*Por Leno Miranda
A cidade conhecida mundialmente
pelos romances de Jorge Amado se encontra numa situação caótica. Os serviços
públicos não funcionam bem, o servidores públicos municipais estão em greve
exigindo melhores salários e, o prefeito Jabes Ribeiro diz que a prefeitura
está falida. Curiosamente, este mesmo prefeito concedeu aumentos gigantescos
para os cargos de confiança, sem sequer abrir as contas para provar o quanto
poderia ou não gastar. Paralelo a estes fatos, o governo
federal concedeu desonerações fiscais às empresas de transporte urbano no
intuito de baratear as tarifas, porém o prefeito se omite desse debate,
obrigando assim que juventude, organizada como o movimento de nome Reúne Ilhéus, protagonize a
manifestação mais longa da história da cidade, acampados em frente a sede do
governo – o apoio massivo da população a esses jovens é claro e evidente. A
cidade está extremamente mal cuidada, dentre outras trapalhadas do poder
executivo. E, para fechar, a reprovação de Jabes passa da casa dos 80 %.
Frente a todos esses problemas,
comenta-se muito que isso talvez aconteça por que o prefeito tem como livro de
cabeceira “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel. Logo pensei que seria uma
daquelas brincadeiras, com um tom de verdade, que se faz para alguns políticos.
Fiquei relutante em acreditar. Não estou sendo contra a leitura de Maquiavel, a
questão é outra. Este autor teve a coragem de apontar, de forma direta, ações
que eram praticadas na política do momento – por volta do século XVI. É
importante lembrar que o livro não foi feito para ser publicado – pois se assim
o fosse, tenho minhas dúvidas se o conteúdo dos escritos seriam os mesmos . “O
Principe” foram, dentre outras coisas, conselhos para Lorenzo de Médici, dando
dicas de como se governar e se manter no poder. Por detrás desses conselhos, a
intenção de Maquiavel era de que com os escritos chegando à mão de Médici, ele,
Maquiavel, pudesse ser reconduzido à vida pública. Diante disso, esta obra se
coloca como um clássico para a ciência política e é leitura obrigatória nessa
área. Reafirmo: este livro não se resumia em “conselhos de
como se governar” – pontuava também a unificação da Itália, trás uma noção de
Estado, propõe dissociar a ética política da religiosa, dentre outras coisas
que não são o foco principal do que se está sendo abordado.
A questão é que, diante das
atitudes do prefeito – disseminar mentiras e o medo sobre o Reúne Ilhéus, bem
como em relação aos servidores em greve para tentar enfraquecê-los, tomar
posturas autoritárias e truculentas perante a estes, ser irredutível nos seus
posicionamentos, etc – fica denotado que Jabes pode estar cometendo um anacronismo – ou seja, querendo
implementar, nos mesmos moldes, algumas ideias, que foram de um tempo
autoritário, nos dias de hoje. Fato que para um acadêmico, que deve ter um
certo acúmulo teórico (pelo menos se pressupõe), seria um tanto quanto
embaraçoso. Por isso, torço para que essa afirmação sustentada por muitos não
seja verdade.
Não é que a consulta de certos
teóricos não podem contribuir na atuação prática. Mas, consultar Maquiavel,
para poder agir de forma parecida das como ele aconselha para governar – sendo
que o mesmo não vivia e nem aponta o
viés democrático – é no mínimo a prova que Jabes já perdeu o time da política e de que ele deve estar
perdido no tempo e no espaço.
Da mesma forma, torço para que
ele mude de postura – fará bem para ele e, mais ainda, para a população. Jabes
não é um político inexperiente. Ele precisa entender, como muitos prefeitos o
fizeram – ou pelo menos tentaram demonstrar isso depois que as
manifestações tomaram as ruas do país – que é um servidor público que
tem como seus chefes o povo da cidade que governa. Ele deve ouvir a voz que vem
das ruas, que não aceita mais falta de transparência, descaso, truculência, má
gestão, descaso com os serviços públicos e o favorecimento indiscriminado ao
empresariado – a exemplo do que acontece com o setor de transportes.
Esta brava juventude do Reúne
Ilhéus já cravou este movimento na história. Elas e eles estão doando sua força
e seus dias para lutar por políticas publicas que beneficiem de fato o povo de
Ilhéus – completando hoje, dia 1º de agosto de 2013, 17 dias acampados à frente
da prefeitura, o maior e mais longo protesto que Ilhéus já viu. Da mesma forma,
Jabes Ribeiro tem seu nome cravado na história: como o gestor público que mais favoreceu
ao empresariado do transporte municipal, dando direito a que este setor possa
ter reajustes anuais por mais de duas décadas. O prefeito poderia aproveitar o
momento para mudar a história que será contada em relação a ele: de também ser
a pessoa que percebeu que se deve governar de fato para o povo, reduzir a
tarifa de ônibus, acabar com os reajustes anuais para o setor,
melhorar visivelmente os serviços públicos oferecidos à população e,
conceder o tão esperado aumento para os servidores municipais. Caso contrário,
suas gerações futuras carregarão para todo sempre este peso negativo nas
costas.
Muitos devem
estar se perguntando: eu entendi a crítica apontada em relação ao anacronismo,
mas onde entra a “boa gestão” citada no título do texto?
Com tudo que foi dito, fica
nítido que a gestão municipal não esta ruim... ela está péssima! Porém, no
governo atual, Jabes mantém uma
coerência em relação as suas gestões passadas: favorecer uma minoria e
deixar o povo à deriva. É neste sentido que aponto a “boa gestão”. Ela está “sendo
boa” para quem ele sempre governou, mas não para o povo que é quem mais
precisa. Inclusive, acredito eu, que o atual mandato dele não está servindo nem
para benefício próprio, pois a reprovação beira os 100 %, o deixando quase como
inimigo público número um.
Desta forma – não podia ser
diferente do que aconteceu em Itabuna, onde o único voto contra o aumento das
passagens no Conselho de Transporte foi nosso – o Diretório Central dos
Estudantes da UESC, DCE Livre Carlos Marighella, reafirma o total apoio as
pautas do Reúne Ilhéus, principalmente na luta pela redução da tarifa de ônibus
para R$ 2,00; conclama a população ajudar ainda mais nesta luta que trará benefício
a todas e todos ilheenses; bem como apoia a valorização do servidor público
municipal nos seus diversos aspectos, inclusive no salarial. Esta luta é de
todas e todos nós!!! Por isso, a região e o Brasil observam atentos os
desdobramentos decorrentes da intransigência do então prefeito da terra de Gabriela
. Tudo isso faz com que Ilhéus se Reúna
cada vez mais!!!
Há braços de luta!!!
(*) Leno Miranda é
estudante de Ciências Sociais e atual Presidente do DCE da UESC