terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PETROBRAS: RENTISTAS CONTRA O INVESTIMENTO

A crítica dos ‘mercados' ao programa de investimentos da Petrobrás (US$ 224 bilhões até 2014), e sobretudo a decisão da empresa de construir cinco novas refinarias no país (US$ 73,6 bi), não se resume a um conflito paroquial entre governo e oposição. Trata-se, na verdade, de mais um embate entre a lógica financista que motivou as tentativas de privatizar a empresa, no governo FHC, e as políticas soberanas de investimento resgatadas pelo governo Lula, mas nunca digeridas pelo mercadismo e seus ventríloquos na mídia. A campanha contra a regulação soberana do pré-sal e a capitalização da empresa para arcar com a exploração das novas reservas é parte desse jogral da turma do cassino que gosta de jogo rápido e dinheiro na mão (deles). O país pode esperar. A pressão atual contra o investimento é diretamente proporcional à ganância dos acionistas pela captura dos lucros da empresa. A lógica é simples: o lucro canalizado para a expansão produtiva não será distribuído aos acionistas, leia-se, grandes investidores, bancos, fundos e mega-interesses internacionalizados. Graças a FHC, hoje 40% das ações da empresa estão nas mãos de capitais estrangeiros, sem qualquer compromisso com o país. Personagens típicos da era da financeirização, eles materializam o imediatismo rentista. O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, recusa-se a administrar o patrimonio soberano do pré-sal pautado pela ganância infecciosa que levou o mundo à maior crise capitalista desde 1929: "Não investir em refinarias neste momento é suicídio a longo prazo", diz ele para completar: "o país está no limite do refino e há um crescimento exponencial (da oferta no horizonte)... se a empresa não der prioridade a seus investimentos, nos próximos anos terá que exportar petróleo e importar derivados", arremata. Talvez seja isso mesmo que os críticos almejam: transformar a Petrobrás numa Vale do Rio Doce. A mineradora decidiu distribuir US$ 4 bilhões aos acionistas em 2011, mas se recusa a investir US$ 1,5 bi numa fábrica de trilhos no país. Exportamos ferro bruto para a China; importamos trilhos chineses para as ferrovias do Brasil.

(Carta Maior, 3º feira, 22/02/2011)

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