dos trabalhadores, proibindo sua organização, não compreende a história social e as lições que as lutas trabalhistas nos ensinaram. Não entende que o veto à organização provoca efeitos perversos para todos e planta uma bomba de efeito retardado sob nossos pés.
Eis aí, portanto, mais uma razão para rever o artigo 144 da Constituição e para buscar um consenso nacional mínimo em torno de uma arquitetura institucional alternativa e de um outro modelo policial. Em benefício dos policiais e da eficiência na provisão de segurança pública, que interessa ao conjunto da sociedade, sobretudo aos mais pobres e vulneráveis.
*Luiz Eduardo Soares é Antropólogo, escritor, ex-secretário nacional de segurança pública
Fonte: http://www.luizeduardosoares.com/?p=829
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Militares pedem que Dilma desautorize ministras
Declarações das ministras Mária do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres) sobre a ditadura militar e a Comissão da Verdade criaram um mal-estar entre o governo Dilma e parte dos militares.
Uma nota assinada pelos presidentes do Clube Naval, da Aeronáutica e Militar critica o fato de a presidenta Dilma Rousseff não ter desautorizado as duas ministras.
Em 8 de fevereiro, Maria do Rosário comentou em entrevista ao jornal Correio Brasiliense sobre a possibilidade de processos judiciais contra agentes repressores da ditadura militar, a exemplo do que ocorreu em países vizinhos como a Argentina.
“Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E, a Presidente não veio a público para contradizer a subordinada”, diz a nota.
Em sua posse, Eleonora Menicucci fez referência ao tempo em que ela e Dilma foram presas políticas na mesma cela, quando lutavam contra a ditadura militar. A declaração também irritou os militares. Para eles, a militância de Menicucci tinha o intuito de implantar, por meio da força, uma ditadura “nunca tendo pretendido a democracia”.
Por fim, a nota aponta que o PT cometeu uma falácia quando, ao divulgar as resoluções políticas tiradas em seu aniversário de 32 anos, o partido destacou o resgate da memória, junto à sociedade, da luta pela democracia durante a ditadura. “Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bi-partidarismo”.
Os militares se dizem preocupados com a ausência de manifestações da presidenta e cobram dela uma reaproximação com as posturas assumidas durante a posse, de estender a mão aos partidos e grupos de oposição que não apoiaram sua candidatura.
Aprovada no final do ano passado, a Comissão da Verdade não satisfez os militares nem os setores de esquerda e familiares de vítimas do período militar. Para eles, a comissão não tem recursos suficientes para apurar abusos de todo período proposto. Ao mesmo tempo, os clubes militares temem a penalização de agentes repressores e apelidaram a banca de “Comissão da Vingança”.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/militares-pedem-que-dilma-desautorize-ministras/
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Mais focada, privatização de Lula-Dilma não tem abrangência da era FHC
Por Marcel Gomes
Nesta quarta-feira (8), FHC defendeu, após o leilão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília, que “privatização não é uma questão ideológica”. No Congresso, parlamentares do PT e do PSDB deram início a uma guerra de palavras.
Para uns, o governo petista fez o mesmo que o tucano, apesar do discurso antiprivatização da campanha. Para outros, o modelo de concessão de aeroportos não privatiza um bem público, uma vez que o governo manterá parcela acionária e o retomará em no máximo 30 anos.
Ainda que se aceite essa ponderação, é inegável que o governo abriu mão de boa parte do controle de três dos terminais mais importantes do país. Privatizou, ainda que temporariamente. Mas também é inegável que fez isso de maneira distinta do que ocorrera no passado.
No cerne da questão estão a abrangência das operações realizadas e o papel que se deseja para o Estado no ordenamento econômico. Na era FHC, a privatização era uma estratégia-chave para alterar as funções do Estado brasileiro na economia.
Com as estatais endividadas, avaliava-se que a capacidade de o Estado promover investimentos, tarefa historicamente cumprida, estava abalada, tornando-se fundamental impulsionar o setor privado. Era necessário por fim à era Vargas, dando um choque de capitalismo ao Brasil.
“Na redefinição do papel do Estado, caberá ao setor privado uma presença significativa, sobretudo nos investimento em infra-estrutura”, escreveu FHC em seu programa de governo lançado como livro em 1994, o “Mãos à obra, Brasil”.
Ritmo acelerado
Em 1995, FHC, em seu primeiro ano no poder, criou o Conselho Nacional de Desestatização, com o objetivo de acelerar a execução do Programa Nacional de Desestatização (PND), gestado como lei ainda no governo Collor.
A Usiminas já havia sido vendida em 1991. Em seu projeto de reforma, FHC incluiu no PND companhias públicas dos setores de eletricidade, transportes e telecomunicações, além de uma das jóias da coroa, a Vale do Rio Doce – que acabou negociada em 1997.
Nesse mesmo ano, o governo intensifica o uso do BNDES como financiador da desestatização, inclusive de empresas estaduais. E aprova a Lei Geral de Telecomunicações, abrindo o mercado aos estrangeiros.
A marcha privatizadora seguiu por 1998, com as vendas do terminal de contêineres do Porto de Sepetiba (RJ), das Centrais Elétricas Geradoras do Sul e da malha ferroviária paulista.
Em 1999, foi a vez de novas concessões na área de telecom, da Datamec (empresa de processamento de dados) e do porto de Salvador. Em 2000, do Banespa e das ações que excediam o controle acionário detido pela União na Petrobras.
Até 2002, último ano de FHC no Planalto, à União arrecadou cerca de US$ 31 bilhões com todo o processo de privatização, em valores da época calculados pelo BNDES, somando entrada de recursos e transferência de dívidas.
Pé no freio
A partir de 2003, com o fim do ciclo tucano e o início do governo Lula, a privatização saiu do primeiro plano da agenda nacional. Entretanto, jamais deixou de ser executada, no sentido de concessão a agentes privados da execução de obras e de serviços antes públicos.
A estratégia, porém, foi restrita a alguns setores do governo, em especial o elétrico. Essa área era comandada pela então ministra da Minas e Energia Dilma Rousseff, que permaneceu no cargo até ser promovida à Casa Civil, em junho de 2005.
Era um sinal de que a atual mandatária confiava em parcerias com o setor privado. Ainda em 2003, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) manteve a outorga de concessões para exploração de empreendimentos de transmissão incluídos no PND. Foram leiloadas onze linhas de transmissão em oito Estados, gerando investimentos de R$ 1,8 bilhão, em valores da época.
No ano seguinte, o governo Lula foi alvo de críticas de uma de suas bases mais tradicionais, os trabalhadores bancários, por leiloar o Banco do Estado do Maranhão (BEM). O comprador foi o Bradesco. Em 2005, foi a vez de o Banco do Estado do Ceará (BEC) ser alienado, também para o Bradesco.
Em 2006, o governo incluiu no PND as instalações de transmissão de energia elétrica da Rede Básica do Sistema Elétrico Interligado Nacional. A outorga de concessões para exploração de empreendimentos de transmissão continuou.
Transportes privatizados
Em 2007, o sistema de concessões foi absorvido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que licitou 2,6 mil Km de rodovias federais. De modo distinto às administrações tucanas, a estratégia foi negociar tarifas de pedágio menores. Também data desse ano o decreto que inclui no PND o trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro.
No ano seguinte, foi realizado o leilão da Usina Hidrelétrica Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. O vencedor foi o Consórcio Energia Sustentável do Brasil, que teve como preço final ofertado pela energia R$ 71,37/ MWh. Participam do grupo a Suez Energy, Camargo Corrêa, Eletrosul e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).
Depois do setor elétrico e das rodovias, foi a vez de o setor aeroportuário entrar no PND, através do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Seria o prenúncio dos leilões agora realizados e que resultaram na concessão dos terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília.
Ainda que as privatizações de Lula-Dilma tenham deixado o setor elétrico e de telecom e chegado às rodovias e aos aeroportos, sua abrangência permanece reduzida em relação aos sentidos da privatização no governo FHC. O que domina a agenda pública agora é um retorno ao papel planificador do Estado.
Com esse objetivo, o governo federal altera a exploração petrolífera de um regime de concessões para o de partilha, e prepara o Plano Nacional de Banda Larga. Nos aeroportos privatizados, a Infraero manterá parcela acionária para permanecer monitorando as companhias privadas que venceram o leilão. Resta saber como esse novo arranjo na prática se dará.
Fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19585
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Joana Tavares: Despolitizando o governo Dilma
Grande mídia gosta de tachar a gestão da presidenta de “técnica” – e a elogia por isso –, mas analistas rechaçam essa caracterização e apontam que o principal problema não é um suposto perfil empresarial da administração petista, mas seu caráter de composição de classe.
Joana Tavares, no Brasil de Fato, via Moto-Próprio
Roberto Setúbal, o principal executivo do banco Itaú, declarou em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, que “gosta de tudo” que tem visto no governo Dilma. Afirmou que a presidenta tem uma intenção de deixar o governo “mais técnico, com presença cada vez maior de técnicos em áreas importantes”.
Ele não é o único que tem analisado – ou tentado tachar – a gestão Dilma Rousseff como empresarial, voltada para políticas de metas e resultados. Os exemplos não são poucos. Começou com a construção de Dilma como candidata: ela foi classificada como “gerente” do governo Lula, responsável por administrar os investimentos federais, coordenando programas de vulto como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Quando Antonio Palocci deixou a poderosa Casa Civil – responsável pelas articulações políticas e pela coordenação de programas de governo – Gleisi Hoffmann assumiu o posto já com a alcunha de ser “a Dilma da Dilma”, a gerente-geral dos ministérios.
Depois, veio a substituição de Alfredo Nascimento – acusado de desvio de recursos – por Paulo Sérgio Passos, que era secretário-executivo do Ministério dos Transportes. Os dois são do mesmo partido, o PR. Em seguida, a saída de Nelson Jobim da Defesa, substituído por Celso Amorim, ex-chanceler do governo Lula.
Wagner Rossi, da Agricultura, envolvido em denúncias de corrupção na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), pediu demissão e deixou a vaga para Mendes Ribeiro, do mesmo partido, o PMDB. Pedro Novais, do Turismo, também entregou o cargo após denúncias de ter desviado recursos públicos para causas pessoais. Gastão Vieira, também do PMDB, entrou em seu lugar. Ainda em 2011, Orlando Silva deixou o Ministérios dos Esportes, acusado de fraudes em convênios, e foi substituído pelo também membro do PCdoB Aldo Rebelo.
Discute-se ainda a substituição de Carlos Lupi, demitido do Ministério do Trabalho, mas a indicação deverá vir de seu partido, o PDT. Outra troca foi no Ministério das Cidades. Saiu Mário Negromonte, e entrou Aguinaldo Ribeiro; os dois do PP.
“Capacidade operacional”
Com exceção da troca de Jobim por Amorim, comemorada por setores da esquerda, as demais tiveram um roteiro parecido: denúncias de corrupção nos jornais, pedido de demissão do acusado, nomeação de um partidário da mesma legenda do ministro derrubado.
Além desses casos, houve a saída de Fernando Haddad, da Educação, para que o petista possa se dedicar à campanha para prefeito de São Paulo. Aloizio Mercadante, quadro antigo do mesmo partido, deixou o Ministério da Ciência e Tecnologia para assumir o posto de Haddad. Em seu lugar, entrou Marco Antônio Raupp, considerado um perfil “técnico” para o cargo. Na Petrobras, sai José Sergio Gabrielli e entra Maria das Graças Foster que, apesar de filiada ao PT, fez carreira na empresa, e não nos bastidores da articulação política.
Essas mudanças no comando dos cargos foi apelidada pela grande mídia de “faxina”, e contribuiu para consolidar a imagem da presidenta como uma competente administradora, interessada em fazer a máquina pública funcionar, montando finalmente um ministério com sua “marca”, afastando os indicados pela gestão Lula e nomeando pessoas com capacidade operacional, em detrimento de critérios “políticos”. O governo também se utiliza desse vocabulário, buscando atrelar-se a uma imagem de eficiência.
No entanto, analistas e militantes apontam que há uma continuidade entre as gestões e o principal problema não é um suposto perfi l técnico do governo Dilma, mas seu caráter de composição de classe.Composição do governo
“Isso [o suposto perfi l técnico do governo Dilma] é uma maneira que a grande imprensa encontrou para separar a presidenta Dilma do Lula, fazendo esse jogo de intrigas, para tentar avançar uma agenda mais conservadora. Entendemos que não existe técnica neutra. A presidente Dilma não é criança pra embarcar no jogo de achar que é possível montar um governo técnico para colocar sua cara no governo”, analisa João Antonio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Ele aponta que a nomeação de Graça Foster para a Petrobras, por exemplo, representa uma continuidade de gestão, com compromissos parecidos, “tanto na relação partidária como na visão da gestão da empresa”. Para ele, a dificuldade central para fazer avançar a pauta dos trabalhadores – como o cumprimento integral do acordo coletivo e a priorização do caráter público, não mercadológico, da empresa – é a aliança de sustentação de classe, na composição de um governo de coalizão.
Para Moraes, a diferença central entre o governo Lula e o de Dilma vem de fora. “A imprensa tem tido um tratamento mais, digamos, ameno, em relação ao governo Dilma. A mídia teve uma visão mais preconceituosa com o Lula, por ele ser um operário. Isso acaba tendo um peso maior que a diferença do governo em si”, pondera.
O professor de jornalismo da faculdade Cásper Líbero Gilberto Maringoni frisa que “não existe governo com perfil técnico. Toda ação de governo é, por definição, política”. Ele cita o exemplo dos governos de Itália e Grécia, tidos como técnicos e comandados por banqueiros, cujas gestões se situam mais à direita que as anteriores.
Leidiano Farias, militante da Consulta Popular, aponta que a crise econômica foi a desculpa para o capital financeiro implementar esse tipo de governo nos países em crise. “Governos técnicos expressam uma concepção de governo antinacional e impopular”, salienta.
Despolitização
“A separação entre política e técnica sempre foi uma ideia cara ao pensamento conservador. A composição do governo brasileiro segue sendo a de incorporar o maior espectro de correntes políticas possível, para eliminar a oposição”, explica Maringoni.
Para ele, o maior problema do governo Dilma não é o enfrentamento externo, e sim a oposição interna. “Grande parte da direita brasileira está abrigada na administração. Isso não quer dizer que este seja um governo de direita. Quer dizer que a oposição está dentro do governo e isso tem decorrências na gestão dos negócios públicos”, diz.
A oposição a bandeiras populares, como a reforma agrária, a CPI da Privataria e a redução dos juros, entre outros, vem, assim, do próprio governo, que, mesmo tendo maioria no Congresso, não consegue avançar para além de uma pauta conservadora.
Leidiano observa que o governo Dilma herda o caráter de conciliação da gestão de Lula, ainda que dialogue com um perfil mais técnico. “Os trabalhadores, a burguesia industrial, a burguesia financeira, a burguesia agrária e comercial estavam representadas no governo Lula e continuam representadas no governo Dilma. Isso se expressa na coalizão de partidos liderada pelo PT. É um governo permeado de contradições”, ressalta.
O escritor e militante petista Wladimir Pomar reforça que a tentativa de diferenciação entre os dois governos vem da grande imprensa, que tenta impor à gestão de Dilma um caráter técnico que o tornaria de outro tipo. “Na verdade, essa separação entre técnica e política faz parte da mistificação com que as classes dominantes sempre tentaram empulhar os dominados. Em qualquer dos poderes do Estado, todos os cargos são políticos, embora todos eles também tenham um caráter técnico a ser levado em conta. Mas qualquer técnico que assuma um cargo no governo está assumindo um cargo e uma missão, antes de tudo, políticos”, enfatiza.
Ele analisa que a grande imprensa tem como programa despolitizar o governo Dilma, ao mesmo tempo em que promove uma ideologização do debate político, com o propósito de confundir as forças, dividir o governo de coalização e derrotá-lo nas eleições. “A grande imprensa procura se aproveitar do fato de que a questão central do governo, hoje, consiste em colocar em prática um grande projeto nacional de desenvolvimento econômico e social, o que pode aparentar um plano de metas”, aponta. Para ele, os grandes projetos colocados em prática pelo governo têm um caráter estratégico, com grande conteúdo político, mas estão sendo esvaziados pela cobertura midiática.
Projeto e mobilização
O sociólogo Chico de Oliveira concorda que o governo Dilma segue o script do governo Lula, mas discorda da caracterização do projeto colocado em prática. Na sua avaliação, não há plano nenhum, “apenas a consolidação dos projetos governamentais em curso”. As mudanças do governo, na sua leitura, seguem e seguirão na linha do amplo leque de alianças forjado por Lula. “Não tem nenhum paradigma político em particular; é simplesmente pragmático”, defende. “Dilma seguirá pela linha de menor resistência, isto é, mais do mesmo. O que estiver dando certo, ela tentará seguir”, analisa.
Para ele, o ciclo Lula se encerra no mandato de Dilma, e mesmo o ex-presidente não deve voltar com uma plataforma profunda de reformas. “O ciclo Lula acabou. O governo Lula, e seu período, ao contrário do que se esperava – e eu me incluo entre esses – é a culminação longínqua do regime militar, com sua decidida política privatista e seu jogo de divertissement – enganação, na verdade, segundo a língua francesa – para os pobres”, critica.
Wladimir Pomar analisa que o projeto de desenvolvimento econômico e social que os governos petistas estariam executando garante tanto a implementação de políticas voltadas para as camadas populares quanto a geração de lucros para os capitalistas. Ele aposta que, ao aumentar a força social dos trabalhadores, esse modelo de desenvolvimento fortaleça também a média burguesia nacional, que pode enfrentar a burguesia associada aos monopólios estrangeiros.
“Cria, portanto, as condições materiais para o delineamento das classes em disputa e para o desenvolvimento da luta de classes. É dessa luta que pode emergir, com mais clareza, um verdadeiro projeto popular, ou democrático-popular, ou socialista”, reforça. Para ele, a força demonstrada pelas classes populares é que vai definir os rumos do governo.
Leidiano caracteriza o projeto em prática como “neodesenvolvimentismo conservador”, pois não é articulado com reformas estruturais. Ele aponta que a idéia do “melhorismo” tem limites, e reforça a necessidade de um forte movimento de massas para pressionar a execução de reformas essenciais para o povo brasileiro. “Para o governo reivindicar esse projeto teria que romper com seu caráter de conciliação, teria que aceitar o conflito de interesses de classes como uma forma de resolver os problemas do povo”.
A RIO-20 DOS RICOS: 'EU CONSUMO, VOCE JEJUA'
Dilma acha que 'exagerou' com movimentos sociais e tenta mudar
Obsessão crescente de Dilma com gestão desanima tropa política
Papel da PM precisa ser revisto, dizem especialistas
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19560