Publicado no jornalista Luis Nassif
Fecha-se o circuito de um dos grandes lobbies montados recentemente pela mídia.
Acompanhe:
1. A Folha, através do repórter Márcio Aith, traz a manchete bombástica de que um cliente de José Dirceu, Nelson dos Santos – sócio da massa falida da Eletronet – iria receber R$ 200 milhões do governo, caso saísse o Plano Nacional de Banda Larga, em cima da rede de fibras óticas da empresa – que o governo já tinha pegado de volta, sem nada pagar. Atribuiu a operação – que, segundo Aith, beneficiaria Nelson – ao lobby de José Dirceu.
2. No mesmo dia, aqui, se desmontou essa tese. Mostrou-se que, na verdade, governo e Nelson estavam em lados opostos. O governo retirando a rede da Eletronet, sem nada pagar; e Nelson querendo manter o controle da empresa.
3. A matéria era maliciosa e relacionava a caução que o governo teve que depositar no processo movido pelos credores (para poder ficar com a rede de fibras óticas) com os supostos benefícios ao Nelson. Ora, a ação era de credores querendo receber pelo que entregaram, não dos ex-acionistas. De que modo Nelson ganharia R$ 200 milhões? A matéria não explicava. E foi duramente cobrado do Aith, aqui, que mostrasse de que forma se daria o pagamento.
4. No dia seguinte, mudou totalmente o enfoque da matéria – mas sempre colocando a União como cúmplice do Nelson. Agora – na matéria do Aith – a Oi estava querendo adquirir as dívidas dos credores para poder assumir a rede da Eletronet. Do que se aproveitou Aith/Folha para relembrar o caso BrOi, Gamecorp, a assessoria do José Dirceu etc. A matéria foi abatida em pleno vôo por outra – esta, séria – do Estadão, informando que Nelson ganharia R$ 70 milhões, mas só na hipótese da Oi entrar. E a Oi não entrou justamente porque foi barrada pela Eletrobras, em função do PNBL. Ou seja, quem gorou a aventura do Nelson (que assumiu 51% da Eletronet por R$ 1,00) foi o PNBL – o oposto do que Aith/Folha falava. Nelson só ganharia se o plano gorasse.
5. Durante dois dias seguidos, Aith/Folha ficaram com a broxa na mão. Afinal, iriam deixar passar batido a barriga ou abririam as cartas sobre as fontes da informação.
Sem alternativa, na matéria de hoje Aith abre as cartas: a fonte da tal matéria era o próprio Nelson dos Santos.
O empresário diz que a autofalência da Eletronet não é culpa dos sócios privados. “O pedido de autofalência foi feito pela Lightpar [que representa o governo na empresa] e não pela AES [sócia majoritária na época]“, disse Santos à Folha antes da publicação da reportagem.
Aí, o leitor mais desavisado perguntaria: mas a troco de quê o próprio Nelson faria uma denúncia sobre uma operação (o PNBL) que, segundo a própria matéria, o beneficiaria? Mania de suicídio?
Qualquer repórter iniciante, mais que isso, qualquer pessoa medianamente inteligente e intelectualmente honesta se perguntaria porque uma fonte estaria lhe passando informações denunciando uma operação da qual supostamente ela seria beneficiária. Aith não é ingênuo, não é novato e não é despreparado. Mesmo assim, não perguntou.
Não há hipótese de Aith/Folha não saberem que as informações vindas de Nelson dos Santos se destinavam a melar o PNBL. E, sendo assim, seria impossível que o PNBL beneficiasse Nelson e a Eletronet. Então por que insistiram nesse falso escândalo? Aliás, pela própria declaração de Nelson – só agora revelada por Aith – se constata que o repórter já sabia das pendências entre governo e Eletronet antes de saírem as denúncias. Estava informado sobre o imbróglio jurídico e sobre a maneira como a lógica do PNBL contrariava os interesses de Nelson. E reportou justamente o contrário, fazendo o jogo da fonte.
A lógica final é simples.
1. Nelson só receberia R$ 70 milhões se não saísse o PNBL e ele pudesse negociar a Eletronet com as teles. Nesse caso, a candidata pagaria os credores (no lugar do governo pagar), a empresa sairia da falência e ele receberia R$ 70 milhões pela venda.
2. A única arma que ele tinha eram os recibos de pagamentos ao José Dirceu. A maneira que encontrou para torpedear o PNBL foi pegar os recibos do que pagou a José Dirceu, chamar o notório Aith e combinar uma matéria que diria que o pagamento foi para viabilizar o PNBL e beneficiar a ele, Nelson. Com essa jogada primária, pretendia inviablizar o PNBL e depois sair com a história de que o setor privado resolveu o problema, pagando as dívidas da Eletronet em lugar de gastar dinheiro público. E, aí, embolsaria algo entre R$ 70 milhões e R$ 200 milhões, pagos pela compradora.
A última matéria de Aith, em que a trama é deslindada, porque obrigado a abrir a fonte, é um fecho clássico para uma das grandes manobras de lobby contemporâneo.
Segundo ela, o lançamento do PNBL inviabiliza a Eletronet. Mas poderá beneficiá-la, «caso o governo mude de ideia». Ora, quem pretendia fazer o governo “mudar de ideia”? O escândalo bancado pela Folha.
Agora, o governo sinaliza que não precisará mais da Eletronet, já que as fibras foram transferidas. Mas, segundo os advogados envolvidos no processo, no estatuto da Eletronet está definido que ela será a única gestora da rede por mais 11 anos. Caso o governo mude de ideia, os sócios privados terão de ser indenizados, incluindo Nelson dos Santos.
Mudar de ideia, significa manter a Eletronet como espinha dorsal – algo que o Nelson quer e o governo não quer:
Outro cenário é o de que a controvérsia pela posse das fibras seja resolvida e o governo mantenha a Eletronet como “espinha dorsal” do PNBL.
Nesse caso, a Eletronet, saneada, aumentaria sua receita e faria crescer a participação de Santos. Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de R$ 200 milhões caso seja reativada com a Telebrás.
Ou seja, Nelson ganharia de R$ 70 milhões a R$ 200 milhões se o lobby da Folha fosse bem sucedido, as informações distorcidas melassem o PNBL e a Eletronet pudesse ou ser negociada com o setor privada ou ser aproveitada para o plano – a empresa inteira (como pretende o Nelson) e não apenas a rede de fibras óticas (como planeja o PNBL).
Há um agravante. Antes de sair essa matéria, o jornal soltou outro factóide contra a Telebras, acusando um twitteiro de ter vazado a informação – que já era de amplo conhecimento geral – de que o governo iria ressuscitar a Telebrás. É evidente que foi um preparativo para o lobby final de melar o modelo Telebrás, abrindo espaço para a manutenção da Eletronet.
E por que, afinal, Aith/Folha teriam bombardeado a Oi, se ela poderia ser uma futura compradora? Porque, segundo a matéria do Estadão, a venda para a Oi renderia R$ 70 milhões a Nelson. Primeiro, porque a operação já tinha melado. Segundo, porque havia outro comprador disposto a pagar os R$ 200 milhões. Aliás, finalmente se descobre de onde sairiam os R$ 200 milhões para o Nelson. Sairiam se o lobby tivesse dado certo e a Eletronet fosse reativada com a Telebras – o que só ocorreria se o PNBL fosse para o espaço.
Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de R$ 200 milhões caso seja reativada com a Telebrás.
Em jogo, portanto, de R$ 70 a R$ 200 milhões.
Aliás, não há mais o menor motivo para que Dirceu não revele os termos do contrato firmado com Nelson. Alegou sigilo contratual. Agora, está provado que quem vazou as notas de pagamento a Dirceu foi o próprio Nelson. Então, o acordo de confidencialidade foi quebrado unilateralmente.
É um bom momento para Dirceu colocar a história das suas assessorias em prato limpo.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Entrevista concedida por Valter Pomar à jornalista Inês Nassif do jornal Valor Econômico.
Inês Nassif -Algumas pessoas separam o primeiro do segundo mandato do Lula e consideram que o primeiro foi mais à direita que o segundo. Considera isso correto? Por que? Por razões conjunturais – uma crise que passou a incorporar uma ação mais efetiva do Estado sobre a economia – ou políticas? Por razões externas ou internas ao partido?
Pomar-Eu considero que existiram dois governos.
O primeiro durou de 2003 até a crise de 2005.
O segundo começou após a crise de 2005 e vem até agora.
O primeiro governo foi pautado pela Carta aos Brasileiros.
O segundo governo está se aproximando do programa aprovado pelo PT em dezembro de 2001, no XI Encontro do PT, realizado em Recife, programa que foi redigido pelo Celso Daniel.
Eu costumo dizer aos meus amigos que “a burguesia não nos faltaráâ€. Ela não nos faltou.
A excessiva moderação do primeiro mandato gerou desgastes junto a setores da base eleitoral e social, bem como junto a militantes. Os efeitos disto ficaram visíveis na derrota que sofremos na eleição de 2004. Logo depois veio a eleição de Severino e a crise de 2005.
A burguesia viu nisto a chance de abreviar o governo Lula e “acabar com a raça†do PT.
Ou seja: a burguesia, a direita, a oposição radicalizaram. O efeito foi “esquerdizar†o Partido. Ou, para ser mais preciso, trazê-lo da Carta aos Brasileiros para o programa do XI Encontro.
Isso ficou visível no resultado do PED 2005: no primeiro turno, a “oposição interna†venceu. Perdemos no segundo turno devido à estreiteza política do Plínio e seus liderados, que sairam do Partido, contribuindo para nossa derrota por apenas 5 mil votos (em 240 mil) no segundo turno do PED.
Não foi só o Partido que despertou do torpor. Lula e o governo também.
O primeiro passo disto foi a substituição de Dirceu & Palloci por Dilma & Mantega. Resultado disto foi o enterro nada solene da proposta de “déficit zeroâ€.
O segundo passo foi a eleição presidencial de 2006, que foi ganha no segundo turno com um discurso de esquerda, não com um discurso de conciliação.
O teceiro passo foi o PAC.
A crise de 2008 confirmou o acerto deste “giro à esquerdaâ€.
Nossa vitória em 2010 redesenhará os termos do debate. De 2003 a 2010, o debate foi entre o PT e os neoliberais. E, dentro do PT, entre os desenvolvimentistas versus os social-liberais. A chamada esquerda do PT se alia com os desenvolvimentista, contra os social-liberais. Pouco a pouco, o debate começa a ser: desenvolvimentistas “conservadores†(ou seja, que não tocam no tema das reformas estruturais) e desenvolvimentistas “democrático-populare s†(que querem combinar desenvolvimento com democracia, igualdade e soberania).
Inês Nassif -A saída da parcela do partido que fundou o P-Sol, em 2005, tornou o partido mais de centro do que era? A esquerda do PT ficou enfraquecida? Vocês tiveram mais ou menos espaço nas decisões partidárias depois do racha?
Pomar-Pelo contrário. Aliás, é uma ironia da história. Depois da saída da Convergência Socialista, que fundou o PSTU, em 1990-91, a esquerda do PT virou maioria em 1993. E apesar da saída do Plínio & companhia, as posições do PT em 2006 até hoje estão à esquerda de onde estavam em em 2003-2004. Ou seja, o Partido como um todo foi para a esquerda.
Mas, ao mesmo tempo, é correto dizer que a chamada esquerda do Partido perdeu espaço. Em parte isto ocorreu porque a maioria se deslocou para a esquerda e, portanto, a esquerda estrito senso não conseguiu capitalizar este deslocamento. Por outro lado, a esquerda do PT (tal como era em 2005) se fraturou: um pedaço saiu do PT (Plínio), um pedaço ficou onde estava (nós da Articulação de Esquerda) e outro pedaço (a DS) tentou construir um novo “centro dirigente†para o PT (a chamada Mensagem ao Partido).
Ou seja: o Partido foi para a esquerda, mas a esquerda do PT perdeu força, enquanto alternativa de governo para o Partido. Curiosamente, temos mais influência ideológica hoje do que em 2003-2004; mas, por outro lado, a chance de virarmos maioria do Partido é menor, ao menos no curto prazo. Qual a diferença: a esquerda do PT não é apenas desenvolvimentista, é socialista no sentido forte da palavra.
Inês Nassif -As teses das chapas que disputaram o PED de 2009 foram mais progressistas que no passado?
Pomar-Em comparação com 2003-2004 e com a Carta aos Brasileiros, sim.
Inês Nassif -Os pedaços de programa de governo que vai ao 4º. Congresso indicam um retorno ao período pré Carta ao Povo Brasileiro? O Programa é uma guinada à esquerda? Neutraliza a Carta? O PT não precisa mais dar garantias ao mercado para governar?
Pomar-O programa de governo está mais parecido com o que o PT aprovou no XI Encontro, que foi em dezembro de 2001. Não é uma “guinada à esquerdaâ€. Seria, se o centro do programa fossem reformas estruturais. O programa é um programa de aprofundamento de políticas sociais, de políticas públicas, de democratização, soberania nacional e integração continental.
Sobre as chamadas garantias: eu votei contra a Carta aos Brasileiros, portanto nunca achei que devemos dar “garantias ao mercadoâ€, leia-se, ao setor financeiro. E continuo achando que o setor financeiro em geral e a política do Banco Central em particular têm uma influência prejudicial, que atrapalha a política geral do governo.
Inês Nassif -A esquerda do PT não vai querer negociar diretamente com a Dilma? O fato de a Dilma não ser um quadro orgânico do partido não abre teoricamente mais espaço para negociação de programa? A esquerda do PT não vai aproveitar essa oportunidade?
Pomar-Nenhum setor do PT deve cometer este erro. O PT tem que agir como instituição. Aprovar suas diretrizes, tratar com os partidos aliados enquanto partido. E saber que a candidata é, ao mesmo tempo, candidata do Partido e de uma coligação.
Por outro lado, o Palloci sempre foi um “quadro orgânico†do Partido. Sendo assim, estou satisfeitíssimo com nossa candidata.
Inês Nassif -Tem mais uma coisa: nas teses do PED do ano passado, a reafirmação do socialismo como opção, pelo que li, esteve presente em todas as chapas. Parece que houve uma desinterdição do debate sobre o socialismo. Isso é real? E por que acontece agora?
Pomar-Claro que sim. Neste sentido, a crise de 2008 teve um papel pedagógico. Ela lembrou que não apenas o neoliberalismo, mas também o capitalismo é uma criação social. Funciona mal. Periodicamente gera crises. E tanto para funcionar, quanto para escapar das crises, depende da política, do Estado, da correlação de forças. Sendo assim, outra vontade política, outra correlação de forças, outra orientação estatal, podem viabilizar outra forma de organização social. O socialismo está de volta ao debate.
Pomar-Eu considero que existiram dois governos.
O primeiro durou de 2003 até a crise de 2005.
O segundo começou após a crise de 2005 e vem até agora.
O primeiro governo foi pautado pela Carta aos Brasileiros.
O segundo governo está se aproximando do programa aprovado pelo PT em dezembro de 2001, no XI Encontro do PT, realizado em Recife, programa que foi redigido pelo Celso Daniel.
Eu costumo dizer aos meus amigos que “a burguesia não nos faltaráâ€. Ela não nos faltou.
A excessiva moderação do primeiro mandato gerou desgastes junto a setores da base eleitoral e social, bem como junto a militantes. Os efeitos disto ficaram visíveis na derrota que sofremos na eleição de 2004. Logo depois veio a eleição de Severino e a crise de 2005.
A burguesia viu nisto a chance de abreviar o governo Lula e “acabar com a raça†do PT.
Ou seja: a burguesia, a direita, a oposição radicalizaram. O efeito foi “esquerdizar†o Partido. Ou, para ser mais preciso, trazê-lo da Carta aos Brasileiros para o programa do XI Encontro.
Isso ficou visível no resultado do PED 2005: no primeiro turno, a “oposição interna†venceu. Perdemos no segundo turno devido à estreiteza política do Plínio e seus liderados, que sairam do Partido, contribuindo para nossa derrota por apenas 5 mil votos (em 240 mil) no segundo turno do PED.
Não foi só o Partido que despertou do torpor. Lula e o governo também.
O primeiro passo disto foi a substituição de Dirceu & Palloci por Dilma & Mantega. Resultado disto foi o enterro nada solene da proposta de “déficit zeroâ€.
O segundo passo foi a eleição presidencial de 2006, que foi ganha no segundo turno com um discurso de esquerda, não com um discurso de conciliação.
O teceiro passo foi o PAC.
A crise de 2008 confirmou o acerto deste “giro à esquerdaâ€.
Nossa vitória em 2010 redesenhará os termos do debate. De 2003 a 2010, o debate foi entre o PT e os neoliberais. E, dentro do PT, entre os desenvolvimentistas versus os social-liberais. A chamada esquerda do PT se alia com os desenvolvimentista, contra os social-liberais. Pouco a pouco, o debate começa a ser: desenvolvimentistas “conservadores†(ou seja, que não tocam no tema das reformas estruturais) e desenvolvimentistas “democrático-populare s†(que querem combinar desenvolvimento com democracia, igualdade e soberania).
Inês Nassif -A saída da parcela do partido que fundou o P-Sol, em 2005, tornou o partido mais de centro do que era? A esquerda do PT ficou enfraquecida? Vocês tiveram mais ou menos espaço nas decisões partidárias depois do racha?
Pomar-Pelo contrário. Aliás, é uma ironia da história. Depois da saída da Convergência Socialista, que fundou o PSTU, em 1990-91, a esquerda do PT virou maioria em 1993. E apesar da saída do Plínio & companhia, as posições do PT em 2006 até hoje estão à esquerda de onde estavam em em 2003-2004. Ou seja, o Partido como um todo foi para a esquerda.
Mas, ao mesmo tempo, é correto dizer que a chamada esquerda do Partido perdeu espaço. Em parte isto ocorreu porque a maioria se deslocou para a esquerda e, portanto, a esquerda estrito senso não conseguiu capitalizar este deslocamento. Por outro lado, a esquerda do PT (tal como era em 2005) se fraturou: um pedaço saiu do PT (Plínio), um pedaço ficou onde estava (nós da Articulação de Esquerda) e outro pedaço (a DS) tentou construir um novo “centro dirigente†para o PT (a chamada Mensagem ao Partido).
Ou seja: o Partido foi para a esquerda, mas a esquerda do PT perdeu força, enquanto alternativa de governo para o Partido. Curiosamente, temos mais influência ideológica hoje do que em 2003-2004; mas, por outro lado, a chance de virarmos maioria do Partido é menor, ao menos no curto prazo. Qual a diferença: a esquerda do PT não é apenas desenvolvimentista, é socialista no sentido forte da palavra.
Inês Nassif -As teses das chapas que disputaram o PED de 2009 foram mais progressistas que no passado?
Pomar-Em comparação com 2003-2004 e com a Carta aos Brasileiros, sim.
Inês Nassif -Os pedaços de programa de governo que vai ao 4º. Congresso indicam um retorno ao período pré Carta ao Povo Brasileiro? O Programa é uma guinada à esquerda? Neutraliza a Carta? O PT não precisa mais dar garantias ao mercado para governar?
Pomar-O programa de governo está mais parecido com o que o PT aprovou no XI Encontro, que foi em dezembro de 2001. Não é uma “guinada à esquerdaâ€. Seria, se o centro do programa fossem reformas estruturais. O programa é um programa de aprofundamento de políticas sociais, de políticas públicas, de democratização, soberania nacional e integração continental.
Sobre as chamadas garantias: eu votei contra a Carta aos Brasileiros, portanto nunca achei que devemos dar “garantias ao mercadoâ€, leia-se, ao setor financeiro. E continuo achando que o setor financeiro em geral e a política do Banco Central em particular têm uma influência prejudicial, que atrapalha a política geral do governo.
Inês Nassif -A esquerda do PT não vai querer negociar diretamente com a Dilma? O fato de a Dilma não ser um quadro orgânico do partido não abre teoricamente mais espaço para negociação de programa? A esquerda do PT não vai aproveitar essa oportunidade?
Pomar-Nenhum setor do PT deve cometer este erro. O PT tem que agir como instituição. Aprovar suas diretrizes, tratar com os partidos aliados enquanto partido. E saber que a candidata é, ao mesmo tempo, candidata do Partido e de uma coligação.
Por outro lado, o Palloci sempre foi um “quadro orgânico†do Partido. Sendo assim, estou satisfeitíssimo com nossa candidata.
Inês Nassif -Tem mais uma coisa: nas teses do PED do ano passado, a reafirmação do socialismo como opção, pelo que li, esteve presente em todas as chapas. Parece que houve uma desinterdição do debate sobre o socialismo. Isso é real? E por que acontece agora?
Pomar-Claro que sim. Neste sentido, a crise de 2008 teve um papel pedagógico. Ela lembrou que não apenas o neoliberalismo, mas também o capitalismo é uma criação social. Funciona mal. Periodicamente gera crises. E tanto para funcionar, quanto para escapar das crises, depende da política, do Estado, da correlação de forças. Sendo assim, outra vontade política, outra correlação de forças, outra orientação estatal, podem viabilizar outra forma de organização social. O socialismo está de volta ao debate.
Para AGU, rede da Eletronet é da União
Caio Junqueira, Paulo de Tarso Lyra e Danilo Fariello, de Brasília
Valor Econômico - 24/02/2010
O governo federal assegurou ontem que a Eletronet não será beneficiada financeiramente pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A empresa está no centro da discussão porque estava concedida a ela uma rede de fibras ópticas de mais de 16 mil quilômetros que se pretende usar como infraestrutura para a expansão da banda larga. A Eletronet, que tem a Eletrobrás como acionista com 49%, passa por extenso processo de autofalência, que travava o uso desses cabos pelo governo até o fim de 2009. Ontem, porém, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu nota assegurando que as linhas voltaram à União conforme decisão judicial obtida pelo governo federal em dezembro, no Tribunal de Justiça do Rio. E, por meio de uma caução, conforme previsão legal, a Eletrobrás tem hoje a posse da rede de fibras ópticas.
Ontem, a "Folha de S.Paulo" noticiou vínculo contratual entre o ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República José Dirceu e um dos sócios da Eletronet. Segundo a reportagem, a empresa seria beneficiada pela cobrança do uso dos cabos no PNBL, que também prevê a restauração da Telebrás.
Também para o secretário de Logística e Tecnologia de Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, a estrutura a ser utilizada no PNBL, que tem por objetivo universalizar o acesso à internet rápida no Brasil, é da Eletrobrás. Ele assegurou ontem que o plano não envolve nenhuma relação econômica com a empresa que pediu autofalência em 2003. "O meio que o governo vai utilizar não passa por acordo com a Eletronet. A Eletronet é uma massa falida que continua lá, gerida pelo síndico. (O plano) não tem nenhuma relação econômica com a Eletronet", disse Santanna, que é um dos principais elaboradores do programa, considerado prioridade do governo para 2010.
O secretário afirmou, ainda, que não há possibilidade de que os detentores de ações da Eletronet sejam beneficiados ou prejudicados pelo plano. "O sócio é hoje sócio de uma dívida ou dos direitos que podem provir dessa massa falida. A Eletronet não deixou de operar e nem vai deixar e a massa falida vai ter que dar destino a isso, vendendo os ativos e pagando os credores na medida das receitas que ela obtiver da empresa", disse o secretário, referindo-se a Nelson dos Santos, dono da Star Overseas Ventures, sócio do governo na Eletronet.
Segundo a reportagem da "Folha de S. Paulo", Santos teria pago, entre 2007 e 2009, aproximadamente R$ 620 mil ao ex-ministro José Dirceu. Uma empresa de Dirceu teria prestado consultoria para a Eletronet e, a partir de sua atuação, o governo teria decidido reativar a Telebrás usando os cabos da empresa no PNBL.
A Eletronet surgiu como empresa estatal no início da década de 1990. Parte dela foi privatizada em 1999 com a venda de 51% de seu capital para a americana AES. O governo manteve 49% das ações. Com a falência, o grupo americano vendeu sua participação para uma empresa canadense, que revendeu metade do ativo para Nelson dos Santos.
"Eventual reativação da Telebrás não vai gerar receitas ou direitos de crédito para a massa falida da Eletronet, seus sócios, credores, ou qualquer grupo empresarial com interesses na referida massa falida", diz o comunicado da AGU de ontem.
O governo não respondeu, porém, como poderão ser ressarcidos os credores de quantias milionárias junto à massa falida da Eletronet. As estimativas do valor devido pela empresa superam R$ 800 milhões. Gigantes como Furukawa e Alcatel-Lucent pedem que a rede de cabos seja usada para bancar ao menos parte dos créditos a que elas têm direito junto à massa falida. Apesar de falida, a empresa mantém contratos e presta serviços de dados a empresas como a Intelig, segundo uma fonte do governo.
Avalia-se que, caso o governo fosse montar uma rede própria para levar a banda larga a 20 milhões de domicílios, como está planejado, precisaria investir R$ 40 bilhões. A rede da Eletronet responderia por 5% deste total e ainda teria que ser completada a parte eletrônica da rede.
No projeto discutido pelo governo atualmente, mira-se a expansão da banda larga em acessos que custem até R$ 35 para o cidadão, na menor velocidade. Esse estudo prevê atuação do Estado tanto na infraestrutura de cabos quanto na oferta do serviço direta ao usuário final.
Os últimos debates entre os líderes do projeto, secretária geral da Casa Civil, Erenice Guerra, e o assessor especial do presidente Lula, Cesar Alvarez, porém, indicam que as empresas privadas também participarão do plano, usando essa infraestrutura que estava em posse da Eletronet. Além dos cabos em questão, as empresas privadas possuem cerca de 200 mil quilômetros de redes de fibra óptica que devem também integrar o PNBL. Além disso, as empresas temem a concorrência do governo no acesso.
Segundo Alvarez, a ideia de reativar a Telebrás vem sendo discutida no governo desde 2004, de forma transparente e sem informações privilegiadas. "Não é segredo nenhum que o governo quer usar as suas redes."
O governo deverá assegurar, porém, que a nova Telebrás seja a operadora desses 16 mil quilômetros de cabos que pertencem à Eletrobrás hoje. As linhas que eram da Eletronet abrangem 60% do território nacional, onde está 90% da população do país.
Ontem, Santanna, do Ministério do Planejamento, não quis falar sobre o custo do investimento no PNBL, mas disse que a parte mais cara, ou seja, a implantação da rede de fibras, já está pronta. "É um investimento que já foi feito, que é a estrutura de fibra óptica. Seria um desperdício não utilizá-la. O que o governo terá é um ganho marginal de um investimento que já foi feito", disse. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio, com agências noticiosas)
Valor Econômico - 24/02/2010
O governo federal assegurou ontem que a Eletronet não será beneficiada financeiramente pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A empresa está no centro da discussão porque estava concedida a ela uma rede de fibras ópticas de mais de 16 mil quilômetros que se pretende usar como infraestrutura para a expansão da banda larga. A Eletronet, que tem a Eletrobrás como acionista com 49%, passa por extenso processo de autofalência, que travava o uso desses cabos pelo governo até o fim de 2009. Ontem, porém, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu nota assegurando que as linhas voltaram à União conforme decisão judicial obtida pelo governo federal em dezembro, no Tribunal de Justiça do Rio. E, por meio de uma caução, conforme previsão legal, a Eletrobrás tem hoje a posse da rede de fibras ópticas.
Ontem, a "Folha de S.Paulo" noticiou vínculo contratual entre o ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República José Dirceu e um dos sócios da Eletronet. Segundo a reportagem, a empresa seria beneficiada pela cobrança do uso dos cabos no PNBL, que também prevê a restauração da Telebrás.
Também para o secretário de Logística e Tecnologia de Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, a estrutura a ser utilizada no PNBL, que tem por objetivo universalizar o acesso à internet rápida no Brasil, é da Eletrobrás. Ele assegurou ontem que o plano não envolve nenhuma relação econômica com a empresa que pediu autofalência em 2003. "O meio que o governo vai utilizar não passa por acordo com a Eletronet. A Eletronet é uma massa falida que continua lá, gerida pelo síndico. (O plano) não tem nenhuma relação econômica com a Eletronet", disse Santanna, que é um dos principais elaboradores do programa, considerado prioridade do governo para 2010.
O secretário afirmou, ainda, que não há possibilidade de que os detentores de ações da Eletronet sejam beneficiados ou prejudicados pelo plano. "O sócio é hoje sócio de uma dívida ou dos direitos que podem provir dessa massa falida. A Eletronet não deixou de operar e nem vai deixar e a massa falida vai ter que dar destino a isso, vendendo os ativos e pagando os credores na medida das receitas que ela obtiver da empresa", disse o secretário, referindo-se a Nelson dos Santos, dono da Star Overseas Ventures, sócio do governo na Eletronet.
Segundo a reportagem da "Folha de S. Paulo", Santos teria pago, entre 2007 e 2009, aproximadamente R$ 620 mil ao ex-ministro José Dirceu. Uma empresa de Dirceu teria prestado consultoria para a Eletronet e, a partir de sua atuação, o governo teria decidido reativar a Telebrás usando os cabos da empresa no PNBL.
A Eletronet surgiu como empresa estatal no início da década de 1990. Parte dela foi privatizada em 1999 com a venda de 51% de seu capital para a americana AES. O governo manteve 49% das ações. Com a falência, o grupo americano vendeu sua participação para uma empresa canadense, que revendeu metade do ativo para Nelson dos Santos.
"Eventual reativação da Telebrás não vai gerar receitas ou direitos de crédito para a massa falida da Eletronet, seus sócios, credores, ou qualquer grupo empresarial com interesses na referida massa falida", diz o comunicado da AGU de ontem.
O governo não respondeu, porém, como poderão ser ressarcidos os credores de quantias milionárias junto à massa falida da Eletronet. As estimativas do valor devido pela empresa superam R$ 800 milhões. Gigantes como Furukawa e Alcatel-Lucent pedem que a rede de cabos seja usada para bancar ao menos parte dos créditos a que elas têm direito junto à massa falida. Apesar de falida, a empresa mantém contratos e presta serviços de dados a empresas como a Intelig, segundo uma fonte do governo.
Avalia-se que, caso o governo fosse montar uma rede própria para levar a banda larga a 20 milhões de domicílios, como está planejado, precisaria investir R$ 40 bilhões. A rede da Eletronet responderia por 5% deste total e ainda teria que ser completada a parte eletrônica da rede.
No projeto discutido pelo governo atualmente, mira-se a expansão da banda larga em acessos que custem até R$ 35 para o cidadão, na menor velocidade. Esse estudo prevê atuação do Estado tanto na infraestrutura de cabos quanto na oferta do serviço direta ao usuário final.
Os últimos debates entre os líderes do projeto, secretária geral da Casa Civil, Erenice Guerra, e o assessor especial do presidente Lula, Cesar Alvarez, porém, indicam que as empresas privadas também participarão do plano, usando essa infraestrutura que estava em posse da Eletronet. Além dos cabos em questão, as empresas privadas possuem cerca de 200 mil quilômetros de redes de fibra óptica que devem também integrar o PNBL. Além disso, as empresas temem a concorrência do governo no acesso.
Segundo Alvarez, a ideia de reativar a Telebrás vem sendo discutida no governo desde 2004, de forma transparente e sem informações privilegiadas. "Não é segredo nenhum que o governo quer usar as suas redes."
O governo deverá assegurar, porém, que a nova Telebrás seja a operadora desses 16 mil quilômetros de cabos que pertencem à Eletrobrás hoje. As linhas que eram da Eletronet abrangem 60% do território nacional, onde está 90% da população do país.
Ontem, Santanna, do Ministério do Planejamento, não quis falar sobre o custo do investimento no PNBL, mas disse que a parte mais cara, ou seja, a implantação da rede de fibras, já está pronta. "É um investimento que já foi feito, que é a estrutura de fibra óptica. Seria um desperdício não utilizá-la. O que o governo terá é um ganho marginal de um investimento que já foi feito", disse. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio, com agências noticiosas)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Estado: problema e soluções
Por Emir Sader
A crise econômica internacional terminou de projetar o Estado no centro dos debates não apenas econômicos, mas políticos e ideológicos. Ser “estatista” tinha se tornado um dos piores palavrões, ao lado de “populista”. Um remetia à regulação da economia, e à indução do crescimento pelo Estado, enquanto o outro, às políticas sociais redistributivas.
Há quase um século – mais precisamente, há 9 décadas – o Estado tinha passado a assumir um sinal positivo, diante das conseqüências da crise de 1929. Unanimemente atribuída ao liberalismo econômico, as tres correntes que surgiram ou se fortaleceram a partir dali – o keynesianismo, o socialismo soviético e o fascismo – atribuíram papel estratégico e permanente ao Estado. Foi no esgotamento do ciclo longo expansivo do capitalismo que as teses anti-estatistas – hibernadas durante muito tempo – voltaram à baila.
Elas estavam sintetizadas na tese reaganiana de que “O Estado não é a solução, é o problema.” A perda do ritmo de expansão das economias e o surgimento da chamada “estagflação” (estagnação com inflação) foi atribuído centralmente ao Estado, para o qual foram dirigidas as baterias do grande capital e dos seus porta-vozes na academia, no foros econômicos e na imprensa. De forma resumida, as regulações que limitariam a livre circulação do capital seriam os fatores da recessão e os freios para uma retomada do desenvolvimento econômico.
Vitoriosos, os (neo)liberais promoveram uma gigantesca operação de desqualificação do Estado e, sintonizado com ele, da política, das relações de poder, dos partidos, das alternativas coletivas. E, automaticamente, a exaltação das virtudes do mercado, que passaram a monopolizar a idéia de “dinamismo”, de “alocação virtuosa de recursos”, de “sociedade de oportunidades”, de “liberdade econômica”, de “modernização econômica”, de “desenvolvimento tecnológico”.
“Estatista” passou a ser palavrão, desqualificador, ao lado de “populista”. O retiro do Estado representou expropriação de direitos, devastação do nível de emprego, das empresas nacionais, se expandiu como nunca a precarização das relações de trabalho, o desemprego, a concentração de renda, a exclusão social, a pobreza e a miséria. As distâncias e as contradições entre o centro do mundo e a periferia aumentaram exponencialmente, os continentes do Sul regrediram nas condições de vida da massa da população, que vive nessa região do mundo.
Menos Estado, não significou mais cidadania, mais dinamismo econômico, nada disso. Representou mais mercado, um mercado controlado por grandes monopólios, pelo grande capital financeiro. Representou menos cidadania, porque menos direitos.
O combate da direita contra o Estado se dá contra os elementos de regulação da livre circulação do capital – entrada e saída de capitais dos países, menos impostos, flexibilização para contratar força de trabalho nas condições que os empresários entendam, privatização de patrimônio publico, entre outros. O Estado que eles gostam e que se manteve, é o que lhes fornece subsídios, isenções, créditos, perdões de dívidas. Em suma, Estado mínimo para a grande maioria dos explorados, oprimidos, discriminados. E Estado máximo para o grande capital e o grande empresariado.
A crise econômica internacional demandou fortemente a ação do Estado, ao lado da falência do mercado como alocador de recursos, ao mesmo tempo em que sua capacidade para reimpulsar o desenvolvimento se revelou falsa. No Brasil, a grande virada na política governamental - a partir da segunda metade do primeiro mandato de Lula, mas claramente definida no segundo – mudou o papel do Estado, na concepção e na ação concreta. Foi o grande agente que permitiu o novo ciclo expansivo da economia, a consolidação das políticas sociais e o enfrentamento dos efeitos da crise econômica internacional.
Os discursos de Lula e da Dilma refletem esse resgate do Estado brasileiro, que estão fortemente presentes no documento básico apresentado ao Congresso do PT. Bastou, para que a mídia empresarial levantasse os seus alertas sobre os riscos de um Estado excessivamente forte, do “estatismo”, de que o programa da Dilma a colocaria à esquerda do governo Lula e os riscos que isso representaria.
O consenso em relação ao Estado mudou com o governo Lula. Como Dilma conta no livro que organizamos com o Marco Aurélio Garcia (“Brasil, entre o passado e o futuro”, coedição da Boitempo com a Perseu Abramo, com artigos, pela ordem do índice, de Emir Sader, Jorge Mattoso, Nelson Barbosa, Marcio Pochmann, Luiz Dulci, Marco Aurélio Garcia e Dilma Rousseff), no momento do lançamento do PAC, ela foi chamada ao Congresso para explicar a participação do Estado, mas quando foi lançado o "Minha casa, minha vida", isso não voltou a ocorrer. Foi se avançando na consciência do papel indispensável do Estado.
The Economist lamenta a fraqueza do liberalismo econômico no Brasil, considerando que os dois candidatos mais importantes teriam concepções similares, distantes do liberalismo. Alegam que a principal razão seria o voto obrigatório que, segundo eles, teria como conseqüência um eleitorado favorável à participação do Estado, porque os pobres – a grande maioria – tenderiam a pedir mais Estado, que é a fonte dos seus direitos, das políticas sociais redistributivas, a quem eles podem apelar quando sentem injustiças, etc. etc. (Razão, por si só, para que fôssemos a favor do voto obrigatório.)
Bastou os alarmes disparados pela imprensa e as reações se fizeram sentir, na direita e na própria esquerda. Naquela, tentar transformar esse tema em um eventual risco, em um fator de instabilidade, de mais tributação, em limitações ao “mercado”, em mais gastos públicos, etc. Em suma, tentar fortalecer a pauta da direita: menos Estado, menos impostos, mais mercado.
Se o Brasil hoje é uma sociedade menos injusta é, em grande medida, pela ação do Estado brasileiro. Se o Brasil é hoje um país com grande e prestigiada presença internacional, é pela ação do Estado brasileiro. Se resistimos à crise de forma muito positiva, é graças ao Estado brasileiro.
A maior discussão hoje é aquela sobre o tipo de Estado e, extremamente vinculada a ela, sobre o tipo de sociedade que precisamos e queremos. Voltar a fortalecer o papel do Estado, como foi feito até aqui, revelou-se indispensável para retomar o desenvolvimento, fortalecer as políticas sociais e enfrentar em melhores condições os efeitos da crise.
Mas o Estado forte que precisamos é o Estado que cada vez mais se centra na esfera pública, deslocando seu eixo da financeirização a que estava condenado com a hegemonia inquestionada do capital especulativo no seu interior. Trata-se de reformar o Estado, debilitando a esfera mercantil e fortalecendo a esfera pública, isto é, transferindo para a esfera dos direitos o que havia sido privatizado, sobretudo direitos essenciais, como os de educação, saúde, comunicação, cultura, habitação e outros serviços essenciais.
Estado forte é o que estende o reconhecimento da cidadania a setores cada vez mais amplos da sociedade, até que todos os brasileiros se sintam e sejam realmente cidadãos – sujeitos de direitos. Governava-se o Brasil para um quarto ou um terço da população, o restante sendo considerados “excedentes” pelo mercado. Esse era um Estado fraco, não apenas porque abriu mão de patrimônio público mediante privatizações a preço de banana, mas também porque era um Estado excludente, para uma minoria, com instituições estatais enfraquecidas, com serviços públicos sem recursos, que arrecadavam recursos prioritariamente para pagar a divida publica, transferindo recursos do setor produtivo para o especulativo.
Um Brasil democrático requer um Estado centrado na esfera pública, que centralmente universalize direitos, consolide a soberania nacional, fortalece as alianças regionais e do Sul do mundo, que potencialize nossas energias e fortaleça os que até aqui foram maiores vitimas da globalização neoliberal.
As pressões da direita – e, em especial do seu segmento midiático – são para que a esquerda se assuste com as acusações de “estatismo”. Não temos que nos assustar, como não nos assustamos com as de “populismo” e seguimos estendendo as políticas sociais, que são o maior bastião de apoio e legitimidade do governo. Quer a direita que não disponhamos dos instrumentos para acelerar o desenvolvimento do país, para canalizar os investimentos cada vez mais para a esfera produtiva, para seguir estendendo as políticas sociais, agora plenamente para o campo da habitação, do saneamento básico, da universalização da banda larga na internet.
Como disse Dilma na entrevista do livro mencionado, não são os empresários os que defendem a retração do Estado, mas os ideólogos que pretendem falar no seu nome. Pelo sim ou pelo não, estamos seguros – como disse, com plena consciência The Economist – o povo quer mais Estado, porque sabe, por experiência própria, que é quem garante seus direitos, na contramão do mercado que, ao contrário, só acentua a concentração de renda e a exclusão social.
A crise econômica internacional terminou de projetar o Estado no centro dos debates não apenas econômicos, mas políticos e ideológicos. Ser “estatista” tinha se tornado um dos piores palavrões, ao lado de “populista”. Um remetia à regulação da economia, e à indução do crescimento pelo Estado, enquanto o outro, às políticas sociais redistributivas.
Há quase um século – mais precisamente, há 9 décadas – o Estado tinha passado a assumir um sinal positivo, diante das conseqüências da crise de 1929. Unanimemente atribuída ao liberalismo econômico, as tres correntes que surgiram ou se fortaleceram a partir dali – o keynesianismo, o socialismo soviético e o fascismo – atribuíram papel estratégico e permanente ao Estado. Foi no esgotamento do ciclo longo expansivo do capitalismo que as teses anti-estatistas – hibernadas durante muito tempo – voltaram à baila.
Elas estavam sintetizadas na tese reaganiana de que “O Estado não é a solução, é o problema.” A perda do ritmo de expansão das economias e o surgimento da chamada “estagflação” (estagnação com inflação) foi atribuído centralmente ao Estado, para o qual foram dirigidas as baterias do grande capital e dos seus porta-vozes na academia, no foros econômicos e na imprensa. De forma resumida, as regulações que limitariam a livre circulação do capital seriam os fatores da recessão e os freios para uma retomada do desenvolvimento econômico.
Vitoriosos, os (neo)liberais promoveram uma gigantesca operação de desqualificação do Estado e, sintonizado com ele, da política, das relações de poder, dos partidos, das alternativas coletivas. E, automaticamente, a exaltação das virtudes do mercado, que passaram a monopolizar a idéia de “dinamismo”, de “alocação virtuosa de recursos”, de “sociedade de oportunidades”, de “liberdade econômica”, de “modernização econômica”, de “desenvolvimento tecnológico”.
“Estatista” passou a ser palavrão, desqualificador, ao lado de “populista”. O retiro do Estado representou expropriação de direitos, devastação do nível de emprego, das empresas nacionais, se expandiu como nunca a precarização das relações de trabalho, o desemprego, a concentração de renda, a exclusão social, a pobreza e a miséria. As distâncias e as contradições entre o centro do mundo e a periferia aumentaram exponencialmente, os continentes do Sul regrediram nas condições de vida da massa da população, que vive nessa região do mundo.
Menos Estado, não significou mais cidadania, mais dinamismo econômico, nada disso. Representou mais mercado, um mercado controlado por grandes monopólios, pelo grande capital financeiro. Representou menos cidadania, porque menos direitos.
O combate da direita contra o Estado se dá contra os elementos de regulação da livre circulação do capital – entrada e saída de capitais dos países, menos impostos, flexibilização para contratar força de trabalho nas condições que os empresários entendam, privatização de patrimônio publico, entre outros. O Estado que eles gostam e que se manteve, é o que lhes fornece subsídios, isenções, créditos, perdões de dívidas. Em suma, Estado mínimo para a grande maioria dos explorados, oprimidos, discriminados. E Estado máximo para o grande capital e o grande empresariado.
A crise econômica internacional demandou fortemente a ação do Estado, ao lado da falência do mercado como alocador de recursos, ao mesmo tempo em que sua capacidade para reimpulsar o desenvolvimento se revelou falsa. No Brasil, a grande virada na política governamental - a partir da segunda metade do primeiro mandato de Lula, mas claramente definida no segundo – mudou o papel do Estado, na concepção e na ação concreta. Foi o grande agente que permitiu o novo ciclo expansivo da economia, a consolidação das políticas sociais e o enfrentamento dos efeitos da crise econômica internacional.
Os discursos de Lula e da Dilma refletem esse resgate do Estado brasileiro, que estão fortemente presentes no documento básico apresentado ao Congresso do PT. Bastou, para que a mídia empresarial levantasse os seus alertas sobre os riscos de um Estado excessivamente forte, do “estatismo”, de que o programa da Dilma a colocaria à esquerda do governo Lula e os riscos que isso representaria.
O consenso em relação ao Estado mudou com o governo Lula. Como Dilma conta no livro que organizamos com o Marco Aurélio Garcia (“Brasil, entre o passado e o futuro”, coedição da Boitempo com a Perseu Abramo, com artigos, pela ordem do índice, de Emir Sader, Jorge Mattoso, Nelson Barbosa, Marcio Pochmann, Luiz Dulci, Marco Aurélio Garcia e Dilma Rousseff), no momento do lançamento do PAC, ela foi chamada ao Congresso para explicar a participação do Estado, mas quando foi lançado o "Minha casa, minha vida", isso não voltou a ocorrer. Foi se avançando na consciência do papel indispensável do Estado.
The Economist lamenta a fraqueza do liberalismo econômico no Brasil, considerando que os dois candidatos mais importantes teriam concepções similares, distantes do liberalismo. Alegam que a principal razão seria o voto obrigatório que, segundo eles, teria como conseqüência um eleitorado favorável à participação do Estado, porque os pobres – a grande maioria – tenderiam a pedir mais Estado, que é a fonte dos seus direitos, das políticas sociais redistributivas, a quem eles podem apelar quando sentem injustiças, etc. etc. (Razão, por si só, para que fôssemos a favor do voto obrigatório.)
Bastou os alarmes disparados pela imprensa e as reações se fizeram sentir, na direita e na própria esquerda. Naquela, tentar transformar esse tema em um eventual risco, em um fator de instabilidade, de mais tributação, em limitações ao “mercado”, em mais gastos públicos, etc. Em suma, tentar fortalecer a pauta da direita: menos Estado, menos impostos, mais mercado.
Se o Brasil hoje é uma sociedade menos injusta é, em grande medida, pela ação do Estado brasileiro. Se o Brasil é hoje um país com grande e prestigiada presença internacional, é pela ação do Estado brasileiro. Se resistimos à crise de forma muito positiva, é graças ao Estado brasileiro.
A maior discussão hoje é aquela sobre o tipo de Estado e, extremamente vinculada a ela, sobre o tipo de sociedade que precisamos e queremos. Voltar a fortalecer o papel do Estado, como foi feito até aqui, revelou-se indispensável para retomar o desenvolvimento, fortalecer as políticas sociais e enfrentar em melhores condições os efeitos da crise.
Mas o Estado forte que precisamos é o Estado que cada vez mais se centra na esfera pública, deslocando seu eixo da financeirização a que estava condenado com a hegemonia inquestionada do capital especulativo no seu interior. Trata-se de reformar o Estado, debilitando a esfera mercantil e fortalecendo a esfera pública, isto é, transferindo para a esfera dos direitos o que havia sido privatizado, sobretudo direitos essenciais, como os de educação, saúde, comunicação, cultura, habitação e outros serviços essenciais.
Estado forte é o que estende o reconhecimento da cidadania a setores cada vez mais amplos da sociedade, até que todos os brasileiros se sintam e sejam realmente cidadãos – sujeitos de direitos. Governava-se o Brasil para um quarto ou um terço da população, o restante sendo considerados “excedentes” pelo mercado. Esse era um Estado fraco, não apenas porque abriu mão de patrimônio público mediante privatizações a preço de banana, mas também porque era um Estado excludente, para uma minoria, com instituições estatais enfraquecidas, com serviços públicos sem recursos, que arrecadavam recursos prioritariamente para pagar a divida publica, transferindo recursos do setor produtivo para o especulativo.
Um Brasil democrático requer um Estado centrado na esfera pública, que centralmente universalize direitos, consolide a soberania nacional, fortalece as alianças regionais e do Sul do mundo, que potencialize nossas energias e fortaleça os que até aqui foram maiores vitimas da globalização neoliberal.
As pressões da direita – e, em especial do seu segmento midiático – são para que a esquerda se assuste com as acusações de “estatismo”. Não temos que nos assustar, como não nos assustamos com as de “populismo” e seguimos estendendo as políticas sociais, que são o maior bastião de apoio e legitimidade do governo. Quer a direita que não disponhamos dos instrumentos para acelerar o desenvolvimento do país, para canalizar os investimentos cada vez mais para a esfera produtiva, para seguir estendendo as políticas sociais, agora plenamente para o campo da habitação, do saneamento básico, da universalização da banda larga na internet.
Como disse Dilma na entrevista do livro mencionado, não são os empresários os que defendem a retração do Estado, mas os ideólogos que pretendem falar no seu nome. Pelo sim ou pelo não, estamos seguros – como disse, com plena consciência The Economist – o povo quer mais Estado, porque sabe, por experiência própria, que é quem garante seus direitos, na contramão do mercado que, ao contrário, só acentua a concentração de renda e a exclusão social.
Immanuel Wallesrtein: EUA lêem erroneamente a política externa do Brasil
Texto publicado no site da Carta Maior (www.cartamaior.com.br)
Quando, por volta de 1970, os Estados Unidos se deram conta pela primeira vez que sua dominação hegemônica era ameaçada pela crescente força econômica (e, por conseqüência, geopolítica) da Europa Ocidental e do Japão, trataram de mudar sua postura, buscando evitar que assumissem uma posição demasiado independente nos assuntos mundiais.
Os EUA enviaram a seguinte mensagem, ainda que não com palavras: até agora temos tratado vocês como satélites e exigido que nos sigam sem questionamento algum na cena mundial. Mas agora vocês estão mais fortes. Assim, os convidamos para ser sócios, sócios menores, que tomarão parte conosco na tomada de decisões coletivas, sempre e quando não se afastem demasiado por conta própria. Esta nova política estadunidense foi institucionalizada de diferentes maneiras – especialmente com a criação do G-7, o estabelecimento da Comissão Trilateral e a invenção do Fórum Econômico Mundial de Davos como espaço de encontro da “amigável” elite mundial.
O objetivo principal dos EUA era desacelerar a decadência de seu poder geopolítico. A nova política funcionou durante cerca de 20 anos. Dois eventos sucessivos causaram o seu fim. O primeiro foi a desintegração da União Soviética (1989-1991), que desmantelou o argumento principal que os EUA tinham usado com seus “sócios”, a saber, que não deviam ser demasiado “independentes” no cenário mundial. O segundo evento foi o militarismo “macho” unilateral e auto-derrotado do regime de Bush. Em vez de restaurar a hegemonia estadunidense resultou no devastador fracasso dos EUA em 2003, quando não conseguiu obter o respaldo do Conselho de Segurança da ONU para a invasão do Iraque.
As políticas neoconservadoras de Bush foram um absoluto tiro pela culatra e converteram o lento declínio do poder geopolítico estadunidense em uma queda precipitada. Hoje, quase todos reconhecem que os EUA não têm a influência que já tiveram uma vez.
Poderia se pensar que os EUA teriam aprendido algumas lições com os erros do governo Bush. Mas parece que hoje está tentando repetir o mesmo cenário com o Brasil. Desta vez, não passarão 20 anos para que esse intento se mostre fracassado. A principal jogada geopolítica de Obama até aqui foi converter a reunião do G-8 em uma reunião de um G-20. O grupo crucial que foi adicionado à reunião é o formado pelos chamados países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O que os EUA oferecem ao Brasil é “associar-se”. Isso fica muito claro em um informe recente do grupo de trabalho do Conselho de Relações Exteriores chamado de “US-Latin America Relations: A New Direction for a New Reality” (As relações Estados Unidos-América Latina:uma nova direção para uma nova realidade). O Conselho de Relações Exteriores é a voz do establishment e este informe, provavelmente, reflete o pensamento da Casa Branca.
Há duas frases cruciais neste informe relacionadas ao Brasil. A primeira diz: “o Grupo de Trabalho considera que aprofundar as relações estratégicas com Brasil e México e reformular os esforços diplomáticos com Venezuela e Cuba não só estabelecerão uma maior interação frutífera com estes países, como também transformarão positivamente as relações Estados Unidos-América latina. A segunda frase do documento refere-se diretamente ao Brasil: “O Grupo de Trabalho recomenda que os EUA construam sua colaboração existente com o Brasil no que diz respeito ao etanol para desenvolver uma sociedade mais consistente, coordenada e ampla que incorpore um amplo leque de assuntos bilaterais, regionais e globais”.
Este informe foi publicado em 2009. Em dezembro, o Centro de Relações Exteriores organizou com a Fundação Getúlio Vargas um seminário sobre o “Brasil emergente”. Coincidentemente, o seminário foi realizado justamente no momento em que ocorriam a crise política hondurenha e a visita do presidente Mahmud Ahmadinejad ao Brasil. Os participantes estadunidenses no seminário não falavam a mesma linguagem que os brasileiros. Eles defendiam que o Brasil deveria atuar como uma potência regional, ou seja, como um poder subimperial. Não conseguiam entender a desaprovação do Brasil frente aos acordos militares e econômicos da Colômbia com os EUA. Pensavam que o Brasil deveria assumir algumas responsabilidades para a manutenção da “ordem mundial”, o que significava unir-se aos EUA em sua pressão sobre as políticas nucleares do Irã, enquanto os brasileiros achavam que a posição dos EUA sobre o Irã era “hipócrita”. Finalmente, enquanto os participantes dos EUA olhavam a Venezuela de Chávez como “longe de ser democrática”, os brasileiros faziam eco à caracterização da Venezuela feita pelo presidente Lula: a de que o país sofre de “um excesso de democracia”.
Em janeiro de 2010, Susan Purcell, uma analista estadunidense conservadora, publicou no jornal Miami Herald uma crítica à política de seu país sobre o Brasil, a qual denominou de “pensamento ilusório”. Ela pode ter razão. Desde seu ponto de vista, “Washington precisa repensar suas suposições acerca do grau em que pode depender do Brasil para lidar com problemas políticos e de segurança na América Latina, de um modo que seja compatível com os interesses estadunidenses”. Também em janeiro, Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, o partido de Lula, disse que a intenção estadunidense de constituir um G-20 era “uma tentativa de absorver e controlar os pólos alternativos de poder...uma tentativa de manter a multipolaridade sob controle”. Ele insistiu que, diante do conflito entre respaldar os interesses capitalistas no mundo como poder subimperial e apoiar “os interesses democrático-populares”, o Brasil terminaria assumindo esta segunda postura.
Dada a maior força da Europa Ocidental e do Japão, no início dos anos 70, os EUA lhes ofereceram o status de sócios menores. A França e a Alemanha optaram, em 2003, por prosseguir na direção de um papel mais independente no mundo. O Japão, em suas eleições nacionais de 2009 e na eleição municipal de 2010 na ilha de Okinawa (que teve a vitória de um político que se opõe à instalação de uma base norte-americana), parece optar pelo mesmo caminho. Dado o crescimento de sua força, ofereceram ao Brasil, em 2009, a condição de “sócio menor”. Parece que o país insistirá, quase de imediato, em manter um papel independente no mundo.
Tradução: Katarina Peixoto
Quando, por volta de 1970, os Estados Unidos se deram conta pela primeira vez que sua dominação hegemônica era ameaçada pela crescente força econômica (e, por conseqüência, geopolítica) da Europa Ocidental e do Japão, trataram de mudar sua postura, buscando evitar que assumissem uma posição demasiado independente nos assuntos mundiais.
Os EUA enviaram a seguinte mensagem, ainda que não com palavras: até agora temos tratado vocês como satélites e exigido que nos sigam sem questionamento algum na cena mundial. Mas agora vocês estão mais fortes. Assim, os convidamos para ser sócios, sócios menores, que tomarão parte conosco na tomada de decisões coletivas, sempre e quando não se afastem demasiado por conta própria. Esta nova política estadunidense foi institucionalizada de diferentes maneiras – especialmente com a criação do G-7, o estabelecimento da Comissão Trilateral e a invenção do Fórum Econômico Mundial de Davos como espaço de encontro da “amigável” elite mundial.
O objetivo principal dos EUA era desacelerar a decadência de seu poder geopolítico. A nova política funcionou durante cerca de 20 anos. Dois eventos sucessivos causaram o seu fim. O primeiro foi a desintegração da União Soviética (1989-1991), que desmantelou o argumento principal que os EUA tinham usado com seus “sócios”, a saber, que não deviam ser demasiado “independentes” no cenário mundial. O segundo evento foi o militarismo “macho” unilateral e auto-derrotado do regime de Bush. Em vez de restaurar a hegemonia estadunidense resultou no devastador fracasso dos EUA em 2003, quando não conseguiu obter o respaldo do Conselho de Segurança da ONU para a invasão do Iraque.
As políticas neoconservadoras de Bush foram um absoluto tiro pela culatra e converteram o lento declínio do poder geopolítico estadunidense em uma queda precipitada. Hoje, quase todos reconhecem que os EUA não têm a influência que já tiveram uma vez.
Poderia se pensar que os EUA teriam aprendido algumas lições com os erros do governo Bush. Mas parece que hoje está tentando repetir o mesmo cenário com o Brasil. Desta vez, não passarão 20 anos para que esse intento se mostre fracassado. A principal jogada geopolítica de Obama até aqui foi converter a reunião do G-8 em uma reunião de um G-20. O grupo crucial que foi adicionado à reunião é o formado pelos chamados países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O que os EUA oferecem ao Brasil é “associar-se”. Isso fica muito claro em um informe recente do grupo de trabalho do Conselho de Relações Exteriores chamado de “US-Latin America Relations: A New Direction for a New Reality” (As relações Estados Unidos-América Latina:uma nova direção para uma nova realidade). O Conselho de Relações Exteriores é a voz do establishment e este informe, provavelmente, reflete o pensamento da Casa Branca.
Há duas frases cruciais neste informe relacionadas ao Brasil. A primeira diz: “o Grupo de Trabalho considera que aprofundar as relações estratégicas com Brasil e México e reformular os esforços diplomáticos com Venezuela e Cuba não só estabelecerão uma maior interação frutífera com estes países, como também transformarão positivamente as relações Estados Unidos-América latina. A segunda frase do documento refere-se diretamente ao Brasil: “O Grupo de Trabalho recomenda que os EUA construam sua colaboração existente com o Brasil no que diz respeito ao etanol para desenvolver uma sociedade mais consistente, coordenada e ampla que incorpore um amplo leque de assuntos bilaterais, regionais e globais”.
Este informe foi publicado em 2009. Em dezembro, o Centro de Relações Exteriores organizou com a Fundação Getúlio Vargas um seminário sobre o “Brasil emergente”. Coincidentemente, o seminário foi realizado justamente no momento em que ocorriam a crise política hondurenha e a visita do presidente Mahmud Ahmadinejad ao Brasil. Os participantes estadunidenses no seminário não falavam a mesma linguagem que os brasileiros. Eles defendiam que o Brasil deveria atuar como uma potência regional, ou seja, como um poder subimperial. Não conseguiam entender a desaprovação do Brasil frente aos acordos militares e econômicos da Colômbia com os EUA. Pensavam que o Brasil deveria assumir algumas responsabilidades para a manutenção da “ordem mundial”, o que significava unir-se aos EUA em sua pressão sobre as políticas nucleares do Irã, enquanto os brasileiros achavam que a posição dos EUA sobre o Irã era “hipócrita”. Finalmente, enquanto os participantes dos EUA olhavam a Venezuela de Chávez como “longe de ser democrática”, os brasileiros faziam eco à caracterização da Venezuela feita pelo presidente Lula: a de que o país sofre de “um excesso de democracia”.
Em janeiro de 2010, Susan Purcell, uma analista estadunidense conservadora, publicou no jornal Miami Herald uma crítica à política de seu país sobre o Brasil, a qual denominou de “pensamento ilusório”. Ela pode ter razão. Desde seu ponto de vista, “Washington precisa repensar suas suposições acerca do grau em que pode depender do Brasil para lidar com problemas políticos e de segurança na América Latina, de um modo que seja compatível com os interesses estadunidenses”. Também em janeiro, Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, o partido de Lula, disse que a intenção estadunidense de constituir um G-20 era “uma tentativa de absorver e controlar os pólos alternativos de poder...uma tentativa de manter a multipolaridade sob controle”. Ele insistiu que, diante do conflito entre respaldar os interesses capitalistas no mundo como poder subimperial e apoiar “os interesses democrático-populares”, o Brasil terminaria assumindo esta segunda postura.
Dada a maior força da Europa Ocidental e do Japão, no início dos anos 70, os EUA lhes ofereceram o status de sócios menores. A França e a Alemanha optaram, em 2003, por prosseguir na direção de um papel mais independente no mundo. O Japão, em suas eleições nacionais de 2009 e na eleição municipal de 2010 na ilha de Okinawa (que teve a vitória de um político que se opõe à instalação de uma base norte-americana), parece optar pelo mesmo caminho. Dado o crescimento de sua força, ofereceram ao Brasil, em 2009, a condição de “sócio menor”. Parece que o país insistirá, quase de imediato, em manter um papel independente no mundo.
Tradução: Katarina Peixoto
FHC precisa de amigos
Em seu texto “Luto e Melancolia", Freud diz que manifestações melancólicas assumem várias formas clínicas, se caracterizando, entre outros sintomas, "por uma depressão profundamente dolorosa, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, diminuição do sentimento de auto-estima e inibição de todas as atividades" A identificação com o objeto perdido é inevitável e, na medida em que não consegue incorporação simbólica, o que sobra ao sujeito é a identificação com o vazio de um pai ausente.
Se a psicanálise sofre hoje contestações de diferentes ordens, as palavras do seu criador sobre o comportamento melancólico se encaixam como luva para o amontoado de sandices que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu e disse no último domingo, 7/02, tentando deter e repudiar a impopularidade que o persegue desde o segundo mandato.
Há alguns anos, Carlos Heitor Cony, em artigo na Folha de São Paulo, não poupou palavras para melhor definir o “príncipe dos sociólogos: "Diziam seus admiradores que FHC era uma cabeça, um intelectual, um produtor de coisas inteligentes Sua exposição no cargo mais alto do país rebaixou-o á dimensão de um demagogo banal, incapaz de articular um argumento alem do insulto aos que não acreditam nele e o acusam inclusive de improbidade"
Isso é FHC. A exigência egóica de ser admirado o torna, paradoxalmente, um líder sem liderados. Um prócer a ser evitado em anos eleitorais. Para quem acredita que fez um grande favor ao mundo nascendo, sua irritabilidade é permanente e justificada. Afinal, deve ser duro para quem esteve no poder durante oito anos, constatar que o resto do mundo político não reconhece sua importância. Pior, o que ganha realce são os erros grosseiros de um dirigente que governou de acordo com os humores do capital financeiro.
Seu governo passou para a história como um modelo que acentuava a exclusão social e penalizava as classes de menor renda. A estratégia de estabilização de preços baseada na captação de capital externo de curto prazo, através da sobrevalorização da moeda e da manutenção de elevadas taxas de juros, levou o país a níveis de desemprego sem precedentes, à desarticulação da estrutura produtiva e à deterioração do tecido social no campo e na cidade.
O mau desempenho do comércio brasileiro na época foi minuciosamente construído pela equipe de FHC que, realizando uma abertura irresponsável da economia, pôs em prática políticas monetárias e cambiais que minaram em grande parte nossa capacidade de competição internacional.
Mostrando a miopia fiscalista que o orienta até hoje, Cardoso escreveu em seu artigo (“Sem medo do passado”), publicado no Globo, “ "Esqueceu-se [Lula] dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal"
A entrega do patrimônio público ainda é apresentada como fórmula eficaz de fazer caixa. O que FHC faz questão de esquecer faz parte de sua vida como ator político: grande parte do programa de privatização brasileiro foi financiada pelo BNDES. No cassino tucano, muitas empresas privatizadas não queriam fazer investimento aqui e se aproveitavam de polpudos créditos que também beneficiavam transnacionais já instaladas no país. O argumento utilizado era o de que a vinda desses setores permitiria agregar elementos de financiamento ao desenvolvimento nacional.
Quando se lê um artigo assim, descontextualizado, mal costurado em seus argumentos, é que nos damos contas da importância de olhar pelo retrovisor. É ele que sinaliza as perspectivas do futuro. Nesse ponto, o texto de Cardoso é didático, quase leitura obrigatória.
FHC sabe que a grande mídia corporativa exercerá o prestimoso papel de guiar suas mãos na hora de legitimar a irrelevância dos seus escritos. Somente os exércitos de colunistas destacados pelas famílias que controlam os meios de comunicação garantem sua vida política vegetativa.
Quando compara a ministra Dilma Rousseff a um boneco manipulado pelo presidente Lula não faz qualquer ponderação política, apenas evidencia que sua cabeça está longe de ser privilegiada. É uma mente que destila bile (que está na raiz da palavra melancolia) para desqualificar seus adversários. É o menestrel da política pequena buscando a facilidade da ribalta midiática
Antes de dizer que “o PT “tenta desconstruir o seu mandato”, o” príncipe” deveria dedicar mais tempo a leitura do que andaram falando sobre seu governo as principais lideranças do seu partido, em especial o governador de São Paulo. Uma boa sugestão seria o livro “Conversas com Economistas Brasileiros II", que a Editora 34 lançou em 1999. Lá ele encontraria o seguinte trecho.
“A política cambial do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso foi um desastre gratuito e total. Foi resultado de pouca reflexão analítica de seus condutores. Suas conseqüências foram devastadoras em muitas áreas da economia, inclusive comprometendo as metas fixadas no processo de privatização."
Essa crítica, das mais contundentes feitas por um economista que participou dos dois mandatos do governo FHC, é de José Serra em entrevista a dois professores da FGV, Guido Mantega e José Márcio Rego. E agora, quem é o boneco de quem? Nem mesmo um governador que submergiu com as enchentes em São Paulo, levando com ele a suposta capacidade gerencial do tucanato, pôde endossar a política arrasada do ex-presidente. O que esperar da oposição? A compaixão que deve ser concedida aos incapazes?
As palavras do ex-presidente devem ser vistas como movimentos de descompressão da realidade. Quando, a partir da melancolia e solidão de sua maturidade, um ator político faz a volta à infância, o ridículo se apodera do cenário. Fernando Henrique precisa de amigos.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
Se a psicanálise sofre hoje contestações de diferentes ordens, as palavras do seu criador sobre o comportamento melancólico se encaixam como luva para o amontoado de sandices que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu e disse no último domingo, 7/02, tentando deter e repudiar a impopularidade que o persegue desde o segundo mandato.
Há alguns anos, Carlos Heitor Cony, em artigo na Folha de São Paulo, não poupou palavras para melhor definir o “príncipe dos sociólogos: "Diziam seus admiradores que FHC era uma cabeça, um intelectual, um produtor de coisas inteligentes Sua exposição no cargo mais alto do país rebaixou-o á dimensão de um demagogo banal, incapaz de articular um argumento alem do insulto aos que não acreditam nele e o acusam inclusive de improbidade"
Isso é FHC. A exigência egóica de ser admirado o torna, paradoxalmente, um líder sem liderados. Um prócer a ser evitado em anos eleitorais. Para quem acredita que fez um grande favor ao mundo nascendo, sua irritabilidade é permanente e justificada. Afinal, deve ser duro para quem esteve no poder durante oito anos, constatar que o resto do mundo político não reconhece sua importância. Pior, o que ganha realce são os erros grosseiros de um dirigente que governou de acordo com os humores do capital financeiro.
Seu governo passou para a história como um modelo que acentuava a exclusão social e penalizava as classes de menor renda. A estratégia de estabilização de preços baseada na captação de capital externo de curto prazo, através da sobrevalorização da moeda e da manutenção de elevadas taxas de juros, levou o país a níveis de desemprego sem precedentes, à desarticulação da estrutura produtiva e à deterioração do tecido social no campo e na cidade.
O mau desempenho do comércio brasileiro na época foi minuciosamente construído pela equipe de FHC que, realizando uma abertura irresponsável da economia, pôs em prática políticas monetárias e cambiais que minaram em grande parte nossa capacidade de competição internacional.
Mostrando a miopia fiscalista que o orienta até hoje, Cardoso escreveu em seu artigo (“Sem medo do passado”), publicado no Globo, “ "Esqueceu-se [Lula] dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal"
A entrega do patrimônio público ainda é apresentada como fórmula eficaz de fazer caixa. O que FHC faz questão de esquecer faz parte de sua vida como ator político: grande parte do programa de privatização brasileiro foi financiada pelo BNDES. No cassino tucano, muitas empresas privatizadas não queriam fazer investimento aqui e se aproveitavam de polpudos créditos que também beneficiavam transnacionais já instaladas no país. O argumento utilizado era o de que a vinda desses setores permitiria agregar elementos de financiamento ao desenvolvimento nacional.
Quando se lê um artigo assim, descontextualizado, mal costurado em seus argumentos, é que nos damos contas da importância de olhar pelo retrovisor. É ele que sinaliza as perspectivas do futuro. Nesse ponto, o texto de Cardoso é didático, quase leitura obrigatória.
FHC sabe que a grande mídia corporativa exercerá o prestimoso papel de guiar suas mãos na hora de legitimar a irrelevância dos seus escritos. Somente os exércitos de colunistas destacados pelas famílias que controlam os meios de comunicação garantem sua vida política vegetativa.
Quando compara a ministra Dilma Rousseff a um boneco manipulado pelo presidente Lula não faz qualquer ponderação política, apenas evidencia que sua cabeça está longe de ser privilegiada. É uma mente que destila bile (que está na raiz da palavra melancolia) para desqualificar seus adversários. É o menestrel da política pequena buscando a facilidade da ribalta midiática
Antes de dizer que “o PT “tenta desconstruir o seu mandato”, o” príncipe” deveria dedicar mais tempo a leitura do que andaram falando sobre seu governo as principais lideranças do seu partido, em especial o governador de São Paulo. Uma boa sugestão seria o livro “Conversas com Economistas Brasileiros II", que a Editora 34 lançou em 1999. Lá ele encontraria o seguinte trecho.
“A política cambial do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso foi um desastre gratuito e total. Foi resultado de pouca reflexão analítica de seus condutores. Suas conseqüências foram devastadoras em muitas áreas da economia, inclusive comprometendo as metas fixadas no processo de privatização."
Essa crítica, das mais contundentes feitas por um economista que participou dos dois mandatos do governo FHC, é de José Serra em entrevista a dois professores da FGV, Guido Mantega e José Márcio Rego. E agora, quem é o boneco de quem? Nem mesmo um governador que submergiu com as enchentes em São Paulo, levando com ele a suposta capacidade gerencial do tucanato, pôde endossar a política arrasada do ex-presidente. O que esperar da oposição? A compaixão que deve ser concedida aos incapazes?
As palavras do ex-presidente devem ser vistas como movimentos de descompressão da realidade. Quando, a partir da melancolia e solidão de sua maturidade, um ator político faz a volta à infância, o ridículo se apodera do cenário. Fernando Henrique precisa de amigos.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
Adão Villaverde: Um líder, sem liderados
O professor FHC, “príncipe da sociologia”, como é reconhecido pelos seus próprios parceiros de cátedra, distribuiu, de forma articulada para toda a imprensa nacional, um artigo intitulado “Sem medo do passado”, onde busca um intencional reducionismo da gestão de Lula, hoje reconhecida nacional e internacionalmente, e coloca na sua esteira seu objetivo central, que é a desqualificação da ministra Dilma.
Talvez, de um lado, impactado pelas últimas pesquisas, que revelam uma enorme popularidade e confiança no governo do presidente Lula e, de outro, angustiado e incomodado por nenhum autêntico representante do tucanato estar, até então, defendendo seu período de governo. O ex-presidente jogou-se numa ação similar à batalha de Dom Quixote contra os Moinhos de Vento, num nítido movimento de um líder no ostracismo, enquanto os ventos da era Lula sopram de forma indiscutivelmente intensa, em sentido contrário ao seu período.
Uma análise desapaixonada e mais rigorosa de seu pronunciamento revela ausência de rumo e total desespero. Sem rumo porque há muito tempo o PSDB abandonou o debate de projeto e de conteúdo para o país, pois sua visão passou à história como um modelo que paralisou o desenvolvimento, excluiu socialmente e implementou a subordinação e a dependência sem nenhuma teoria, renunciando sua tese máxima da “Teoria da dependência”, como, aliás, o fez com muitas outras. Desespero porque vê a nação retomar o crescimento e desenvolvimento, mesmo em meio à brutal crise mundial do modelo neoliberal mercantil-desregulado, ao mesmo tempo em que as funções públicas de Estado estão sendo recuperadas como condição mínima de reparo aos danos causados por sua própria era no poder.
Tudo isto é amplificado quando o próprio prócer da sociologia, a cada ano eleitoral, é evitado e criticado por seus próprios parceiros. E ainda o presidente Lula é reconhecido mundialmente como “personalidade global”.
Daí decorrem as desequilibradas e desproporcionais reações que o alto de sua arrogância e prepotência não são capazes de suportar. Ainda mais que sua alternativa é o mesmo governador paulista que submergiu recentemente com a gestão tucana nas enchentes naquele Estado e que, em 2002, antes de Lula derrotá-lo, cunhou a máxima: “a política cambial de FHC foi um desastre total. Suas consequências foram devastadoras em muitas áreas da economia, inclusive comprometendo as metas do processo de privatização”.
Portanto, à semelhança com Quixote, que ao descolar sua consciência da realidade criou seu mundo imaginário, a FHC restam as ilusões de um líder, sem liderados.
Adão Villaverde é professor, engenheiro e deputado estadual PT/RS.
Talvez, de um lado, impactado pelas últimas pesquisas, que revelam uma enorme popularidade e confiança no governo do presidente Lula e, de outro, angustiado e incomodado por nenhum autêntico representante do tucanato estar, até então, defendendo seu período de governo. O ex-presidente jogou-se numa ação similar à batalha de Dom Quixote contra os Moinhos de Vento, num nítido movimento de um líder no ostracismo, enquanto os ventos da era Lula sopram de forma indiscutivelmente intensa, em sentido contrário ao seu período.
Uma análise desapaixonada e mais rigorosa de seu pronunciamento revela ausência de rumo e total desespero. Sem rumo porque há muito tempo o PSDB abandonou o debate de projeto e de conteúdo para o país, pois sua visão passou à história como um modelo que paralisou o desenvolvimento, excluiu socialmente e implementou a subordinação e a dependência sem nenhuma teoria, renunciando sua tese máxima da “Teoria da dependência”, como, aliás, o fez com muitas outras. Desespero porque vê a nação retomar o crescimento e desenvolvimento, mesmo em meio à brutal crise mundial do modelo neoliberal mercantil-desregulado, ao mesmo tempo em que as funções públicas de Estado estão sendo recuperadas como condição mínima de reparo aos danos causados por sua própria era no poder.
Tudo isto é amplificado quando o próprio prócer da sociologia, a cada ano eleitoral, é evitado e criticado por seus próprios parceiros. E ainda o presidente Lula é reconhecido mundialmente como “personalidade global”.
Daí decorrem as desequilibradas e desproporcionais reações que o alto de sua arrogância e prepotência não são capazes de suportar. Ainda mais que sua alternativa é o mesmo governador paulista que submergiu recentemente com a gestão tucana nas enchentes naquele Estado e que, em 2002, antes de Lula derrotá-lo, cunhou a máxima: “a política cambial de FHC foi um desastre total. Suas consequências foram devastadoras em muitas áreas da economia, inclusive comprometendo as metas do processo de privatização”.
Portanto, à semelhança com Quixote, que ao descolar sua consciência da realidade criou seu mundo imaginário, a FHC restam as ilusões de um líder, sem liderados.
Adão Villaverde é professor, engenheiro e deputado estadual PT/RS.
Gerson Almeida: Para onde vai a oposição?
Esse é um texto de Gerson Almeida sobre um artigo de Barbara Gancia(jornalista da Folha de SP). Ela fala sobre uma declaração de Marco Aurélio Garcia – “quase tão importante quanto a 4ª Frota (da Marinha americana) são os canais de TV a cabo que nós recebemos aqui. Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam toda essa quantidade de esterco cultural". Na verdade ele tenta falar sobre, mas... Leiam o texto – que é muito bom, por sinal – que se eu contar perde a graça!
Boa leitura!
Para onde vai a oposição?
Ao ler a coluna escrita por Barbara Gancia (FSP de 12/02), a minha primeira reação foi a de ficar espantado com os ataques pessoais, feitos de forma grosseira e arrogante, contra Marco Aurélio Garcia. O pretexto para tal virulência é a afirmação que teria sido feita pelo dirigente do PT, em reunião interna do partido, de que “quase tão importante quanto a 4ª Frota (da Marinha americana) são os canais de TV a cabo que nós recebemos aqui. Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam toda essa quantidade de esterco cultural". A colunista preferiu não se dar ao trabalho de apresentar as suas críticas ao trecho - pinçado por ela da fala de Marco Aurélio – e, ao invés de entrar no mérito de tal afirmação e discutir o seu conteúdo, partiu prá cima do autor, com afirmações do tipo: “ouvi-lo ou até mesmo parar para perceber sua existência significa jogar pela janela momentos preciosos do tempo que ainda me resta neste mundão...”. Não satisfeita, conseguiu espaço entre as 503 palavras contidas no seu libelo para avançar ainda mais na tentativa de desqualificação de Marco Aurélio e tascou a pérola: “se já não ligo para o que ele faz no governo, que dirá do meu interesse pelo que diz quando está entre os seus? Esquisito alguém fazer uma coluna inteira para destratar alguém tão desinteressante.
Essa fúria só pode ser ação de quem supõe possuir superioridade moral, social, ou intelectual e, assim, sente-se no direito de assumir atitude prepotente ou de desprezo em relação aos outros, o que é, precisamente, a postura definida por Houaiss como própria do arrogante. Creio, no entanto, que a arrogância explícita, colocada na sua forma mais genuína, não explica completamente as emoções expostas por Barbara Gancia.
O Marco Aurélio é um dos principais dirigentes do PT e assessor especial do presidente para assuntos internacionais. Além disto, é o responsável pela apresentação da primeira versão do Programa para a campanha da ministra Dilma, o que torna o personagem atacado digno da atenção de todos aqueles que não desejam estar alienados do que ocorre na política nacional e não desejam alienar seus leitores, ou, ainda, não pretendem disseminar preconceitos e interditar debates importantes, valendo-se da torpe prática de desqualificar as pessoas, ao invés de tratar das suas opiniões.
Ao perceber que a virulência do artigo não poderia ser explicada apenas pela arrogância da autora, entendi que os seus ataques furiosos apenas reverberam as recentes manifestações feitas pelos próceres tucanos, FCH à frente, que deixaram de lado qualquer consideração política programática e passaram a assumir atitudes prepotentes e de desprezo em relação aos líderes do PT. O senador Tasso Jereissati, chefe nacional do PSDB, por exemplo, ao referir-se à ministra Dilma, deu o tom de como quer que seus adeptos tratem os petistas: “essa liderança de silicone que está sendo construída, precisa começar a ser desmascarada”. Pois é neste contexto que o artigo começa a ser entendido.
A idéia de que a sociedade civil e sociedade política exercem funções diferenciadas na produção e reprodução das relações de poder, constituindo o que Gramsci chamou de Estado ampliado: sociedade política + sociedade civil, ou, em outras palavras, coerção e hegemonia como formas de disputa da liderança, é uma das mais interessantes contribuições que a ciência política produziu. Por sociedade civil, compreende-se o conjunto das instituições responsáveis pela elaboração e/ou difusão de valores simbólicos, como os partidos políticos, as corporações profissionais, os meios de comunicação, entre outras; por meio das quais as diferentes maneiras de compreender o mundo procuram ganhar aliados para seus projetos.
Foi esta idéia, apresentada de forma bastante didática, que deu nos nervos da articulista.
A reverberação de determinadas formas de perceber as coisas faz das diferentes formas de comunicação lugares onde também são produzidas estratégias incidentes no processo social. Na maioria das vezes, no entanto, de forma mais sutil e inteligente do que a escolhida por Bárbara. Neste caso, quando a articulista decidiu tratar sobre o conteúdo do discurso e não destratar quem discursou, não obteve desempenho melhor, limitando-se a comparar exemplos de baixa qualidade de produção cultural: “Pode ser que o lixo cultural deles seja mais atraente do que o nosso, será esse o problema?”, pergunta com a certeza de quem supõe possuir superioridade intelectual e, assim, sente-se no direito de assumir atitude prepotente ou de desprezo em relação aos outros. Não, não creio que a questão seja escolher entre Paris Hilton e Xuxa, dilema que menospreza a percepção da audiência e desconhece que os consensos estabelecidos em determinado período podem ser desagregados e dar lugar a novos consensos, que impliquem atender outros interesses que não os tradicionais.
É, por exemplo, o que ocorreu com a pobreza e a fome no país. Depois de décadas sem qualquer movimentação significativa na distribuição de renda, exceto para concentrá-la, um conjunto de políticas e ações do governo passou a alterar esse ciclo perverso. Os diferentes programas voltados para estimular o mercado interno e aumentar o poder de compra dos setores tradicionalmente excluídos; assim como as ações internacionais que diversificaram as relações comerciais e políticas para além da dependência para com o mercado americano, não foram conquistados com uma postura subalterna e conformista, mas colocaram o país num patamar que ainda não havia obtido no mundo.
Foi exatamente para não ficar prisioneiro do dilema de ser atraído sempre pelo menos ruim, é que o povo brasileiro decidiu eleger Lula como presidente e escolheu construir outro caminho, que não está sendo construído sem grandes dificuldades e ferozes críticas, inclusive pessoais aos seus dirigentes. Afinal, para construir novos consensos, baseados na luta contra as desigualdades sociais e na incorporação de setores excluídos historicamente, é preciso desfazer as redes que mantinham os privilégios de poucos: econômicos e sociais. Talvez seja esta a razão essencial que fez a Bárbara, que tão pouco interesse tem pelo Marco Aurélio, sentir-se “obrigada a comentar suas ilações” e não tenha deixado de colocar o sugestivo título: How do you do, Dilma?"
Gerson Almeida é sociólogo e petista
Boa leitura!
Para onde vai a oposição?
Ao ler a coluna escrita por Barbara Gancia (FSP de 12/02), a minha primeira reação foi a de ficar espantado com os ataques pessoais, feitos de forma grosseira e arrogante, contra Marco Aurélio Garcia. O pretexto para tal virulência é a afirmação que teria sido feita pelo dirigente do PT, em reunião interna do partido, de que “quase tão importante quanto a 4ª Frota (da Marinha americana) são os canais de TV a cabo que nós recebemos aqui. Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam toda essa quantidade de esterco cultural". A colunista preferiu não se dar ao trabalho de apresentar as suas críticas ao trecho - pinçado por ela da fala de Marco Aurélio – e, ao invés de entrar no mérito de tal afirmação e discutir o seu conteúdo, partiu prá cima do autor, com afirmações do tipo: “ouvi-lo ou até mesmo parar para perceber sua existência significa jogar pela janela momentos preciosos do tempo que ainda me resta neste mundão...”. Não satisfeita, conseguiu espaço entre as 503 palavras contidas no seu libelo para avançar ainda mais na tentativa de desqualificação de Marco Aurélio e tascou a pérola: “se já não ligo para o que ele faz no governo, que dirá do meu interesse pelo que diz quando está entre os seus? Esquisito alguém fazer uma coluna inteira para destratar alguém tão desinteressante.
Essa fúria só pode ser ação de quem supõe possuir superioridade moral, social, ou intelectual e, assim, sente-se no direito de assumir atitude prepotente ou de desprezo em relação aos outros, o que é, precisamente, a postura definida por Houaiss como própria do arrogante. Creio, no entanto, que a arrogância explícita, colocada na sua forma mais genuína, não explica completamente as emoções expostas por Barbara Gancia.
O Marco Aurélio é um dos principais dirigentes do PT e assessor especial do presidente para assuntos internacionais. Além disto, é o responsável pela apresentação da primeira versão do Programa para a campanha da ministra Dilma, o que torna o personagem atacado digno da atenção de todos aqueles que não desejam estar alienados do que ocorre na política nacional e não desejam alienar seus leitores, ou, ainda, não pretendem disseminar preconceitos e interditar debates importantes, valendo-se da torpe prática de desqualificar as pessoas, ao invés de tratar das suas opiniões.
Ao perceber que a virulência do artigo não poderia ser explicada apenas pela arrogância da autora, entendi que os seus ataques furiosos apenas reverberam as recentes manifestações feitas pelos próceres tucanos, FCH à frente, que deixaram de lado qualquer consideração política programática e passaram a assumir atitudes prepotentes e de desprezo em relação aos líderes do PT. O senador Tasso Jereissati, chefe nacional do PSDB, por exemplo, ao referir-se à ministra Dilma, deu o tom de como quer que seus adeptos tratem os petistas: “essa liderança de silicone que está sendo construída, precisa começar a ser desmascarada”. Pois é neste contexto que o artigo começa a ser entendido.
A idéia de que a sociedade civil e sociedade política exercem funções diferenciadas na produção e reprodução das relações de poder, constituindo o que Gramsci chamou de Estado ampliado: sociedade política + sociedade civil, ou, em outras palavras, coerção e hegemonia como formas de disputa da liderança, é uma das mais interessantes contribuições que a ciência política produziu. Por sociedade civil, compreende-se o conjunto das instituições responsáveis pela elaboração e/ou difusão de valores simbólicos, como os partidos políticos, as corporações profissionais, os meios de comunicação, entre outras; por meio das quais as diferentes maneiras de compreender o mundo procuram ganhar aliados para seus projetos.
Foi esta idéia, apresentada de forma bastante didática, que deu nos nervos da articulista.
A reverberação de determinadas formas de perceber as coisas faz das diferentes formas de comunicação lugares onde também são produzidas estratégias incidentes no processo social. Na maioria das vezes, no entanto, de forma mais sutil e inteligente do que a escolhida por Bárbara. Neste caso, quando a articulista decidiu tratar sobre o conteúdo do discurso e não destratar quem discursou, não obteve desempenho melhor, limitando-se a comparar exemplos de baixa qualidade de produção cultural: “Pode ser que o lixo cultural deles seja mais atraente do que o nosso, será esse o problema?”, pergunta com a certeza de quem supõe possuir superioridade intelectual e, assim, sente-se no direito de assumir atitude prepotente ou de desprezo em relação aos outros. Não, não creio que a questão seja escolher entre Paris Hilton e Xuxa, dilema que menospreza a percepção da audiência e desconhece que os consensos estabelecidos em determinado período podem ser desagregados e dar lugar a novos consensos, que impliquem atender outros interesses que não os tradicionais.
É, por exemplo, o que ocorreu com a pobreza e a fome no país. Depois de décadas sem qualquer movimentação significativa na distribuição de renda, exceto para concentrá-la, um conjunto de políticas e ações do governo passou a alterar esse ciclo perverso. Os diferentes programas voltados para estimular o mercado interno e aumentar o poder de compra dos setores tradicionalmente excluídos; assim como as ações internacionais que diversificaram as relações comerciais e políticas para além da dependência para com o mercado americano, não foram conquistados com uma postura subalterna e conformista, mas colocaram o país num patamar que ainda não havia obtido no mundo.
Foi exatamente para não ficar prisioneiro do dilema de ser atraído sempre pelo menos ruim, é que o povo brasileiro decidiu eleger Lula como presidente e escolheu construir outro caminho, que não está sendo construído sem grandes dificuldades e ferozes críticas, inclusive pessoais aos seus dirigentes. Afinal, para construir novos consensos, baseados na luta contra as desigualdades sociais e na incorporação de setores excluídos historicamente, é preciso desfazer as redes que mantinham os privilégios de poucos: econômicos e sociais. Talvez seja esta a razão essencial que fez a Bárbara, que tão pouco interesse tem pelo Marco Aurélio, sentir-se “obrigada a comentar suas ilações” e não tenha deixado de colocar o sugestivo título: How do you do, Dilma?"
Gerson Almeida é sociólogo e petista
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Eduardo Valdoski: IV Congresso do PT: Agora é a vez da juventude
Começa nesta quinta-feira, 18 de fevereiro, o IV Congresso do Partido dos Trabalhadores. Convocado para discutir centralmente as diretrizes do Programa de Governo, a tática eleitoral e para oficializar a pré-candidatura petista à Presidência da República em 2010.
Neste congresso, haverão alguns símbolos importantes, o principal e maior deles, será a definição de Dilma Rousseff como nossa candidata, pela primeira vez na história do PT ou das últimas eleições presidenciais, não será Lula o nosso candidato.
Outro símbolo importante será uma maior presença de jovens nas delegações. Se por um lado foi baixa ou quase inexistente a participação da juventude nas chapas que concorreram ao Diretório Nacional no último PED, por outro, é inegável que nas instâncias municipais e estaduais tem início um processo de renovação dos quadros partidários.
No entanto, maior presença de jovens na delegação do congresso e nas instâncias não significa automaticamente a entrada do debate sobre o papel da juventude no partido e no país. Inclusive porque um dos mecanismos da opressão geracional se dá justamente a partir da reprodução da opressão pelos próprios jovens, ao ter de negar sua condição juvenil assim que conquista e ascende nos espaços de poder.
Nesta perspectiva, um dos grandes desafios que os jovens petistas terão neste congresso é fazer com que a sua presença física se converta em força política que convença o conjunto do partido de que o nosso projeto de desenvolvimento para país, ou incluí com centralidade os jovens, ou será incompleto.
Elementos para esta disputa estão disponíveis hoje como nunca estiveram antes. Temos um conjunto significativo de dirigentes do partido e do governo preocupados e comprometidos com este debate, existem pesquisas e estudos demonstrando o peso social, econômico e político que a juventude tem na sociedade brasileira.
No entanto, nossa principal ferramenta, tem sido a capacidade demonstrada pelos jovens petistas de produzir e formular políticas. Exemplo disso, é o texto aprovado pelo Encontro Nacional da Juventude do PT, realizado entre os dias 05 e 07 de fevereiro, e que figura entre as propostas de resoluções para o IV Congresso (veja aqui).
A educação, o trabalho e o desenvolvimento nacional são os eixos que estruturam a proposta da JPT. Para nós, se as conquistas obtidas nos dois mandatos do presidente Lula são imensas, dado o tamanho do déficit de políticas sociais no país, é necessário irmos além no governo Dilma.
A juventude brasileira é um dos seguimentos mais interessados num conjunto de reformas estruturantes, como as reformas política, da educação, urbana, agrária, tributária, dos meios de comunicação entre outras. São as mudanças que fazemos agora que permitirão mais e melhores condições para esta e para as próximas gerações.
O que defendemos é que os jovens pobres e das periferias tenham as mesmas condições e oportunidades de desfrutar sua juventude e suas potencialidades, que hoje, só os filhos dos ricos tem. Portanto, o que necessitamos é de mais presença e ações do Estado.
Nesse sentido, o terceiro mandato do PT deve aprofundar a implementação de políticas de juventude, com o necessário fortalecimento da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude, combinadas com reformas estruturais, para que se possa atenuar a ausência de políticas de juventude ao longo da história do país, situação agravada com o avanço neoliberal da década de 90.
É preciso combinar o desenvolvimento de políticas públicas emancipadoras com a participação de jovens na construção de ações que resolvam problemas estruturais, como o analfabetismo, o trabalho infanto-juvenil, entre outros temas, que possibilitem o surgimento de uma nova geração política, envolvida com os grandes temas nacionais.
Com essa perspectiva, que o texto da JPT não defende ações pontuais ou compartimentadas, para nós, as políticas voltadas aos jovens devem estar inseridas e integradas num conjunto de ações estruturantes e universais. É desta forma, no nosso entender, que passamos a olhar a juventude brasileira como ator estratégico do desenvolvimento nacional.
E é assim, na relação dialética entre discutir o geral e o específico, que queremos que o IV Congresso do PT afirme que agora é a vez da juventude.
Eduardo Valdoski é membro da Executiva Nacional da Juventude do PT (eduardo@jpt.org.br)
Neste congresso, haverão alguns símbolos importantes, o principal e maior deles, será a definição de Dilma Rousseff como nossa candidata, pela primeira vez na história do PT ou das últimas eleições presidenciais, não será Lula o nosso candidato.
Outro símbolo importante será uma maior presença de jovens nas delegações. Se por um lado foi baixa ou quase inexistente a participação da juventude nas chapas que concorreram ao Diretório Nacional no último PED, por outro, é inegável que nas instâncias municipais e estaduais tem início um processo de renovação dos quadros partidários.
No entanto, maior presença de jovens na delegação do congresso e nas instâncias não significa automaticamente a entrada do debate sobre o papel da juventude no partido e no país. Inclusive porque um dos mecanismos da opressão geracional se dá justamente a partir da reprodução da opressão pelos próprios jovens, ao ter de negar sua condição juvenil assim que conquista e ascende nos espaços de poder.
Nesta perspectiva, um dos grandes desafios que os jovens petistas terão neste congresso é fazer com que a sua presença física se converta em força política que convença o conjunto do partido de que o nosso projeto de desenvolvimento para país, ou incluí com centralidade os jovens, ou será incompleto.
Elementos para esta disputa estão disponíveis hoje como nunca estiveram antes. Temos um conjunto significativo de dirigentes do partido e do governo preocupados e comprometidos com este debate, existem pesquisas e estudos demonstrando o peso social, econômico e político que a juventude tem na sociedade brasileira.
No entanto, nossa principal ferramenta, tem sido a capacidade demonstrada pelos jovens petistas de produzir e formular políticas. Exemplo disso, é o texto aprovado pelo Encontro Nacional da Juventude do PT, realizado entre os dias 05 e 07 de fevereiro, e que figura entre as propostas de resoluções para o IV Congresso (veja aqui).
A educação, o trabalho e o desenvolvimento nacional são os eixos que estruturam a proposta da JPT. Para nós, se as conquistas obtidas nos dois mandatos do presidente Lula são imensas, dado o tamanho do déficit de políticas sociais no país, é necessário irmos além no governo Dilma.
A juventude brasileira é um dos seguimentos mais interessados num conjunto de reformas estruturantes, como as reformas política, da educação, urbana, agrária, tributária, dos meios de comunicação entre outras. São as mudanças que fazemos agora que permitirão mais e melhores condições para esta e para as próximas gerações.
O que defendemos é que os jovens pobres e das periferias tenham as mesmas condições e oportunidades de desfrutar sua juventude e suas potencialidades, que hoje, só os filhos dos ricos tem. Portanto, o que necessitamos é de mais presença e ações do Estado.
Nesse sentido, o terceiro mandato do PT deve aprofundar a implementação de políticas de juventude, com o necessário fortalecimento da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude, combinadas com reformas estruturais, para que se possa atenuar a ausência de políticas de juventude ao longo da história do país, situação agravada com o avanço neoliberal da década de 90.
É preciso combinar o desenvolvimento de políticas públicas emancipadoras com a participação de jovens na construção de ações que resolvam problemas estruturais, como o analfabetismo, o trabalho infanto-juvenil, entre outros temas, que possibilitem o surgimento de uma nova geração política, envolvida com os grandes temas nacionais.
Com essa perspectiva, que o texto da JPT não defende ações pontuais ou compartimentadas, para nós, as políticas voltadas aos jovens devem estar inseridas e integradas num conjunto de ações estruturantes e universais. É desta forma, no nosso entender, que passamos a olhar a juventude brasileira como ator estratégico do desenvolvimento nacional.
E é assim, na relação dialética entre discutir o geral e o específico, que queremos que o IV Congresso do PT afirme que agora é a vez da juventude.
Eduardo Valdoski é membro da Executiva Nacional da Juventude do PT (eduardo@jpt.org.br)
sábado, 20 de fevereiro de 2010
O PT tem lado e sabe o que o quer para o Brasil, diz Lula na posse do novo DN
"Aqueles que queriam acabar com a nossa raça, hoje estão se acabando". Com essa afirmação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a força da militância do Partido dos Trabalhadores que comemora 30 anos de fundação, durante o ato de posse dos novos membros do Diretório Nacional do partido.
O ato ocorreu na noite desta sexta-feira (19), dentro da programação do IV Congresso realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quando foram empossados o novo presidente José Eduardo Dutra e os 81 membros do novo DN .
Lula lembrou os momentos difíceis vividos pelo partido em três décadas de existência e destacou que a firmeza ideológica faz com a militância petista supere o "medo de turbulências". "O nosso partido tem lado e sabe o que quer para o Brasil. Nestes 30 anos nós construimos o maior paradigma de esquerda existente em um país democrático. Aprendemos a construir uma convivência democrática interna e hoje praticamos essa convivência com outras forças políticas aliadas", disse o presidente.
Ele destacou ainda as disputas internas do PT como um exemplo para o mundo. "A grande virtude do PT é o debate de idéias na disputa interna entre as várias correntes do partido e esse aprendizado precisa ser socializado e repartido pelo mundo", afirmou Lula
Lula reforçou também a importância do PT para a integração política na América Latina. "É importante que a gente faça no próximo período uma amarração com partidos e movimentos sociais de países latinoamericanos para que possamos ter uma verdadeira integração, política e ideológica. Existem duas coisas que eu quero fazer após deixar a presidência: trabalhar fortemente por essa integração e atuar para uma integração maior da América Latina com a África", enfatizou.
Primeiro presidente da história do PT, Lula finalizou sua fala saudando o novo presidente José Eduardo Dutra: "Vocês todos vão se orgulhar muito deste companheiro na presidência do partido".
Também o vice-presidente José de Alencar participou da cerimônia que contou ainda com a presença de ministros petistas, parlamentares, lideranças políticas de partidos aliados, além dos 1.350 delegados e delegadas participantes do Congresso e demais militantes petistas.
Alencar também deixou uma bela mensagem à militância petista e afirmou que o PT é "uma escola política de comportamento admirável". Ao mencionar a ministra Dilma Rousseff, que será indicada neste sábado (20) como pré-candidata do PT à Presidência da República, ele afirmou que a sua principal qualidade é a grande bravura e que a ministra tem todas as qualidades para assumir a presidência do país.
O deputado federal Ricardo Berzoini, que deixa a presidência do partido, fez um resgate histórico das dificuldades e vitórias políticas vividas pelo PT nos seus 30 anos de história e convocou a militância para enfrentar o grande desafio de dar continuidade à luta em 2010.
O presidente empossado, José Eduardo Dutra, fez um discurso emocionado durante o ato de posse. "Eu assumo o compromisso de não ser o presidente da tendência A, B ou C, mas sim como presidente de todo o conjunto do partido", afirmou. Ele fez uma homenagem a todos os presidentes da história do PT mencionando os estilos, os desafios e a contribuição política de cada um deles, de Lula a Berzoini, passando por Olívio Dutra, Rui Falcão, Luiz Gushiken, Tarso Genro, José Dirceu e José Genoíno.
Dutra também destacou as tentativas dos adversários em tentar destruir o PT. "Eles não conseguiram acabar com a nossa 'raça' porque a nossa raça é forjada no suor de milhões de trabalhadores de todas as regiões do país, na luta dos seringueiros da Amazônia, no sangue derramado por Chico Mendes e de milhares de companheiros que dedicaram a sua vida à causa da liberdade, pela democracia e ao socialismo", ressaltou.
Ele encerrou sua fala reafirmando que o PT irá eleger em 2010 a primeira mulher presidente da República da história do Brasil.
O encerramento do ato de posse foi coroado com a chegada de um grande bolo simbólico em homenagem aos 30 anos do partido e todos os presentes cantaram Parabéns pra você juntamente com o presidente Lula e os convidados.
O ato ocorreu na noite desta sexta-feira (19), dentro da programação do IV Congresso realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quando foram empossados o novo presidente José Eduardo Dutra e os 81 membros do novo DN .
Lula lembrou os momentos difíceis vividos pelo partido em três décadas de existência e destacou que a firmeza ideológica faz com a militância petista supere o "medo de turbulências". "O nosso partido tem lado e sabe o que quer para o Brasil. Nestes 30 anos nós construimos o maior paradigma de esquerda existente em um país democrático. Aprendemos a construir uma convivência democrática interna e hoje praticamos essa convivência com outras forças políticas aliadas", disse o presidente.
Ele destacou ainda as disputas internas do PT como um exemplo para o mundo. "A grande virtude do PT é o debate de idéias na disputa interna entre as várias correntes do partido e esse aprendizado precisa ser socializado e repartido pelo mundo", afirmou Lula
Lula reforçou também a importância do PT para a integração política na América Latina. "É importante que a gente faça no próximo período uma amarração com partidos e movimentos sociais de países latinoamericanos para que possamos ter uma verdadeira integração, política e ideológica. Existem duas coisas que eu quero fazer após deixar a presidência: trabalhar fortemente por essa integração e atuar para uma integração maior da América Latina com a África", enfatizou.
Primeiro presidente da história do PT, Lula finalizou sua fala saudando o novo presidente José Eduardo Dutra: "Vocês todos vão se orgulhar muito deste companheiro na presidência do partido".
Também o vice-presidente José de Alencar participou da cerimônia que contou ainda com a presença de ministros petistas, parlamentares, lideranças políticas de partidos aliados, além dos 1.350 delegados e delegadas participantes do Congresso e demais militantes petistas.
Alencar também deixou uma bela mensagem à militância petista e afirmou que o PT é "uma escola política de comportamento admirável". Ao mencionar a ministra Dilma Rousseff, que será indicada neste sábado (20) como pré-candidata do PT à Presidência da República, ele afirmou que a sua principal qualidade é a grande bravura e que a ministra tem todas as qualidades para assumir a presidência do país.
O deputado federal Ricardo Berzoini, que deixa a presidência do partido, fez um resgate histórico das dificuldades e vitórias políticas vividas pelo PT nos seus 30 anos de história e convocou a militância para enfrentar o grande desafio de dar continuidade à luta em 2010.
O presidente empossado, José Eduardo Dutra, fez um discurso emocionado durante o ato de posse. "Eu assumo o compromisso de não ser o presidente da tendência A, B ou C, mas sim como presidente de todo o conjunto do partido", afirmou. Ele fez uma homenagem a todos os presidentes da história do PT mencionando os estilos, os desafios e a contribuição política de cada um deles, de Lula a Berzoini, passando por Olívio Dutra, Rui Falcão, Luiz Gushiken, Tarso Genro, José Dirceu e José Genoíno.
Dutra também destacou as tentativas dos adversários em tentar destruir o PT. "Eles não conseguiram acabar com a nossa 'raça' porque a nossa raça é forjada no suor de milhões de trabalhadores de todas as regiões do país, na luta dos seringueiros da Amazônia, no sangue derramado por Chico Mendes e de milhares de companheiros que dedicaram a sua vida à causa da liberdade, pela democracia e ao socialismo", ressaltou.
Ele encerrou sua fala reafirmando que o PT irá eleger em 2010 a primeira mulher presidente da República da história do Brasil.
O encerramento do ato de posse foi coroado com a chegada de um grande bolo simbólico em homenagem aos 30 anos do partido e todos os presentes cantaram Parabéns pra você juntamente com o presidente Lula e os convidados.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
PT, 30 anos militante pelo Brasil
O Partido dos Trabalhadores comemora hoje, 10 de fevereiro, o seu 30º aniversário de fundação, motivo de festa para milhões de brasileiros, entre filiados, militantes, simpatizantes e eleitores, que acreditam, apoiam e constroem um partido que se destaca no cenário político brasileiros na defesa das lutas sociais e populares mais importantes da nossa história recente.
Vários atos, manifestações e festas serão promovidas por diretórios estaduais e municipais pelo país afora e até mesmo no exterior.
As festividades oficiais de comemoração a tão importante data serão realizadas durante a realização do IV Congresso Nacional do PT que ocorrerá nos dias 18, 19 e 20 deste mês, em Brasília. Durante o Congresso, 1.350 delegados eleitos no último PED estarão reunidos para preparar o partido para mais um grande desafio: vencer as eleições de 2010 e dar continuidade ao projeto político iniciado pelo nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em artigo publicado nesta quarta-feira, o presidente eleito do PT,José Eduardo Dutra, e o presidente Ricardo Berzoini que deixa o cargo após quatro anos de gestão, exaltam a participação histórica do PT no processo de democratização do país e na construção de um Brasil melhor e mais justo para todos os brasileiros.
"Celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática ", afirmam no texto.
Leia a íntegra do artigo:
PT, 30 ANOS MILITANTE PELO BRASIL
O PT completa hoje 30 anos. No dia 10 de fevereiro de 1980, gente das mais diferentes origens reuniu-se no colégio Sion, em São Paulo, para tomar a decisão que mudou a história política do Brasil. O PT na origem era um pequeno partido, com uma imensa vontade de crescer. O PT de hoje governa o Brasil, cinco Estados e mais de 500 prefeituras. Homenageamos todos os que tiveram a coragem de tomar essa decisão. Especialmente os que pagaram com a vida a determinação de lutar.
Três décadas construindo a democracia no Brasil, trajetória construída paulatinamente e marcada por luta pelos direitos sociais, defesa dos interesses nacionais, do desenvolvimento nacional e da integração latino-americana. No 30º aniversário, celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática num projeto transformador da sociedade brasileira.
A ousadia de fundar um Partido dos Trabalhadores ocorreu num momento em que o sistema político bipartidário da ditadura estava esgotado, quando as lutas sociais, clamando por mudanças, exigiam novas opções partidárias. Sofremos críticas sobre supostas divisões no campo democrático, mas o tempo encarregou-se de confirmar a importância histórica do projeto do PT. Um partido que nasceu com um projeto de uma nova democracia política, oriundo das lutas sindicais e populares para construir um país justo e democrático, defensor de nossa soberania, de nossas riquezas e do interesse público.
A militância superou os desafios da montagem da estrutura do partido, enfrentando a legislação draconiana do governo militar. O partido cresceu de maneira orgânica e amadureceu até chegar à compreensão plena da importância estratégica das alianças, decisivas para quem quer realizar um projeto transformador.
Em sua trajetória histórica, como ente coletivo, o PT refletiu e mudou, mas nunca mudou de lado, como mostram as conquistas do governo Lula. Temos hoje 1 milhão e 300 mil filiados que acreditam no projeto e militam para que ele prossiga.
Um traço dessa história militante do PT é a capacidade de apontar para o partido e para a sociedade objetivos ousados, porém plausíveis. O crescimento do PT resultou de sua capacidade de construir suas teses a partir das lutas reais do povo. Como na Constituinte de 1987, uma pequena bancada de 16 deputados e nenhum senador se agigantou apoiada na mobilização popular.
Ao longo de sua trajetória, o PT soube usar essa característica para, com seus militantes, mobilizar e conquistar. Empunhamos bandeiras históricas, como a da luta pela terra, pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos humanos, pela integração continental, pela defesa das minorias e contra a discriminação. Assim, superamos o dilema de ser partido de massas ou de quadros e nos fortalecemos como canal de representação e de participação de milhões de brasileiros.
Trinta anos de ampliação dos espaços de cidadania, rompendo com modelos populistas e com as fórmulas prontas -algumas importadas- para os problemas nacionais. Reinventamos o funcionamento do partido com as cotas de mulheres nas direções, os setoriais temáticos e as eleições diretas partidárias, o PED. O PT sempre valorizou o conceito de militância, grande insumo de nossa renovação.
Dessa forma avançamos, chegamos às prefeituras e aos governos estaduais, ampliamos as bancadas parlamentares e as bases sociais, até a vitória histórica de Lula em 2002. As grandes bandeiras de nossa luta foram materializadas no governo Lula, que colocou o Brasil no rumo da redução acelerada das desigualdades sociais e regionais, ampliando a renda interna, gerando um mercado de massas, criando empregos e políticas públicas transformadoras, arquivando a teoria do Estado mínimo, que tantos males causou ao Brasil.
O governo do PT mudou a imagem do país, levando-o a um novo patamar no cenário mundial. Lula é referência internacional.
Nossos militantes, com os partidos aliados, preparam-se agora para construir um programa que garanta as mudanças implementadas pelo governo Lula, aprovadas por mais de 80% da população, e apresente novas metas ao povo brasileiro. Desejamos consolidar o projeto democrático popular colocado em prática pelo governo Lula, mas aprofundando e acelerando os avanços conquistados.
Aos 30 anos, o PT olha para sua história com o orgulho de quem ajudou a construir a democracia e hoje lidera o governo mais popular da história do Brasil. Mas olhamos para a frente com a humildade de quem sabe que na política cada desafio vencido abre dezenas de novas responsabilidades.
Viva o PT!
José Eduardo Dutra é geólogo, ex-senador da República (PT-SE), ex-presidente da Petrobras, é o novo presidente do PT.
Ricardo Berzoini, 50, bancário e deputado federal (PT-SP), conclui hoje seu mandato de presidente do PT
Artigo publicado na coluna Tendências / Debates do jornal Folha de São Paulo, edição de 10/02/2010.
Vários atos, manifestações e festas serão promovidas por diretórios estaduais e municipais pelo país afora e até mesmo no exterior.
As festividades oficiais de comemoração a tão importante data serão realizadas durante a realização do IV Congresso Nacional do PT que ocorrerá nos dias 18, 19 e 20 deste mês, em Brasília. Durante o Congresso, 1.350 delegados eleitos no último PED estarão reunidos para preparar o partido para mais um grande desafio: vencer as eleições de 2010 e dar continuidade ao projeto político iniciado pelo nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em artigo publicado nesta quarta-feira, o presidente eleito do PT,José Eduardo Dutra, e o presidente Ricardo Berzoini que deixa o cargo após quatro anos de gestão, exaltam a participação histórica do PT no processo de democratização do país e na construção de um Brasil melhor e mais justo para todos os brasileiros.
"Celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática ", afirmam no texto.
Leia a íntegra do artigo:
PT, 30 ANOS MILITANTE PELO BRASIL
O PT completa hoje 30 anos. No dia 10 de fevereiro de 1980, gente das mais diferentes origens reuniu-se no colégio Sion, em São Paulo, para tomar a decisão que mudou a história política do Brasil. O PT na origem era um pequeno partido, com uma imensa vontade de crescer. O PT de hoje governa o Brasil, cinco Estados e mais de 500 prefeituras. Homenageamos todos os que tiveram a coragem de tomar essa decisão. Especialmente os que pagaram com a vida a determinação de lutar.
Três décadas construindo a democracia no Brasil, trajetória construída paulatinamente e marcada por luta pelos direitos sociais, defesa dos interesses nacionais, do desenvolvimento nacional e da integração latino-americana. No 30º aniversário, celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática num projeto transformador da sociedade brasileira.
A ousadia de fundar um Partido dos Trabalhadores ocorreu num momento em que o sistema político bipartidário da ditadura estava esgotado, quando as lutas sociais, clamando por mudanças, exigiam novas opções partidárias. Sofremos críticas sobre supostas divisões no campo democrático, mas o tempo encarregou-se de confirmar a importância histórica do projeto do PT. Um partido que nasceu com um projeto de uma nova democracia política, oriundo das lutas sindicais e populares para construir um país justo e democrático, defensor de nossa soberania, de nossas riquezas e do interesse público.
A militância superou os desafios da montagem da estrutura do partido, enfrentando a legislação draconiana do governo militar. O partido cresceu de maneira orgânica e amadureceu até chegar à compreensão plena da importância estratégica das alianças, decisivas para quem quer realizar um projeto transformador.
Em sua trajetória histórica, como ente coletivo, o PT refletiu e mudou, mas nunca mudou de lado, como mostram as conquistas do governo Lula. Temos hoje 1 milhão e 300 mil filiados que acreditam no projeto e militam para que ele prossiga.
Um traço dessa história militante do PT é a capacidade de apontar para o partido e para a sociedade objetivos ousados, porém plausíveis. O crescimento do PT resultou de sua capacidade de construir suas teses a partir das lutas reais do povo. Como na Constituinte de 1987, uma pequena bancada de 16 deputados e nenhum senador se agigantou apoiada na mobilização popular.
Ao longo de sua trajetória, o PT soube usar essa característica para, com seus militantes, mobilizar e conquistar. Empunhamos bandeiras históricas, como a da luta pela terra, pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos humanos, pela integração continental, pela defesa das minorias e contra a discriminação. Assim, superamos o dilema de ser partido de massas ou de quadros e nos fortalecemos como canal de representação e de participação de milhões de brasileiros.
Trinta anos de ampliação dos espaços de cidadania, rompendo com modelos populistas e com as fórmulas prontas -algumas importadas- para os problemas nacionais. Reinventamos o funcionamento do partido com as cotas de mulheres nas direções, os setoriais temáticos e as eleições diretas partidárias, o PED. O PT sempre valorizou o conceito de militância, grande insumo de nossa renovação.
Dessa forma avançamos, chegamos às prefeituras e aos governos estaduais, ampliamos as bancadas parlamentares e as bases sociais, até a vitória histórica de Lula em 2002. As grandes bandeiras de nossa luta foram materializadas no governo Lula, que colocou o Brasil no rumo da redução acelerada das desigualdades sociais e regionais, ampliando a renda interna, gerando um mercado de massas, criando empregos e políticas públicas transformadoras, arquivando a teoria do Estado mínimo, que tantos males causou ao Brasil.
O governo do PT mudou a imagem do país, levando-o a um novo patamar no cenário mundial. Lula é referência internacional.
Nossos militantes, com os partidos aliados, preparam-se agora para construir um programa que garanta as mudanças implementadas pelo governo Lula, aprovadas por mais de 80% da população, e apresente novas metas ao povo brasileiro. Desejamos consolidar o projeto democrático popular colocado em prática pelo governo Lula, mas aprofundando e acelerando os avanços conquistados.
Aos 30 anos, o PT olha para sua história com o orgulho de quem ajudou a construir a democracia e hoje lidera o governo mais popular da história do Brasil. Mas olhamos para a frente com a humildade de quem sabe que na política cada desafio vencido abre dezenas de novas responsabilidades.
Viva o PT!
José Eduardo Dutra é geólogo, ex-senador da República (PT-SE), ex-presidente da Petrobras, é o novo presidente do PT.
Ricardo Berzoini, 50, bancário e deputado federal (PT-SP), conclui hoje seu mandato de presidente do PT
Artigo publicado na coluna Tendências / Debates do jornal Folha de São Paulo, edição de 10/02/2010.
Livro O Brasil, entre o passado e o futuro será lançado durante IV Congresso
Em uma co-edição da Boitempo e da Editora da Fundação Perseu Abramo, será lançado durante o IV Congresso Nacional do PT o livro "Brasil, entre o passado e o futuro", organizado por Marco Aurélio Garcia e Emir Sader.
A obra busca contribuir com o debate sobre o que virá após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para isso conta com a colaboração de alguns intelectuais – integrantes do governo ou não – que nunca deixaram de pensar e sistematizar ideias sobre o processo em curso no país: Marco Aurélio Garcia, Emir Sader, Marcio Pochmann, Guilherme Dias, Luiz Dulci, Nelson Barbosa, José Antonio Pereira de Souza e Jorge Mattoso. Além dos artigos, completa o volume uma entrevista com a ministra Dilma Rousseff, feita por Garcia, Sader e Mattoso.
"Brasil, entre o passado e o futuro" reúne ensaios de pensadores da cena política e intelectual brasileira, que buscam assimilar e analisar as intensas transformações ocorridas no Brasil nos últimos sete anos. Os textos se debruçam sobre o passado recente do país, na tentativa de desvendar diversos aspectos da realidade brasileira, como sua dinâmica econômica, social, política e cultural.
O livro apresenta um conjunto de dados, análises e propostas de ensaístas comprometidos com um projeto de país que será o centro do debate nas disputas eleitorais de 2010. Busca, assim, trazer uma contribuição interpretativa sobre o momento atual, vislumbrando transformar o futuro.
Ensaios e autores:
Brasil, de Getúlio a Lula
Emir Sader
O Brasil herdado
Jorge Mattoso
A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda
Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza
A sociedade pela qual se luta
Guilherme Dias e Marcio Pochmann
Participação e mudança social no governo Lula
Luiz Soares Dulci
O lugar do Brasil no mundo
A política externa em um momento de transição
Marco Aurélio Garcia
Um país para 190 milhões de brasileiros
Entrevista com Dilma Rousseff
Leia o texto de apresentação do livro organizado por Emir Sader e Marco Aurélio Garcia:
"Tem sido dito – com certa razão – que a grande transformação econômica, social e política pela qual o Brasil vem passando nos últimos sete anos não foi, até agora, objeto de uma refl exão mais aguda, como ocorreu em outros períodos de nossa história republicana.
Os textos que compõem este livro pretendem sanar em parte esse vazio, na perspectiva dos que valorizam positivamente as mudanças em curso no país. Eles buscam contribuir para a compreensão do Brasil contemporâneo –de seu passado, de seu presente e do seu futuro. São um conjunto de análises que abordam diferentes temas vinculados à herança recebida pelo governo Lula, às transformações realizadas por este e às propostas para sua consolidação, aprofundamento e desdobramentos futuros.
Trata-se de contribuições individuais, advindas de óticas distintas. Elas convergem, no entanto, no projeto de “um país para todos”, expresso pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em sua entrevista, quando fala da necessidade de seguir construíndo “um Brasil para 190 milhões”.
Parte-se das origens do Brasil contemporâneo, passando pela herança econômica recebida por Lula, pela evolução de sua política econômica, pelas novas relações com os movimentos sociais, pelo lugar do Brasil no mundo e chega-se a um novo desenho das relações sociais, em função das extensas transformações que o país atravessa.Os textos apontam para a necessidade de teorizar não em abstrato, mas a partir da prática desse governo. É a clareza sobre os obstáculos enfrentados, sobre os avanços realizados e o potencial aberto para o futuro que permitirá ao país seguir trilhando o caminho da emancipação econômica e social até aqui percorrido.
Pretendemos contribuir para a mais ampla discussão que as forças do campo popular e a cidadania em geral necessitam desenvolver. Assim o Brasil poderá assumir, com consciência e mobilização, os desafios que o projetem como uma sociedade justa, solidária, soberana e humanista".
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/nacional-2/livro-o-brasil-entre-o-passado-e-o-futuro-sera-lancado-durante-iv-congresso-3226.html
A obra busca contribuir com o debate sobre o que virá após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para isso conta com a colaboração de alguns intelectuais – integrantes do governo ou não – que nunca deixaram de pensar e sistematizar ideias sobre o processo em curso no país: Marco Aurélio Garcia, Emir Sader, Marcio Pochmann, Guilherme Dias, Luiz Dulci, Nelson Barbosa, José Antonio Pereira de Souza e Jorge Mattoso. Além dos artigos, completa o volume uma entrevista com a ministra Dilma Rousseff, feita por Garcia, Sader e Mattoso.
"Brasil, entre o passado e o futuro" reúne ensaios de pensadores da cena política e intelectual brasileira, que buscam assimilar e analisar as intensas transformações ocorridas no Brasil nos últimos sete anos. Os textos se debruçam sobre o passado recente do país, na tentativa de desvendar diversos aspectos da realidade brasileira, como sua dinâmica econômica, social, política e cultural.
O livro apresenta um conjunto de dados, análises e propostas de ensaístas comprometidos com um projeto de país que será o centro do debate nas disputas eleitorais de 2010. Busca, assim, trazer uma contribuição interpretativa sobre o momento atual, vislumbrando transformar o futuro.
Ensaios e autores:
Brasil, de Getúlio a Lula
Emir Sader
O Brasil herdado
Jorge Mattoso
A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda
Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza
A sociedade pela qual se luta
Guilherme Dias e Marcio Pochmann
Participação e mudança social no governo Lula
Luiz Soares Dulci
O lugar do Brasil no mundo
A política externa em um momento de transição
Marco Aurélio Garcia
Um país para 190 milhões de brasileiros
Entrevista com Dilma Rousseff
Leia o texto de apresentação do livro organizado por Emir Sader e Marco Aurélio Garcia:
"Tem sido dito – com certa razão – que a grande transformação econômica, social e política pela qual o Brasil vem passando nos últimos sete anos não foi, até agora, objeto de uma refl exão mais aguda, como ocorreu em outros períodos de nossa história republicana.
Os textos que compõem este livro pretendem sanar em parte esse vazio, na perspectiva dos que valorizam positivamente as mudanças em curso no país. Eles buscam contribuir para a compreensão do Brasil contemporâneo –de seu passado, de seu presente e do seu futuro. São um conjunto de análises que abordam diferentes temas vinculados à herança recebida pelo governo Lula, às transformações realizadas por este e às propostas para sua consolidação, aprofundamento e desdobramentos futuros.
Trata-se de contribuições individuais, advindas de óticas distintas. Elas convergem, no entanto, no projeto de “um país para todos”, expresso pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em sua entrevista, quando fala da necessidade de seguir construíndo “um Brasil para 190 milhões”.
Parte-se das origens do Brasil contemporâneo, passando pela herança econômica recebida por Lula, pela evolução de sua política econômica, pelas novas relações com os movimentos sociais, pelo lugar do Brasil no mundo e chega-se a um novo desenho das relações sociais, em função das extensas transformações que o país atravessa.Os textos apontam para a necessidade de teorizar não em abstrato, mas a partir da prática desse governo. É a clareza sobre os obstáculos enfrentados, sobre os avanços realizados e o potencial aberto para o futuro que permitirá ao país seguir trilhando o caminho da emancipação econômica e social até aqui percorrido.
Pretendemos contribuir para a mais ampla discussão que as forças do campo popular e a cidadania em geral necessitam desenvolver. Assim o Brasil poderá assumir, com consciência e mobilização, os desafios que o projetem como uma sociedade justa, solidária, soberana e humanista".
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/nacional-2/livro-o-brasil-entre-o-passado-e-o-futuro-sera-lancado-durante-iv-congresso-3226.html
Marco Aurélio: Brasil do governo Lula nunca foi subalterno, mas sim protagonista
O Seminário Internacional do PT teve prosseguimento na tarde desta quinta-feira (18), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A mesa com o tema A nova situação internacional e latinoamericana contou com a participação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, do assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia e do sociólogo e professor Emir Sader. O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, coordenou os trabalhos.
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, ressaltou o novo modo de agir nas questões externas. “A oposição dizia que deveríamos resolver os grandes problemas nossos e não nos preocupar com os problemas daqueles que precisavam de apoio. Que não deveríamos pensar na politica externa e sim pensar no Brasil internamente. Contudo, engana-se quem pensa que a América Latina não é fundamental para o Brasil. A oposição acreditava que deveríamos nos tornar subalternos, mas hoje somos um país que está há frente de grandes negociações”, enfatizou.
“A América Latina é melhor de todos os lugares, com território rico, multicultural, com uma população lutadora, tem a maior reserva hidrelétrica do mundo, a maior agricultura do mundo e , claro, o mercado industrial que mais cresce. Temos que valorizar nossas fronteiras, mesmo porque não temos grandes conflitos e as eleições no continente são democráticas”, ressaltou.
Já Celso Amorim afirmou durante a sua exposição que “nunca em 200 anos de história um presidente havia se preocupado com a América a Latina na história do mundo. Mas, o Brasil uniu a América Latina e se tornou uma grande potência”.
Amorim também destacou a unificação do continente comandada pelo Brasil. “Unificamos as realidades, não só de maneira solidária, mas de maneira enconômica. Antes, não havia vontade política, hoje há além disso, vontade que o mundo seja melhor e que todos tenham qualidade de vida suficiente, há um mundo multipolar. Não dependemos de uma só potência, temos relações com vários paises. No Haiti, por exemplo, além da segurança estamos na frente apoio de reconstrução do país, evitando mortes e levando a paz, tão necessitada no momento”, afirmou.
O chanceler brasileiro afirmou ainda que a prioridade das prioridades é a América Latina e destacou a importância do Brasil no cenário mundial. “O Brasil realmente é um ator global. Nossa agenda, ainda no Governo Lula, será extensa. Em abril trataremos dos Brics, o presidente ainda irá ao Oriente Médio, Palestina e em Israel e em maio no Irã. Além da reunião das civilizações que será realizada no Rio de Janeiro”.
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/institucional-3/marco-aurelio:-brasil-do-governo-lula-nunca-foi-subalterno-mas-sim-protagonista-3233.html
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, ressaltou o novo modo de agir nas questões externas. “A oposição dizia que deveríamos resolver os grandes problemas nossos e não nos preocupar com os problemas daqueles que precisavam de apoio. Que não deveríamos pensar na politica externa e sim pensar no Brasil internamente. Contudo, engana-se quem pensa que a América Latina não é fundamental para o Brasil. A oposição acreditava que deveríamos nos tornar subalternos, mas hoje somos um país que está há frente de grandes negociações”, enfatizou.
“A América Latina é melhor de todos os lugares, com território rico, multicultural, com uma população lutadora, tem a maior reserva hidrelétrica do mundo, a maior agricultura do mundo e , claro, o mercado industrial que mais cresce. Temos que valorizar nossas fronteiras, mesmo porque não temos grandes conflitos e as eleições no continente são democráticas”, ressaltou.
Já Celso Amorim afirmou durante a sua exposição que “nunca em 200 anos de história um presidente havia se preocupado com a América a Latina na história do mundo. Mas, o Brasil uniu a América Latina e se tornou uma grande potência”.
Amorim também destacou a unificação do continente comandada pelo Brasil. “Unificamos as realidades, não só de maneira solidária, mas de maneira enconômica. Antes, não havia vontade política, hoje há além disso, vontade que o mundo seja melhor e que todos tenham qualidade de vida suficiente, há um mundo multipolar. Não dependemos de uma só potência, temos relações com vários paises. No Haiti, por exemplo, além da segurança estamos na frente apoio de reconstrução do país, evitando mortes e levando a paz, tão necessitada no momento”, afirmou.
O chanceler brasileiro afirmou ainda que a prioridade das prioridades é a América Latina e destacou a importância do Brasil no cenário mundial. “O Brasil realmente é um ator global. Nossa agenda, ainda no Governo Lula, será extensa. Em abril trataremos dos Brics, o presidente ainda irá ao Oriente Médio, Palestina e em Israel e em maio no Irã. Além da reunião das civilizações que será realizada no Rio de Janeiro”.
Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/institucional-3/marco-aurelio:-brasil-do-governo-lula-nunca-foi-subalterno-mas-sim-protagonista-3233.html
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Que tal o primeiro ano do governo Obama?
The Nation, a principal publicação progressista norteamericana, submeteu o tema a várias pessoas. A pergunta era: Olhando para o primeiro ano do governo Obama, qual você considera que foi seu ponto mais alto? E qual seu momento de maior desapontamento?
Reproduzimos aqui duas dessas respostas, uma de Eduardo Galeano, outra do grande historiador norteamericano Howard Zinn, falecido há alguns dias, autor da principal história do povo dos EUA.
Galeano: “O mais poderoso prisioneiro do mundo”
O ponto mais alto foi a encarnação da luta contra o racismo, ainda vivo depois da longa luta pelos direitos civis e seu plano de reforma do sistema de saúde.
As maiores decepções:
- Guantanamo, uma desgraça universal.
- Afeganistão, um cálice envenenado, aceito e celebrado.
- Sua elevação do orçamento de guerra, ainda chamado, não se sabe por que, orçamento de defesa.
- Sua falta de resposta para a questão do clima e sua resposta subserviente para Wall Street, uma contradição capturada perfeitamente por um cartaz em manifestação popular na Conferência de Copenhagen: “Se o clima fosse um banco, já teria sido salvo”.
- Sua luz verde para os autores do golpe em Honduras, traindo as esperanças latinoamericanas por mudanças depois de um século e meio de golpes fabricados pelos norteamericanos contra a democracia em nome da democracia.
- Seus discursos recentes pregando a guerra, hinos dos futuros massacres pelo petróleo ou pela causa sagrada de governos extorsionistas, completamente divorciados dos discursos que o colocaram onde ele está agora.
Eu não sei. Talvez Barack Obama seja um prisioneiro. O mais poderoso prisioneiro do mundo. E talvez ele não se dê conta. Tanta gente está nas prisões.
Howard Zinn:
Eu estive procurando com dificuldade por algum momento alto. A única coisa que se parece um pouco a isso é sua retórica; eu não vejo nenhum momento alto nas suas ações e nas suas políticas.
Para falar de desapontamento, eu não fiquei terrivelmente desapontado porque eu não tinha muitas expectativas. Eu esperava que ele fosse um presidente democrata tradicional. Na política externa, isso é pouco diferente de um republicano – nacionalista, expansionista, imperial e belicista um tanto quanto o outro. Nesse sentido, não houve expectativa e não há desapontamento. Na política interna, os presidentes democratas tradicionalmente são mais reformistas, mais próximos dos sindicatos, mais dispostos a fazer aprovar leis favoráveis aos mais pobres – e isto é verdade para Obama. Mas as reformas democratas também sempre foram limitadas, cautas. E Obama não é exceção. Sobre o sistema de saúde, por exemplo, ele começou com um compromisso e quando você começa com um compromisso, termina com um compromisso do compromisso, que é onde estamos agora.
Eu considero que na área dos direitos constitucionais ele poderia er atuado melhor do que atuou. Esse é o maior desapontamento, porque Obama foi para a Faculdade de Direito de Harvard e é, supostamente, especialista em direitos constitucionais. Mas ele se tornou presidente e não está fazendo nenhum avanço significativo para além das políticas de Bush. Claro, ele continua falando de fechar Guantanamo, mas ele ainda trata os presos lá como “suspeitos de ser terroristas”. Eles não foram julgados e, portanto, não foram condenados. Então, quando o Obama se propõe a tirar gente de Guantánamo e colocá-los em outras prisões, ele não está avançando muito na causa dos direitos constitucional. E ele foi à Corte argumentando a favor das detenções preventivas ele está continuando a política de mandar suspeitos para países onde eles podem perfeitamente ser torturados.
Eu considero que o povo está fascinado pela retórica de Obama e que o povo precisa começar a entender que ele está se encaminhando para ser um presidente medíocre – o que significa, no nosso tempo, um presidente perigoso -, a menos que surja algum movimento nacional para pressioná-lo para uma direção melhor.
Reproduzimos aqui duas dessas respostas, uma de Eduardo Galeano, outra do grande historiador norteamericano Howard Zinn, falecido há alguns dias, autor da principal história do povo dos EUA.
Galeano: “O mais poderoso prisioneiro do mundo”
O ponto mais alto foi a encarnação da luta contra o racismo, ainda vivo depois da longa luta pelos direitos civis e seu plano de reforma do sistema de saúde.
As maiores decepções:
- Guantanamo, uma desgraça universal.
- Afeganistão, um cálice envenenado, aceito e celebrado.
- Sua elevação do orçamento de guerra, ainda chamado, não se sabe por que, orçamento de defesa.
- Sua falta de resposta para a questão do clima e sua resposta subserviente para Wall Street, uma contradição capturada perfeitamente por um cartaz em manifestação popular na Conferência de Copenhagen: “Se o clima fosse um banco, já teria sido salvo”.
- Sua luz verde para os autores do golpe em Honduras, traindo as esperanças latinoamericanas por mudanças depois de um século e meio de golpes fabricados pelos norteamericanos contra a democracia em nome da democracia.
- Seus discursos recentes pregando a guerra, hinos dos futuros massacres pelo petróleo ou pela causa sagrada de governos extorsionistas, completamente divorciados dos discursos que o colocaram onde ele está agora.
Eu não sei. Talvez Barack Obama seja um prisioneiro. O mais poderoso prisioneiro do mundo. E talvez ele não se dê conta. Tanta gente está nas prisões.
Howard Zinn:
Eu estive procurando com dificuldade por algum momento alto. A única coisa que se parece um pouco a isso é sua retórica; eu não vejo nenhum momento alto nas suas ações e nas suas políticas.
Para falar de desapontamento, eu não fiquei terrivelmente desapontado porque eu não tinha muitas expectativas. Eu esperava que ele fosse um presidente democrata tradicional. Na política externa, isso é pouco diferente de um republicano – nacionalista, expansionista, imperial e belicista um tanto quanto o outro. Nesse sentido, não houve expectativa e não há desapontamento. Na política interna, os presidentes democratas tradicionalmente são mais reformistas, mais próximos dos sindicatos, mais dispostos a fazer aprovar leis favoráveis aos mais pobres – e isto é verdade para Obama. Mas as reformas democratas também sempre foram limitadas, cautas. E Obama não é exceção. Sobre o sistema de saúde, por exemplo, ele começou com um compromisso e quando você começa com um compromisso, termina com um compromisso do compromisso, que é onde estamos agora.
Eu considero que na área dos direitos constitucionais ele poderia er atuado melhor do que atuou. Esse é o maior desapontamento, porque Obama foi para a Faculdade de Direito de Harvard e é, supostamente, especialista em direitos constitucionais. Mas ele se tornou presidente e não está fazendo nenhum avanço significativo para além das políticas de Bush. Claro, ele continua falando de fechar Guantanamo, mas ele ainda trata os presos lá como “suspeitos de ser terroristas”. Eles não foram julgados e, portanto, não foram condenados. Então, quando o Obama se propõe a tirar gente de Guantánamo e colocá-los em outras prisões, ele não está avançando muito na causa dos direitos constitucional. E ele foi à Corte argumentando a favor das detenções preventivas ele está continuando a política de mandar suspeitos para países onde eles podem perfeitamente ser torturados.
Eu considero que o povo está fascinado pela retórica de Obama e que o povo precisa começar a entender que ele está se encaminhando para ser um presidente medíocre – o que significa, no nosso tempo, um presidente perigoso -, a menos que surja algum movimento nacional para pressioná-lo para uma direção melhor.
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