domingo, 30 de maio de 2010

O que há de comum entre: a) a ofensiva de Serra contra a Bolívia; b) a 'guerra das Malvinas', iniciada pela ditadura argentina em 1982; c) o 'Plano Cohen' -- falso levante comunista denunciado pelo integralismo em 1937, para justificar o golpe do Estado Novo; d) o 'Pacto ABC', inventado pela UDN em 1954, sobre suposta aliança Vargas-Perón para implantar um cinturão de repúblicas sindicais na AL; e) a 'Carta Brandi', forjada por Carlos Lacerda em 1955 como prova da ‘conspiração de caudilhos' para impor um poder sindical ao país'?

(Carta Maior responde: esses fatos refletem momentos de isolamento desesperado dos interesses conservadores, que buscam num suposto inimigo externo a legitimidade que falta a seus planos de poder)

Fonte: www.cartamaior.com.br

A social-democracia neoliberal: de Miterrand a Zapatero, passando por FHC

Um momento importante na construção da hegemonia neoliberal foi quando o governo de François Mitterrand, na França, depois de um primeiro ano com o programa tradicional da esquerda, de fortalecimento do Estado, nacionalização de empresas, conquistas sociais, etc., deu uma virada radical no segundo ano, incorporando elementos essenciais do Consenso de Washington. Era um elemento novo. Um governo social democrata, ao invés de se opor ao modelo neoliberal pregado e colocado em prática por Reagan e Thatcher, se somava a ela, aderia às privatizações, ao ajuste fiscal, ao Estado mínimo, etc.

Foi seguido por Felipe Gonzalez, na Espanha , e foi se generalizando para a própria América Latina, onde os socialistas chilenos e a Ação Democrática na Venezuela, entre outros, seguiram o mesmo caminho, até que FHC se somou à lista.

FHC queria que Collor fosse a Thatcher brasileira, fazendo o trabalho sujo do programa neoliberal – privatizações, cortes nos gastos sociais, abertura da economia, precarização das relações de trabalho -, para que ele aparecesse como “terceira via”, no estilo Blair. Mas o fracasso de Collor fez com que FHC tivesse que vestir o tailleur da Thatcher e assumisse as tarefas mais duras do neoliberalismo.

O governo FHC foi dos mais regressivos que o Brasil conheceu do ponto de vista social. Depois da melhoria do poder aquisitivo produto do controle inicial da inflação, a desigualdade retornou com força, conforme a maioria dos trabalhadores deixou de ter carteira de trabalho, os níveis de desemprego e sub-emprego subiram muito, a inflação retomou, no final do governo FHC, no bojo da maior recessão dos últimos tempos, a desigualdade se tornou maior do que quando haviam assumido os tucanos.

Na crise que o Brasil enfrentou recentemente, vimos a diferença flagrante entre as atitudes de FHC e de Lula diante da crise. FHC tomou a atitude tradicional de elevar a taxa de juros a 48%, aprofundando a crise, aumentando o desemprego e a recessão. Lula agiu na direção oposta: diminuiu a taxa de juros – que já era mais de cinco vezes menor que na crise anterior -, manteve e estendeu as políticas sociais, o nível de emprego e de atividade econômica foi retomada rapidamente. Agiram em direções radicalmente opostas, contraditórias.

O pacote que o primeiro ministro espanhol de Zapatero anunciou esta semana não se diferencia daquelas tomadas por seu antecessor, Aznar, de direita, na mesma linha do que haviam feito Mitterrand, Felipe Gonzalez, FHC, entre outros. Aderir à idéia de que o Consenso de Washington seria a receita inevitável diante das situações de crise.

Depois de negar, reiteradamente, que faria cortes na sua política social – seu diferencial principal em relação à direita tradicional – Zapatero foi ao Congresso anunciar o mais duro pacote de cortes que se conheceu desde que a Espanha saiu do franquismo. Redução de 5% do salário dos funcionários públicos, congelamento das aposentadorias, corte nos gastos com dependentes, eliminação do cheque-bebê (feito para incentivar a natalidade): com esse pacote, Zapatero se desmente, muda a orientação central da sua política. Nem bem recebeu o telefonema de Obama – que fez questão que se soubesse que o havia chamado e o sentido da sua chamada: urgência de um duro pacote de cortes dos gastos públicos -, Zapatero cumpriu com os requerimentos solicitados pela União Européia e atendeu os critérios do FMI, da mesma forma que o havia feito a Grécia pouco tempo antes.

O fenômeno da social democracia aderida ao neoliberalismo não foi essencialmente brasileiro. FHC seguiu seus mestres europeus, que romperam com o Estado de bem estar social, com o Estado regulador, com a prioridade das políticas sociais. Seu governo foi continuidade do governo de Collor e similar aos de Menam, Carlos Andrés Perez, Fujimori, Carlos Salinas de Gortari, dos governos da Concertação no Chile.

A reação popular não se faz esperar na Espanha, da mesma forma que na Grécia, onde o também social democrata Papandreu tomou as medidas que o FMI ditou como condição da liberação dos empréstimos, como contrapartida da Carta de Intenções – que conhecemos até o passado recente.

A diferença é que agora governos como os da Espanha e da Grécia pertencem a uma nova categoria – os PIIGS: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha – a que teríamos estado condenados, não tivéssemos derrotado o bloco tucano-demista e assumido uma orientação política e econômica nova, antagônica, contraditória com a herdada por Lula.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=468

De Obama para Lula: as cartas não mentem jamais

Os críticos do protagonismo lulo-brasileiro parecem dizer que o país não está à altura dessa briga de cachorro grande.
Cego mesmo é quem não quer ver. A turma do contra acusa o governo Lula e o chanceler Celso Amorim de tudo, na questão do Irã: de ingenuidade à megalomania, de confrontar os Estados Unidos a meter-se com um demagogo meio ensandecido.


A divulgação da íntegra da carta (Folha de S. Paulo, 27/05/2010) do presidente Obama ao presidente Lula, enviada em abril, sobre a questão, traz elementos muito importantes para a compreensão do problema e das atitudes tomadas, inclusive a dos críticos do governo brasileiro.

Essa carta teve um destino curioso. Primeiro, divulgaram-se trechos dela que favoreciam a atitude de Lula e da diplomacia brasileira ao propor o acordo ao Irã. Depois, vieram à luz outros trechos, que depunham contra, porque diziam que enquanto o Irã prosseguisse no seu programa de enriquecimento de urânio a apresentação das sanções ao Conselho de Segurança continuaria sendo inevitável.

A divulgação da íntegra da carta (estou confiando na tradução apresentada) não deixa dúvidas: Lula seguiu as balizas assentadas por Obama, que sugeria ser a disposição de entregar o urânio não enriquecido a um outro país, antes de receber o enriquecido de volta, uma condição sine qua non para a realização do acordo. Assim foi dito, assim foi assinado, assim talvez venha a ser feito, se a letra do acordo for respeitada.

Lula e suas atitudes nada tiveram de “ingênuas”, nem de “megalomaníacas”, portanto. Seguiram um roteiro definido por uma série de conversações entre dois chefes de estado. Fica claro também na missiva que Obama confia essa “missão impossível” a Lula, movido talvez pela credibilidade do presidente brasileiro como negociador.

Pelo menos desde que D. Pedro II resolveu apoiar o telefone de Graham Bell, no século XIX, eu não via uma intervenção tão aguda do Brasil na cena interna norte-americana.Mas o mais interessante é que a carta confirma a existência de uma frincha – talvez uma queda de braço – no governo norte-americano. Obama comanda a Casa Branca, com a perspectiva que na política interna norte-americana se chama dos “Doves” – “Pombas”. Hillary, e nisso parece muito à vontade, comanda a herança guerreira dos oito anos da administração de Condoleeza Rice (Bush nunca foi um intervencionista, até o 11 de setembro, e até colocar sua política externa sob a batuta desta sua assessora): os “Hawks”, - “Falcões”.

Ambos os lados da disputa não renegam o imperialismo norte-americano: seus métodos é que são diferentes. Para os primeiros, a guerra é um acidente de percurso, uma inevitabilidade que interrompe processos de negociação; para os segundos o acidente de percurso é a paz, que interrompe o inevitável confronto permanente.

Para os primeiros, a vitória significa “comprar” os adversários; para os segundos, a vitória é herdar os seus despojos. É nessa tensão (também) que o Brasil entrou. Desculpem a presunção, mas se Obama preparou (mesmo que sem querer...) alguma armadilha foi para Hillary, e por isso ela está cuspindo fogo. Aí sim, reconheço uma ousadia (mesmo que sem querer...) sem par da diplomacia do governo Lula.

Pelo menos desde que D. Pedro II resolveu apoiar o telefone de Graham Bell, no século XIX, eu não via uma intervenção tão aguda do Brasil na cena interna norte-americana.

Dizer que o Brasil não tem interesses no Oriente Médio é de uma cavalar cegueira. Então o Irã faz negociações com a Venezuela, por exemplo, enquanto os Estados Unidos negociam bases militares com a Colômbia, e o Brasil deveria fechar os olhos e desconversar? Só quem não quer ver a cena internacional, ou a quer ver ainda com a perspectiva de distinguir “mocinhos” e “bandidos”, pode pensar de forma tão anacrônica e insensata.

Além de que o governo do presidente Lula está impulsionando velho projeto da diplomacia brasileira – talvez desde o Barão do Rio Branco – que é o de projetar o país no cenário internacional como uma estrela de primeira grandeza, ainda (e felizmente) que não do ponto de vista militar.

Os críticos desse protagonismo lulo-brasileiro parecem dizer que o país não está à altura dessa briga de cachorro grande. Mas uma coisa é certa: estar presente no cenário internacional, hoje, não é briga para cachorro míope.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/opinioes/flavio-aguiar:-de-obama-para-lula:-as-cartas-nao-mentem-jamais-4770.html

A direita, enfim, achou o seu candidato

Veja o editorial publicado hoje (28) no site da Carta Maior (www.cartamaior.com.br):

“A questão”, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem tantas coisas diferentes”.

“A questão”, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda. É só isso”.
Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas (cap.6).


As declarações do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, acusando o governo boliviano de ser “cúmplice de traficantes”, além de levianas e irresponsáveis, podem acabar se voltando contra o próprio autor. Pela lógica da argumentação de Serra, não seria possível a exportação de cocaína a partir da Bolívia sem a conivência e/ou participação das autoridades daquele país. Bem, se é assim, alguém poderia dizer também que Serra é cúmplice do PCC (Primeiro Comando da Capital), da violência e do tráfico de drogas em São Paulo. “Você acha que toda violência e tráfico de drogas em São Paulo seria possível se o governo de lá não fosse cúmplice?” – poderia perguntar alguém, parafraseando Serra.

Neste mesmo contexto, cabe lembrar ainda as declarações do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em 2007 no Brasil, que, em um depoimento à Justiça Federal em São Paulo, disse: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos)”. As denúncias de um traficante valem o que ele vale. Neste caso valeram, ao menos, o interesse da Justiça Federal em investigar a possibilidade de ligação entre o tráfico de drogas e a corrupção policial, possibilidade esta que parece não habitar o horizonte de Serra. O pré-candidato foi governador de São Paulo, mas afirma não ter nada a ver com isso. A culpa é da Bolívia.

Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.

Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine, Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável … Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.

E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo…

E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:

A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (…) O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever – com perfeita lucidez – na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.

As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o Mercosul de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/eleicoes-2010-11/carta-maior:-a-direita-enfim-achou-o-seu-candidato-4911.html

sábado, 29 de maio de 2010

Morales sai em defesa de Lula em polêmica sobre Irã

La Paz, 29 mai (EFE).- O presidente da Bolívia, Evo Morales, saiu em defesa neste sábado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criticado pelos Estados Unidos pelo acordo assinado com Turquia e Irã sobre a troca de urânio.
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Em entrevista coletiva na cidade de Cochabamba, Morales deu todo seu apoio a Lula. Há alguns dias, o governo Barack Obama disse que o acordo entre brasileiros e iranianos "torna o mundo mais perigoso".

"Quem põe o mundo em perigo são os que levam militares para acabar com vidas em outros países e continentes, são as bases militares dos EUA", afirmou Morales, para quem os americanos "não têm moral para acusar ninguém".

Brasil e Turquia chegaram no último dia 17 a um acordo com o Irã. O pacto diz que Teerã deve enviar à Turquia 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido para receber, dentro de um ano, 120 quilos de combustível nuclear de Rússia e França para um reator científico.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse na quinta-feira que, para Washington, o Brasil, ao dar tempo ao Irã, torna o "mundo mais perigoso, e não menos".

Morales assegurou que as declarações de Hillary são "ameaças e chantagens" para que os países não assinem acordos para estabelecer relações bilaterais.

"Todos temos direito a ter relações com todo o mundo, incluindo os EUA. Mas não é possível com esse tipo de ameaças que dizem que, com um acordo com alguns países, o mundo pode entrar em perigo. Não vamos permitir isso", concluiu. EFE

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/29052010/40/mundo-morales-sai-defesa-lula-polemica.html

sexta-feira, 28 de maio de 2010

'Vamos fazer inveja no Serra', diz Lula a Evo

Presidentes participaram do 3.º Fórum Mundial da Aliança de Civilizações.
Nesta semana, tucano disse que Bolívia é cúmplice do tráfico de drogas.


Em momento de descontração logo após a foto oficial de chefes de Estado no 3.º Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, no saguão do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu abraçado ao boliviano Evo Morales e fez piada com o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, que, na quarta-feira, afirmara que o governo da Bolívia "é cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil.

"Vamos posar aqui; vamos fazer inveja no Serra", disse Lula ao colega, rindo bastante, em frente aos fotógrafos. De mãos dadas como presidente do Brasil, Evo também riu, mas não comentou a declaração.

Pouco depois, a entrevista coletiva de Morales, que estava agendada para as 16h desta sexta-feira (28), foi cancelada. A jornalistas, o boliviano se recusou a responder a perguntas e deu um palpite sobre a Copa do Mundo: "O Brasil será campeão." O governo da Bolívia divulgou nota para rebater as declarações do tucano.
Antes, em discurso na reunião plenária de cúpula, no início da tarde, Morales foi muito aplaudido: "Precisamos salvar a humanidade e a natureza do capitalismo", defendeu. Para ele, criou-se uma "anticivilização" em que tudo vira mercadoria. "Essa anticivilização está levando à destruição do planeta", discursou. O presidente boliviano comparou a colonização da América a um "genocídio" e afirmou que a riqueza de civilizações europeias foi construída à custa de "sangue e ouro do nosso continente".

"Uma civilização não se faz com guerras, balas e bases militares. Não haverá paz enquanto não tiver justiça social."

Fonte: http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/05/vamos-fazer-inveja-no-serra-diz-lula-evo.html

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Serra e a morte de Deus

José Serra precisa de ajuda. Não basta aquela que lhe é oferecida por uma mídia favorável. É necessário que alguém reavive seu senso de oportunidade. Um dos males que costumava atacar com muita frequência o brasileiro, principalmente aquele que vivia de salário (a maioria, portanto) consistia na tendência de ser enganado com facilidade. Faz cerca de oito anos que o PSDB deixou o governo e ainda não se deu conta de que a percepção da realidade mudou. Jogar palavras ao vento, como fez o pré-candidato tucano para uma platéia de militantes (?) do PPS, é um exercício arriscado, uma manifestação que mescla soberba e desespero em dosagem tão hilariante quanto assustadora. Mas nada disso nos permite duvidar de sua capacidade e argúcia analítica. Afinal, como diz o slogan de campanha dos tucanos: "o Brasil pode mais". Resta saber o quê. E para quem.

Ao afirmar, em uma tentativa de crítica à política econômica do governo Lula que "nós estamos voltando rapidamente a um modelo que não atende à demanda de emprego que o país possui", o ex-governador paulista aposta no total alheamento do eleitor brasileiro. Tamanha credulidade espanta, tendo em vista que o mundo do trabalho - a principal vítima do modelo neoliberal orquestrado pelo tucanato - aprendeu direitinho, na própria pele, o que significou o mercado desregulado como chave para o crescimento econômico e as virtudes do “Estado musculoso", elementos centrais no discurso serrista.

A afirmação sobre empregos não é piada, nem brincadeira de um notívago diletante, mas desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. E de Serra, pode-se afirmar várias coisas, menos a de não ser um ator político que sabe o que faz. Sua eventual perdição, entretanto, antes de ser festejada pelas forças progressistas, deve causar desconfiança e vigilância redobrada. Pois é inevitável que os ânimos se acirrem em seus dois principais pólos de apoio: a mídia corporativa e o Poder Judiciário.

Mas a comparação suscitada por suas declarações é inevitável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de vagas criadas no mercado de trabalho bateu recorde no primeiro trimestre de 2010, com um saldo acumulado até março somando 657.259 empregos. Convém retornar no tempo e observar como se comportava a economia brasileira quando o pré-candidato tucano era ministro do Planejamento e Orçamento do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desemprego na indústria atingia 5,7% em 1997 em relação a 1996, resultado fortemente influenciado pela taxa de dezembro, quando a queda foi de 2,6% em relação a novembro, a pior desde dezembro de 1990, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter uma idéia do tamanho da retração nos empregos, os dados do instituto mostravam uma queda anualizada de 7,3%. Quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Até então, o governo FHC registrava um desemprego industrial de 19,77%. Mas o “Brasil que não podia mais", aquele que os colunistas econômicos tanto enaltecem, vivia um amargo processo de ajuste, acentuado em 1996, com a atividade econômica represada e a queda no emprego apresentando taxas expressivas. Ao contrário do que afirma Serra foi sob a batuta tucana que “o Brasil adotou uma política econômica desastrosa."

Mas o discurso do tucano foi além, mirando também o campo da ética, com críticas a supostas práticas de corrupção no governo petista. Como fazem as vestais tucanas, destampou um poço de demônios para sentenciar: "se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu". Que metafísica, o ex-governador paulista quer superar com essa alusão a Nietzsche?

Decerto não deve ser a do governo ao qual serviu em dois ministérios. Fernando Henrique não teve escrúpulos de usar métodos condenáveis para evitar investigação da banda podre da administração federal. A retirada de assinaturas para esvaziar a criação da CPI da Corrupção, em 2001, é um belo exemplo. O arrastão de favores para livrar o governo de qualquer constrangimento ficou como um dos mais baixos momentos de um presidente eleito e reeleito pela ansiedade ética na vida brasileira.

Fernando Henrique liberou por bravata os parlamentares de sua base política para subscrever a CPI e, na hora H, liberou verbas estocadas e fez nomeações para cargos públicos. Junto com ACM e José Roberto Arruda, FHC afrontou o sentimento ético da cidadania falando em “linchamento precipitado" quando sua posição anterior incentivava a punição exemplar e imediata. E onde estava José Serra em meio a tudo isso? No Ministério da Saúde, definindo a criação da CPI como uma “brincadeira"," pretexto eleitoral", " instrumento para prejudicar a governabilidade.”

Em sua campanha, o tucano terá que se confrontar com questões sobre ética e economia. Mas com muita cautela, evitando o reaparecimento de fantasmas incômodos. Eles podem dizer que foi naquela época, e não hoje, que “para muita gente Deus morreu". Um deus imanente, amoral e, tal como os dirigentes aboletados no Estado, servil ao mercado que o pagou.



Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/opinioes/serra-e-a-morte-de-deus-4684.html

Marco Aurélio Garcia diz que Serra é o exterminador do futuro da política externa

O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, rebateu hoje (27) as críticas do pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, à relação do Brasil com a Bolívia, classificando o tucano como "o exterminador do futuro da política externa" do país.

Ontem (26), Serra disse que o governo boliviano, de Evo Morales, "é cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil. O tucano fez a declaração em entrevista a um programa de rádio, quando falava sobre a ideia de criar um Ministério da Segurança Pública caso ele seja eleito.

"O Serra está tentando ser o exterminador do futuro da política externa. Ele quis destruir o Mercosul. Agora, quer destruir nossa relação com a Bolívia. O Mahmoud Ahmadinejad virou Hitler. Eu acho que talvez ele esteja pensando, na política de corte de despesas, em fechar umas 20 ou 30 embaixadas nos países nos quais ele está insultando neste momento", afirmou Garcia.

Marco Aurélio Garcia ressaltou ainda que Serra "deveria ser mais prudente" em suas declarações, que não são compatíveis com as suas "aspirações" ao cargo de presidente.

Com informações do Uol

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/eleicoes-2010-11/marco-aurelio-garcia-diz-que-serra-e-o-exterminador-do-futuro-da-politica-externa-4772.html

Rússia contra as sansões do Irã

Por Tomás Rosa Bueno

O chanceler russo Sergei Lavrov tornou oficial o que já era óbvio: a Rússia está fora da aventura das sanções e apoia o acordo trilateral Brasil-Irã-Turquia como caminho para a solução da questão do programa nuclear iraniano.
“Recebemos muito bem esse acordo. Se for implementado plenamente, ele criará pré-condições muito importantes não só para a a solução do probelma concreto… como também para melhorar a atmosfera para orecomeço das negociações”. [...] Se o Irã cumprir estritamente as suas obrigações, a Rússia apoiará ativamente o esquema proposto pelo Brasil e pela Turquia”, declarou o ministro russo em uma conferência de imprensa em Moscou esta manhã. Segundo ele, “o acordo cumpre os requisitos de uma solução pacífica da questão nuclear iraniana”.
Não deve demorar muito para que os chineses façam um anúncio mais ou menos no mesmo molde, e deve demorar menos ainda para que comecem os gritos de “traição” na imprensa pró-sanções do mundo todo. O fato é que nem os russos nem os chineses nunca prometeram que iriam apoiar a imposição de sanções a qualquer custo. O que prometeram, em troca de pesados favores dos EUA, foi permitir à Hillary Clinton mostrar ao mundo como “vitória” um papel com as sanções que a China e a Rússia *poderiam* aprovar, se não houvesse outra solução.
Como bem lembrou o Lavrov, se o Irã fizer a parte dele (o que não é garantido), o “Tratado de Teerã” entre o Brasil, o Irã e a Turquia será o começo do fim da ofensiva belicista contra o Irã. Terá sido uma vitória estrondosa da diplomacia brasileira, credenciando-nos como moderadores responsáveis e eficazes na arena internacional, obtida em grande parte graças ao empenho – a teimosia, quase – e a capacidade de negociação do presidente Lula.

Fonte: http://dilma13.blogspot.com/2010/05/russia-contra-as-sancoes-ao-ira.html

Dirceu: Serra cria incidente diplomático com a Bolívia

Agência Estado

O ex-ministro da Casa Civil e deputado federal José Dirceu (PT) avaliou como "uma demonstração de desespero" a declaração do pré-candidato do PSDB à Presidência, o ex-governador José Serra (SP), de que o governo da Bolívia é "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil. Em post intitulado "Serra, cada vez pior", publicado em seu blog pessoal, o petista disse acreditar que a afirmação do presidenciável cria um "incidente diplomático". "Uma acusação sem provas e sem apontar fatos que a comprove, o que nenhum outro País faz - nem os Estados Unidos", censurou o ex-ministro.

Em visita ontem ao Rio de Janeiro, o pré-candidato do PSDB afirmou que o governo boliviano é cúmplice dos traficantes que enviam, segundo ele, cerca de 90% da cocaína produzida em seu País para ser consumida no Brasil. No blog, Dirceu classificou o conteúdo da fala do tucano como "direitista", "bem ao estilo baixaria e jogo sujo".

Segundo ele, essa não é a primeira declaração "destrambelhada" de Serra. O ex-ministro se refere à afirmação, dada pelo tucano em abril, de que o Mercosul é uma "farsa" e "uma barreira para que o Brasil possa fazer acordos comerciais". "Não merece nem resposta, até porque Serra fala qualquer coisa", criticou Dirceu.

Fonte: http://dilma13.blogspot.com/2010/05/dirceu-serra-cria-incidente-diplomatico.html

Política econômica anticrise representou mudança radical, aponta estudo

O Brasil alcançou nível recorde de investimentos públicos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no país. A proporção de 4,38% do PIB é o patamar mais elevado em 15 anos, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Essa situação representa, segundo o estudo, uma mudança significativa em relação à política econômica praticada durante a década de 1990.

O documento aponta que a o investimento público teve um papel importante para combater a crise financeira internacional e garantir a retomada do crescimento. "Constata-se que, mesmo na fase de crise e de forte restrição do lado da arrecadação federal – como foram o quarto trimestre de 2008 e o primeiro semestre de 2009 –, os investimentos da União mantiveram-se em elevados patamares", celebra o texto.

A estratégia é destacada porque, tradicionalmente, o governo federal costumava promover amplos cortes de investimento em momentos de crise internacional, com cortes de orçamentos concentrados nessas aplicações. Para o instituto, a conduta governamental "inaugura uma nova fase de postura fiscal anticíclida apoiada na defesa da produção e do emprego, radicalmente diferente de períodos anteriores".

A referência é ao padrão de gestão do orçamento adotado a partir de meados da década de 1990 e início de 2000. Especialmente durante o governo Fernando Henrique Cardoso e no início do governo Lula. A mudança, porém, ocorreu com mais intensidade de 2006 em diante – quando os investimentos públicos representavam 2,9% do PIB.

Os R$ 137,4 bilhões usados na conta incluem a soma dos recursos aplicados tanto por estatais quanto pelas esferas do poder Executivo. "O mais correto seria levar em consideração também os investimentos das empresas estatais (sobretudo federais). Não menos importantes são as transferências de recursos da União para estados e municípios destinadas à realização de obras públicas", destaca o boletim Conjuntura em Foco, da Diretoria de Estudos e Políticas.

A descrição dos investimentos por esfera de poder público foi definida pelo autor da aplicação. Os repasses da União a estados e municípios foram considerados investimentos destes entes da federação.

Os recursos das estatais responderam, em 2009, por 2% do PIB. Foram R$ 59,8 bilhões, contra R$ 18,7 bilhões de 2003 – três vezes mais. Evolução semelhante ocorreu com estados e municípios, alcançando R$ 57,7 bilhões aplicados.

Crescimento

Outro documento do Ipea divulgado nesta quarta, o Sensor Econômico, traz uma revisão das previsões de crescimento. A perspectiva para 2010 é de 5,5%, 0,3 ponto percentual a mais do que o apontado em fevereiro. A expectativa é de que o país mantenha a média de avanço de 4,5% ao ano de 2011 a 2015.

“Pela primeira vez no Brasil temos uma década inteira de crescimento nesse nível”, sustenta o diretor de estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, João Sicsú.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/economia-5/politica-economica-anticrise-representou-mudanca-radical-aponta-estudo-4754.html

A política do século XXI exige parceria e diálogo, diz Lula

Em vídeo da NBR, postado pelo "Blog da Dilma", Lula diz que a política do século XXI exige parceria e diálogo:

http://dilma13.blogspot.com/2010/05/lulapolitica-do-seculo-21-exige.html

Ataque contra a Bolívia revela despreparo de Serra, diz petista

O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) afirmou nesta quinta-feira (27) em Brasília que as declarações a respeito da Bolívia feitas por José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, são levianas e irresponsáveis, além de revelarem o despreparo do tucano.

"Ao atacar a Bolívia com insinuações graves e sem provas, Serra mostra todo o seu preconceito e o seu despreparo para o cargo que há tempos ele deseja ocupar", avalia Dr. Rosinha. "Suas declarações foram levianas, irresponsáveis."

Em entrevista a uma rádio do Rio de Janeiro, José Serra afirmou o seguinte: "Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disto."

Para Dr. Rosinha, o pré-candidato do PSDB está desinformado e mal assessorado sobre assuntos da política externa brasileira. "Uma eventual eleição de Serra significaria uma tragédia para a atual diplomacia independente soberana do Brasil", sentencia o parlamentar do PT. "Com o PSDB, voltaríamos à diplomacia de pés descalços, submissa aos EUA e com um agravante: agressiva com os vizinhos sul-americanos."

O deputado federal petista lembra que José Serra já classificou o Mercosul como "uma farsa", disse que a entrada da Venezuela no Mercosul seria "uma insensatez" e declarou que não receberia nem visitaria o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, com quem o Brasil e a Turquia assinaram um acordo nuclear.

"Despreparado e arrogante, Serra mostra definitivamente que não está a altura do cargo ao qual tanto aspira", disparou Dr. Rosinha através de sua página no Twitter. "Alguém que há tempos pretende ser presidente precisaria, no mínimo, aprender a respeitar governos e povos dos demais países. Serra ainda não aprendeu."

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/eleicoes-2010-11/ataque-contra-a-bolivia-revela-despreparo-de-serra-diz-petista-4771.html

quarta-feira, 19 de maio de 2010

João Cândido, petróleo, racismo e emprego

Beto Almeida (*)

Nesta sexta-feira a Transpetro lançou ao mar o navio petroleiro João Cândido. Batizado com o nome de um dos nossos heróis, marinheiro negro, filho de escravos e líder da Revolta da Chibata, o navio tem 247 metros de comprimento, casco duplo que previne acidente e vários significados históricos. Primeiro, leva a industrialização para Pernambuco, contribuindo para reduzir as desigualdades regionais. Em segundo lugar, dá um cala-boca para quem insinuou de forma maldosa que o PAC era apenas virtual. Em terceiro, prova que está em curso a remontagem da indústria naval brasileira criminosamente destruída na era da privataria. Como um simbolismo adicional, um total de 120 operários dekasseguis foram trazidos do Japão, com suas famílias, para juntarem-se aos operários nordestinos que construíram o navio. Os primeiros não precisam mais morar longe da pátria; os outros, saem do canavial para a indústria e não precisam mais pegar o pau-de-arara, nem entoar com amargura a Triste Partida, de Patativa do Assaré, como um certo pernambucano teve que fazer na década de 50. Até que virou presidente.

Mulheres trabalhando como chefes de equipe de soldagem no Estaleiro Atlântico Sul, no município de Ipojuca, em Pernambuco, pronunciavam frases orgulhosas lembrando que não sabiam nem que esta também poderia ser uma tarefa feminina. O ex-pescador de caranguejo contava em depoimento agreste que antes do estaleiro não sabia direito como ganhar o sustento da família a cada dia que acordava. O ex-canavieiro, agora operário, destaca que não depende mais temporalidade insegura da colheita da cana e quando acorda já tem para onde ir, quando antes vivia a insegurança. Estes alguns dos vários depoimentos colhidos na inauguração do navio petroleiro João Cândido ao ser lançado ao mar pernambucano. Deixa em terra um rastro de transformação.

Inicialmente, na vida destas pessoas antes lançadas ao deus-dará de uma economia nordestina reprimida, desindustrializada. A transformação atinge os municípios mais próximos, pois no local onde foi construído o estaleiro, uma antiga moradora, Mônica Roberta de França, negra de 24 anos, que foi escolhida para ser a madrinha do navio, dizia que ali era um imenso areal, não tinha nada. Agora tem uma indústria e uma escola técnica para os jovens da região. E que só agora ela tem seu primeiro emprego na vida com carteira assinada.

Desculpas à Nação
Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o lançamento do João Cândido ao mar tem o mesmo alcance histórico do gesto de Getúlio Vargas quando deu forte impulso à nacionalização da indústria naval brasileira, na década de 30, por meio da empresa de navegação estatal. “Aqueles que destruíram a indústria naval tem que assumir sua responsabilidade e pedir desculpas à Nação”, disse Campos na solenidade que teve a participação de 5 mil pessoas aproximadamente, sobretudo dos operários.

O Navio João Cândido abre uma nova rota para a economia brasileira. Incialmente, porque a Petrobrás já não será obrigada a desembolsar cerca de 2,5 bilhões de reais por ano com o afretamento de navios estrangeiros. Há, portanto, um revigoramento do papel do estado na medida em que a reconstrução da indústria naval brasileira é resultado direto de encomendas da nossa empresa estatal petroleira. O que também permite avaliar a gravidade e o caráter antinacional das decisões que levaram um país com a enorme costa que possui, tendo montado uma economia naval de peso internacional respeitável, retroceder em um setor tão estratégico.

E isso quando nossa economia petroleira, há anos, já dava sinais de expansão, mesmo quando estavam no poder os que promoveram o espantoso sucateamento, a desnacionalização e a abertura da navegação em favor dos países que querem impedir nosso desenvolvimento. Este tema, certamente, não poderá faltar nos debates da campanha presidencial deste ano.

Almirante negro
A escolha do nome João Cândido também foi destacada na solenidade por meio do novo ministro da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Eloy Moreira. Vale registrar que há pouco mais de um ano Lula participou de homenagem ao Almirante Negro inaugurando sua estátua na Praça XV, no Rio, que estava há anos guardada, supostamente porque não teria havido grande empenho da Marinha na realização desta solenidade. Pois bem, agora João Cândido não está apenas nas “pedras pisadas do cais”, com diz a maravilhosa canção de Bosco e Blanc. Está na estátua e está cruzando mares levando para o mundo afora o nome de um de nossos heróis.

Navegar é possível
O novo petroleiro estatal, portanto, é uma prova real de que sim “navegar é possível”, como dizia uma faixa no ato. Navegar na rota inversa daquela que promoveu o desmantelamento da nossa indústria naval. Navegar na rota da revitalização e qualificação do papel protagonista do estado. Recuperar um curso que havia sido fundado lá durante a Era Vargas onde se combinava industrialização e nacionalização com geração de empregos e direitos trabalhistas. Se no período neoliberal foi proclamada a idéia de destruir a “Era Vargas”, agora, está não apenas proclamada, mas já colocada em marcha, a necessidade de reconstruir a partir dos escombros da ruína das privatizações - entulho neoliberal - tendo no dorso no navio-gigante o nome heróico do líder da Revolta da Chibata. Sem revanchismo, o episódio permite lembrar outra canção: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”

(*) Presidente da TV Cidade Livre de Brasília

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16584

A Eurolândia arde: futuro da Grécia na mãos dos mercado

No caso grego figuram no banco dos réus não os bancos freneticamente especulativos, mas os Estados sociais perdulários de aspecto europeu. Oficialmente, a ajuda a Grécia tem a ver com a manutenção da estabilidade do euro. É a única coisa que se pode obter, caso a especulação internacional seja bloqueada nos países da zona do euro. Uma quebradeira do estado grego, uma expulsão da eurolândia, daria precisamente um sinal equivocado. Então, inexoravelmente, Portugal, Espanha e Irlanda seriam os próximos. O artigo é de Michael Kratke.

O resultado, agora, é que no caso grego figuram no banco dos réus não os bancos freneticamente especulativos, mas os Estados sociais perdulários de aspecto europeu.

Faz uma semana que se declarou a situação de urgência: os gregos solicitaram oficialmente a ajuda financeira que lhes haviam prometido em fins de março. Caso de extrema necessidade. Pede-se à União Européia e ao FMI que liberem o mais rápido possível o montante de que o país precisa. Não resta muito tempo: em meados de maio vencem os próximos empréstimos bilionários; não honrá-los significa a quebra do Estado. Os mercados financeiros – com os fundos hedge à frente, especulando contra o euro – não soltam a presa. Cobrando juros exorbitantes, fazem com que as dívidas do Estado grego não possam ser refinanciadas em meio à crise financeira.

Numa situação assim, a soberania dos gregos já não vale nada. Antes de usarem a ajuda prometida exigem deles compromissos futuros com programas de arrocho fiscal ditados pelo Banco Central Europeu (BCE) e o FMI. Abundam, além disso, prescrições e propostas, cada uma mais inclemente e desinformada. Os dirigentes dos partidos em Berlim jogam suas apostas nos comissários dos arrochos do FMI que, graças à Chanceler de Ferro, já estão sentados na mesa decisória. Nem é o caso dizer que os economistas do FMI, à diferença dos políticos da coalizão pretoamarela [a cor da democracia cristã alemã é o preto, e a dos liberais, amarelo] caíram há muito no conto de que uma trajetória de extrema austeridade, como foi exigida desde o exterior à Grécia, só pode terminar numa grave depressão econômica e numa desagregação social não menos grave.

A ironia da história
Na reunião dos ministros das finanças do G20 no fim de semana passado, a crise européia serviu muito oportunamente de distração. Todo o mais – os escruciantes problemas da economia mundial, submetida a uma recessão que, não por muito tempo, está em vias de superação – restou em atalho morto. A Grécia se tornou a nova figura simbólica do doente da economia mundial: um pouquinho fica com os estadunidenses! Uma crise que tem sua origem na eurolândia e na circunstância que faz com que a União Européia se veja obrigada a pedir auxílio ao FMI: pequena recompensa para os lobistas dos mercados financeiros! Os culpados não são os bancos freneticamente entregues à especulação; são os perdulários Estados sociais de aspecto europeu! A visão neoliberal do mundo volta a enquadrar.

Os honoráveis que se reunem no G8 e no G20, no FMI e no Banco Mundial poderiam ter se dedicado a estudar assuntos de maior importância do que a pequena Grécia. Nada acordaram. Nem no tocante à planejada fiscalização bancária, nem em matéria de impostos sobre o mercado financeiro, nem quanto à regulação do setor financeiro: em nada disso se avançou um só passo. Nada, senão declarações nebulosas. No fundo do cenário, quase sem ruido, trataram, de passagem, da crise financeira do Banco Mundial. Tratava-se no caso de somas muito maiores do que as que estão em jogo no caso da Grécia. A crise que se abate sobre esse organismo chegou a 300 bilhões de dólares. O FMI pôde aplacar sua reforma financeira pendente, transferindo as urgências para o Banco Mundial, com agradecimentos especiais ao governo federal alemão. A auto-satisfação espalhou-se em Washington: os europeus foram expostos, amarrados pelo bom caminho do arrocho e do saneamento das contas públicas.

Oficialmente, a ajuda a Grécia tem a ver com a manutenção da estabilidade do euro. É a única coisa que se pode obter, caso a especulação internacional seja bloqueada nos países da zona do euro. Uma quebradeira do estado grego, uma expulsão da eurolândia, daria precisamente um sinal equivocado. Então, inexoravelmente, Portugal, Espanha e Irlanda seriam os próximos. Se os países da zona do euro se comprometessem com um empréstimo comum, poderiam então enfrentar os mercados.

A quebradeira grega beneficiaria a quem? Se os títulos da dívida gregos são passivamente depreciados, os afetados serão principalmente os bancos alemãs e franceses. Só o banco alemão Hyp Real Estate (HRE), embora estatizado, detém 10 bilhões de euros. Se esse dinheiro se evapora, a Alemanha enfrentará a próxima crise bancária. O governo de Sarkozy está num terreno ainda mais pantanoso, pois os bancos franceses detém títulos gregos em mais de 77 bilhões de euros. A alternativa à suspensão de pagamentos do estado grego seria uma ação conjunta de refinanciamento por parte dos europeus, quer dizer, uma renúncia parcial dos bancos europeus das suas exigências como credores da Grécia. Isso está oficialmente descartado pela Chanceler Merkel, embora apenas porque é o que os partidos de sua oposição exigem.

Isso significa derivar parte dos custos da crise da dívida a quem dela se beneficiou, e não aos gregos e sua população.

E agora vem a ironia da história: o governo alemão concedeu ao FMI um papel-chave num jogo maligno. As autoridades do FMI deveriam resistir, mesmo quando os gregos puseram em marcha os planos mais sombrios de arrocho. Pois, com as regras do jogo vigentes, o FMI não pode dar crédito a nenhum solicitante que não possa imediatamente devolver e servir aos interesses de suas dívidas no longo prazo, quer dizer, a ninguém que, de fato, esteja quebrado. Com os 15 bilhões de euros agora prometidos, a Grécia já teria esgotado sua cota de crédito com o FMI. Uma última gota vertida sobre pedra incandescente.

Reformar ou abdicar
Coisa rara, não provável: a participação do FMI na ajuda de emergência a Grécia melhora visivelmente as perspectivas de refinanciamento. E teria a grande vantagem de que seriam os bancos e outros credores do estado que arcariam com a sangria, e não o sempre sofrido contribuinte. No mais tardar em 19 de maio próximo a ação de resgate da Grécia deve estar pronta. Nessa data vence um empréstimo de 8,5 bilhões de euros. Se o país não honrá-lo, entra em quebra. De nada então serviriam os créditos do FMI, e os bancos europeus deveriam engolir um refinanciamento.

Isso não seria nenhum drama para os mercados financeiro; para eles, a tragédia grega não é mais que um intermédio. O Japão, por exemplo, está numa situação muito pior que a eurolândia. Quando não houver o que pescar na Europa, os fundos hedge, cedo ou tarde vão se lançar sobre o rio revolto do yen. E depois vem o dólar e a libra esterlina, porque estadunidenses e britânicos estão mais gravemente endividados do que a Grécia: ali há mais o que pescar. Não são os gregos que tem de se apressar em pôr ordem em suas casas e em fazer planos de saneamento fiscal, mas o G20, o FMI, o Banco Mundial e os governos presentes nessas instituições, a realeza magistral da Alemanha. A disjuntiva não oferece dúvida: ou impor uma regulação dos mercados financeiros, a que estes e seus lobistas oporiam uma resistência encarniçada, ou abdicar.

Michael R.Krätke é membro do Conselho Editorial de SinPermiso e professor de política econômica e direito tributário na Universidade de Amsterdã; é pesquisador associado ao Instituto Internacional de História Social dessa mesma cidade e é professor catedrático de economia política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.

Tradução: Katarina Peixoto


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16566

Marco Aurélio Garcia: Desconfiança sobre acordo vem de países que satanizam o Irã

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que alguns governos não estão dispostos a acreditar em um acordo nuclear com o Irã porque acham que o país “é Satã”.

Segundo ele, essa é a causa do ceticismo que domina parte da comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos. As informações são da BBC Brasil.

“O ceticismo não é daqueles [países] que são céticos, mas daqueles que não querem que haja acordo”, afirmou Garcia, que participa da 6ª Cúpula União Europeia, América Latina e Caribe, em Madri, na Espanha.

“A minha impressão é que determinados países esperam que as sanções mudem a situação interna do Irã. É uma hipótese profundamente equivocada”, acrescentou o assessor especial.

Para Garcia, não há problemas no fato de o Irã pretender manter o enriquecimento do urânio a 20% no seu território, apesar do acordo. Segundo parte da comunidade internacional, isso causa desconfianças em relação ao cumprimento do acordo.

“Se as sanções fossem votadas, a Rússia iria votar uma sanção deste 'tamanhozinho' [disse ao gesticular com os dedos indicador e polegar quase juntos]. A China não fala, mas sabemos que iria também nessa direção”, disse o assessor, referindo a dois dos cinco integrantes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – integrado também pelos EUA, França e Reino Unido.

O assessor disse que o acordo fechado com a mediação do Brasil é apenas o primeiro passo para alcançar um consenso internacional e que não há a sensação de que o assunto está completamente solucionado.

Segundo Garcia, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, entendeu que o Brasil e a Turquia apresentaram "uma oportunidade” para que o Irã saísse do isolamento por meio de "interlocutores que não estavam lá para satanizá-los".

De acordo com ele, o governo do Brasil desempenhou "um trabalho fantástico". “[Mas] todo mundo tem que entender que o conflito não está resolvido”.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/internacional-1/marco-aurelio-garcia:-desconfianca-sobre-acordo-vem-de-paises-que-satanizam-o-ira-4573.html

terça-feira, 18 de maio de 2010

Qual educação que queremos?

Um dos grandes ícones da educação brasileira, Paulo Freire, disse que a educação sozinha não muda a sociedade, mas sem ela a sociedade não muda. Que educação seria essa, capaz de ser elemento fundamental para uma mudança social? É comum ouvir que a educação pública é de baixa qualidade, sendo a educação privada fornecida como modelo de excelência e de boa qualidade. Será que isso é verdade? Passeando por estas questões, vamos tentar situar problemas e possíveis soluções para a questão do ensino no Brasil.

Em primeiro momento, é necessária uma abordagem sobre o ensino fundamental e médio do país para, daí chegarmos até a situação das universidades e, termos um panorama geral nesse assunto.

As duas últimas gestões do governo federal foram as que mais investiram no setor, em todos os sentidos, mas é fato que a educação do Brasil ainda tem muito que melhorar. Temos um atraso histórico muito grande nessa área, em comparação com os países ditos “desenvolvidos”. Outro fator seria a nossa forma de colonização, que teve como maior intuito a exploração e não o povoamento – como aconteceu nos EUA. E também que nunca foi dada muita importância para o desenvolvimento de uma educação de qualidade.

A educação, aplicada nas instituições públicas e privadas, é voltada basicamente para o mercado – visando primeiro o vestibular, e chegando a universidade , direciona-se para o mercado de trabalho. Pegando carona com o capitalismo – que precisa de “engrenagens” ambulantes e não de indivíduos pensantes –, não é interessante que sejam trabalhadas nas escolas matérias para formar verdadeiros cidadãos (lê-se sociologia, filosofia e incentivo acultura, que voltaram a cena há pouco tempo mas, mesmo assim não é dada muita importância para estas) e, pessoas que consigam fazer uma leitura de mundo e enxergar a real situação em que estão inseridos.Nesse sentido, o ensino está cada vez mais mecânico, aparecem cada vez mais “macetes”, mais “decoreba” e menos aprendizado – já que esses fatores facilitam a resolução das questões, mas não promovem a real assimilação do conteúdo. Esse é um sinal de educação de qualidade? É essa a educação que queremos?

Alguns Movimentos Sociais apontam que o maior critério para se passar no vestibular é o “meritocrático”. O que é isso? É muito mais fácil a pessoa conseguir passar no vestibular quando ela tem acesso a, os já referidos, “macetes”; acesso as escolas privadas ou cursinhos – grandes propagadores dessas “fórmulas mágicas”; quando a pessoa não precisa trabalhar para poder se dedicar inteiramente aos estudos; quando a pessoa tem acesso aos melhores livros; a internet; acesso a lazer e cultura; a saúde e a saneamento básico; a tratamento odontológico; etc. Enfim, de fato, é muito mais fácil fazer pontuações destacáveis, e passar no vestibular quando se tem acesso a todos esses fatores. Daí, esses privilegiados tem seu mérito – o mérito de saber como os assuntos vão ser cobrados e como resolver as questões naquele estilo próprio . O problema é que, quem tem condições de ter esse mérito é uma parcela ínfima da população. E, se a questão financeira já separa parcelas da sociedade, quando combinada com o fator educacional há uma segregação ainda maior. Um exemplo disso é quando se ouve declarações no sentido de que “com o sistema de cotas, o governo atrapalha a vida e os estudos de quem realmente quer alguma coisa”, “atrapalha a vida de quem estudou de verdade, e está por dentro dos assuntos”, “de quem realmente quer estudar”. E quem não tem acesso aos privilégios que uma boa condição financeira traz, e conseqüentemente a esse “mérito”, como é que fica? Será que temos igualdade de condições na hora de fazer o vestibular entre todos os candidatos? É justo enfrentar os obstáculos que essa seleção proporciona, não avaliando se realmente o assunto foi assimilado, e ainda com tal desigualdade de condições entre os candidatos? E as pessoas que não têm acesso as benesses do sistema capitalista, e tiveram uma pontuação próxima de quem teve mais oportunidades, não possui realmente o merecimento de entrar numa universidade pública? Quem será quem tem mais mérito (quem está mais apto): uma pessoa que estudou a vida inteira em escola pública, trabalha desde cedo, o dia inteiro e não tem tempo para estudar em casa, tirando a pontuação 6,0 no vestibular; ou um indivíduo que sempre pode estudar em escola particular, nunca precisou trabalhar, pôde fazer os melhores cursos, tem acesso fácil a internet, tem tempo para lazer, etc., e consegue tirar 7,0 no vestibular. Quem desses dois merece mais entrar na universidade? Quem tem mais méritos? Para se melhorar profundamente a educação no ensino médio e fundamental no país se precisaria de um investimento de bilhões e, mesmo assim, o resultado não se colheria num curto prazo. Isso envolve capacitação e compromisso de professores; melhoras substanciais de salários e condição de trabalho para os mesmos; distribuição de renda no país, para que os estudantes tivessem acesso e condições de se dedicar, e usufruir bastante do estudo, e não ter que trabalhar; dentre outras coisas. Até que tudo isso fosse implantado e efetivado, demoraria cerca de trinta anos para colhermos os frutos. Será que os que não tem “mérito financeiro” teriam que esperar pacientemente por esse tempo todo, até que o quadro geral da educação do país mudasse, para adentrar numa universidade?

Mesmo nas instituições, de ensino médio e fundamental, que são ditas como “melhores” – as privadas –, a educação segue numa mesma direção, já dita anteriormente – para atender principalmente o mercado de trabalho. E, mesmo assim, essa linha não quer dizer que os estudantes irão sair bem preparado para o mesmo. É interessante para o sistema capitalista que se tenham muitos “profissionais de baixa qualidade”, para ter um determinado número de pessoas buscando maiores capacitações, tendo também um bom número de desempregados. Isso gera mão de obra barata. O número de pessoas desempregadas, e querendo ocupar uma vaga no mercado de trabalho é grande, isso faz com que os salários caiam, os direitos trabalhistas diminuam, e os lucros dos patrões aumentem. Nessa lógica, o diferencial que os clientes de instituições privadas de ensino médio e fundamental irão ter é que o acesso que aos “atalhos” para passar no vestibular é bem maior do que na escola pública; e a acentuação de uma ideologia individualista(dizendo que você tem que se destacar, ser melhor que os outros e, se você não conseguir “ser alguém na vida”, é por incompetência sua), que também existe, mas em escalas menores, nas instituições públicas.
Isso mostra que a educação privada é realmente de melhor qualidade? É essa educação que é capaz de mudar para melhor uma sociedade?

Onde entra a universidade nessa história? Para ser considerada universidade, a instituição de ensino superior deve ser pautada no tripé ensino, pesquisa e extensão. O ideal seria que a pesquisa fosse voltada para a comunidade que circunda – não necessariamente tão próximo fisicamente – a universidade, para as demandas da sociedade local; que a extensão fosse a ponte entre a universidade e a sociedade, ajudando nas resoluções dessas demandas, aumentando o diálogo com essa última; e que o ensino – de caráter crítico e emancipador – relacionasse os conteúdos com a realidade local (trazendo elementos da pesquisa e da extensão), proporcionando assim uma melhor assimilação do que é trabalhado em sala e, fazendo um verdadeiro diálogo entre teoria e prática. Mas, a realidade é outra.

Na grande maioria dos casos a pesquisa serve, pura e simplesmente, para o enriquecimento de currículo. O que é pesquisado, boa parte com o dinheiro público financiando, se transformam artigos e resumos utilizados em apresentações nos congressos, e geralmente sem um retorno social – já que foi o dinheiro público que financiou boa parte dessas coisas – daí, parte-se para outra pesquisa assim que termina a que estava sendo efetuada. A extensão caminha em direção parecida, muitas vezes aparecendo como assistencialista. E o ensino, é quase como no nível médio – fica a idéia subliminar para muita gente que a universidade é basicamente a sala de aula, a diferença é que aparecem novos assuntos. O espaço universitário, é um espaço de criação de conhecimento. Mas, essa produção de conhecimento fica, geralmente, restrita a interesses privados – de empresas – ou individuais – favorecendo uma melhora apenas do currículo dos pesquisadores.

Se todo o potencial desse “espaço de produção de conhecimento” fosse direcionado para dar um retorno substancial a sociedade, até porque geralmente funciona com dinheiro público, provavelmente teríamos um quadro social diferente. Só que isso não é culpa, pura e simplesmente, das instituições de nível superior. Além dos atores que estão atuando internamente, elas dependem de regras, leis, que são criadas em outros espaços.

Talvez devêssemos mudar de discurso quando falamos que “a educação de qualidade não é prioridade”. Ela é prioridade sim! Entretanto, para alguns setores – principalmente ligados as grandes corporações e que tem um grande lobby no congresso, que enxergam a educação como mercadoria e não querem pessoas que reflitam sobre suas realidades, que briguem por seus direitos – a prioridade é que essa educação não seja implantada.

Vários avanços, como a democratização do acesso ao ensino superior – nesse sentido, promovendo inclusão social – são relevantes. Porém, para se mudar esse quadro de uma forma mais rápida, só mudando quem dita que ele seja assim. Reconhecer os chamados “tubarões do ensino” e expurgá-los da política já é um bom começo. Não só eles, mas os que enxergam tudo como relações comerciais, acreditando que o mercado, e sua lógica excludente e individualista, pode regular a sociedade. Todos estes são responsáveis por essa educação mercadológica, e que falsamente é considerada como sendo de qualidade.

Para finalizar, retomando Paulo Freire que disse não bastar a liderança ter um discurso revolucionário e libertador se a massa não se liberta, dizendo também que “ninguém educa ninguém”, o processo de aprendizagem é coletivo e contínuo. Seguindo essa linha, quem acredita numa educação que pode ajudar a mudar a sociedade para melhor, deve lutar para que ela seja realmente de qualidade. Deve incitar o debate para desconstruir essas ideologias vigentes, ajudando as pessoas a se desprendam de suas amarras, ocuparem os espaços, fazerem a diferença nas urnas. É necessário que muitas pessoas trabalhem, e acreditem, num mundo melhor, numa sociedade mais justa, e em instituições de ensino plurais, democráticas, de qualidade e que visem a emancipação dos indivíduos, inclusão e mudança social.

Leno Miranda

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Lula em Teerã: Um outro mundo, mais do que possível, é necessário

Durante discurso por ocasião da abertura da XIV Cúpula do G-15, em Teerã (Irã), nesta segunda-feira (17), o presidente Lula enfatizou que “um outro mundo, mais do que possível, é necessário”.

Segundo o presidente, a G-15 – criado há mais de 20 anos – consistiu numa resposta “às transformações inauguradas com o fim do mundo bipolar”. Ele lembrou o fato do encontro estar acontecendo no Irã: “Aqui estão reunidos líderes de um grupo de nações unidas na sua diversidade, que escolheram o Irã – ponto de encontro de muitas civilizações – para dar continuidade a este importante diálogo”.

“Atravessamos juntos os anos difíceis de hegemonia do pensamento único. Éramos uma das poucas vozes dissonantes do projeto conservador defendido pelos seguidores do consenso de Washington. Nunca evitamos a defesa de um mundo mais democrático onde todas as vozes pudessem ser ouvidas. A crise em que está hoje mergulhada a economia mundial, sobretudo nos países desenvolvidos, mostra que nossos diagnósticos de anos atrás eram basicamente corretos.”

Lula disse que num passado recente, “começamos a ouvir vozes que afirmavam que outro mundo era possível”. E emendou: “Hoje temos claro que um outro mundo é necessário”.

Com isso, segundo ele, o G-7 deixou de ser o “centro de gravidade da nova governança econômica global”. “Hoje, o G-15 tem entre seus membros algumas das economias mais dinâmicas do mundo. Somos agora os principais motores do crescimento da economia internacional”, assegurou.

De acordo com o presidente, o grupo dos emergentes tem que ficar unido e atuar em conjunto. “Sempre que enfrentamos as crises divididos fomos derrotados. Sempre que estivemos unidos trilhamos o caminho da vitória. Foi assim na OMC [Organização Mundial do Comércio] com G-20 comercial e será assim no G-20 financeiro.”

Para o presidente, erradicar a fome e acabar com o subdesenvolvimento ainda são os principais desafios da humanidade no século 21. Por isso, conforme destacou, há necessidade de aprofundar a cooperação Sul-Sul e, em especial, na África. No continente africano, o Brasil tem ajudado na promoção da agricultura, fato que coloca o país numa posição de vanguarda.

“Podemos ajudar sem ingerência nos assuntos internos de outras nações. Cooperação, diálogo e solidariedade devem ser os pilares do G-15. No momento em que o mundo busca alternativas para um modelo esgotado podemos oferecer uma perspectiva renovadora”, disse.

Vitória da diplomacia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em seu programa de rádio Café com o Presidente, que o acordo fechado entre Brasil, Irã e Turquia para troca de material nuclear foi uma “vitória da diplomacia”. Lula participou da negociação como o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, em Teerã.

O acordo prevê que o Irã envie à Turquia 1,2 mil quilos de urânio de baixo enriquecimento por urânio enriquecido a 20% para ser usado em pesquisas médicas. Pelo acordo, o urânio enriquecido será remetido no prazo de um ano. Nesse período, haverá supervisão de inspetores turcos e iranianos.

“Foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir o desenvolvimento”, disse Lula.

O governo brasileiro acredita que o acordo criará confiança na comunidade internacional e pode evitar que o Irã seja submetido a sanções por causa de seu programa nuclear.

Lula disse que o Brasil sempre acreditou na possibilidade de acordo e que a negociação prova que é possível fazer política internacional baseada da confiança. “Há um milhão de razões para a gente ter argumento para construir a paz e não há nenhuma razão para a gente construir a guerra. O Brasil acreditou que era possível fazer o acordo. Mas o que é importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança. E não é possível fazer política sem ter uma relação de confiança”, avaliou.

Lula deixou o Irã hoje (17) e seguiu para a Espanha, onde participará da Cúpula União Europeia-América Latina, e em seguida vai para Portugal.

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/internacional-1/lula-em-teera:-um-outro-mundo-mais-do-que-possivel-e-necessario-4541.html

Viva o Brasil! Viva nossa política externa soberana e independente!

Por Emir Sader

Corvos, urubus, tucanos, todos torcendo contra uma negociação pacífica do conflito em torno do Irã, porque é Lula quem conduziu essas negociações, o que fortaleceria ainda mais sua imagem. Enquanto que um eventual fracasso, mesmo que levasse a um novo conflito bélico de proporções, contanto que pudesse ser explorado internamente em termos eleitorais, favoreceria a oposição, nos seus mesquinhos e desesperados cálculos eleitorais.

Não importa o destino do Oriente Médio, do mundo, contanto que Serra possa ter alguma esperança de se eleger. Eleger um candidato que disse que o Mercosul é uma “farsa”, que o Brasil fez “uma trapalhada” em Honduras, que o ingresso da Venezuela no Mercosul era “uma insensatez”, que “não convidaria o primeiro ministro do Irã para vir ao Brasil, nem iria ao Irã”.

Dane-se a paz no mundo, contanto que a candidata de Lula não siga sua curva ascendente, que a faz superar a seu candidato na pesquisa do Vox Populi. Dane-se a paz no Oriente Médio, contanto que se possa consignar alguma “gafe” de Lula na viagem ao Irã. Dane-se o mundo, contanto que os interesses da direita brasileira sejam preservados.

Essa visão estreita, provinciana, se choca abertamente com a importância do acordo conseguido e com suas repercussões internacionais. Ainda mais porque contradiz o ceticismo do governo norteamericano – Hillary mencionou o tamanho da montanha que Lula teria que escalar para conseguir o acordo e dos porta-vozes da militarização dos conflitos em escala mundial. Onde outros fracassaram ou apostaram que nem valia a pena buscar negociações, o Brasil triunfou.

O Brasil soube buscar aliados – Rússia, China, Turquia, França – para abrir um espaço de negociação política, que se revelou possível e correto. A posição brasileira de que os EUA – e outras potências – possuindo imensos arsenais nucleares, não tinham moral para buscar acordos que limitem a disseminação de armamento nuclear, abre caminho para outras iniciativas de paz.

Em Israel e na Palestina, Lula deixou claro que os EUA não são o bom negociador para a paz na região, tanto porque são parte integrante do conflito, ao definir a Israel como seu aliado estratégico, como porque fracassou ao longo do tempo, sem que se tenha obtido a concretização do acordo da ONU de garantir a existência de um Estado palestino nas mesmas condições do Estado israelense.

Faltava que a candidatura de Lula fosse lançada ao Prêmio Nobel da Paz, para que uma imensa grita se estendesse por aqui, para que esse merecido reconhecimento internacional não projetasse de vez o Brasil como um novo sujeito em negociações de paz, projetando-nos como país que contribui efetivamente para sairmos de um mundo unipolar, sob hegemonia imperial de uma única super potência e para a criação de um mundo multipolar.

Devemos sentir-nos orgulhosos da diplomacia brasileira e da política internacional do Brasil, da atuação de Lula e de Celso Amorim. Devemos lutar ainda mais para consolidar essas diretrizes da política exterior brasileira e contribuir para que ela não apenas prossiga, mas se estenda e ajude ainda mais a construir um mundo em que os conflitos não sejam mais objeto de intervenções militares, mas de negociações políticas, pacíficas, que respeitem o direito de todos, especialmente dos que, até aqui, foram oprimidos pelas potências que concentram os maiores arsenais do mundo e pretendem perpetuar seu domínio sobre uma ordem mundial injusta.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=470

Dilma e Wagner: Diferença entre PT e Serra está na atenção aos pobres

Ontem (17), em Salvador, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff e o governador da Bahia e candidato à reeleição, Jaques Wagner, criticaram o governo FHC e destacaram as diferenças entre os projetos que Dilma e José Serra representam na campanha eleitoral deste ano. Segundo Dilma, a diferença essencial está na preocupação do Governo Lula e de sua candidatura com as necessidades dos mais pobres.

“É o povo que é dono desse país e não o país que é dono do povo. Isso é que diferencia nosso projeto. Fizemos o que não queriam fazer antes: elevamos a condição da população brasileira. Este país crescia voltado para poucos, excluindo amplas regiões do Brasil. Nós mudamos isso. Trata-se de projetos diferentes, porque, a cada programa, olhamos para saber como ele vai beneficiar os 190 milhões de pessoas.”

Outra diferença citada por Dilma, entre o PT e a oposição, é que, no Governo Lula, o Estado assumiu a obrigação de subsidiar a compra de moradias e de distribuir energia elétrica os brasileiros pobres, porque “entregues às forças mercantis eles jamais conseguiriam”.

Já para o governador Jaques Wagner, candidato à reeleição, os petistas são aqueles que começaram “como loucos e, depois de 30 anos” ensinaram “que era o contrário do que eles falavam – que era preciso crescer para dividir o bolo. Nós crescemos dividindo o bolo. Enquanto eles idolatravam o mercado absoluto, o bezerro de ouro, nós resistimos e mantivemos a Petrobras, o Banco do Brasil, a Embasa. Quem sustentou esse país em 2009, durante a crise, foram os bancos públicos”, afirmou Wagner em alusão aos projetos privatizantes do Governo Fernando Henrique.

As informações são do Brasília Confidencial

Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/economia-5/dilma-e-wagner:-diferenca-entre-pt-e-serra-esta-na-atencao-aos-pobres-4539.html

Lula diz que acordo com Irã é vitória da diplomacia

BRASÍLIA (Reuters) - O acordo entre o Brasil, o Irã e a Turquia em torno da questão nuclear da República Islâmica foi uma vitória da diplomacia, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira.

Segundo ele, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, participou de uma negociação durante todo o domingo e até a madrugada em Teerã, para resolver o impasse.

"Foi uma coisa extraordinária. Eu acho que a diplomacia sai vencedora hoje", comemorou o presidente. "Nós nos reunimos muitas vezes, mas ele (Celso Amorim) ficou reunido até quatro horas da manhã até concluir o acordo, e assinamos a declaração, agora há pouco", comentou Lula, no programa de rádio "Café com o Presidente".

Lula destacou a necessidade do diálogo para alcançar o acerto. "Eu acho que foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir o desenvolvimento."

O presidente chegou na sexta-feira ao Irã e nesta segunda-feira cumpre agenda em Madri.

De acordo com Amorim, que também participou do programa de rádio, o acordo levou em conta as conversas que o governo brasileiro teve com os russos, os chineses e os franceses e permitirá ao Irã desenvolver energia nuclear para fins pacíficos, desde que haja troca de combustível nuclear.

"O que eu queria salientar é que essa declaração entre Turquia, Brasil e Irã contém os elementos principais que são necessários, todos os elementos que são necessários, para que haja o acordo de troca de urânio por elementos combustíveis", disse o ministro.

A medida pode melhorar a confiança da comunidade internacional no Irã e é suficiente para evitar sanções da ONU, segundo Amorim.

Há, entre países ocidentais, a suspeita de que o programa nuclear do Irã tenha fins bélicos, apesar das negativas do país.

"O Brasil acreditou que era possível fazer o acordo. Mas o que é importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança", disse Lula.

A República Islâmica anunciou que concorda em transferir 1.200 quilos de seu urânio de baixo enriquecimento para a Turquia dentro de um mês em troca de urânio mais enriquecido para ser usado num reator de pesquisas médicas.

Não mais de um ano depois, o Irã receberá 120 quilos de urânio enriquecido em 20 por cento sob um acordo envolvendo o órgão de vigilância nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), assim como Estados Unidos, França e Rússia.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello; Edição de Carmen Munari)


Fonte: http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-documentid=24263102

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Tiro no pé

Texto publicado no jornal O Globo, de 02/05/2010

Certa vez, o então ministro de Economia da Argentina, Domingo Cavallo, afirmou que a tarifa externa comum do Mercosul era uma tontería, uma bobagem.

Pegou mal. Afinal, o Mercosul é o eixo estruturante das relações Brasil-Argentina. Cavallo expressava a opinião dos conservadores de seu país. Para eles, que apostavam nas “relações carnais” com os EUA, o único importante era a integração com os países mais desenvolvidos. Sonhavam com a Alca. O Mercosul era visto por eles como estorvo.

Cavallo não conseguiu seu intento de reduzir o Mercosul a uma mera área de livre comércio, mas deixou insuspeitados discípulos no Brasil.

Há poucos dias, o pré-candidato José Serra, “mercocético” histórico, afirmou que o Mercosul é uma “farsa”, um peso que atrapalha o Brasil. Pegou malíssimo. O “Clarín”, importante jornal argentino, publicou matérias contestando as novas versões das teses “cavallianas”.

Não falta razão a esse jornal. Se há um país que não pode reclamar do Mercosul é o Brasil. Entre 2003 e 2008, nossas exportações para esse bloco foram multiplicadas por 6,6, tendo passado de US$ 3,3 bilhões para US$ 21,7 bilhões. No mesmo período, as nossas exportações totais foram multiplicadas por 3,3. Ou seja: as exportações para o Mercosul cresceram o dobro da média global brasileira.

Ademais, nesse período acumulamos um superávit intrabloco de US$ 23,8 bilhões. Mas a importância dessa corrente regional de comércio se torna mais evidente quando analisamos sua composição. Em 2008, exportamos US$ 21,7 bilhões para o Mercosul. Desse total, US$ 20 bilhões foram de manufaturados. Assim, 92% das nossas exportações intrabloco são de bens de alto valor agregado, o que beneficia muito São Paulo, estado industrial do pré-candidato. Em 2009, ano de crise, São Paulo teve déficit de US$ 8 bilhões, mas obteve quase US$ 4 bilhões de superávit com a “farsa”.

A tese de que o Mercosul “atrapalha” a conquista de novos mercados não tem sustentação nos dados empíricos.

Como assinalamos, no período considerado nossas exportações foram multiplicadas por 3,3. Já exportações mundiais foram multiplicadas por um fator de “apenas” 2,4. As exportações brasileiras cresceram, assim, bem acima da média mundial. Isso aconteceu graças a uma competente política de comércio exterior que apostou na integração regional e na diversificação das parcerias, particularmente no eixo Sul-Sul. É provável, no entanto, que o pré-candidato ainda esteja raciocinando com os dados do governo ao qual serviu. Naquela época, o Brasil realmente tinha grandes dificuldades para conquistar mercados e acumulava pesados déficits.

Só com o Mercosul, acumulamos ao redor de US$ 5,5 bilhões de déficit, entre 1995 e 2002.

É claro que a união aduaneira torna mais complexas as negociações com outros países. Porém, ela também gera grande vantagem: dá mais peso a países que, individualmente, teriam condições menos vantajosas nas negociações.

O exemplo da União Europeia, que inspira o Mercosul, é muito eloquente. Além disso, no governo Lula o bloco se expandiu. Firmamos um acordo para incluir os países andinos como membros-associados do bloco e iniciamos o processo de inclusão da Venezuela como membro pleno. Acabamos de promulgar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e Israel.

Outros estão em fase adiantada de negociação.

Só não conseguimos fechar ainda o acordo com a UE porque nesse bloco há países que resistem a abrir seu mercado agrícola. A culpa não é do Mercosul.

Além da importância econômicocomercial, o Mercosul e a integração regional têm grande relevância política e estratégica para o Brasil. É graças, em boa parte, a essa integração que o nosso país possui hoje protagonismo internacional inédito em sua história. Assim sendo, atirar contra o Mercosul, bloco que implica compromisso de longo prazo de Estados, é dar um tiro no pé. É tontería sem nenhum substrato racional e empírico. Mesmo em ano eleitoral, pega mal. Para o bem do país, que precisa de um entorno próspero e estável, esperamos que as tensões geradas pela declaração atrapalhada possam logo ser desanuviadas.

Tiro no pé dói.

Aloizio Mercadante é senador (PT-SP), líder do partido no Senado Federal e pré-candidato ao governo de São Paulo.

Escolhas Eleitorais

quarta-feira, 5 de maio de 2010

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:

Não faz muito tempo, um dos mais renomados articulistas de um importante jornal carioca iniciou sua coluna com uma pergunta natural para esta época do ano: o que terá mais peso nas decisões que os eleitores vão tomar na hora de escolher em quem votar para presidente? Para respondê-la, oferecia, no entanto, alternativas que nada tinham de naturais: seria “A capacidade de sedução do presidente Lula e a boa situação da economia, proporcionando uma sensação de bem-estar à população?” ou “A percepção de parte do eleitorado de que uma política externa radicalizada à esquerda tem reflexos inevitáveis na maneira de conduzir a política interna?”.
Quem tivesse lido somente esse começo de texto talvez ficasse com a impressão de que o autor estava brincando. Em nenhum lugar do mundo uma dúvida assim faria sentido e, certamente, não no Brasil.
De um lado, só estão coisas palpáveis: um presidente que seduz a opinião pública, a economia que vai bem, as pessoas satisfeitas, uma sensação de bem-estar. Do outro, algo que já é enunciado como limitado (“a percepção de parte....”), que põe na mesa uma noção que pouquíssimas pessoas saberiam o que é (“política externa radicalizada à esquerda...”) e que faz uma suposição cuja demonstração é complicada (“reflexos inevitáveis... na política interna”).
É difícil imaginar escolha mais fácil para a quase totalidade da população brasileira: na balança, em um prato estaria seu bem-estar, no outro, uma abstração a respeito de outra abstração. Quem aposta o que a maioria faria sem titubear?
O curioso no artigo é que a pergunta não era retórica. E que o autor não a fazia por redução ao absurdo, para mostrar o equívoco de quem imagina que a agenda da “esquerdização” da política externa possa ter qualquer impacto eleitoral relevante.
Mas não são apenas os jornalistas que fazem, às vezes, perguntas sem sentido. Até os mais ilustres líderes políticos as cometem.
Domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou aos jornais, agora para “reavaliar as diferenças e críticas recíprocas entre PSDB e PT”.
Em tom menos combativo do que vinha usando nas suas recentes intervenções (talvez em sintonia com a orientação de evitar o confronto direto com Lula, emanada do comando da campanha Serra), FHC falou de continuidades, sem comparar governos. Sequer foi para a “guerra dos números” para a qual havia desafiado o PT. Magnânimo, propôs que o Bolsa-Família fosse visto como exemplo dos programas que, “independentemente de que governo os tenha iniciado ou melhorado, tiveram o apoio de todos os partidos e da sociedade”.
Seu artigo termina com uma declaração e uma pergunta. Para ele, as diferenças entre Serra e Dilma, mais dia, menos dia, recairão sobre “a verdadeira questão” (uma só, pois as outras, imagina-se, não seriam “verdadeiras”): “queremos um capitalismo no qual o Estado é ingerente, com uma burocracia permeada por influências partidárias e mais sujeita à corrupção, ou preferimos um capitalismo no qual o Estado permanecerá básico, mas valorizará a liberdade empresarial, o controle público das decisões e a capacidade de gestão?”. No primeiro corner, estaria Dilma, no segundo, Serra.
Com a biografia que tem, é difícil acreditar que o ex-presidente pense da forma como se expressa. Para a vasta maioria da população, a eleição pouco (ou nada) tem a ver com algo tão distante quanto a escolha de um modelo de capitalismo (“Estado ingerente vs. Estado básico”). Nem é claro como os dois candidatos seriam classificados. Serra, por exemplo, seria ingerente ou básico? E Dilma? Quem sabe os dois não seriam as duas coisas? E quem falou que PSDB e PT têm, para as pessoas comuns, imagens tão diferentes no tocante à partidarização do governo, sujeição ao risco da corrupção, valorização da iniciativa privada, controle público e capacidade de gestão? Quem disse que elas só enxergam virtudes em um e defeitos no outro?
Nas eleições deste ano, a população brasileira não se fará perguntas sem sentido ou indagações estratosféricas. Para ela, as escolhas serão bem mais concretas: Continuar ou mudar? Um pássaro na mão ou dois voando? Ela ou ele?
É concreto, embora simples não seja.

Correio Braziliense

Continuar ou mudar?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O artigo do Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, finaliza propondo que as escolhas são bem concretas: continuar ou mudar? Eu mudaria a pergunta. Continuar o governo Lula ou continuar o governo de FHC? Serra é FHC, Serra é cria de FHC, Serra é do PSDB de FHC, foi ministro no governo de FHC por duas vezes, no Planejamento e na Saúde. Serra, como disse o próprio FHC, foi o maior entusiasta das privatizações, principalmente da Vale. Serra vai desmontar as estatais, vai demitir milhares de funcionários essenciais, como fez quando ministro da Saúde de FHC, demitindo mais de 5.000 agentes do combate à dengue, e provocando a maior epidemia de dengue já vista no país.

Para recordar: 24/02/2002 Folha de São Paulo:
Especialistas culpam Serra por fracasso com a dengue. Para os especialistas, professores de quatro universidades, o governo errou ao abandonar um projeto antidengue de 1996 e ao não assegurar a continuidade de iniciativas. A erradicação da enfermidade é considerada quase inviável, mas o seu alcance poderia ser muito reduzido. Em 1998, um plano operativo da Funasa previu que seriam necessários 10.461 agentes sanitários no Rio concentrados na aplicação de inseticidas. Havia 1.638 efetivos da fundação e 5.243 contratados por temporada – um déficit de 3.580. Em 1999, os temporários eram 5.792. Foram demitidos no fim de junho daquele ano. O economista que assumiu a Saúde com a promessa de derrotar a dengue deixa o governo marcado pelo recrudescimento da doença.

É isso que o povo tem que escolher: quer o futuro sem desemprego, com muito trabalho, com renda, com crescimento do país, com queda na desigualdade social, com a continuação do PROUNI, com o INSS prestando um bom atendimento à população, sem filas, sem atraso para obter os benefícios; ou quer a volta da desgraça que foi o governo de FHC? O povo quer a estabilidade econômica do governo Lula ou a desgraça econômica do governo de FHC? Será que o povo quer a volta do FMI, do desemprego recorde, do mau atendimento nos órgãos públicos por conta de demissões, do apagão? Será que o povo quer a privatização da Petrobras, sonho do PSDB/DEM? Será que os estudantes vão querer o fim do PROUNI, a falta de professores? Serra diz que não vai acabar com o Bolsa Família, blá, blá, blá, mas Serra também disse, jurou, assinou e registrou em cartório documento, em 2004, prometendo que não deixaria a prefeitura de SP para concorrer à eleição de 2006. Mentiu, enganou o povo que acreditou nele e o elegeu, entregou a prefeitura de São Paulo para o DEM de Kassab. Sergio Guerra, presidente do PSDB, já disse em entrevista para a Veja que Serra eleito vai acabar com o PAC: isso vai gerar desemprego, falta de investimento no país, falta de melhorias para população. Notem bem quem são os aliados do Serra: o DEM do Arruda, do Efraim de Morais, do Kassab, do Heráclito Fortes (aquele que deu um emprego fantasma para a filha de FCH). O Maluf disse apoiar Serra, Roriz, Quércia, FHC. Agora pense: vale a pena ter essa gente de novo mandando e desmandando no Brasil? Eles não apóiam de graça, o apoio é para ter ministérios, para ter poder. E o poder deles destrói, o poder deles volta-se contra o povo. Por isso reafirmo a pergunta: Continuar o governo Lula, com Dilma, ou continuar governo FHC, com Serra?

Jussara Seixas

Fonte:
http://dilma13.blogspot.com/2010/05/continuar-lula-ou-continuar-fhc.html

RICARDO BOECHAT PREGA VOTO NULO NA BAND FM

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Na rádio BandNews FM, todas as manhãs, o âncora Ricardo Boechat prega abertamente o voto nulo, e que TODOS os políticos são picaretas.
Como o passado dele é turvo, já que foi Secretário de Comunicação do “governo” Moreira Franco, que elegeu-se com o estelionato eleitoral de que acabaria com a violência em seis meses, essa "pregação" parece ser um problema de consciênica - ou burrice.
Há que se protestar contra esta atitude do Boechat. Como formador de opinião ele não pode fazer campanha pelo voto nulo. E os políticos que se prezam devem protestar contra a atitude dele, de chamar a todos de “picaretas”. Urgem providências.
O Boechat foi demitido de O Globo, onde trabalhou por 30 anos, por ter sido flagrado em um grampo telefônico, combinando matérias com um jornalista, ligado ao dono do JB, que também trabalhava para uma empresa de telefonia. A história está resumida aqui:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq270620018.htm
Isso é irresponsabilidade mesmo, na minha opinião. Se todos votarem nulo, seria o caos. É perigoso até para os patrões golpistas dele.
Acho que os políticos dignos deveriam procurar a produção da BandNews e pedir direito de resposta. Como é que uma rádio, concessão pública, pode pregar o voto nulo? Como um formador de opinião pode dizer que todos os políticos são picaretas? Na minha opinião, deveriam até processá-lo.

Enviado por e-mail pelo amigo Fernando Andrade

Fonte: http://dilma13.blogspot.com/2010/05/ricardo-boechat-prega-voto-nulo-na-band.html

sábado, 1 de maio de 2010

Flores para Tancredo, táticas e alianças

Talvez a campanha eleitoral seja pródiga em respostas para tantas questões que as flores a Tancredo levantam neste 25° aniversário da morte do mineiro. A superação de sectarismo do passado e a capacidade de construir alianças permitiram levar Lula e Alencar ao governo, não se cansa de lembrar o presidente. Mas, haverá continuidade nesta tática de ampliar as bases de apoio, com as concessões feitas onde necessário para avançar nos centros mais decisivos, especialmente mantendo o PT no Planalto?

O artigo é de Beto Almeida.

Beto Almeida


No dia 21 de abril, além de ser o aniversário de Brasília, agora cinquentona, é também o dia de Tiradentes - rebelde que poderia ter sido o nosso Bolívar - e também o dia em que morreu Tancredo Neves, sobre o qual ainda se está revelando muita informação importante, mas, especialmente porque sobre ele ainda são necessárias muitas releituras políticas úteis para hoje. Além de homenagens sinceras ao seu nacionalismo e antiimperialismo, quase sempre esquecidos por alguns que o querem homenagear, vale constatar a atualidade e a necessidade destas qualidades daquele mineiro. Se exercidas na presidência, teriam permitido a ele revelar-se por inteiro como grande estadista que foi. Mas, quando Dilma Roussef, em visita a São João Del Rei, leva flores para ao túmulo de Tancredo, faz florescer um debate ainda inconcluso sobre táticas e alianças, especialmente no interior do PT.

Na madrugada dramática de 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas reúne seu ministério a poucas horas de dar um tiro no coração. O estampido ecoa até hoje na história brasileira. Principalmente, na luta por uma plena e verdadeira soberania nacional, pelo controle nacional de nossas riquezas, pela independência energética, pela superação da dependência tecnológica. Cada vez que se pronuncia a palavra Petrobras dever-se-ia escutar um tiro disparado contra o coração de um brasileiro.

Morrer por uma grande causa
Naquela reunião, antes do tiro, uma voz corajosa se ouviu em defesa dos interesses nacionais, da democracia, das conquistas daquele governo democrático e nacionalista, entre elas a Petrobrás. Era Tancredo Neves, jovem ministro da justiça de Vargas, propondo ao presidente a resistência, se necessário armada. Diante de generais claudicantes que rastejavam ante o golpe organizado pelo poder imperial estrangeiro, Tancredo levantava um novo brado de Tiradentes. “Presidente, organizemos a resistência militar, prendamos os golpistas, convoquemos o povo!”, clamava. O ministro militar de Vargas já se comportava como um derrotado. Prostrou-se. Tancredo insistia: “General, poucas vezes na vida a história nos oferece a oportunidade de viver ou morrer por uma grande causa. Não a desperdicemos!!”.(1)

Esse comportamento de um bravo foi considerado quando anos mais tarde os golpistas de sempre tentaram estimular alas militares a impedir que Tancredo vencesse a eleição presidencial no Colégio Eleitoral, pela via indireta. Isto foi revelado recentemente em assustadora entrevista do general Newton Cruz. Afirmou que houve até mesmo planos para assassinar Tancredo. Certamente, os golpistas que sempre atuam em nome dos interesses externos não perdoavam aquela convocação para unir militares e povo em defesa da democracia e dos interesses nacionais. Sejam quais fossem as conseqüências. Possivelmente se o chamado de Tancredo tivesse sido atendido, as massas furiosas que saíram às ruas após o anúncio da morte de Vargas teriam saído antes do tiro no coração.

E o curso da história poderia ter sido outro, não se sabe. Nas ruas, as massas identificaram imediatamente os responsáveis pelo golpe: cercaram e quebraram a representação diplomática dos EUA, e as sedes dos jornais O Globo, Tribuna da Imprensa. Até mesmo o jornal Tribuna Popular, dos comunistas, sofreu com a fúria popular, pois na edição daquele dia 24 de agosto Prestes pedia nada mais nada menos que a renúncia de Vargas. O jornal foi recolhido pelos próprios comunistas, temendo maiores prejuízos.....O significado disto tem muita importância para as releituras políticas que estão sendo feitas sobre a história do Brasil.

Tancredo ia reatar com Cuba
Tancredo comparou o golpe contra Vargas ao golpe sangrento desfechado contra Salvador Allende como descreve em seu excelente livro “A Era Vargas”, o tarimbado jornalista José Augusto Ribeiro. Pelo mesmo jornalista, em depoimento ao programa “Brasil Nação” da TVE do Paraná, soube-se de outras duas marcantes atitudes de Tancredo. A primeira quando, já presidente eleito, viaja para o mundo e nos EUA, após entrevista como o presidente Reagan, declara que o Brasil não aceitará uma intervenção militar norte-americana na Nicarágua Sandinista.

A repercussão foi tremenda. Até porque a declaração de Tancredo chegou aos ouvidos de Fidel Castro que naquele momento falava exatamente contra possíveis agressões a Nicarágua. Lendo Tancredo, o líder cubano emendou: “ Invadir a Nicarágua é fácil, quero ver invadir o Brasil”. A segunda atitude foi quando Tancredo, sem fazer estardalhaço de seus gestos, reclamou dos jornalistas perguntarem insistentemente se reataria relações com Cuba, mas nunca perguntarem porque determinou o fechamento da base militar dos EUA no arquipélago de Fernando de Noronha, quando era primeiro-ministro, no breve período do parlamentarismo no Brasil. Embora reatar com Cuba já estivesse definido, declarar isto antes de tomar posse e consolidar o governo era o que mais queria a direitona. Por isto a insistência dos jornalistas, especialmente de seus patrões... Pouco mais de um depois da morte de Tancredo, em julho de 86, Sarney reata relações com Cuba rompidas após o golpe de 64.

Há um conjunto de gestos de Tancredo ao longo de sua história que o levaram a ser odiado pelos golpistas. Desde a sua solidariedade radical e incondicional ao Vargas e as conquistas daquele governo - muitas delas ferramentas ainda hoje responsáveis por não termos pago um preço mais amargo pela crise capitalista atual, em razão dos bancos públicos, o BNDES e também a Petrobras - até o seu famoso alerta “ Não pagaremos a dívida externa com a fome do povo brasileiro!” em Tancredo encontramos ensinamentos sobre como atuar nas situações adversas, sobre como reunir o máximo de unidade forças possível para fazer avançar o processo possível para cada etapa da história. É exatamente por isso que tem importância tanto quando a pré-candidata Dilma leva flores para Tancredo, como também quando os partidários do pré-candidato José Serra, reagem alegando usurpação de memória história ou algo no gênero. São temas para um bom debate.

Lula também havia falado poucas e boas de Vargas. “Pai dos pobres, mas mãe dos ricos” era uma delas. Mas isso foi antes de ser presidente. Hoje - quem sabe graças à pedagogia do exercício do cargo - Lula reconhece em Vargas o maior presidente que o Brasil já teve, dito por ele. E ainda lembra sempre que muitos dos órgãos de imprensa que o atacam agora e que atacam a Petrobras, atacaram Vargas e até chegaram veicular a desinformação patética de que no Brasil não haveria petróleo, portanto, que seria uma loucura criar uma Petrobras. Vale lembrar: Lula criou por decreto a Semana Vargas, para que o povo brasileiro conheça cada vez mais o presidente nacionalista, disse.

Jesus e Judas
Recentemente, Lula disse que até Jesus Cristo teria que conversar com Judas se quisesse governar o Brasil. Disse que levou muito tempo para fazer o PT compreender que precisava fazer alianças, até que conseguiu provar sua tese tendo como vice-presidente um empresário nacionalista do porte de José Alencar, que sensibiliza o país com sua determinação, seu amor ao país, à vida, mas também com sua cruzada contra os juros espoliadores da produção. Lula disse que sentia-se indo para o matadouro a cada eleição em que não podia fazer uma política de alianças, ampliando sua base de apoio. E agora diz curto e grosso para Mercadante: o PT tem que arrumar o seu “José Alencar” em São Paulo se não quiser apenas marcar posição eleitoral, muito embora significativa.

O que tudo isto tem a ver com as flores de Dilma para Tancredo? Para o exercício do poder sem maioria parlamentar Lula e parte do PT foram compreendendo era preciso ter uma aliança ampla, muitas vezes com forças contraditórias, desde que permitissem levar adiante um projeto. Ora, não é um ensinamento cristalino de Tancredo?

Travessia no nevoeiro
No Colégio Eleitoral, em que o PT rejeitou a aliança com o Tancredo, em razão do voto indireto, havia sim a possibilidade de fazer avançar determinados pontos programáticos importantes para o povo brasileiro. Entre eles o reatamento com Cuba, o Mercosul, a legalização dos partidos de esquerda, o reconhecimento das centrais sindicais, o fim da censura, a criação do Ministério da Reforma Agrária. Não é tudo isto legado de Tancredo? Tendo sido a emenda das Diretas-Já derrotada, e sem forças próprias e sem maioria para impor uma saída própria, mesmo assim o PT rejeitou a tática de Tancredo que era a do “velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar”. Havia até mesmo algo de purismo na argumentação petista de então. O senador Lauro Campos foi o mais votado para as eleições ao Senado no DF em 86. Mas, como o PT não aceitava o uso da sublegenda, o PMDB ficou com todas as vagas. “A sublegenda é instrumento espúrio” dizia o PT. Mas, e o conjunto da lei eleitoral advinda da ditadura, não era? Só a sublegenda o era?

Não se recordava que o próprio Lênin não teve dúvidas de levar os bolcheviques a participar da Duma, Parlamento do Czar, para fazer avançar a revolução. E agora vemos o PT participar da eleição indireta no DF, inclusive lançando candidato ao Palácio Buriti. Naquele momento, quando a ditadura ainda não havia sido desorganizada, quando as forças progressistas ainda não possuíam força suficiente para ar uma saída própria, as relações de força ainda não eram tão favoráveis, Tancredo simbolizava uma Travessia no nevoeiro, sendo, portanto, muito justa e correta a tática de manter a unidade do campo democrático, garantindo avanços transitórios porém decisivos. Agora, com as forças progressistas com ampla representação, inclusive tendo logrado fazer um presidente como Lula, mesmo assim, ainda é necessária uma tática de acumular forças para conquistar as medidas mais urgentes e inadiáveis para as amplas massas mais penalizadas. Nota-se um processo de reajuste, de releitura, de reconsideração no interior do PT?

Não se sabe com que profundidade o gesto de Dilma de levar flores para Tancredo, em sintonia com tantas declarações de Lula questionando certos traços de sectarismo petista, estão sendo debatidos no interior do Partido. Pelo documento aprovado no mais recente congresso partidário - no qual José Alencar foi homenageado com cargo honorífico - percebe-se que algo do exclusivismo, da auto-suficiência ou sectarismo de tempos atrás já teria sido superado. O teste sobre a profundidade desta mudança de orientação política será realizado na composição das alianças nacionais e regionais para o próximo pleito.

Qual Tancredo?
De outro lado, o protesto dos seguidores da pré-candidatura José Serra contra a oferenda floral de Dilma cheia de recados para dentro e para fora do PT, carece de melhor compreensão. Quando homenageiam Tancredo estariam excluindo da lista de qualidades do mineiro sua lealdade à Era Vargas que Fernando Henrique Cardoso buscou destruir? Seria possível homenagear Tancredo e ao mesmo tempo recusar ou esconder suas posturas fortemente antiimperialistas seja fechando uma base militar norte-americana no Brasil, seja rebelando-se na frente de Reagan contra a ameaça de uma possível agressão militar dos EUA à Nicarágua naquele momento. Será possível homenagear Tancredo sem ressaltar que o mineiro era defensor da CLT - sempre alvo de ataques da patronal - e das demais conquistas que a Era Vargas legou ao nosso povo, como a Petrobrás, o início do Programa Nuclear Brasileiro, a Eletrobrás, mais tarde confirmada no governo Jango, o salário mínimo hoje re-valorizado?

Talvez a campanha eleitoral seja pródiga em respostas para tantas questões que as flores a Tancredo levantam neste 25 aniversário da morte do mineiro. A superação de sectarismo do passado e a capacidade de construir alianças permitiram levar Lula e Alencar ao governo, não se cansa de lembrar o presidente.. Mas, haverá continuidade nesta tática de ampliar as bases de apoio, com as concessões feitas onde necessário para avançar nos centros mais decisivos, especialmente mantendo o PT no Planalto? Haverá a tática necessária para fazer com que os empresários que se dizem felizes com Lula mas anunciam voto em Serra revejam esta posição?

E do outro lado, haverá a possibilidade de ter Tancredo como símbolo exclusivo da uma determinada campanha política hoje, mesmo tendo sido o mineiro portador de tantas mensagens fundamentais para a nossa história, sempre contra as sombrias forças golpistas das décadas de 50, de 60, e também de 80?



Beto Almeida, jornalista
Notas

1) O episódio foi relatado pelo talentoso jornalista Mauro Santayanna no programa Brasil Nação, já citado


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16545