quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Em meio a um possível anacronismo e uma “boa gestão”, Ilhéus se Reúne



*Por Leno Miranda

A cidade conhecida mundialmente pelos romances de Jorge Amado se encontra numa situação caótica. Os serviços públicos não funcionam bem, o servidores públicos municipais estão em greve exigindo melhores salários e, o prefeito Jabes Ribeiro diz que a prefeitura está falida. Curiosamente, este mesmo prefeito concedeu aumentos gigantescos para os cargos de confiança, sem sequer abrir as contas para provar o quanto poderia ou não gastar. Paralelo a estes fatos, o governo federal concedeu desonerações fiscais às empresas de transporte urbano no intuito de baratear as tarifas, porém o prefeito se omite desse debate, obrigando assim que juventude, organizada como o movimento de nome Reúne Ilhéus, protagonize a manifestação mais longa da história da cidade, acampados em frente a sede do governo – o apoio massivo da população a esses jovens é claro e evidente. A cidade está extremamente mal cuidada, dentre outras trapalhadas do poder executivo. E, para fechar, a reprovação de Jabes passa da casa dos 80 %.

Frente a todos esses problemas, comenta-se muito que isso talvez aconteça por que o prefeito tem como livro de cabeceira “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel. Logo pensei que seria uma daquelas brincadeiras, com um tom de verdade, que se faz para alguns políticos. Fiquei relutante em acreditar. Não estou sendo contra a leitura de Maquiavel, a questão é outra. Este autor teve a coragem de apontar, de forma direta, ações que eram praticadas na política do momento – por volta do século XVI. É importante lembrar que o livro não foi feito para ser publicado – pois se assim o fosse, tenho minhas dúvidas se o conteúdo dos escritos seriam os mesmos . “O Principe” foram, dentre outras coisas, conselhos para Lorenzo de Médici, dando dicas de como se governar e se manter no poder. Por detrás desses conselhos, a intenção de Maquiavel era de que com os escritos chegando à mão de Médici, ele, Maquiavel, pudesse ser reconduzido à vida pública. Diante disso, esta obra se coloca como um clássico para a ciência política e é leitura obrigatória nessa área. Reafirmo: este livro não se resumia em “conselhos de como se governar” – pontuava também a unificação da Itália, trás uma noção de Estado, propõe dissociar a ética política da religiosa, dentre outras coisas que não são o foco principal do que se está sendo abordado.

A questão é que, diante das atitudes do prefeito – disseminar mentiras e o medo sobre o Reúne Ilhéus, bem como em relação aos servidores em greve para tentar enfraquecê-los, tomar posturas autoritárias e truculentas perante a estes, ser irredutível nos seus posicionamentos, etc – fica denotado que Jabes pode estar  cometendo um anacronismo – ou seja, querendo implementar, nos mesmos moldes, algumas ideias, que foram de um tempo autoritário, nos dias de hoje. Fato que para um acadêmico, que deve ter um certo acúmulo teórico (pelo menos se pressupõe), seria um tanto quanto embaraçoso. Por isso, torço para que essa afirmação sustentada por muitos não seja verdade. 

Não é que a consulta de certos teóricos não podem contribuir na atuação prática. Mas, consultar Maquiavel, para poder agir de forma parecida das como ele aconselha para governar – sendo que o mesmo não vivia e nem aponta o viés democrático – é no mínimo a prova que Jabes já perdeu o time da política e de que ele deve estar perdido no tempo e no espaço. 

Da mesma forma, torço para que ele mude de postura – fará bem para ele e, mais ainda, para a população. Jabes não é um político inexperiente. Ele precisa entender, como muitos prefeitos o fizeram – ou pelo menos tentaram demonstrar isso depois que as manifestações tomaram as ruas do país – que é um servidor público que tem como seus chefes o povo da cidade que governa. Ele deve ouvir a voz que vem das ruas, que não aceita mais falta de transparência, descaso, truculência, má gestão, descaso com os serviços públicos e o favorecimento indiscriminado ao empresariado – a exemplo do que acontece com o setor de transportes.

Esta brava juventude do Reúne Ilhéus já cravou este movimento na história. Elas e eles estão doando sua força e seus dias para lutar por políticas publicas que beneficiem de fato o povo de Ilhéus – completando hoje, dia 1º de agosto de 2013, 17 dias acampados à frente da prefeitura, o maior e mais longo protesto que Ilhéus já viu. Da mesma forma, Jabes Ribeiro tem seu nome cravado na história: como o gestor público que mais favoreceu ao empresariado do transporte municipal, dando direito a que este setor possa ter reajustes anuais por mais de duas décadas. O prefeito poderia aproveitar o momento para mudar a história que será contada em relação a ele: de também ser a pessoa que percebeu que se deve governar de fato para o povo, reduzir a tarifa de ônibus, acabar com os reajustes anuais para o setor, melhorar visivelmente os serviços públicos oferecidos à população e, conceder o tão esperado aumento para os servidores municipais. Caso contrário, suas gerações futuras carregarão para todo sempre este peso negativo nas costas.

Muitos devem estar se perguntando: eu entendi a crítica apontada em relação ao anacronismo, mas onde entra a “boa gestão” citada no título do texto? 

Com tudo que foi dito, fica nítido que a gestão municipal não esta ruim... ela está péssima! Porém, no governo atual, Jabes mantém uma coerência em relação as suas gestões passadas: favorecer uma minoria e deixar o povo à deriva. É neste sentido que aponto a “boa gestão”. Ela está “sendo boa” para quem ele sempre governou, mas não para o povo que é quem mais precisa. Inclusive, acredito eu, que o atual mandato dele não está servindo nem para benefício próprio, pois a reprovação beira os 100 %, o deixando quase como inimigo público número um.

Desta forma – não podia ser diferente do que aconteceu em Itabuna, onde o único voto contra o aumento das passagens no Conselho de Transporte foi nosso – o Diretório Central dos Estudantes da UESC, DCE Livre Carlos Marighella, reafirma o total apoio as pautas do Reúne Ilhéus, principalmente na luta pela redução da tarifa de ônibus para R$ 2,00; conclama a população ajudar ainda mais nesta luta que trará benefício a todas e todos ilheenses; bem como apoia a valorização do servidor público municipal nos seus diversos aspectos, inclusive no salarial. Esta luta é de todas e todos nós!!! Por isso, a região e o Brasil observam atentos os desdobramentos decorrentes da intransigência do então prefeito da terra de Gabriela . Tudo isso  faz com que Ilhéus se Reúna cada vez mais!!!

Há braços de luta!!!

(*) Leno Miranda é estudante de Ciências Sociais e atual Presidente do DCE da UESC