Por Emir Sader
O Irã tornou-se a bola da vez da “guerra ao terror”. “Um Irã falido, corrupto e desestabilizador obriga países a levarem a sério suas responsabilidades” – diz o chanceler britânico, David Miliband, do alto da moral de um governo que mentiu para levar a Inglaterra a invadir o Iraque. Obama e Hillary reiteram ameaças e prazos. Israel tem a bala na agulha para bombardear o Irã. O mundo de ponta cabeça, como diria Eduardo Galeano.
Quem representa risco para a paz mundial? O Irã, que talvez chegue a ter armas nucleares, mas não atacou a nenhum país, não ocupa nenhum país? Ou Israel, que confessadamente tem a bomba atômica, ocupa territórios palestinos, cometeu genocídio em Gaza e continua bloqueando os acessos a essa região para que possa minimamente ser reconstruída?
Ou os Estados Unidos, que possuem o maior arsenal de armamentos convencionais e nucleares da história da humanidade? Que, contra decisão da ONU, invadiu e destruiu o Iraque? Que continua ocupando e destruindo o Afeganistão? Que possui mais de 100 bases militares pelo mundo afora? Que ocupa, há mais de um século, a base militar de Guantanamo, em Cuba, para onde leva presos acusados de “terrorismo”, mantendo-os fora de qualquer legalidade, torturando a prisioneiros sem qualquer defesa e controle. Que instala 9 bases militares na Colômbia, com funções expressas de realizar atividades de vigilância, controle e ações sobre a região. Que tem um histórico interminável de invasões de países de continente – os últimos, o Panamá e Granada, além do cerco terrorista à Nicaragua e o bloqueio de cinco décadas a Cuba.
O Tratado de não Proliferação de Armas Nucleares significa simplesmente que quem tem esse armamento, continuará a ter o direito de mantê-lo e desenvolvê-lo. Entre eles estão os maiores fabricantes de armamentos do mundo, os que limpam os negócios escusos de abastecer com armas a todos os conflitos bélicos do mundo nos “paraísos fiscais”, os que invadem países e ameaçam a outros.
O verdadeiro tratado para a paz mundial deveria ser o de desarmamento, de liquidação de todos os armamentos nucleares, a começar pelos que possuem arsenais monumentais. Que moral têm os EUA, a Inglaterra e outras potências, que possuem armamento nuclear e ocupam e destróem outros países, para exigir algo do Ira?
O Brasil atua corretamente, defendendo o direito do Irã de desenvolver pesquisas na área da energia nuclear, contanto que sejam para fins pacíficos, como é o caso do Brasil. Nenhuma pressão externa vai fazer com que a política externa soberana do Brasil se some às maiores potências bélicas da humanidade, que apóiam a Israel e lhe fornecem armamento nuclear, que continuam ocupando o Iraque e o Afeganistao. Trabalhar para a paz mundial é intermediar os conflitos no Oriente Médio, é propor um desarmamento amplo e irrestrito a todas as potências bélicas. É centrar a luta no mundo pelo desenvolvimento, o combate à fome e a favor da solidariedade e da cooperação, como tem feito o Brasil.
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