domingo, 9 de outubro de 2011

Outubro, sempre outubro

Há algumas semana atrás eu escrevi um artigo sobre a atual crise que basicamente dizia:


  1. Que ela é parecida, do ponto de vista de suas causas profundas, com a Grande Crise de 1929, ou seja, é criada por um processo de concentração de renda que suprime demanda agregada global e força uma hipertrofia do sistema financeiro.
  2. Que a saída para ela seria estímulo a demanda através de mecanismos "keynesianos" clássicos.
  3. A dificuldade para isso é o elevado grau de endividamento dos estados, por conta da abordagem de combate à primeira fase da crise em 2008 - enorme transferência de recursos públicos para salvar bancos e o próprio sistema financeiro.
  4. Há uma incapacidade por parte das elites mundiais em coordenar uma saída eficaz, já que são prisioneiras de seus dogmas fiscalistas (e nacionalismo crescente).
  5. Enquanto isso, uma disputa dos rumos do mundo está aberta, com vantagem das forças conservadoras. O discurso xenófobo volta à cena, as ultra-direitas nacionais crescem e o salve-se quem puder cambial cria as bases para futuros conflitos entre nações, inclusive para um novo imperialismo.
  6. O Brasil e os Brics podem ter um papel relevante no sentido de pressionar por alternativas democráticas e progressistas para a crise.

As notícias dos últimos trinta dias, na minha opinião, confirmam boa parte do que foi tratado no artigo:



"Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise" (discurso na ONU)

"É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e, algumas vezes, de clareza de ideias" (discurso na ONU)

"A nossa experiência demonstra que, nosso caso, ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundaram o processo de estagnação, perda de oportunidades e desemprego"(Bélgica, 03/10/11)

  • Os conservadores rejeitaram imediatamente suas propostas.
Veja aqui (em inglês) a resposta (em português) à Dilma da jornalista Samantha Pearson no blog do jornal britânico Financial Times.


  • Enquanto isso, os governos tentam fazer alguma coisa:
    • Obama lançou um tímido plano de estímulo aos empregos no Labor day americano.
    • O FOMC (o copom Americano) lanço a operação twist, troca de títulos de longo prazo por prazos menores como forma de baixar juros (através do aumento dos preços dos títulos) sem aumentar a quantidade de meio circulante.
    • A Inglaterra imprime mais moeda e aposta no relaxamento quantitativo
    • Angela Merkel tenta novo desenho institucional conservador, mas osconflitos com a França aumentam

    • E outubro chegou, e a ruas reagem de maneira cada vez mais contundente:
      • Além das greves na Itália, Grécia, manifestações na Espanha, agora temos o Occupy Wall Street, movimento iniciado pelos estudantes de NY que agora conta com a participação de sindicalistas. É a primeira vez em décadas que vemos um movimento conjunto entre estudantes e sindicalistas nos EUA.

      • O presidente Obama, que Fidel Castro disse ter idéias confusas, dessa vez, perguntado sobre o Occupy Wall Street, foi certeiro: reflete a frustração com quem criou a crise, e, em um recado para o congresso americano, pediu maior taxação sobre os mais ricos.


    Em resumo, vivemos dias onde o futuro está aberto. É a hora da política, menos do que da economia. Como disse Guy Debord, o que queremos, de fato, é que as idéias voltem a ser perigosas.

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