Leiam com atenção... apesar de um pouco extenso, é um ótimo
mapeamento da direita e sua organização no Brasil. Vejam os nomes e
constatem como eles têm o controle (ou estão no controle) da grande
mídia. Não é sem sentido que a Judith falou que a oposição no Brasil é a
imprensa!
O conservadorismo em ação
Alex Solnik: A vanguarda popular da direita sai do armário
publicado em 26 de dezembro de 2012 às 10:55
Detalhe de banner do Endireita Brasil (reprodução Viomundo)
20 de dezembro de 2012 – 15:13 | Home > Revista Brasileiros 62
Vanguarda popular: a direita sai do armário (com roupas de esquerda)
O que pretendem os jovens brasileiros de direita, liderados pelo Instituto Millenium
Alex Solnik, na revista Brasileiros, sugestão do Igor Felippe
É
didático assistir à palestra de Helio Beltrão Filho postada no site do
Instituto Mises Brasil, do qual é o presidente. Ele fala em perfeito
inglês na sede do Mises americano, em Auburn, Alabama, mostrando
entusiasmo e alegria. "Hoje é carnaval no meu País, o Brasil", diz ele,
esbanjando simpatia. "Os brasileiros estão gozando do seu sagrado
direito à felicidade… Eu digo no sentido bíblico…"
Risos
discretos pontuam sua observação. O jovem Helio Beltrão Filho vai em
frente: "Com toda a festa que ocorre hoje no meu País, escolhi estar
aqui porque a minha festa é aqui".
Ele é a face mais visível
e, ao mesmo tempo, menos assustadora da articulação de direita que
grassa no Brasil desde 2005. Assustador é o brasão do Instituto Mises
Brasil que lembra, por tudo, a TFP (Tradição, Família e Propriedade). O
lema do instituto é "Propriedade, Liberdade e Paz".
O
rosto do brasão é do "patrono" do instituto, o economista conservador
austríaco de origem judaica Ludwig von Mises, de frente e de perfil. A
imagem de perfil guarda uma profunda semelhança com o general Costa e
Silva. Talvez seja uma menção proposital. Helio Beltrão, pai do jovem
Helio, foi ministro dos presidentes Costa e Silva e João Figueiredo.
Presidiu a Petrobras e foi acionista do Grupo Ultra. Com sua morte, as
ações foram herdadas pelo filho.
O brasão é medieval, mas sua utilização é moderna.
Ele aparece estampado em camisetas, bonés, chaveiros, moletons,
adesivos, todos os tipos de acessórios familiares aos jovens. Até mesmo
em shapes de skate. Acompanhado de frases como "Inimigo do Estado",
"Privatização Total" e "Imposto é Roubo", o busto de Von Mises também
aparece isolado em camisetas, fora do brasão. Talvez uma tentativa de
transformá-lo em Che Guevara da direita. Todos os produtos são vendidos
na loja virtual do instituto.
Guevara de Mickey Mouse
A
direita se modernizou, essa é a verdade. ("E a esquerda ficou velha",
comenta um amigo, guerrilheiro dos anos 1970). Helio Beltrão Filho é um
importante articulador da aliança de direita no Brasil, mas não é o
único a utilizar as mesmas armas da esquerda para outros fins.
O
Movimento Endireitar, por exemplo, comercializa uma coleção de
camisetas com nome muito sugestivo: Vanguarda Popular. Vanguarda Popular
Revolucionária é o nome do grupo de guerrilha em que atuou, na
juventude, a presidenta Dilma Rousseff. Faz parte da coleção de estampas
uma montagem em que um Che Guevara aparvalhado aparece vestindo orelhas
de Mickey Mouse. Em outros modelos, há inscrições como Enjoy
Capitalism, grafada com as letras da Coca-Cola.
Há
dezenas de blogs de direita explícita rolando na internet. Mas o mais
importante deles é um portal que se chama Instituto Millenium. É
um senhor portal. Perdão, ele não se assume de direita. Mas nem
precisava se assumir. O flerte com a direita é explícito. Basta conhecer
a lista dos institutos associados, OSCIPs ou ONGs criados depois do
Millenium – Movimento Endireita Brasil, Mises Brasil, Instituto Ling,
Instituto Liberal, Instituto Liberdade, Instituto de Estudos
Empresariais…
Dez ao todo. Ou consultar a lista de livros indicados com destaque para Por que Virei à Direita,
assinado por Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho e Denis
Rosenfield. O curioso é que o contraponto a esse lançamento da Editora
Três Estrelas (de propriedade do grupo Folha de S. Paulo) – A Esquerda que Não Teme Dizer seu Nome, de Vladimir Safatle da mesma editora – é tacitamente ignorado.
Por
trás de um nome solene, Millenium, não poderia haver menos solenidade
no organograma. Os dirigentes fazem parte do Conselho de Governança, há
Câmaras de Doadores, de Mantenedores, o linguajar remete aos tempos dos
Cavaleiros da Távola Redonda.
Pedro Bial é fundador
Mas
não importa. O portal é grandioso. Não podia ser diferente, se dois de
seus pilares são Roberto Civita e Grupo Abril e João Roberto Marinho,
sem Rede Globo, porque os dois outros irmãos não estão no jogo. Roberto e
João Roberto são mantenedores e integram o Conselho de Governança.
Nomes de alta estirpe comandam a operação, como Jorge Gerdau
Johannpeter, Armínio Fraga, Helio Beltrão Filho (novamente) e outros
rostos conhecidos da TV também estão lá. Pedro Bial, por exemplo, é
fundador e curador.
A lista de doadores traz uma
surpresa: Leandro Narloch. Um nome familiar. Há muitas semanas frequenta
a lista de best sellers da revista Veja, publicada
pela Editora Abril, e cujo redator-chefe, Eurípedes Alcântara, integra
com Antonio Carlos Pereira, chefe dos editorialistas do Estadão, o Conselho Editorial do Instituto Millenium. Há pouco tempo, o best seller de Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ganhou uma réplica de Luiz Felipe Pondé, que lançou o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. E também entrou na lista de best sellers da Veja.
Haja colaboradores!
Convém
explicar que o Millenium é um portal de artigos e notícias (texto e
vídeo) fornecidos por seus 450 colaboradores e especialistas. Você leu
certo: 450. Ives Gandra Martins, Nelson Motta, Marcelo Madureira, José
Padilha, Josué Gomes da Silva, Claudia Costin, Bolívar Lamounier,
Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Roberto da Matta, Pedro Malan,
Carlos Vereza, Luiz Felipe D'Ávila, Carlos Alberto Sardenberg, Demetrio
Magnoli e Marco Antonio Villa, entre muitos outros. Nenhuma revista tem
tantos. Nem a Veja. Nenhum jornal. Nem o Estadão, nem a Folha. Ninguém.
Amaury de Souza
Mas
antes de ser portal, Millenium é um instituto sediado no Rio de
Janeiro, que promove fóruns, simpósios e colóquios sobre os temas que
mais lhe são gratos: a forma de diminuir o tamanho do Estado brasileiro e
como preservar a liberdade de expressão que, segundo seus líderes, está
ameaçada.
O
interessante é que, quando a liberdade de expressão não foi apenas
ameaçada, mas suprimida nos tempos da ditadura militar, esses mesmos
paladinos da democracia não foram vistos nas trincheiras da liberdade de
expressão. Muito ao contrário.
Presidente
do Instituto Milleniun até 17 de agosto último, quando não resistiu a
um câncer do pâncreas, aos 69 anos, o cientista político Amaury de Souza
tem, em seu pomposo e elogiado currículo, passagem como professor
emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), o que
leva a crer que ele e os militares dividiam, no mínimo, as mesmas
convicções.
Tanto é verdade, que, em
1999, ele recebeu da Escola Superior de Guerra a Medalha do Mérito
Marechal Cordeiro de Farias. Que serviços terá ele prestado à ditadura?
Não foram pequenos, caso fossem não seria tão grande a honraria. Sua
barba bem comportada jamais compareceu a algum protesto, nos anos 1960 e
1970, contra a censura à imprensa
.
Denúncia do Casseta
De
2005 para cá – enquanto vivo, claro – à frente do Millenium, Amaury de
Souza organizou colóquios, simpósios e fóruns a dar com pau. Um deles,
denominado Democracia e Liberdade de Expressão, em 24 de março de 2010,
com a participação impagável de Reinaldo Azevedo e Marcelo Madureira.
Esses encontros se resumem em cada um dos participantes listar o que há
de pior no Estado brasileiro sob a batuta do PT.
Marcelo
Madureira, que era conhecido até então apenas como humorista, fez uma
denúncia sensacionalista: a democracia no Brasil estava em perigo.
"Quero denunciar o seguinte: a sociedade brasileira é vítima de ataques à
democracia! São ataques à democracia, como o mensalão é um ataque à
democracia, a legislação eleitoral é um ataque à democracia. E a
sociedade tem de reagir com firmeza a isso!".
"Eu sou de direita!"
Reinaldo Azevedo mal tinha saído das fraldas, fez 3 anos em 1964, muito cedo para entender o que estava acontecendo. Em 1968, completou o sétimo aniversário. Mas,
em 1984, quando ele estava com 21 e todas as pessoas de bem do Brasil
foram às ruas para derrubar a ditadura militar sem um tiro sequer, não
sabemos onde Reinaldo Azevedo se encontrava. Nos palanques das Diretas
Já não foi visto.
Hoje,
no entanto, ele se acha em condições de dar aulas sobre democracia,
como fez nesse fórum do Instituto Millenium, em que deblaterou sobre
política e economia com a mesma falta de conhecimento: "Todos nos
tornamos reféns de uma questão que se chama estabilidade econômica. A
ditadura militar ruiu por conta da inflação e, enfim, a militância, etc.
Mas por conta da inflação, que se estendeu Nova República adentro, de
maneira dramática (…). Nós tínhamos um partido que passou vinte e tantos
anos fazendo a guerra de valores, sabotando todas as tentativas de
estabilização, as honestas e as atrapalhadas, de maneira que chega em
2002, o PT se elege, faz uma carta ao povo brasileiro e todos,
especialmente os setores mais conservadores, fatias importantíssimas do
empresariado: 'Ahhh, eles aderiram finalmente à economia de mercado,
então vamos todos respirar aliviados. Finalmente, eles não vão querer
fazer o socialismo'. (Levantando a voz, quase colérico.) A questão é se
eles conseguiriam fazer se quisessem! (Mais calmo). Porque não
conseguiriam! E por quê? Eles nos ofereceram estabilidade e, então, de
algum modo, nós entregamos tudo a eles".
Reinaldo
Azevedo continua: "Existe uma guerra em curso. O lado de cá, o lado de
cá que eu digo é o lado da democracia…Marcelo Madureira disse: 'Eu sou
PSDB'. Eu não sou! Sou de direita! O PSDB não é. É da direita
democrática. Eu sou um liberal democrata, não sou um social democrata!".
O verme dos arrozais
No
dia 20 de março de 2012, Arnaldo Jabor dá a sua contribuição ao Fórum
Democracia e Liberdade de Expressão do mesmo Instituto Millenium: "Vamos
falar claro: o Lula, apesar de bater cabeça pros dois lados, de bater
uma no cravo e outra na ferradura, uma na caldeirinha e outra na cruz,
ele manteve os bolchevistas, os jacobinos fora do poder de alguma
maneira. Manteve certa cerca ao jacobinismo. Com seu temperamento
conciliador, etc. E chega momento em que fica até repulsivo. Mas ele
conseguiu isso. É um mérito real. Agora, o perigo é que… Eu conheço,
como alguns aqui conhecem, como o Amaury (de Souza) conhece cabeça de
comunista. Cabeça de comunista não muda, ela é feita de pedra, de
granito, aquilo não muda. Fui do Partido Comunista, mudei, mas sou um
caso raro… Sou um comunista autocrítico. Não aquelas autocríticas que
eles faziam, extraordinárias… Eu me lembro de uma famosa do Lin Piao que
começava assim: 'Eu sou um cão imperialista, eu sou um verme dos
arrozais…".
Mas o que eles querem, afinal, com tudo isso?
Qual é o objetivo? Derrubar o governo atual? Tomar o poder? Como? Talvez
a melhor resposta seja a intervenção de Alberto Carlos Almeida no 5o Colóquio Impostos, Consumo e Cidadania
no dia 24 de agosto de 2010, em que ensina a um pequeno grupo de
formadores de opinião como convencer a população brasileira a exigir do
Congresso Nacional a redução de impostos: "O que a população quer é
redução de impostos de alimentos. Nós temos de mobilizar a sociedade
brasileira e simplesmente dizer: vamos colher dez milhões de assinaturas
para os congressistas votarem redução de impostos nos alimentos. Isso
pode virar um rastilho de pólvora. Aí, precisaremos de alguns mecenas.
Você vai falar para os empresários: 'Temos de reduzir impostos e vocês
são mecenas'. 'Não, eu não vou contribuir porque tenho medo do governo.'
Então, esqueçamos, vai cada um para sua casa sonegar impostos. O
brasileiro é pragmático. Ele quer comprar mais. O brasileiro não tem
doutrina contra o imposto, contra o governo. Tem de vender isso pra ele.
'Ah, você quer comprar mais? Então, assina aqui a favor da redução de
impostos.' Pronto!".
O mundo da demagogia
Conselheiro
de políticos, Alberto Carlos Almeida, a quem, aliás, Reinaldo Azevedo
chama de "trapaceiro" e "plagiador", enquanto é taxado por ele de
"ultradireitista", tem uma visão muito particular sobre democracia:
"Democracia, por definição, é o mundo da demagogia! Ou você vai chegar
na campanha e dizer: 'Olha, vou aumentar seus impostos. Por favor, vote
em mim!'? Você tem de prometer reduzir imposto! Quando chegar lá, você
vê o que vai fazer! É assim que funciona em qualquer lugar do mundo!".
Amparado
em pesquisas, revela conhecer as entranhas do pensamento da classe
média brasileira: "Funcionário público para a população brasileira se
resume a três: policial, médico e professor. O resto que se dane! A
população pensa assim. Porque é quem lida com ela".
Ele
tem a fórmula para acender o pavio de sua revolução contra a
grandiosidade do Estado: "A comunicação com o povo brasileiro é simples:
'Olha, vamos reduzir impostos, mas não vamos mexer em direito
trabalhista e vamos impedir que aconteça greve de policial, médico e
professor. Você me apoia?'. Ele vai dizer: 'Claro que apoio'. A
comunicação tá pronta".
Por trás de tantas palavras,
pesquisas e elucubrações de tantos luminares como Alberto Carlos
Almeida – a maioria de barba bem aparada, geralmente grisalha e um
estranho modo empolado de falar – há um projeto
que pode ser sintetizado dessa forma. O que eles querem primeiro é
"levantar" a população contra o Estado, convencê-la de que é muito
grande e ineficaz, que o caminho para tal é diminuir impostos.
Cortar
impostos, em última análise, equivale a dar menos dinheiro para o
Estado petista. Com menos Estado, com menos impostos a serem recolhidos,
o governo do PT fica fragilizado, perde sua base de sustentação, que
são os pobres e, então, a direita poderá entrar com seu discurso nesse
vácuo. E tentar o caminho das urnas. Será? Mas quem será seu líder?
Nêumanne: não sei de nada
Um
paraibano alto, de cabeça grande, que fala grosso. Essa é uma descrição
aproximada e sintética de José Nêumanne Pinto, cuja foto e nome constam
da lista de colaboradores e especialistas do Instituto Millenium.
No
café que marcamos em um bar do bairro de Higienópolis, na região
central de São Paulo, ele nega conhecer o Instituto Millenium. A
situação se inverte: ele pede que eu explique do que se trata.
"Mas
sua foto está lá, com seu nome e seus artigos", tento argumentar. Ele
alega pirataria. Ademais, não tem tempo para ler todos os blogs e
portais que replicam seus artigos. Não são seus três empregos os
responsáveis por lhe tomar tanto tempo.
Em um dia apenas, ele escreve um editorial para o Jornal da Tarde,
grava um comentário político para a Rádio Jovem Pan e outro para o
Jornal do SBT. Perde mais tempo, porém, com outras dores de cabeça. Ele
tornou-se alvo, uma espécie de Geni, na qual os petistas já se
acostumaram a jogar pedra. Claro que a resposta dos petistas é muitas
vezes mais virulenta que seus comentários anti-Lula. (Em seu livro mais
recente, O Que Sei de Lula, ele acusa o ex-presidente
da República de ter delatado colegas na época do sindicato de São
Bernardo do Campo.) Um deles começou a denunciá-lo sistematicamente por
estupro.
"Pegamos o Nêumanne"
O
que mais machucou Nêumanne, no entanto, foi saber, por meio de um amigo
comum, que o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso tinha comemorado a
denúncia, antes de a Justiça considerá-la falsa e obrigar o Google a
retirá-la, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia. "Pegamos o Nêumanne",
teria comentado o ministro. Outra aporrinhação partiu de um sujeito que
decidiu enviar ameaças de morte, via internet, para ele "parar de falar
mal do Lula". Uma das mensagens mostrava um revólver apontado para o
jornalista. O autor foi identificado, compareceu à delegacia, prestou
depoimento e foi liberado.
Tento arrancar de
Nêumanne alguma reação. Pergunto se não se incomoda em participar de uma
orquestração de direita, mesmo sem se dar conta disso. Ele não dá a
mínima, diz apenas: "Ah, eles me convidam de vez em quando para alguma
conferência, mas nunca fui". Nêumanne admite, no entanto, conhecer o
presidente do Instituto Millenium, Amaury de Souza. "Ele é meu amigo. E
não é de direita." (Uma semana depois do nosso encontro, Amaury de Souza
morreu.)
Tropa de elite
Outra
foto e nome que estão lá e ninguém mandou tirar: José Padilha, o
diretor de Tropa de Elite. Ele também não dá muita importância ao e-mail
que lhe envio, pois o que recebo de volta é uma mensagem de sua
assessora, Rafaela Panico, com o seguinte teor: "O José Padilha está em
pré-produção com seu próximo filme no exterior. Ele está muito ocupado e
não está podendo dar entrevistas nem por e-mail nesse momento. Peço
desculpas e espero poder te ajudar em uma próxima oportunidade".
Quem
diria: Bolívar Lamounier também aparece como colaborador e especialista
do Instituto Millenium. Eu jamais o identificaria com o pensamento de
direita. Mas ele é parceiro de Amaury de Souza no livro A Classe Média
Brasileira: Ambições, Valores e Projetos. Bolívar mantém certa distância
do Millenium, pero no mucho: "Eu participei uma vez ou duas de
seminários deles. Não tenho participação regular e não sou articulista,
mas não vejo motivos para criar arestas, só se houver um problema
específico".
"Cuide dos seus comunistas"
No
tempo em que bandeiras vermelhas da TFP saíam às ruas de São Paulo para
combater as bandeiras vermelhas do comunismo – anos 1960, 70 –,
jornalistas de esquerda predominavam nas redações. Um empresário
reconhecidamente de direita, como Roberto Marinho, não deixava os
militares prenderem "seus" comunistas para não desfalcar seu time.
"Cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus", disse certa vez a um
general de plantão no poder.
Os
"comunistas" tinham fama de trabalhadores sérios, competentes e
criativos. Dono de jornal, precisava vender jornal. Ainda que houvesse
censura, imprensa precisava ser de "oposição".
Ninguém
compra um jornal para ler elogios. O empresário não corria riscos de ver
a ideologia de seu funcionário estampada nas páginas. Disso cuidava a
censura. Do esquerdista, o empresário aproveitava o talento, a força de
trabalho, o fato de ser "pau pra toda obra".
Era
contraditório: a direita tinha ganhado a guerra pelo poder, mas a
esquerda comandava as redações. A esquerda mandava tanto na imprensa,
que um grupo de jornalistas do Pasquim conseguiu acabar
com a carreira do mais famoso cantor da época, Wilson Simonal, acusado
de ser dedo-duro da direita. Em uma ditadura de direita, a esquerda
derrubou um artista de direita!
Diogos Mainardis
Mais
adiante, anos depois, a situação se inverteu. A ditadura caiu, em 1985,
graças ao empenho da esquerda, pois a direita ficou até a última hora
ao lado da ditadura militar. Mas nas redações a situação se inverteu. A
direita ocupou as posições da esquerda. Havia, em 2002, apenas um Diogo
Mainardi – que saiu da Veja e entrou na Globo News. Agora, são dezenas.
Para
ter um bom emprego, bem remunerado, numa publicação de grande porte, a
senha agora é ser de direita. Mais precisamente: falar mal de Lula e do
PT. Falar mal de Lula e do PT passou a significar espaço garantido nos
grandes veículos de comunicação, com as devidas recompensas monetárias.
Os
esquerdistas perderam seu encanto? Seu talento? Não. Com o advento da
democracia e o fim da censura, manter esquerdistas tornou-se perigoso.
Agora, eles podem esparramar sua ideologia nas páginas dos jornais e
revistas. A censura acabou. Ao invés de vigiá-los, os patrões (de
direita) preferem contratar profissionais de direita, que pensam como
eles (os patrões). Devido a esse fenômeno, o pensamento de direita está
disseminado em um número cada vez maior de veículos de comunicação no
Brasil.
"Por que todo mundo tem de ser progressista?"
Não
por acaso, ideias de direita estão de volta à circulação no Brasil.
Seus principais propagadores são jovens, como Ricardo Salles, um
advogado de 37 anos, de São Paulo, que em nada lembra, no trajar, um
sujeito de direita. Mas é. Tanto é que o grupo que preside se chama
Movimento Endireita Brasil. Em seis anos, desde 2006, ele conseguiu
aglutinar 450 participantes ativos
.
Salles
já foi candidato pelo PFL, hoje critica o DEM. Está filiado ao PSDB,
mas não se entusiasma pelo partido. Participa das atividades do
Instituto Millenium, mas gostaria que ele se assumisse como direita,
assim como o Endireitar.
Numa
rápida conversa que tivemos em seu escritório, ele disse, em resumo, o
que pensa sobre as desigualdades sociais no Brasil: "Tem muita gente que
é pobre porque não quer trabalhar! Tem muita gente que não vai pra
frente na vida porque não quer se esforçar. Tem muita gente que comete o
crime porque realmente não tem valores. Não tem nada a ver com problema
social, que ela foi criada em favela".
Ideologia:
"Por que todo mundo tem de ser de esquerda? Por que todo mundo tem de
ser progressista? Por que todo mundo tem de ser pró-interferência do
Estado na economia? Pró-Bolsa Família? Pró-BNDES?".
Lady Baginski
O
discurso de Ricardo Salles, contrário a qualquer ditadura, até à
militar, virou lugar comum entre os jovens direitistas brasileiros. E
também a versão de que a ditadura de direita no Brasil foi um mal menor,
estabelecida para evitar uma ditadura de esquerda que estaria sendo
engendrada.
Talvez a mais excêntrica das jovens
brasileiras de direita atualmente seja a advogada de Caxias do Sul de
apenas 22 anos, muito bonita e ligeiramente punk. Usa piercing no lábio
inferior.
Embora defenda a legalidade democrática, Cibele
Bumbel Baginski ou Lady Baginski, como ela prefere ser chamada, decidiu,
com seu grupo, em junho deste ano, relançar um partido que foi criado
para apoiar a ditadura militar de 1964: Arena. Ela jura de pés juntos à Brasileiros
que ditadura não é papo para ela, o nome é só um nome. No entanto,
muita água ainda vai rolar debaixo da ponte até que sua Arena reúna os
500 mil votos necessários para disputar eleições em 2014, como ela e seu
grupo planejam.
Nenhum partido, em
uma democracia, é óbvio, vai declarar publicamente que pretende chegar
ao poder pela força, e não pelo voto. É pelo voto. Hitler
chegou ao poder pelo voto. A incógnita é como a direita vai agir depois
de chegar ao poder pelo voto. O problema não é a direita entrar, é a
direita sair. É uma hipótese bem difícil de acontecer, essa de a direita
chegar ao poder pelo voto no Brasil.
Políticos
experientes não se arriscam a fundar um partido de direita em um País
com as desigualdades sociais do Brasil. Os partidos de direita sempre
tiveram de esconder a palavra direita. Direita não dá voto. Qual é o
discurso da direita para o povão? Para o trabalhador? Quando a direita
foi a favor de aumentar salário de trabalhador?
A
direita só tem discurso para a classe média e daí pra cima. A direita
só terá sucesso eleitoral no Brasil quando a classe média tiver votos
suficientes para elegê-la. Enquanto os pobres e os trabalhadores
formarem a maioria dos brasileiros, a direita não terá vez nas urnas.
Direitas Já
Suponhamos,
no entanto, que ela ganhe uma eleição presidencial. Governo da direita
democrática. Como o governo de Lady Baginski vai reagir em caso de greve
de trabalhadores? Como será seu diálogo com os índios? E com os
sem-terra? E com os sindicatos? A direita no poder saberá negociar com o
Congresso Nacional ou vai impor sua vontade pela força? E se o
Congresso Nacional resolver peitar o governo de direita, o que poderá
acontecer?
"O
voto não vem em primeiro lugar", antecipa-se um dos participantes de um
blog chamado Direitas Já, Renan Felipe, de 21 anos. Antes, é necessário
conscientizar a população, o que o seu e outros dezenas de blogs de
direita estão fazendo atualmente.
Tanto
Lady Baginski quanto Renan Felipe estão nas águas da direita sem
conhecer muito bem aquele que foi e é até hoje a expressão máxima desse
caminho político, o abominável Adolf Hitler. "Ele tinha qualidades e
defeitos como qualquer ser humano", arrisca La Baginski. "Li Mein Kampf,
assim como muitos outros para trabalho escolar, superficialmente, como
material de pesquisa. Sobre o autor da obra, diria que tem um estilo de
escrita que não é extremamente cativante, apesar de objetivo nas suas
ideias e, bem ou mal, acreditava no que dizia. Teve defeitos e
qualidades, como todos os seres humanos. Como político, creio que
cometeu erros crassos e deu vazão a consequências muito desagradáveis de
se rememorar na história."
Falando à Brasileiros,
Renan Felipe culpa a esquerda pela existência da direita: "Esse é um
preconceito muito difundido no Brasil, que é o de associar
nacional-socialismo ou fascismo com direita política. Tanto o
nacional-socialismo quanto o fascismo nascem da esquerda política e se
dirigem para o centro, mesclando elementos de nacionalismo e socialismo.
Nunca li o livro de Adolf Hitler, apenas excertos, discursos e
citações. De modo geral, as ideias nacional-socialistas são ruins porque
mesclam tudo que não presta: socialismo, racismo e nacionalismo
fanático".
A direita brasileira nunca
esteve tão ativa intelectualmente como hoje. A direita brasileira nunca
teve adeptos tão jovens como tem hoje. O que falta ainda à direita
brasileira é um grande orador – parafraseando a epígrafe de Hitler aqui
acima – capaz de ganhar a maioria dos brasileiros para a "causa".
SÓ NÃO VALE DAR TIRO NO BLOGUEIRO
Seu
lema é: "Estamos chegando! A nova direita do Brasil!". Suas palavras de
ordem são: "Deus é supremo… Comunismo é do demo!", "Vote no PT de novo
para ele entrar mais fundo no rabo do povo", "Diga não à política
narcótica vermelha". Sua mensagem, ele transmite em vídeo postado em seu
blog, que faz referências ao Movimento Endireita Brasil. Ricardo Gama é
bem diferente de outros direitistas, que falam para a classe média de
forma tranquila e ponderada. Ele tenta ser entendido pelo povão, seu
discurso é mais chulo e ditatorial: "Ahhh… As minhas razões e as minhas
emoções pra fazer esse vídeo… É sobre o vídeo que eu fiz sobre o Sérgio
Cabral e o Anthony Garotinho que postei agora no meu blog… Tão me
metendo porrada… Dá mais porrada! Só não vale dar tiro no blogueiro!"
Gama
fala mais: "Mermão, quando Garotinho foi governador do Rio, eu não
morava aqui, eu morava em Minas. Hoje, eu tô no Rio de Janeiro. Você tá
criticando Garotinho, você tá criticando Sérgio Cabral, tão dizendo que
os dois… Critica, mermão, mas faz alguma coisa!". Mais ainda: "Mas olha
só: não faz só no mundo virtual, não, faz no mundo real também. O
governo do Anthony Garotinho já passou, agora tá no governo Sérgio
Cabral, que tá essa zona toda e ninguém faz porra nenhuma!". Outro:
"Ficam teclando na internet. Poucos têm coragem de dar as caras.
Liberdade de expressão! Senta porrada no deputado Anthony Garotinho! Mas
por quê? Quando ele era governador, nego não saiu na rua quando ele fez
alguma coisa errada, claro que ele deve ter feito alguma coisa errada,
ninguém é perfeito".
Gama continua:
"Mas por que o povo não saiu na rua? Não quebrou a porra toda? Não se
rebelou? Agora ficam criticando! Agora tá o Sérgio Cabral, roubando pra
caralho, ninguém faz porra nenhuma! E aí o quê? Quando entrar o próximo
governador…" Ele escreve mais: "Mermão, não fica só no protesto virtual…
Dá as caras! Sai na rua! Se mobiliza! Reclama! Reclama com o atual,
porque o passado não adianta mais, não". Outro post: "Em 2014, vai ter
eleição. Preste atenção em quem você vai votar, mas reclama, mermão!
Pode me usar. Pode me xingar. Pode me meter a porrada. Mas reclama!
Digita aí mesmo. Mas vê se faz um favor: sai na rua!" Ainda: "A vida,
mermão, não é só futebol, novela e mulher bonita na praia. 'Ah, eu não
gosto de política'. Foda-se que você não gosta. Mas você é governado por
políticos e a sua omissão tá fazendo o povo viver na merda! Eu sou
Ricardo Gama. Um abraço. Aflora, meu irmão! Põe pra fora! Vamo dar um
basta!".
QUEM É QUEM NO MILLENIUM
Um
dos fundadores e curadores é o conhecido apresentador do BBB Brasil, da
Rede Globo, Pedro Bial. Mas o Instituto Millenium é composto por:
Câmara de Fundadores e Doadores
Uma
lista de 16 nomes, entre eles, os mais conhecidos são Guilherme Fiuza
(jornalista), Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central no governo
FHC), Helio Beltrão Filho (presidente do Mises Brasil e sócio e
ex-presidente do Grupo Ultra), Paulo Guedes (economista) e Pedro Bial
(apresentador do BBB, da TV Globo)
Câmara de Mantenedores
Alguns:
Roberto Civita (presidente do Grupo Abril), João Roberto Marinho (um
dos sócios da Rede Globo), Arminio Fraga (economista do governo FHC),
Helio Beltrão Filho, Jorge Gerdau Johannpeter (presidente do Grupo
Gerdau), Josué Gomes da Silva (filho de José Alencar, vice-presidente da
República no governo Lula), Maristela Mafei (presidente da Máquina
Public Relations), Nelson Sirotsky (presidente do Grupo RBS)
Câmara de Instituições
Confederação
Nacional dos Jovens Empresários, Espírito Santo em Ação, Instituto
Atlântico, Instituto de Cultura da Cidadania, Instituto de Estudos
Empresariais, Instituto Liberal, Instituto Liberdade,
Instituto Ling, Instituto Mises Brasil e Movimento Endireita Brasil
Instituto Ling, Instituto Mises Brasil e Movimento Endireita Brasil
Conselho de Governança
Presidente
Amaury de Souza (morto em agosto passado), Antonio Carlos Pereira,
Helio Beltrão Filho, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau Johannpeter,
Luiz Eduardo Vasconcelos, Roberto Civita, Paulo Guedes, Salim Mattar,
William Ling e Pedro Henrique Mariani
Gestor do Fundo Patrimonial Armínio Fraga
Conselho Editorial
Antonio Carlos Pereira e Eurípedes Alcântara
Mantenedores e Parceiros
Abril,
Gerdau, Localiza, Statoil (Grupo Líder), Suzano (Grupo Master),
Instituto Ling, Mises Brasil (Grupo Associado), Thomsom Reuters, Maquina
Public Relations, Grupo M&M, Grupo RBS, O Estado de S. Paulo
Doadores
Uma
lista extensa, da qual constam João Roberto Marinho, Roberto Civita,
Arminio Fraga, Josué Gomes da Silva, Leandro Narloch (o escritor best
seller)
POR QUE NINGUÉM MATOU ESSE CARA?
"Não
ignoro que é pela palavra muito mais do que por livros que se ganha os
homens: todos os grandes movimentos que a História registrou ficaram a
dever muito mais aos oradores do que aos escritores" Adolf Hitler, em
Mein Kampf.
Fui ler, depois de
velho (para esta reportagem) o tal do Mein Kampf, do canalha Adolf
Hitler. Fiquei indignado. E recomendo a leitura para que todos percebam
que esse foi o maior canalha da História.
O
que ele escreve sobre os judeus é asqueroso. Não entendo como algum
judeu alemão não o matou naqueles idos de 1924, quando ele escreveu esse
lixo de ofensas. O maior gênio da humanidade, então, se chamava Albert
Einstein, um judeu. E alemão. O maior gênio do cinema era outro judeu
Charles Chaplin. Hitler, no entanto, afirma que os judeus "até parecem
gente", "não tomam banho", "são covardes", e os insulta com um
sem-número de impropérios que só podiam sair da boca de um covarde,
sádico, imoral e genocida, cujo assassinato, então, poderia ter salvo
milhões de vidas de pessoas maravilhosas.
Fonte: http://elinalvabastos.blogspot.com.br/2013/01/alex-solnik-vanguarda-popular-da.html