terça-feira, 31 de agosto de 2010
Dilma na Globo: Quem tem tradição de vazamento e de grampos são os tucanos
“Considero que é absolutamente injustificado que uma pessoa acuse outra sem apresentar prova”, disse Dilma;“Se essa situação for colocada dessa forma, o partido do candidato adversário tem uma trajetória de vazamentos e grampos absolutamente expressiva", afirmou Dilma.
“Vazamento das dívidas dos deputados federais com o Banco do Brasil às vésperas da votação da emenda da reeleição. Os grampos que existiram no BNDES”, disse Dilma, em referência ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que foi pivô de uma série de grampos promovidos por membros do próprio governo de FHC, durante o processo de privatização da Telebrás.
“Também há os grampos feitos junto ao próprio gabinete do secretário da Presidência da República. Eu jamais usei esses episódios para tornar o meu adversário suspeito de qualquer coisa, porque não acho correto. Mas também não concordo que me acusem ou acusem minha campanha”, afirmou a presidenciável. Dilma lembrou ainda aos apresentadores que o PT já representou uma série de ações criminais e por danos morais contra o candidato tucano por acusações sem provas com relação ao episódio.
Dilma também reafirmou durante a entrevista que não está negociando cargos em um eventual governo. “Eu não tenho discutido o futuro governo, por uma questão de respeito com a população. Para começar a discutir o governo, eu teria de estar eleita”, afirmou.
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/eleicoes-2010-11/dilma-na-globo:-quem-tem-tradicao-de-vazamento-e-de-grampos-sao-os-tucanos-18071.html
Queda da desigualdade de renda no país coloca mais 31, 9 milhões no mercado
Matéria publicada no jornal Valor Econômico desta terça-feira (31)
“No futuro, as pessoas não olharão Lula como o novo Getúlio Vargas. Mas entenderão Vargas como o Lula do passado. O presidente encarna a principal mudança por que passou o Brasil nos últimos anos, ele é a nova classe média. Lula é o Nelson Mandela tupiniquim”. A análise é de Marcelo Néri, economista da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e um dos maiores especialistas em política social do país.
“Na última década, a desigualdade de renda caiu como nunca em nossa história. O equivalente a 31,9 milhões de pessoas ascenderam à classe C, ingressando no mercado consumidor, ampliando a capacidade de nossa economia crescer”, avalia Neri, para quem, no entanto, o futuro do país está nas classes A e B. “Quando terminarmos o processo de transferir pessoas das classes D e E para a C, passaremos a transferi-las da C para cima, o que gerará maior pressão sobre os ricos.”
A percepção de Neri não é isolada. Durante seminário realizado ontem pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, economistas e cientistas políticos configuraram o atual momento da economia brasileira como “privilegiado”.
Para o cientista político André Singer, as condições econômicas e sociais estão próximas do período do New Deal, nos Estados Unidos, quando o governo americano, por meio de gastos em programas de amparo social e em obras de infraestrutura, impulsionou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) após o “crash” de 1929. “Para ir além”, disse Singer, “é indispensável manter a elevação do salário mínimo”.
O processo virtuoso, conforme avaliação dos participantes do debate, está assentado em “pontos-chave”, como denominou Neri. Segundo números do economista da FGV, a renda oriunda do trabalho respondeu por 67% da redução na desigualdade, a frente dos 17% oriundos de programas de transferência direta de renda, como Bolsa Família, e dos 15,7% provenientes da Previdência Social . “O tripé é este”, diz Singer, “quer dizer, aumento do emprego, seguido de gastos com pobreza extrema e aposentadorias”.
Este quadro, no entanto, também revela problemas. “Do ponto de vista do crescimento acelerado combinado com redução da desigualdade, o jogo como está colocado hoje é preocupante”, avalia Mariano Laplane, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Ficamos por quase 30 anos completamente à margem do desenvolvimento. O mundo moveu seu eixo tecnológico e industrial para os países asiáticos, ao longo dos anos 1970, e nós ficamos parados, assistindo isso tudo”, afirma.
A lógica de Laplane, compartilhada por outros economistas da FGV, é que o ritmo acelerado do PIB – que neste ano, segundo estimativas do governo, deve passar por ampliação de 7%, a maior em 24 anos – não se sustentará, uma vez que o parque industrial brasileiro é pouco desenvolvido tecnologicamente, quando comparado com outros países, como a China.
“Os ganhos de produtividade que nossa indústria fez após a abertura comercial, em 1990, são claramente incapazes de fazer frente aos competidores externos”, avalia Laplane, para quem a ampliação do mercado de trabalho passa, principalmente, por maior oferta de empregos no setor industrial.
“Nos próximos dez anos, nosso crescimento será focado no mercado interno. Se não quisermos que a renda que estamos dividindo vaze para o exterior, por meio do consumo de importados, é preciso atenção maior com a indústria”, raciocina Paulo Gala, economista da FGV-SP.
A pressão por mudanças, no entanto, ocorrerá de forma difusa, avaliam Neri e Singer. Para este, a nova classe média é “parcialmente conservadora”, uma vez que quer continuar ascendendo socialmente, mas deseja que isso ocorra dentro da ordem, sem radicalizações. “Seja para fortalecer o processo de redução da pobreza, seja para efetuar mudanças do lado econômico, como alterar o câmbio e reduzir os juros, o Estado têm diante de si um novo proletariado, que está no setor de serviços, como os operadores de telemarketing”, diz Singer.
Para Neri, a nova classe média “não precisa tanto do Estado quanto os mais pobres”, assim, passa a ser natural que o Estado “foque mais em políticas sociais aos mais necessitados, deixando a classe ascendente com margem para desenvolvimento próprio”.
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/economia-5/queda-da-desigualdade-de-renda-no-pais-coloca-mais-31-9-milhoes-no-mercado-18131.html
O contrabando ideológico
*Por Washington Araújo em 26/8/2010, no Observatório da Imprensa
Se existe um assunto que absolutamente não me apetece é essa conversa de que no Brasil se encontram ameaçadas a liberdade de expressão, liberdade de opinião e liberdade de imprensa. Primeiro porque a confusão é grande e nem o editorialista nem o comentarista designado para o mister faz o menor esforço para separar uma de outra, é tudo jogado no mesmo saco das intenções veladas.
Para aproveitar o bordão presidencial, tomo a liberdade de, solene como sói acontecer, declarar que nunca antes na história deste país se usufruiu de tanta liberdade – opinião, expressão, imprensa – como nos dias atuais. E nem se precisa ir muito longe para autenticar essa minha percepção já que se trata de algo facilmente verificável.
Se o leitor desejar fazer uma amostragem na seara das revistas semanais de informação, basta acessar o acervo digital de Veja ou de Época e, em rápido cotejo, verificará diversas matérias de capa ora condenando o presidente, ora o seu governo, ora o seu partido, ora a sua coligação. Algumas das recentes edições do carro-chefe da Editora Abril trouxeram na capa, sempre carregando na cor vermelho-escarlate, chamadas como “Lula, o mito, a fita e os fatos” (edição 2140), “O monstro do radicalismo” (edição 2173), “Ele cobra 12% de comissão para o PT” (edição 2156) ou “Caiu a casa do tesoureiro do PT” (edição 2155).
E até o mensalão candango, que engolfou a última cidadela governamental do Democratas em fins de 2009, mereceu capa que longe de trazer à mente o partido demista fazia nada sutil remissão ao partido do presidente. Oportuno recolher a desfaçatez com que vistoso colunista da revista Veja (26/11/2009) se referiu à candidata governista. Seu texto abria assim: “A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula…”
Ficção e realidade
O mesmo poderá ser feito com os jornais de maior tiragem diária do país, como O Globo, a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo. São mais de oito anos de luta cerrada, quando não agredido em editoriais sob medida para criticar essa ou aquela frase do presidente, sempre ânimo redobrado para fustigar essa ou aquela política pública.
Vejamos o que escreve o principal comentarista de política do jornal O Globo, Merval Pereira. Em apenas dois meses não deixou de vociferar o que crê seja digno de nota e remissões: a alcunha que criou para Dilma Rousseff, a laranja eleitoral. Destaco os seguintes excertos de sua coluna em que o tema é temperado e retemperado pelo maduro articulista:
** “Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua ‘laranja’ eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta.” (“Meu nome é Dilma”, 15/6/2010)
** “A verdade, porém, é que mesmo que a candidata oficial Dilma Rousseff alegue que não compartilha essas propostas, elas fazem parte de uma espécie de código genético da ala mais radical do petismo, da qual ela já era figura proeminente antes mesmo de surgir do bolso do colete de Lula para ser impingida ao eleitorado como sua ‘laranja eleitoral’.” (“Contradições”, 06/7/2010)
** “A candidata petista, por seu turno, tem alguns desafios importantes pela frente, o principal deles o de convencer o eleitorado de que o seu eventual primeiro mandato será o terceiro de Lula, o que pode transformá-la em uma mera ‘laranja eleitoral’ do seu mentor. O que pode agradar a certo eleitorado, e afastar outro.” (“O predomínio eleitoral”, 16/7/2010)
** “Serra está à procura de temas que sirvam para atacar o governo Lula sem atacar o próprio, enquanto Dilma a cada dia valoriza mais o papel de ‘laranja eleitoral’ de Lula, recusando-se a aprofundar o debate de políticas governamentais, passando apenas a única mensagem que interessa, a da continuidade do governo Lula.” (“Quem é quem”, 11/8/2010)
** “É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de ‘bom e ótimo’ nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua ‘laranja eleitoral’, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será.” (“Zona de conforto”, 17/8/2010)
E para defender sua ideologia liberal, vale tudo. Destaco o seguinte diálogo (que me foi enviado pelo leitor D.M.S.) de recente capítulo na novela Paraíso, da TV Globo. Observem como personagens de ficção avançam para além de qualquer trama para tratar do que consideram ser a realpolitik. E como vem sendo cada vez mais corriqueiro contrabandear ideologia e crítica política através de personagens que, bem ou mal, caem nas graças do povo:
Atriz: “Vamos perfurar um poço de petróleo aqui na cidade”
Ator: “Você não é candidata a presidente da república. Nem presidente da Petrobras”
Atriz: “Quanto custa pra perfurar um poço de petróleo?”
Ator: “Muito…”
Atriz: “Mais de mil escolas?”
Ator: “Bota mil nisso…”
Atriz: “Mais de mil hospitais?”
Ator: “Bota mil nisso… Em vez de gastar dinheiro perfurando poço de petróleo, a gente poderia encher de escolas, hospitais…”
(Pausa para os comerciais).
Irônico que a primeira empresa que surge fazendo seu comercial é a própria Petrobras, Coisas do Brasil?
Argumento anêmico
A revista Época também segue à risca o script que deseja cumprir. Para ilustrar cito recente edição (nº 639, de 14/8/2010) em que a capa é a foto da jovem Dilma Rousseff, em princípios dos anos 1960. A manchete é lúgubre: “O passado de Dilma”, com a explicação que mais ameaça que esclarece qualquer coisa: “Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar” (ver, neste Observatório, “Revista ignora a anistia”).
A “matéria” lista perguntas que, segundo a revista, a candidata se recusa a responder. Tudo no elevado estilo “intimidação sempre rende resultados”. Ao leitor imparcial fica evidente e enorme forma de marginalização que a mídia tenta aplicar à figura da candidata. Até a ditadura brasileira é assumida pela revista, mesmo que indiretamente, como tendo ocorrido. As questões que a revista trata de cobrir – com o véu de suspeição em estado bruto – representam torpe tentativa de criminalizar a candidata e, para tanto, não hesitam em minimizar o contexto dando conta que o país vivia tenebroso período ditatorial. Escamoteou-se que Dilma desceu do muro e teve a coragem de decidir em que lado estava: a luta contra o arbítrio.
O colunista da Folha de S.Paulo Fernando Barros e Silva, na edição de 1/6/2010 do jornal, escreveu texto com o título “O Bolsa-Mídia de Lula”. Profissional talentoso, Fernando não é só um articulista, mas também editor. E, por ele passam as mais relevantes decisões editoriais do jornal paulista. Pois bem: no texto, Fernando repercute matéria da própria Folha, que demonstra como Lula pulverizou a verba publicitária do governo: em 2003, 179 jornais receberam verbas federais; em 2008, foram 1.273. Lula fez o mesmo com rádios e com a internet. Com esse raciocínio inicial era de se esperar qualquer coisa menos um petardo como o que ele arremessou a seguir:
“(…) a língua oficial chama [a tal pulverização de verbas] de regionalização da publicidade estatal e vende como sinal de ‘democratização’. Na prática, significa que o governo promove um arrastão e vai comprando a mídia de segundo e terceiro escalões como nunca antes nesse país.”
É daqueles casos em que o texto não faz jus ao talento do autor. Argumento tão raquítico, anêmico faria qualquer um de nós, Jecas Tatus do Brasil profundo, pensar com seus botões: “Ué, quer dizer que quando a verba ia só para o ‘primeiro escalão’ (onde, suponho, Fernando inclui a Folha, onde ganha o sustento diário) os governos anteriores a 2003 estavam simplesmente ‘comprando a mídia’? É isso mesmo? Tal pensamento não carrega em seu cerne a idéia de desejar ser comprado sozinho sem se expor às agruras de um capitalismo com concorrência?”
Contra e a favor
Dia sim e dia não também, incluindo telejornais noturnos e madrugadeiros, somos bombardeados aos longos das semanas, meses e anos com a mais ampla liberdade de expressão. É sob a égide dessa preciosa liberdade que proliferam os insultos de baixo e alto calados. Termina sendo também a inconfessável defesa de seus valores antípodas. Como o destempero verbal (e escrito), o ataque infamante – quando não apenas calunioso – busca a cabal sujeição de suas vítimas à mais completa impotência ante o formidável aparato de comunicação com suas sentenças formadas antes mesmo de o crime haver sido pensado. Sentença que será repercutida por seus pares à exaustão, dando assim ares de legitimidade ao que não passa de mera luta para manter seu poder nas auriverdes esferas da política e da economia.
Infelizmente tenho que reconhecer que nossos meios de comunicação de massa não revelam a realidade, mascaram-na; eles não ajudam a gerar mudança, transformações e, ao contrário, ajudam a evitá-la. Pior ainda, nossos meios estão bem longe de incentivar a participação democrática. São muito mais afeitos a nos levar à passividade, à resignação e ao egoísmo. Apropriam-se das bandeiras mais caras ao espírito humano – justiça, liberdade – para torná-las reles mercadorias de troca em sua incessante luta pelo poder, cada vez mais inconstante, cada vez mais fugidio.
Em 2002, em almoço nas dependências do jornal Folha de S.Paulo, seu diretor Otavio Frias Filho sapecou a questão para Lula: “Como é que o senhor vai governar o Brasil se não fala inglês?” Passados oito anos chegamos à conclusão que no caso talvez falar inglês pesasse contra, e não a favor, do então candidato à presidência do Brasil. É possível que, ainda nos próximos 40 dias, atendendo a convite para hipotético almoço no mesmo jornal, seu diretor de Redação sinta-se à vontade para perguntar a Dilma Roussef:
“Como é que a senhora vai governar o Brasil se não fala a nossa língua?”
Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/washington-araujo-o-contrabando-ideologico.html
A mídia quer despolitizar a vida
O professor João Sicsú chamou a atenção para a despolitização do debate eleitoral, levado a cabo, sobretudo, pelas corporações de mídia. Como exemplo ele cita o uso do termo “Pós-Lula”, obra da marketagem tucana imediatamente incorporada pelo léxico neomidiático. Assim, o eleitor imediatamente esquece o “pré-Lula” e tende a limitar sua escolha entre o melhor “gerente” para administrar o país. Só que ao esquecer o “pré-Lula”, assinala Sicsú, o brasileiro também esquece de comparar o governo FHC (de quem Serra foi ministro) com o governo Lula (de quem Dilma foi ministra). A marketagem tucana quer nivelar por baixo, pois sabe que a comparação dos governos favorece Lula e sua candidata.
A despolitização do debate eleitoral está no centro da estratégia das corporações de mídia. Assim, o termo “Pós-Lula” caminha ao lado de “twittaço”, “dossiê” e “desilusão dos jovens com a política”.
Twittaço: levado a cabo pela candidata do Partido Verde, o fato chegou às primeiras páginas dos jornais como uma das grandes novidades dessa campanha, e foi equiparado ao panelaço. Bastam dez segundos de resgate histórico para sacar a quem interessa transferir a pressão das ruas para os computadores.
Dossiê: o tão falado dossiê contra tucanos (sempre as vítimas pelo olhar da mídia, não?) teve seu conteúdo gradativamente esvaziado. O objetivo era construir uma imagem negativa do termo “dossiê” e associá-lo à candidata do PT. Em nenhum momento as corporações de mídia mostraram interesse em debater seu conteúdo – as privatizações obscuras durante o governo FHC – e levar algum esclarecimento ao público.
Agora a notícia despolitizadora da vez é a “desilusão dos jovens com a política”, conclusão a que a neomídia chegou após saber que houve redução da solicitação de títulos de eleitor entre adolescentes de 16 a 18 anos. Aqui cabe a pergunta: desde quando alguém pode se desiludir diante de alguma coisa com a qual nunca se iludiu? Qual engajamento político que se esperava dos jovens, hoje? Qual o nível de participação que lhes é conferido? Será que eles não seriam mais politizados se, por exemplo, tivessem acesso a todos os canais e serviços que a tecnologia da televisão digital permite? Ou alguém espera que se extraia consciência crítica de seis horas de novelas por dia, sobretudo com a carga de individualismo, egoísmo e violência que elas trazem. Quem disse que o status quo tem algum interesse em formar jovens questionadores? As próprias empresas de comunicação pressionam para que os currículos das faculdades se tornem mais técnicos que reflexivos. Que história é essa de agora essa mídia reclamar da “desilusão dos jovens com a política”? É como se ela não tivesse nenhum papel relevante nessa despolitização.
No caso específico do Rio de Janeiro, também há casos em que fica explícita a despolitização promovida pelas corporações de mídia. É o exemplo da política de extermínio levada a cabo contra jovens e negros, moradores das periferias. Mortos às centenas todos os meses, as corporações de mídia preferem acreditar que a grande culpada é uma instituição chamada “bala perdida”, que não tem assessoria de imprensa e nem verbas milionárias.
Na verdade, não estamos diante da despolitização apenas do debate eleitoral ou da política – política no estrito senso, bem dito. O que as corporações de mídia querem é a despolitização das relações humanas, dos movimentos sociais, dos valores éticos e solidários, enfim, elas trabalham pela despolitização da própria vida. Assim, o lucro acima do ser humano passa a ser considerado um fato normal, aceitável e até desejável.
Lutar pela politização da vida é lutar por uma outra comunicação.
Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/
Nova entidade completa um ano e questiona a UNE
A ANEL – Assembléia Nacional dos Estudantes – Livre! – acusa a União Nacional de Estudantes de “omissão” diante da situação da Educação no País. O presidente da UNE, em entrevista exclusiva, responde às críticas.
No dia 14 de junho de 2010, a Assembléia Nacional dos Estudantes – Livre! (ANEL) completou um ano de existência. Constituída por setores do movimento estudantil insatisfeitos com a relação entre o campo majoritário da União Nacional dos Estudantes (UNE) e o governo federal, a organização se reuniu no último sábado 28 na capital paulista para sua 3ª Assembléia Nacional.
Neste contexto, representantes do movimento secundarista e de universidades públicas e particulares de todo Brasil debateram temas vinculados ao avanço do que chamam de “projeto neoliberal para a educação” e buscaram saídas para combatê-lo.
De acordo com o texto de convocação da Assembléia, que obteve consenso entre os estudantes presentes, “o sistema de ensino brasileiro passa por um grave processo de sucateamento, abandono e privatização”. Além disso, acusam o campo majoritário da UNE, com a União da Juventude Socialista – ligada ao Partido Comunista do Brasil – à frente, de omissão e conivência diante a situação.
Os livros de história não hesitam ao afirmar que o movimento estudantil organizado participou diretamente do processo político do país em várias oportunidades. Também não hesitam ao considerar a UNE como expressão máxima da força da juventude brasileira. O ápice deste processo deu-se nos anos de chumbo, quando estudantes foram às ruas – e até às armas – com o objetivo de derrubar a ditadura. Parte deles, com perspectiva ainda mais ampla, a de instalar um governo popular e revolucionário no Brasil.
Ao relembrar esse passado, Camila Lisboa, integrante da Comissão Executiva Nacional da ANEL e aluna de sociologia da Unicamp diz: “Quem continua esta luta é a ANEL e não a UNE. O que eles reivindicam atualmente é muito pouco perante a história do movimento estudantil brasileiro”.
Na mesma linha, Osvaldo Coggiola, professor titular de História Contemporânea da USP e um dos palestrantes da assembléia realizada no último sábado, afirmou: “Infelizmente, a entidade oficial do movimento estudantil brasileiro (UNE) atingiu grau tão elevado de burocratização que se afastou das lutas populares”,
Ele assinalou que o Brasil possui estrutura de representação sindical e estudantil que favorece o aparelhamento dos movimentos. Disse que somos um dos países do mundo que mais confere recursos públicos ao funcionamento das entidades de representação. Para o professor Coggiola o entrave é nocivo. “Isto tem sido uma peste. Descontar compulsoriamente dos trabalhadores o imposto sindical para financiar a burocracia é uma peste absoluta”, completa.
“Mesmo com as diferenças, defendemos a possibilidade de unidade de ação e sairemos com a UNE às ruas se for de interesse dos estudantes”, disse Daniel Wardil, membro da Comissão Executiva Nacional da ANEL e estudante do ICB (Instituto de Ciências Biológicas) da UFMG. “Por exemplo, vamos participar juntos do plebiscito contra a propriedade de terra”, afirma.
A UNE RESPONDE
Em entrevista exclusiva para o site de CartaCapital, Augusto Chagas, atual presidente da UNE, responde as críticas, avalia a organização do movimento estudantil à margem da entidade e diz valorizar o protagonismo da ANEL nos últimos anos.
CartaCapital- Como avalia a organização de parte do movimento estudantil atual à margem da UNE?
Augusto Chagas – A UNE é do tamanho do Brasil. Representa essa diversidade que nos compõe. E o povo se organiza de diversas formas, com posições ideológicas distintas. Por isso, penso que a UNE é tão ampla que consegue abarcar todas as organizações que se formam no interior da universidade. Os CUCAs (Centros Universitários de Cultura e Arte), as empresas Juniores, as Federações de Cursos, os CAs, DAs, DCEs, atléticas e organizações por setor. Todas elas são legítimas. Ainda bem que a UNE reflete isso. O interior da entidade reflete as diferenças e semelhanças do povo brasileiro. Consideramos a
ANEL como parte dessa diversidade. Portanto, não acredito que esteja à margem. A UNE representa o conjunto dos estudantes brasileiros, inclusive os da ANEL. Respeitamos suas opiniões, bandeiras e formas de organização. O mais importante é o estudante se organizar, ser protagonista, ter alguma forma de participação.
Temos que respeitar a decisão de qualquer grupo ou organização de participar ou não dos fóruns da UNE. O PSTU decidiu que deveria sair e montou a ANEL. É direito deles. Mas que fique claro que foram sozinhos. Nenhuma outra corrente do movimento estudantil brasileiro os seguiu. Pelo contrário, a UNE passa por um momento de intensa participação política. Acredito que em breve vão perceber que cometeram um equivoco histórico e voltarão atrás. De nossa parte serão recebidos com respeito.
CC- E a questão da representatividade? O congresso de fundação da ANEL recebeu 2000 estudantes de todo país e mais da metade deles não eram partidários do PSTU.
AC – Acho muito bacana o protagonismo. Como achei também muito bacana quando fui ao Rio Grande do Norte recentemente e participei de um evento de centenas de jovens cientistas promovido pela Associação Nacional dos Pós Graduandos dentro da reunião anual da SBPC. Ou quando participo dos fóruns das várias juventudes partidárias que são tão vibrantes. Isso mostra que o estudante brasileiro, ao contrário do que muitos pensam, se organiza cada vez mais e de diferentes formas. A criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude, o que levou à fundação de várias coordenarias e conselhos de juventude nos estados e municípios, reflete o papel destacado que o protagonismo juvenil tem assumido nos últimos anos. É mais um elemento que deixa claro o processo de mudança que ocorreu no último período. O que mudou foram as formas de participação e não a participação em si. Mas representatividade é diferente. Para representar, precisa ter história, método, democracia interna. Exercemos isso na UNE há 73 anos. Na UNE, atualmente, participam mais de 30 correntes políticas diferentes, de todos os Estados do país. Nosso último congresso mobiliou 92% das universidades brasileiras. Para participar de um congresso da UNE com direito a voto o estudante precisa ser eleito. Foram mais de 2 milhões de votos no congresso passado. Por isso que não dá para confundir um grupo com uma entidade representativa.
CC- Factualmente, a ANEL aparece como braço de ação direta de um movimento de esquerda amplo e provindo do seio das mais importantes universidades do país. Neste contexto, porque um relacionamento tão ruim entre as entidades?
AC- A UNE não tem relacionamento ruim com qualquer organização estudantil. Respeitamos todas. No Brasil, temos um patrimônio que é a unicidade da UNE. São poucos países do mundo onde existem entidades únicas nacionais de representação dos estudantes. Em muitos lugares, as diferenças de opinião levaram os estudantes a formarem várias organizações. Mas por aqui temos apenas uma, a UNE. Isso só foi possível por nossa característica de amplitude, de convivência das diferenças. No interior da UNE existem estudantes de esquerda, de direita e centro: a UNE representa todos. Mas é claro que existe uma maioria e uma idéia vencedora. No caso, o caminho da mudança, de construir um Brasil mais justo, mais desenvolvido, com mais oportunidades para o povo. Temos imenso orgulho de cada contribuição que demos para história do Brasil.
CC- A militância independente reclama que a UNE é “aparelhada” pelo PC do B e a ANEL pelo PSTU. No ponto de vista da UNE, há impossibilidade de organização estudantil independente? Como analisam tais críticas e a relação do movimento estudantil com os partidos em geral?
AC – Valorizo todas as formas de organização, sejam elas quais forem. Cada grupo, coletivo, ong, posse ou partido político tem seu método de trabalho, debate e decisão. E todos eles são extremamente valorosos. Quanto às forças políticas, partidos ou não, são elementos que fortalecem a organização e os espaços de debates. Não acho que tenha aparelhamento do PCdoB ou do PSTU, ou de quem quer que seja. Tem uma característica importante sobre a UNE: no interior dela se organizam dezenas de correntes e partidos políticos. Todos os maiores partidos brasileiros disputam opinião nos fóruns. E os atores do processo são livres, eles é que decidem, definem. E as escolhas são feitas de acordo com o acúmulo de cada um de nós. O fundamental é que a UNE está disposta e aberta a qualquer opinião. Tem sido assim há 73 anos. Isso marcou nossa história. E não há força política ou direção que irá mudar o desejo e a vontade dos estudantes.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/nova-entidade-completa-um-ano-e-questiona-a-une
NO MARANHÃO, PV ISOLA MARINA E APOIA PETISTA
Integrante histórico da cúpula do PV, o deputado Sarney Filho não faz campanha para a candidata do partido à Presidência, Marina Silva. O PV do Maranhão é aliado do PMDB, da governadora e candidata à reeleição Roseana Sarney, que proíbe os verdes de pedirem votos para Marina.
A candidata de Roseana à Presidência é a petista Dilma Rousseff, aliada da peemedebista. "Voto no Marina e ela (Roseana) na Dilma. Quando estou com Roseana no palanque dela não faço campanha para a Marina. Roseana não quer. Ela não deixa. Mas meu partido está fazendo campanha para Marina", diz Zequinha Sarney, irmão da governadora. "Não deixo mesmo pedir voto para Marina", diz Roseana.
Na aliança de 16 partidos que apoiam a reeleição de Roseana, o cabo eleitoral do PV no Maranhão é o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Na semana passada, ele apareceu pelo menos uma vez pedindo votos para o candidato a deputado estadual Edilázio, que é do PV.
Marina não aparece na campanha de ninguém do PV. Na semana passada, Zequinha promoveu uma reunião em uma casa cinematográfica, em bairro nobre de São Luís. Ao lado do pai, ele discurso e pediu votos para sua candidata à reeleição. Ressaltou as realizações de sua irmã à frente do governo do Maranhão, mas não mencionou os nomes das candidatas Marina ou Dilma."
(O Estado de São Paulo, edição nº 42686, terça-feira, 31 de agosto de 2010, página A7)
Lula lidera ofensiva para obter maioria no Senado
30 de agosto de 2010 08:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deflagrou uma ofensiva na televisão e nos palanques para garantir ampla maioria no Senado para um eventual governo de Dilma Rousseff (PT). Das 54 vagas em disputa, os oposicionistas PSDB, DEM e PPS têm candidatos competitivos em apenas 17, segundo as últimas pesquisas.
Lula e Dilma têm usado o horário eleitoral para disseminar mensagens de apoio a candidatos aliados com chances de tirar do páreo os senadores que, nos últimos anos, derrotaram o governo em votações importantes, como a tentativa de prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o imposto do cheque. O presidente também começou a lançar ataques diretos contra os adversários. Na última sexta-feira, seu alvo foi Marco Maciel (DEM), candidato à reeleição em Pernambuco.
Até 3 de outubro, o número de oposicionistas com chances nas pesquisas pode cair. Mesmo antes da ofensiva de Lula, alguns dos principais expoentes das bancadas contrárias ao governo enfrentavam dificuldades para se reeleger, em uma campanha na qual a associação ao presidente tem se mostrado decisiva na conquista do eleitorado.
Entre eles, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, e Heráclito Fortes (DEM) são os mais fragilizados na busca por uma das duas vagas em disputa em seus Estados. Efraim Morais (PB), José Agripino (RN) e Marco Maciel, todos do DEM, também estão sob ameaça da onda governista.
Ataque
Apesar de não ter estado na linha de frente da oposição nos últimos anos, Maciel foi alvo de um ataque pesado de Lula na última sexta-feira, durante um comício do PT, no Recife. Sem citar nomes, Lula disse que há candidato que parece estar no Senado desde o tempo do Império.
Já foi presidente da Câmara, ministro e até vice-presidente da República. O que ele trouxe para Pernambuco? A seguir, o presidente conclamou o público a votar em Humberto Costa (PT), líder nas pesquisas, e em Armando Monteiro Neto (PTB), que ameaça tirar de Maciel a segunda colocação. As informações são do jornal O Estado de S. PauloFonte: http://br.eleicoes.yahoo.net/noticias/1699/lula-lidera-ofensiva-para-obter-maioria-no-senado
*Por Caren Bohan
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estará andando na corda-bamba ao fazer seu discurso sobre o Iraque nesta terça-feira à noite, tendo de destacar os avanços rumo ao fim da guerra, mas sem passar a ideia de que se trata de um momento "missão cumprida".
A Casa Branca afirmou que o fim das missões de combate, que ocorre oficialmente nesta terça-feira, deixando no Iraque apenas 50 mil soldados para missão de apoio e treinamento, representa o cumprimento de uma promessa feita por Obama durante a sua campanha eleitoral, em 2008.
Obama espera que a mensagem ajude seus correligionários democratas nas eleições parlamentares de 2 de novembro.
O pronunciamento, marcado para as 20h (21h em Brasília), será apenas o segundo discurso de Obama no Salão Oval da Casa Branca. Em junho, o presidente havia usado esse local altamente simbólico para discutir a resposta do seu governo ao vazamento de petróleo no golfo do México.
Enquanto Obama se preparava para o discurso, seu vice, Joe Biden, viajou na segunda-feira ao Iraque para garantir aos iraquianos que os EUA não os abandonarão.
Biden deveria conversar com líderes iraquianos envolvidos no impasse para a formação do novo governo local, que se arrasta desde as inconclusivas eleições de março.
Obama disse no domingo, em entrevista à NBC News, que os iraquianos estão passando por um processo político que é natural numa democracia recente. "Estamos confiantes em que isso vai passar", declarou.
Antes do discurso, Obama deve visitar militares em Fort Bliss, no Texas.
Durante o pronunciamento, o presidente precisa evitar uma imagem excessivamente triunfal. Fazer isso evocaria comparações com o discurso de 2003 de seu antecessor, George W. Bush, a bordo de um porta-aviões.
Em frente a um cartaz com os dizeres "missão cumprida", Bush anunciou que as grandes operações de combate haviam terminado. A violência no Iraque posteriormente explodiu e o evento passou a ser visto como um grande tropeço.
"Vocês não ouvirão essas palavras vindas de nós", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, sobre o slogan "missão cumprida". "Obviamente, amanhã (terça-feira) marca uma mudança na nossa missão. É um marco que alcançamos na remoção das nossas tropas de combate. Isso não quer dizer que a violência irá acabar amanhã."
Mais de 4.400 soldados dos EUA morreram no Iraque desde a invasão norte-americana de 2003, que derrubou o regime de Saddam Hussein.
Obama, que foi contra o conflito, aproveitou o sentimento antiguerra que havia em 2008 para se credenciar como candidato democrata à Presidência. Quando tomou posse, em janeiro de 2009, os EUA tinham 140 mil soldados no Iraque, contingente que havia chegado a 176 mil sob Bush.
Na prática, o fim das missões de combate não marca uma grande mudança no terreno, porque os militares já vinham no último ano priorizando as atividades de treinamento e assistência. Obama promete retirar todos os soldados do Iraque até o final de 2011.
Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/mundo_eua_obama_discurso
Qual o rumo das reformas de Raúl Castro?
*Breno Altman - Opera Mundi
As medidas anunciadas pelo presidente cubano, em seu discurso de ontem (1/8) diante da Assembléia Nacional do Poder Popular, abrem nova fase na vida do país. Desde sua posse, em 2008, Raúl vinha adotando reformas lentas e graduais, nos marcos do regime socialista. O enunciado de providências mais amplas e detalhadas, porém, parece indicar que esse processo será acelerado.
O núcleo principal do programa apresentado aos deputados é marcado pelo estímulo ao empreendedorismo. Várias atividades comerciais e de serviços, estatizadas desde os anos 60, poderão ser exploradas em caráter privado. O governo já tinha revogado, há alguns meses, o monopólio estatal de cabeleireiros e barbeiros. Dezenas de outros setores deverão ser contemplados pela abertura.
Os dirigentes cubanos rechaçam comparações, mas muitos analistas identificam inspiração das experiências chinesa e, particularmente, vietnamita. O Estado continuará a controlar a maior parte da economia e a regular seu funcionamento, mas novas formas de propriedade serão permitidas e até incentivadas.
Não se trata de uma novidade absoluta. Desde os anos 90, quando a União Soviética desapareceu, o governo cubano adotou legislação para facilitar o investimento internacional, a formação de empresas mistas e até o funcionamento de companhias sob controle estrangeiro. Sem o fluxo de recursos provenientes do antigo campo socialista, a sobrevivência de Cuba passou a depender de seu acesso à poupança externa.
O turismo foi o principal segmento alavancado por essa alteração. Mas a mineração, a biotecnologia e a produção de tabaco e bebidas, entre outros ramos, também puderam se reerguer a partir da associação com o capital além-fronteiras. Depois de ter perdido mais de 30% de seu PIB entre 1990 e 1993, Cuba atravessou os últimos quinze anos com um crescimento médio anual em torno de 5%.
A recuperação econômica permitiu ao país resolver os problemas mais dramáticos de escassez e manter razoavelmente intactos os serviços públicos de educação e saúde, reconhecidos por sua universalidade e qualidade. A vida cotidiana dos cubanos, no entanto, continuou ditada pelo sacrifício pós-soviético: os recursos gerados pela sociedade, em especial as divisas com exportações, pagam as contas da rede social montada pela revolução, mas são insuficientes para a prosperidade dos indivíduos.
Esse cenário conduziu a uma situação de baixa produtividade, salários defasados, informalidade da economia e aumento da corrupção. As relações com Venezuela e Brasil, a partir da conquista de seus governos por partidos de esquerda, ampliaram as oportunidades da ilha caribenha. As enfermidades da economia local, contudo, continuaram praticamente intocadas. O programa reformista de Raúl Castro busca um caminho para enfrentá-las.
Logo que assumiu a presidência convocou a população a discutir nos bairros as deficiências e erros do modelo econômico. Também levantou uma série de proibições, como a de adquirir celulares e eletrodomésticos. Seu feito mais notável, até agora, talvez tenha sido a nova política agrária, permitindo aos camponeses o usufruto das terras, a liberdade comercial e o acesso a equipamentos. A emergência dessa agricultura privada melhorou de forma significativa o abastecimento das cidades.
Aparentemente são dois os objetivos principais de sua estratégia: reduzir fortemente os gastos do Estado e desenvolver um mercado interno através da iniciativa empresarial dos cidadãos. Quase 80% dos cinco milhões de trabalhadores cubanos são servidores públicos. Calcula-se que um milhão não tem função específica ou produtiva. Raúl pretende dispensá-los, oferecendo a contrapartida de emprego em uma empresa autônoma ou de abrir seu próprio negócio.
O enxugamento do Estado, nessa lógica, permitiria a ampliação dos investimentos públicos, hoje consumidos pela própria máquina administrativa. O empreendedorismo impulsionaria tanto o fornecimento de bens e serviços quanto o crescimento do mercado interno e uma maior arrecadação tributária. Medidas mais arrojadas de associação com o capital internacional garantiriam oferta de insumos, além de aumento das exportações e dos investimentos estrangeiros.
Outra questão é o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. As reformas buscam atenuar os estragos provocados pelo embargo estabelecido desde 1962. Mas também preparam Cuba para o dia em que findar essa anomalia. Uma economia raquítica e sem perspectiva seria presa fácil dos dólares e valores norte-americanos, com o risco do bloqueio ser trocado por práticas neocoloniais. A revitalização produtiva, aliada à integração com a América Latina, pode vir a ser um escudo indispensável contra esse perigo.
Raúl Castro não parece ver, nessas decisões, contradição de fundo com o socialismo. O presidente dá sinais, cada vez mais claros, de que está convencido da necessidade de modernizar o país para manter os direitos sociais e o próprio sistema. Mesmo reafirmando que a cautela continuará a orientar seu método, lançou um formidável pacote de desafios para a revolução cubana.
Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi (www.operamundi.com.br)
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16840
E você, tem medo do Irã?
E completava: “Vou me unir com qualquer um, de qualquer cor, desde que eles queiram acabar com a miséria desta Terra.”
A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
Fonte: http://quemtemmedodolula.blogspot.com/2010/08/e-voce-tem-medo-do-ira.html
Islamismo e política
*Luís Carlos Lopes
A polêmica em torno do projeto de construção de uma mesquita em Nova York demonstra os desvairos do tempo presente. Prova que uma boa parte dos estadunidenses acredita que a religião muçulmana possa explicar o 11 de setembro de 2001. O povo protestando nas ruas a favor e contra o citado projeto e a forte espetacularização midiática sobre o caso comprovam como é fácil convencer as multidões com argumentos falsos e superficiais. Isto não é nenhuma novidade nos EUA e nem mundo afora. Comprova também que, mesmo neste país, esta questão está longe de estar pacificada.
A islamofobia vem crescendo e obscurecendo a capacidade de se compreender o que ela realmente esconde. Trata-se de um preconceito que reúne o ódio aos que têm uma religião com mais de um bilhão de adeptos ao velho racismo anti-árabe, anti-oriental e anti-negro. O sentimento islamofóbico vem, sendo há muito tempo, amplamente difundido pelas grandes mídias, especialmente, pela indústria cinematográfica dos EUA. Nos filmes de ação de péssimo gosto e clara intenção propagandística há, habitualmente, alguém identificável como muçulmano que representa o mal a ser combatido.
As raízes da islamofobia são muito antigas, as mesmas do anti-semitismo e dos mil e um preconceitos originados no cristianismo medieval. A velha Igreja demonizou judeus, árabes, asiáticos e negros que não possuíam a mesma fé, tratando-os como infiéis e subumanos. As Cruzadas foram movimentos comerciais e punitivos europeu-católicos em direção à Jerusalém. Nunca se viu os árabes, responderem na mesma moeda. É bem verdade, que o velho projeto expansionista árabe conseguiu permanecer na Europa por, aproximadamente, mil anos, notadamente na Península Ibérica. De lá expulsos, deixaram impressionantes marcas de uma cultura esplendorosa que uniu valores do Ocidente aos do Oriente.
Isto tudo foi esquecido e o cristianismo ocidental, de amplo uso político, dividiu o mundo entre contrários absolutos que navegaram até chegar no tempo presente. As manipulações político-religiosas serviram para as conquistas coloniais e para a justificação da dominação extrema de parcelas significativas da humanidade. Nelas, os nativos das Américas foram incluídos como os novos deserdados da Terra, estando em posição similar dos antigos inimigos da ordem ocidental. Os africanos, transformados em escravos durante mais do que 400 anos. O escravismo foi uma das mais significativas bases da acumulação de capitais. Esta possibilitou o surgimento da era industrial e do capitalismo moderno.
Hoje, o neocolonialismo coloca árabes, latino-americanos, africanos e asiáticos como fornecedores de matérias primas e mão-de-obra barata que alimentam as fornalhas do desenvolvimento industrial e da ordem econômica contemporânea. Ser branco, cristão e de origem européia foi, e continua sendo, um pré-requisito para dominar e se dizer que se tem a verdade inquestionável dos ‘eleitos’ como os donos do mundo. Estes são os que têm maior poder econômico e militar. São os que podem manipular, torcer a história e conduzir o desastre da guerra. Quem ousar se confrontar, mesmo que apenas no plano das idéias, estará sempre correndo o risco de ser esmagado.
A geografia humana atual da religião de Maomé é muito vasta indo do mundo árabe, onde nasceu no norte da África, subindo em direção ao que se chamava de Oriente Próximo e descendo até a África Central. A presença desta religião nestas vastas áreas testemunha o velho esplendor da cultura árabe que se expandiu a partir do século VII e eclipsou-se paulatinamente desde o século XII. O velho poder do Islão medieval não mais existe. Os países islâmicos são também nações com muitos problemas políticos, sociais e muita riqueza material, sobretudo o petróleo, amplamente exploradas pelo mundo ocidental.
A desigualdade social e a existência de modos de produção primitivos também marcam os países islâmicos. A existência de costumes bárbaros usados de modo aberto é um fato fortemente explorado pelas grandes mídias. Hipocritamente, o mundo ocidental ‘esquece’ que, apesar do seu amplo desenvolvimento econômico e cultural, a barbárie não foi erradicada e que parcelas expressivas da população a enfrentam em seu cotidiano. A presença de regimes ditatoriais, teocráticos e principescos é outra das características inegáveis dos países onde a fé em Maomé é hegemônica. A propaganda ocidental também ‘esquece’ que estes regimes são apoiados pelas nações mais ricas, quando isto lhes convêm. Não há nenhum interesse em lembrar a densa e trágica história de lutas internas contrárias aos regimes de força.
Não há nenhum registro de que as invasões e as pressões econômico-diplomáticas e militares ocidentais tenham contribuído para melhorar a situação de nenhum destes países. Ao contrário, estas pressões reforçaram o espírito teocrático que preside a vida em alguns destes países. Tem sido responsável pelo desenvolvimento do chamado fundamentalismo islâmico que prega uma luta sem tréguas ou limites éticos contra o Ocidente. Este movimento é minoritário e não pode ser confundido com a religião de paz e de auto-reflexão baseada em Maomé. Só ganhou visibilidade, após a tragédia de 2001 e das subseqüentes.
Outro problema é que os países islâmicos fazem parte do conjunto de nações que exportam seus filhos à busca de trabalho e de melhores dias. Por isso, a religião de Maomé está em toda parte do planeta e seu ciclo de expansão está longe de ter terminado. Estes imigrantes vão, principalmente, para suas ex-metrópoles, já que seus países foram colônias por décadas ou ainda funcionam como protetorados ou ‘quintais’ de alguns países ricos. Concentram-se maciçamente na América do Norte e na Europa Ocidental. Levam com eles sua religião, bem como, a perplexidade de ver seus países de origem sob forte pressão. Alguns poucos destes filhos da imigração aceitam as teses do fundamentalismo e se engajam em ações diretas. Eles dizem que agem em nome de Alá. Na verdade, suas razões são políticas e passam longe de problemas teológicos.
Do ponto de vista dos direitos humanos, o princípio de que todos são culpados e devem pagar é inaceitável. Não é exagero chamar estes movimentos de fascistas. Mas, isto também deveria valer para os que eliminaram mais de um milhão de iraquianos nos últimos cinco anos, em sua maioria, civis. O correto é que a mesma idéia fosse aplicada aos que matam para impor seu poder, atingindo, quase em todos os casos, a quem está no seu país, trabalhando ou simplesmente se transferindo de um lugar para o outro. Não há uma escala de valores defensável que diga que a vida de um muçulmano valha menos do que a de um ocidental.
Luís Carlos Lopes é professor e escritor.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=4758
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
A mídia e o "novo analfabetismo"
*Venício Lima
Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Faz tempo que os estudiosos chamam a atenção para o problema do excesso de informação nas sociedades contemporâneas. Em precioso artigo intitulado "O novo analfabetismo", publicado no Jornal do Brasil, há exatos seis anos, Emir Sader lembrava que:
"Até um certo momento, a capacidade de compreensão do mundo, e de nós dentro do mundo, esbarrava na falta de informações. Mais recentemente, passamos a sofrer o fenômeno oposto: excesso de informações. Nos dois casos, o que sofre é a capacidade de compreensão, de apreensão dos fenômenos que nos rodeiam, que produzem e reproduzem o mundo tal qual é e nós dentro dele. (...) A informação contemporânea, massificada, fragmentada, atenta contra a capacidade de compreensão da realidade como uma totalidade. Os noticiários de televisão enunciam uma enorme quantidade de informação, sem capacitar para sua compreensão, com um ritmo e uma velocidade que impedem sua assimilação e o questionamento do sentido proposto" (íntegra aqui).
Já tive a oportunidade de argumentar neste OI que informação não é conhecimento e que o excesso de informação passou a ser sinônimo de desinformação [cf. "Internet, informação e conhecimento" in OI nº. 297 de 5/10/2004]. Além disso, o principal problema provocado pelo excesso de informação tem sido identificado como a incapacidade do cidadão comum de "compreensão da realidade como uma totalidade".
Há, todavia, outro aspecto pouco lembrado: a informação que está disponível "em excesso" nem sempre é aquela que permite a "compreensão da realidade como uma totalidade". Ou ainda: não é nem mesmo a informação correta sobre fatos e dados de grande interesse público.
Presidente muçulmano em país antimuçulmano?
Parte dos resultados de uma pesquisa nacional realizada nos Estados Unidos pelo conceituado Pew Research Center, agora divulgados, dramatiza essa nova realidade.
O número de americanos que acredita que o seu presidente é muçulmano tem aumentado ano a ano e chegou a 18% da população, em agosto de 2010. Se somados àqueles que declaram "não saber" ou que ele é de "outra religião" que não a sua, 63% dos americanos desconhecem que Barack Obama, na verdade, é cristão.
Quando perguntados como souberam qual a religião de Obama, 60% daqueles que acreditam que ele é muçulmano citam a mídia. Dezesseis por cento mencionam a televisão como sua fonte.
Alguns ainda podem acreditar que não se deva atribuir maior significado aos dados revelados pelo Pew Center. No entanto, bastaria lembrar a crescente onda anti-islâmica que varre os Estados Unidos [por exemplo, "The US blogger on a mission to halt `Islamic takeover´"], ou mencionar a manchete de capa da revista Time desta semana [vol. 176, nº. 9] que pergunta "A América é islamofóbica?" e publica os assustadores resultados de outra pesquisa nacional:
** 25% consideram os muçulmanos americanos não patriotas;
** 28% dos americanos afirmam ser contra um muçulmano integrar a Suprema Corte (nunca houve nenhum); e
** 33% se opõem a um muçulmano concorrendo à presidência.
E o dever de informar?
É imperativo, portanto, perguntar: se o grau de informação (desinformação?) dos americanos em relação à crença religiosa do seu próprio presidente expressa a qualidade da informação sendo oferecida pela grande mídia – sobretudo, a televisão –, estaria ela cumprindo sua missão fundamental na democracia que é informar corretamente ao cidadão?
A lição para nós, brasileiros, é a reiterada necessidade de se estar atento às muitas contradições das posições públicas assumidas pela grande mídia e suas entidades representativas.
A defesa da liberdade de imprensa em nome do direito de informar – que, na verdade, é o corolário do direito básico do cidadão de ser informado – não significa que a informação necessária e correta esteja disponível. Mesmo em sociedades onde, eventualmente, possa existir "excesso de informação".
Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4757
Os noves fora de José Serra
Secundado pela mídia que sempre o apoiou, e hoje se declara independente, Serra não tem escrúpulos em conspurcar a credibilidade do jogo político às vésperas de uma eleição presidencial. Em queda livre, o candidato e seus aliados ensaiam uma quartelada midiática.
O que estamos assistindo agora, com as tentativas tucanas de plantar escândalos e judicializar a campanha, é a uma gigantesca operação de engodo de candidatura sem perspectiva. Secundado pela mídia que sempre o apoiou, e hoje se declara "independente", Serra não tem escrúpulos em conspurcar a credibilidade do jogo político às vésperas de uma eleição presidencial. O que ele e seus sócios do PPS e do DEM estão querendo fazer é um autêntico golpe de mão, uma quartelada midiática para evitar que a sociedade possa comparar dois projetos de país.
Estado por estado as notícias são parecidas. Há um rápido processo de cristianização do candidato tucano. No Nordeste é um arraso: quem fez oposição a Lula nos últimos quatro anos, desembarca da nau serrista para cuidar da própria sobrevivência política. Nem mais em São Paulo, estado que o elegeu senador, prefeito e governador, Serra voa em céu de brigadeiro. O repúdio não se dirige apenas contra sua melancólica figura, mas ao estilo de governo posto em prática nos oito anos em que o neoliberalismo vigorou no país. Há algo de covarde na recusa de uma comparação retrospectiva, mas também há algo de didático no exame das decisões de um ator político.
Quando se nega a comparar o governo a que pertenceu com a gestão petista, Serra afirma “que não faz política olhando para o retrovisor". Certamente preferia que tudo fosse diferente, mas, no beco sem saída em que se encontra, não é possível acertar o caminho com manobras abruptas. Seu trem em marcha ré colidiria com os desastres da política econômica de FHC, o padrinho a ser ocultado.
Vamos aos fatos: a abertura comercial, promovida pelo consórcio demo-tucano, não trouxe ganhos de competitividade à indústria nacional. Pelo contrário, causou um efeito devastador em setores, como o têxtil, transformando segmentos que produziam localmente em meros importadores de insumos. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois de oito anos de economia submetida à concorrência internacional, sem instituição de políticas públicas adequadas, as conseqüências apareceram nos resultados negativos da balança comercial, em menos geração de emprego e renda no Brasil.
Os pesquisadores concluíram que a importação de matérias-primas provocou o esgarçamento dos setores intermediários de produção, aqueles encarregados de produzir os insumos para os fabricantes de produtos finais. A análise dos resultados na década de 1990 demonstrou maior competitividade na produção de commodities e vulnerabilidade das atividades de maior conteúdo tecnológico, aquelas com maior valor agregado e responsáveis pela geração de mais postos de trabalho. Nesse contexto, cabe a pergunta: como Serra teria condições de apresentar sua política industrial, sem renegar totalmente o pensamento do PSDB?
Seguindo os preceitos do Consenso de Washington, a possibilidade de o Brasil tornar-se exportador de produtos básicos, que seriam processados em outros países, e importados posteriormente, era o que se afigurava como horizonte à época. Na indústria química, o crescimento das importações levou à desativação de centros de produção de insumos. Princípios ativos para a produção de medicamentos que, nos anos 80, começaram a ser produzidos aqui, com a abertura desregulada, passaram a ser fornecidos pelos Estados Unidos e por países europeus. Nos tempos ministeriais de Serra, a saúde que interessava era a da indústria farmacêutica internacional. Não lhe peçam, portanto, para apresentar propostas programáticas para o setor. Além das platitudes, o vazio é total.
No campo energético, o desastre não foi menor. A decisão de vender usinas prontas, em plena operação, sem ao menos abrir aos investidores a oportunidade, e o consequente risco, do empreendimento novo, gerou uma situação de insegurança energética, com 70% do mercado de distribuição e boa parte da geração privatizados. Sem agregar energia nova, o governo de FHC pensou em esquartejar Furnas quando o movimento mundial ditava fusões. Não faltavam, ainda, os defensores da venda da Chesf, detentora de grandes reservatórios - alguns de alta importância ecológica e social - antes de se regulamentar o uso múltiplo das águas. O que Serra teria a dizer sobre o descalabro? Por que a doce e ética Marina silencia sobre o tema?
Por que não discutir sobre as consequencias desastrosas da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, programada para se instalar em 2005 e que, fatalmente, nos levaria a novo pacto colonial?
Serra, o “Zé que joga pesado" não pode defender o passado sem deixar de fazer um elogio à rasteira da soberania nacional. Por isso, dele só se pode esperar a pregação golpista, o denuncismo como método. E um genérico de Elba Ramalho em seu programa eleitoral. O ex-presidente da UNE jogou sua biografia no ralo das circunstâncias. Da soma dos fatores a que se submeteu, deixando de fora os nove, sobra rigorosamente nada.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/opinioes/os-noves-fora-de-jose-serra-17941.html
Irã se arma e avisa que se for atacado vai responder com ataque global
TEERÃ/IRÃ – Pressionado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e por potências mundiais devido ao seu programa de energia nuclear, o governo revolucionário do Irã colocou em operação uma usina atômica, mostrou ao mundo que tem um avião de combate não tripulado de longo alcance e avisou aos Estados Unidos e Israel que vai deflagrar uma guerra planetária caso venha ser atacado por algum País.
Usando linguagem de guerra apocalíptica, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, prometeu uma "resposta em escala planetária”, caso o seu país seja atacado. "Nossas opções não terão limites, envolverão todo o planeta", avisou o presidente iraniano.
Um dia após colocar em operação a primeira usina atômica iraniana, o presidente Mahmoud Ahmadinejad mostrou ao mundo o primeiro avião não tripulado de longo alcance, desenvolvido e construído inteiramente dentro do país.
Denominado de Drone, o veículo aéreo não tripulado é capaz de realizar bombardeio a longa distância contra alvos no solo e de voar em alta velocidade, comandado e pilotado remotamente por militares em posições distantes da aeronave e do alvo a ser atingido.
Mahmoud Ahmadinejad participou da apresentação do avião um dia depois de inaugurar a usina nuclear de Bushehr, construída pela Rússia e destinada à geração de energia.
Segundo jornalistas iranianos, em fevereiro, o Irã inaugurou a linha de produção de dois tipos de aviões com capacidade de bombardeio e de reconhecimento. Antes de mostrar o Drone, o ministro iraniano da Defesa disse que o país estava pronto para revelar um projeto de "grande importância" e que a capacidade de defesa do Irã chegou a um ponto que não precisa de qualquer ajuda de outros países.
Aviões não tripulados são recursos cada vez mais utilizados por forças armadas mundiais, principalmente a dos Estados Unidos. No entanto, os críticos da arma dizem que os pilotos e comandantes das operações, que ficam a milhares de quilômetros de distância enquanto comandam a aeronave por controle remoto, não têm capacidade para julgar corretamente se há ou não a necessidade de um bombardeio em determinado alvo.
Um dia antes de apresentar ao mundo o avião não tripulado de bombardeiro e reconhecimento de longo alcance, o Irã colocou em operação a sua primeira usina atômica, em Bushehr, ao Sul do País, às margens do Golfo Pérsico, construída por engenheiros russos, segundo informações da Rosatom, uma empresa nuclear russa.
O diretor da Organização da Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, e o chefe da Rosatom, Serguei Kirienko, assistiram à cerimônia oficial de inauguração da usina, aprovada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Os governos do Irã e da Rússia garantem que a usina de Bushehr será destinada unicamente a gerar eletricidade, e suas instalações não podem ser utilizadas para fins militares.
Salehi disse que o fato é "histórico" e "inesquecível" para o Irã, e agradeceu à Rússia por sua cooperação na construção da usina e na transferência de tecnologia nuclear, segundo as agências russas.
"Apesar de todas as pressões e sanções impostas pelos países ocidentais, somos testemunhas do início dos trabalhos do maior símbolo das atividades nucleares pacíficas iranianas", disse Salehi na cerimônia que colocou em operação a usina atômica iraniana.
As 82 toneladas de combustível nuclear russo foram transportadas até a câmara do reator da central, que tem mil megawatts de potência. "A partir de agora, o reator é uma usina nuclear", disse o russo Serguei Kirienko.
Kirienko explicou que as barras de combustível de urânio serão carregadas no reator nas próximas semanas, e que a central começará a gerar eletricidade antes do fim deste ano, vários meses antes do previsto inicialmente.
A empresa alemã Siemens iniciou as obras da usina em 1974, mas teve que suspender o projeto após a explosão da revolução iraniana em 1979. O projeto de Bushehr é único e não tem análogos no mundo. Suas obras começaram em 1974, e os especialistas conseguiram construir uma central sobre alicerces antigos e com equipamentos utilizados pela companhia alemã há mais de 30 anos.
A corporação russa Atom Stroy Export retomou a construção após assinar um contrato com o Irã em fevereiro de 1998, mas desde então o projeto sofreu inúmeros atrasos, devido às suspeitas da comunidade internacional sobre a existência de um programa nuclear militar iraniano.
Diante das críticas dos Estados Unidos e Israel, a Rosatom insiste que as duas fases do ciclo nuclear da usina, que podem ser utilizadas tanto com fins civis como militares, ocorrem em território russo.
Trata-se do enriquecimento de urânio e da reciclagem do combustível nuclear utilizado para o funcionamento da central, com garantias escritas adicionais do Irã de que o combustível será empregado exclusivamente na central para a geração de eletricidade. Além disso, Moscou e Teerã assinaram um protocolo adicional sobre a devolução à Rússia do combustível nuclear utilizado.
Usando uma linguagem de guerra apocalíptica, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, prometeu uma "resposta em escala planetária" caso seu país seja atacado. "Nossas opções não terão limites, Envolverão todo o planeta", afirmou o presidente iraniano, em resposta a uma pergunta feita pelos jornalistas sobre qual seria a reação de Teerã a um ataque externo.
"Acho que alguns pensam em atacar o Irã, em particular no âmbito da entidade sionista (Israel), mas sabem que o Irã é uma muralha indestrutível e não acho que seus amos, americanos, o permitam fazê-lo", acrescentou Ahmadinejad, que defendeu, por outro lado, a retomada da iniciativa de Brasil e Turquia sobre uma troca de urânio enriquecido.
O Irã colocou em operação sua usina nuclear e alega que precisa enriquecer urânio para alimentar com combustível suas futuras usinas e conta produzir um dia 20 mil megawatts de eletricidade de origem nuclear. Entretanto, as potencias mundiais suspeitam que o Irã quer equipar-se com a bomba atômica, escondendo-se atrás de seu programa nuclear civil, apesar de seus reiterados desmentidos.
Os Estados Unidos e Israel afirmam com regularidade não excluir um ataque contra o Irã para por um fim a seu controverso programa nuclear. Os ocidentais suspeitam que Teerã, apesar de suas negativas reiteradas, tenta fabricar a bomba atômica, servindo-se de seu programa nuclear civil.
ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA Ru BRASIL
Texto postado em 25/08/2010 ás 16:06 no site http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=b075703bbe07a50ddcccfaac424bb6d9&cod=6021Requiescat in Pace
*José Luís Fiori
Foi no dia 5 de fevereiro de 1998 que o ex-primeiro-ministro inglês, Tony Blair, anunciou, em Washington, junto com o presidente Bill Clinton, a decisão de convocar uma reunião internacional para discutir e atualizar a social-democracia, criando um movimento que foi chamado de "terceira via" ou “governança progressiva”. Naquele momento, brilhava a estrela do novo líder inglês, que recém havia sido empossado e conseguiu reunir, sucessivamente, em Florença, Washington e Londres, Bill Clinton, Lionel Jospin, Gerhard Schröder, Massimo D´Alema, Fernando H. Cardoso, Ricardo Lagos, entre outros governantes e intelectuais ligados de uma forma ou outra à social-democracia européia, ou ao partido democrata norte-americano.
O projeto comum era construir um novo programa que adequasse a velha social-democracia às novas idéias e políticas neoliberais, hegemônicas nas últimas décadas do século XX. O resultado foi uma geléia ideológica, com propostas extremamente vagas e imprecisas, que mal encobriam o seu núcleo duro voltado para a abertura, desregulação e desestatização das economias nacionais, e para um "prologement vaguement social de la révolution thatcheriste", como caracterizou na época, a revista francesa, Nouvelle Observateur.
Goste-se ou não, as idéias e os partidos socialistas e social-democratas deram uma contribuição decisiva à história do século XX, em particular à criação do “estado do bem-estar social”, depois da II Guerra Mundial. Mas na década de 80, a social-democracia perdeu fôlego político, e acabou perdendo a sua própria identidade ideológica, asfixiada pela grande “restauração” liberal conservadora, de Margerth Thatcher e Ronald Reagan. Isto aconteceu na Espanha, de Felipe Gonzalez, na França, de François Mitterand, na Itália, de Bettino Craxi, e também na Grécia, de Andreas Papandreu. Nos anos 90, entretanto, este movimento adquiriu outra densidade e importância, com a vitória democrata, de Bill Clinton, nos EUA, e do trabalhismo de Tony Blair, na Inglaterra.
Na América Latina, a história foi um pouco diferente, porque as novas políticas neoliberais apareceram – nos anos 80 - associadas à renegociação da dívida externa do continente, como se fossem apenas um problema de política econômica. E foi só no Chile e no Brasil, que a proposta da “terceira via” teve uma repercussão importante, durante a década de 90. No caso do Chile, com a formação da aliança entre socialistas e democrata-cristãos, e, em particular, durante o governo de Ricardo Lagos (1990-1996), que aderiu pessoalmente ao projeto liderado pelos anglo-saxões. E, no caso do Brasil, com a formação do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), e com a participação ativa do presidente Fernando H. Cardoso (1995-2002), na formulação das idéias e nas reuniões do movimento, ao lado de Tony Blair e Bill Clinton.
A “terceira via” teve uma vida muito curta. Talvez, por causa da superficialidade e artificialidade das suas idéias, talvez, porque seus líderes mais importantes acabaram sendo derrotadas nas urnas, ou passaram para a história como grandes fracassos ou blefes político-ideológicos. Como no caso do iniciador do movimento, o ex-primeiro-ministro Tony Blair, que foi afastado da liderança trabalhista em 2007, e se transformou no inimigo numero um da imprensa e da maioria da opinião publica inglesa, sob acusação de ter mentido para justificar a entrada do seu país na Guerra do Iraque, além de ter acobertado casos de tortura, por parte de suas tropas.
Tony Blair foi substituído por Gordon Brown, outro ideólogo da “terceira via” que acabou sofrendo uma das derrotas eleitorais mais arrasadoras da história do trabalhismo inglês. Bill Clinton também não conseguiu fazer seu sucessor, e passou para a história, como símbolo do expansionismo imperial americano, da década de 1990, a despeito de sua retórica “globalista” e democrática. Os demais participantes europeus do movimento também tiveram finais inglórios, como foi o caso de Lionel Jospin, Massimo D´Alema e Gerhard Schröder, e hoje ninguém mais fala ou lembra, na Europa ou nos Estados Unidos, do projeto da “terceira via”. Mas este factóide anglo-americano teve uma sobrevida, e só será enterrado definitivamente, em 2010, na América Latina. Primeiro, no Chile, depois da derrota eleitoral da “Concertacion” de Ricardo Lagos. E depois, no Brasil, com a provável derrota do partido social-democrata, de Fernando H. Cardoso, nas eleições presidências deste ano. Nos dois casos, o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos dois últimos herdeiros da “terceira via”. Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz !
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4761