quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sobre o preço que José e Maria pagaram por serem ambientalistas

Meus amigos(as), mais loucuras dessa mente inquieta!

Hoje, ao conversar com amigos acerca das animalescas mortes de ambientalistas , defensores da Floresta Amazônica, ouvi de um esclarecido cidadão que: ” Esse é o preço que se paga, por ser ambientalista no Brasil.” Imediatamente, como que por ato de vontade, meu instinto de reflexão foi ativado, então comecei a indagar me acerca da afirmação. Partindo-se do pressuposto que apenas se estabelece preço em relações comerciais em que um item está à disposição, ou em oferta para o consumidor e a esse item chama-se coisa, bem ou mercadoria!

O inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, elenca taxativamente a Dignidade da Pessoa Humano coma sendo um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Vinte e três anos transcorreram-se desde a sua promulgação, pelo Poder Constituinte Originário, emanado do povo brasileiro, Cinco presidentes já estiveram à frente da Poder Executivo Federal e ao que parece até o presente momento inúmeros dos fundamentos e objetivos da nossa república estampados em nossa Carta Magna ainda não foram atingidos à contento. Apenas à guisa de ilustração, está elencado no rol dos Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a erradicação da pobreza, entretanto, ainda hoje, segundo dados oficiais(oficiosos) do IBGE ainda temos 16,2 milhões de brasileiros em situação de miséria/pobreza extrema.

Após, pensar no “preço que se paga” por ser ambientalista no Brasil e fazer um paralelo com o que rege a Lei Suprema de nossa Nação constatei a gravidade do problema, que, ao que parece, é tratado, pelos nossos coetâneos como mais uma manchete chocante de jornal. Mas é fatídico que ao derredor dessa discussão algumas questões pontuais se apresentam, as quais merecem a análise e exegese adequada, para tentarmos compreender porque em um país com tantas Leis, com cerca de 2.100 tipos penais vigentes na legislação cogente, ainda mata-se seres humanos, ceifando vidas, pura e simplesmente por estarem, aqueles extintos seres humanos, lutando em prol do Meio Ambiente. Em qualquer país sério do mundo defensores do meio ambiente são exaltados e ganham as honrarias pertinentes por tais atos, entretanto aqui no Brasil onde se vive em um Estado Democrático de Direito, os criminosos matam brutalmente pessoas inocentes que estão agindo em prol da coletividade e ainda diz-se que, estes que perderam a vida pagaram um preço.

Não podemos considerar, partindo de premissas lógicas, humanas, éticas e morais que estas pessoas pagaram preço por serem ambientalistas, não mesmo! Primeiro por tratarem-se de vidas humanas, as quais não se quantizam a sua perda por preço, obviamente por não se tratar de mercadorias; Segundo por que neste discurso há uma clara inversão de valores (a semiótica explica). Se diante de uma conjuntara dessa Natureza há algo a se pagar, deve-se determinar penas impostas pelas Leis do nosso país aos criminosos/bandidos/desumanos que cometeram tamanha barbárie.

Não há nenhum problema em ser ambientalista, defender a bandeira de um meio ambiente equilibrado para a saudável qualidade de vida da coletividade não deve ser visto como nenhum fardo e sim como uma virtude desenvolvida em prol da coletividade. Contudo, em um país onde as atividades econômicas desenvolvidas desde os primórdios, com a colonização, foram feitas em moldes extrativistas, sempre considerando o meio ambiente uma fonte de riquezas a ser explorada, sem nenhum plano de manejo, sem nenhuma perspectiva de sustentabilidade ou até mesmo em alguns casos encarado-o como sendo um óbice ao progresso, erguer a bandeira de ambientalista significa expor-se à saga infeliz dos covardes.

A Falácia está posta diante de nós, pois o modelo econômico que prega que o meio ambiente apresenta-se como sendo um empecilho, está estacado numa lógica de mercado que enxerga nos recursos ambientais um entrave. Sim, as demandas humanas crescem cada vez mais e a sociedade do consumo exige cada vez mais elevados índices de produção, enquanto que os recursos ambientais, estes são esgotáveis e já encontram-se, muitas vezes, em estado de escassez.

O Brasil possui cerca de cinco biomas perfeitamente definidos dentre os quais um existe apenas aqui em solo nacional e não está muito longe de nós: A Mata Atlântica, bioma responsável pela maior biodiversidade do planeta, significando dizer que é a maior pluralidade de seres vivos (fauna e flora) do mundo, e mesma com a relevância desse bioma, apenas subsiste cerca de 7% da sua cobertura vegetal original. Tais dados e a forma como está organizada a produção na sociedade de consumo talvez possam dar-nos pistas do porque que Vidas Humanas ainda são retiradas, ao arrepio da legislação, por serem apenas defensores ambientais.

A vida na sociedade “pós moderna” tem se restringido à consumir, comprar, adquirir, o que denota que, por exemplo, se temos uma área com cobertura vegetal como acontece com a Floresta Amazônica ela precisa ser devastada, para que sua lenha sirva para abastecer o setor industrial, a construção civil etc, a área onde existia essa cobertura vegetal possa servir ao plantio da soja (responsável por manter a balança comercial favorável, uma vez que exporta-se o grão gerando assim receita aos cofres públicos e vultuosos lucros ao setor privado!?!), ou seja deixar a mata de pé significa perder espaço supostamente agricultável e por conseqüência perder capital. E para o “economez” continua soando bonito falar-se em Superávit Primário e em propensão marginal ao consumo, Nada contra os economistas, tenho bons amigos que são letrados nessa importante cátedra.

Mas, aproxima-se a data ilustrativa do dia do Meio Ambiente (dia 05 de junho), continuamos com 16,2 milhões de miseráveis, vítimas sociais de um sistema excludente e marginalizante, com apenas 7% do que restou do bioma de maior biodiversidade do mundo: a Mata Atlântica, e não bastasse todas essas mazelas ainda assistimos, boquiabertos, a prática de uma nova modalidade de delito: O Racismo Ambiental, ceifar a vida de ambientalistas. Esse cenário macabro faz-me lembrar de uma tela pintada sutilmente pelo ilustre artista plástico russo Viktor Vasnetsov, intitulada “A princesa que nunca sorriu”, assim encontra-se a pátria à míngua de razões para sorrir!

Por Leonardo Santos
Ruy Barbosa, 01 de junho de 2011.

Quem tiver interesse em saber mais sobre o assassinato do ambientalista pode acessar o link abaixo.

http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/os-ultimos-momentos


Fonte: http://andarilhosdachapada.blogspot.com

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