O artigo assinado por Samantha Pearson cita uma fala do discurso de Dilma no encerramento do Fórum: “Rousseff adverte União Europeia sobre os riscos dos impostos restritivos” e completa: “Sim, você leu certo. O país que ocupa a 152ª posição no ranking do Banco Mundial por causa do seu sistema tributário desajeitado e pesado, está dando conselhos sobre impostos restritivos”.
“Além de irrealista, o conselho vindo do Brasil também soa como hipócrita”, diz Pearson, atacando a presidente brasileira por receitar medidas que incentivem o consumo e a criação de empregos para tirar a Europa da crise, evitando políticas fiscais muito restritivas que, segundo Dilma “durante a crise dos anos 80 vivida pelo Brasil, só fez aprofundar a estagnação da economia”.
O blog segue criticando os “políticos brasileiros que recentemente vêm se encarregando de resolver a crise financeira global, dando conselhos ao mundo desenvolvido”, num tom quase preconceituoso.
O artigo no “FT”, um dos jornais mais respeitados do mundo, cita ainda a tentativa do ministro Guido Mantega de coordenar uma ajuda dos Brics (Brasil, Russia, India, China e África do Sul) aos países europeus, “sem ter consultado os parceiros”.
“Guido Mantega, ministro do Brasil, tem sido um dos pioneiros nesse sentido. Depois de uma subida para a fama graças ao seu discurso contra a “guerra cambial”, Mantega propôs um pacote de resgate um pouco maluco para a zona do euro. O problema é que ele não consultou os outros países do Brics”.
Em outro momento, insinuando uma audácia do Brasil, que a autora chama de “recém-descoberto global”, o artigo questiona como o país poderia ajudar países como a Itália, que tem um PIB per capita três vezes maior que o brasileiro.
A reação do blog do “FT” contra o Brasil repete uma atitude frequente e recente dos europeus contra os “colonizados” que queiram ajudar o continente. Na última visita que fez para reunião dos ministros das finanças dos principais países da Europa na Polônia, há 25 dias, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, foi praticamente escorraçado do encontro. Muitos líderes europeus falaram abertamente que os americanos tinham problemas maiores para resolver antes de dar conselhos aos europeus.
A negação dos líderes europeus e o artigo do “FT” podem reforçar o que muitos analistas temem como efeito perigoso da crise na Europa. O fortalecimento de um movimento nacionalista, fechando as portas para o diálogo, a coordenação e um consenso sobre os caminhos possíveis. A crise pode ter começado na Europa, mas já se espalhou pelo mundo e vai se abater sobre sociedades, economias, sem escolher o tamanho do PIB ou quem tem o melhor sistema tributário do mundo.
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