terça-feira, 30 de novembro de 2010

COMO O PSDB RECUOU DO IMPEACHMENT EM 2005



LULA MANDOU AVISAR:
'ELES NÃO SABEM O QUE VAI ACONTECER NESTE PAÍS'

"...Este país já tinha criado as condições para o Getúlio Vargas se matar, este país já tinha ameaçado não deixar Juscelino competir (...) Depois, este país cassou o João Goulart. Eu falei: o que eles vão aprontar comigo? E eles tentaram, em 2005, eles tentaram, em 2005. Só que eles não sabiam que, pela primeira vez, este país tinha eleito um presidente que era a encarnação do povo lá em Brasília.... E, aí, nós fomos para a rua e eles perceberam ... Eu lembro de uma vez que o Sarney foi conversar comigo, eu falei: “Presidente Sarney, eu só quero que o senhor diga lá dentro, para os senadores, o seguinte: se eles tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer neste país. Este país teve presidente que foi embora, este país teve presidente que se matou, este país teve presidente que foi cassado e saiu do Palácio. Eu, eles vão saber que eu sou diferente. Eles vão saber, eles vão saber, eles vão saber que não é o Lula que está na Presidência, eles vão saber que a classe trabalhadora brasileira é que chegou à Presidência da República..." (Presidente Lula, em discurso no Maranhã; 01-12)

Fonte: Carta Maior

Vazamento do Wikileaks causa mais constrangimento do que riscos aos EUA, dizem analistas

30/11/2010 - 07:44 | Carolina Cimenti | Nova York

A revelação pelo Wikileaks dos mais de 250 mil relatórios produzidos por funcionários do governo norte-americano em todo o mundo entre 2003 e fevereiro de 2010 provocou um desconforto diplomático internacional, porém, não terá qualquer impacto na segurança de funcionários dos Estados Unidos ao redor do mundo, na opinião de especialistas entrevistados pelo Opera Mundi.

A afirmação contraria o que a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton e congressistas dos EUA disseram ontem (29/11) após o escândalo, que os fundadores da organização “têm as mãos sujas de sangue por criarem riscos a diplomatas e agentes de inteligência”. O senador Peter King chegou a pedir a Hillary que inclua o Wikileaks na lista de terroristas internacionais.

Para Stephen Zunes, professor de Política Internacional na Universidade de São Francisco, os documentos e vídeos publicados anteriormente pelo mesmo site, falando sobre segredos de guerra no Afeganistão e no Iraque, eram muito mais perigosos para a segurança das pessoas envolvidas e que “dessa vez, se criou uma situação desconfortável para o governo e seus diplomatas, mas não coloca ninguém em risco.”

Leia mais:
EUA condenam vazamento de documentos pelo Wikileaks
Wikileaks: embaixador dos EUA diz que golpe em Honduras 'foi ilegal'
Países árabes e Israel pediram aos EUA que atacassem Irã, diz Wikileaks
Wikileaks: em troca de abrigo a presos de Guantánamo, EUA ofereceram visita de Obama e dinheiro

Alison Peters, professora de Relações Internacionais da Universidade de Nova York e especialista em diplomacia, contou que mais de 500 mil pessoas tinham acesso aos documentos diplomáticos confidenciais que foram publicados pelo Wikileaks. "Depois dos atentados de 11 de setembro, ficou claro que o grande erro da inteligência e da diplomacia norte-americana foi a falta de comunicação entre as agências. Para remediar esse problema, foi criado um novo: a falta de segurança para informações confidenciais."

"Se você tem um segredo e quase um milhão de pessoas têm acesso irrestrito a ele, já não é mais um segredo", disse.

Zunes passou os últimos anos pesquisando arquivos diplomáticos em Washington. Segundo ele, o que foi publicado pelo Wikileaks é muito parecido com o que lê diariamente. "No entanto, eu pesquiso documentos com pelo menos 30 anos de idade, e com o tempo o impacto é bem menor. Ler esse tipo de comentários feitos por diplomatas que ainda são embaixadores e ainda estão nos países onde esses comentários foram feitos, cria uma situação infinitamente mais delicada.”

Para os especialistas é evidente que algumas regras terão que mudar a partir de agora. "Nem tudo está perdido. Entre as informações que vazaram não há nada classificado como 'top secret'. Mesmo assim, é uma situação extremamente embaraçosa para o governo. Imagino que um sistema paralelo, com menos participantes, terá que ser criado para evitar que isso se repita no futuro", afirmou Peters.

"Existe uma série de diplomatas furiosos com o governo, principalmente o anterior, do ex-presidente George W. Bush, por tê-los obrigado a cumprir algumas funções de inteligência, reunindo informações especiais", explicou Zunes. "De certa forma, a publicação desses documentos é ainda uma reação contra o ex-presidente, por ele ter mentido tanto para justificar suas ações, como a guerra no Iraque.”

Leia mais:
Justiça da Suécia confirma ordem de prisão para fundador de Wikileaks
Análise: Uma guerra ao Wikileaks?
Justiça sueca retira ordem de prisão contra fundador do Wikileaks
ESPECIAL: Escândalo do Wikileaks reativa debate sobre a guerra no Iraque
Eleição legislativa nos EUA pode mudar os rumos da política no país
Documentos dos EUA revelam mortes de civis e missões secretas no Afeganistão
Wikileaks: Militares dos EUA mataram 680 civis iraquianos em postos de controle

Reduzindo o impacto

O governo norte-americano passou toda a segunda-feira tentando remediar o embaraço criado. Hillary afirmou que a publicação de 250 mil documentos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA não representa somente um ataque à diplomacia do país, mas sim à toda a comunidade internacional. Ela também relatou que encontrou bom humor em uma conversa realizada com o oficial de um outro país, quando ele disse: "Não se preocupe, você não pode imaginar o que nós falamos de vocês".

Porém, entre diplomatas estrangeiros nos EUA, o dia foi de silêncio total. Além de duas ou três linhas oficiais demonstrando apoio ao governo dos EUA, diplomatas não quiseram comentar as informações publicadas. Opera Mundi contatou as embaixadas do Reino Unido, Arábia Saudita, Rússia, Itália e França, mas nenhuma delas quis comentar o vazamento.

O porta-voz da embaixada paquistanesa em Washington, Abdul Basit, afirmou que seu país não considera verdadeiros os arquivos do Wikileaks. "A veracidade desses documentos ainda deve ser comprovada". Basit negou que Islamabad tenha vendido ou transportado material nuclear ao Irã, conforme diz um dos arquivos vazados no domingo. "O nosso programa de energia nuclear existe desde os anos 1960 e ninguém, além dos engenheiros paquistaneses, pode tocá-lo", disse Basit, que não quis falar sobre os supostos comentários negativos do rei saudita Abdullah sobre o presidente paquistanês. "O Paquistão e a Arábia Saudita têm uma relação de respeito e irmandade, esse documento não vai modificar isso", concluiu.

Espionagem na ONU

Uma das afirmações mais delicadas para Washington foi a de que Hillary Clinton teria pedido a diplomatas na ONU (Organização das Nações Unidas) que investigassem o secretário-geral da organização, Ban Ki Moon, e outros alto funcionários. Em um comunicado oficial, a ONU também levantou dúvidas sobre a veracidade dos documentos, mas lembrou que a convenção que estipulou a criação da organização garante imunidade e privilégios.

A assistente do porta-voz de Ban Ki Moon, Eri Kaneko, disse que a ONU planeja realizar uma investigação rigorosa para descobrir se as informações vazadas pelo Wikileaks são verdadeiras. Kaneko não quis comentar o que a ONU planeja fazer depois disso, caso as informações sejam comprovadas.


Fonte: http://operamundi.uol.com.br/noticias/VAZAMENTO+DO+WIKILEAKS+CAUSA+MAIS+CONSTRANGIMENTO+DO+QUE+RISCOS+AOS+EUA+DIZEM+ANALISTAS_7912.shtml

Aula de imperialismo contemporâneo

30/11/2010

Por Emir Sader

Os EUA se tornaram uma potência imperial na disputa pela sucessão da Inglaterra como potência hegemônica, com a Alemanha. As duas guerras mundiais – tipicamente guerras interimperialistas, pela repartição do mundo colonial entre as grandes potências, conforme a certeira previsão de Lenin – definiram a hegemonia norteamericana à cabeça do bloco de forças imperialistas.

No final da Segunda Guerra, os EUA tiveram que compartilhar o mundo com a URSS – a outra superpotência, não por seu poderio econômico, mas militar, que lhe dava uma paridade política. Foi o período denominado de “guerra fria”, que condicionava todos os conflitos em qualquer zona do mundo, que terminavam redefinidos no seu sentido no marco do enfrentamento entre os dois grandes blocos que dominavam a cena mundial.

Nesse período os EUA consolidaram seu poderio como gendarme mundial, poder imperial que tinha se iniciado na América Latina e o Caribe e que se estendeu pela Europa, Asia e Africa. Invasões, ocupações, golpes militares, ditaduras – marcaram a trajetória imperial norteamericana. Montaram o mais gigantesco aparelho de contra inteligência, acoplado a um monstruoso aparato militar.

Terminada a guerra fria, com a desaparição de um dos campos e a vitória do outro, esses mecanismos não foram desmontados. A OTAN, nascida supostamente para deter o “expansionismo soviético”, não foi desmontada, mas reciclada para combater os novos inimigos: o “terrorismo”, o “islamismo”, o “narcotráfico”, etc.

Os documentos publicados confirmam tudo o que os aparentemente paranoicos difundiam sobre os planos e as ações dos EUA no mundo. Eles são a única potência global, aquela que tem interesses em qualquer parte do mundo e, se não os tem, os cria. Que pretende zelar pela ordem norteamericana no mundo, a todo preço – com ameaças, ataques, difusão de noticias falsas, ocupações, etc., etc.

Qualquer compreensão do mundo contemporâneo que não leve em conta, como fator central a hegemonia imperial norteamericana, não capta o essencial das relações de poder que regem o mundo. A leitura dos documentos é uma aula sobre o imperialismo contemporâneo.



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=632

Imperialismo dos EUA está em xeque, diz vice do Parlasul

A Comissão de Relações Exteriores da Câmara vai debater a situação gerada pelo vazamento de documentos secretos da diplomacia norte-americana no site WikiLeaks. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR), vice-presidente do Parlamento do Mercosul (Parlasul), defendeu uma análise detalhada do problema pelo colegiado. “O vazamento dos documentos é um fato extraordinário, que mexe com a hegemonia política dos EUA e põe em xeque o imperialismo norte-americano”, diz o parlamentar.

“Mas é preciso cautela, para separar o que é achismo e o que é fato real, como a atuação dos EUA para desestabilizar regimes ou pessoas públicas que contrariem ou questionem os interesses de Washington”, disse o parlamentar.

O site WikiLeaks divulgou 251.287 documentos secretos que revelam os bastidores das diplomacia dos EUA. Entre os arquivos, pelo menos 1.947 referem-se ao Brasil, com base em informações enviadas pela embaixada dos EUA no país.

Há, no conjunto do material, despachos de embaixadas e consulados, transcrições de conversas entre autoridades, ordens internas e outros registros. O vazamento histórico foi condenado pelo governo norte-americano, que acusou o site de “colocar em risco vidas de americanos e aliados” do país.

Golpe em Honduras

O deputado Dr. Rosinha chamou a atenção para o fato de que um dos documentos revela que Washington não tem dúvida de que em Honduras, em junho de 2009, houve um golpe de Estado contra o então presidente, Manuel Zelaya.

Diz um trecho que “os militares, a Corte Suprema e o Congresso Nacional conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra o Executivo”. “Não há dúvida de que deste nossa perspectiva de que a chegada ao poder de Roberto Micheletti foi ilegítima”. Em outro trecho, “…os argumentos apresentados por Micheletti e pelos militares e políticos golpistas “não tem nenhuma validez substancial” e agrega que “algumas são abertamente falsas”.

O parlamentar do PT assinalou que o vazamento deixou clara a legitimidade da condenação do golpe em Honduras pelo governo Lula , que foi criticado pela mídia e pela oposição brasileira, além de seus aliados direitistas da América Latina e dos EUA. “Como é que ficam esses setores agora, diante de uma informação importante como esta?”, questionou Dr. Rosinha.

No caso do Brasil, conforme publicou a Folha de S. Paulo, um dos documentos diz que a Polícia Federal “frequentemente prende pessoas ligadas ao terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não relacionados a terrorismo para evitar chamar a atenção da imprensa e dos altos escalões do governo”. O trecho do documento secreto é de 8 de janeiro de 2008 e foi escrito pelo então embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Clifford Sobel.

Para o vice-presidente do Parlasul, o vazamento poderá mudar a história da diplomacia mundial. “O debate sobre essa enorme quantidade de documentos poderá ter implicações na forma diplomacia e na política externa dos EUA, a depender da extensão e comprovação do teor dos documentos”, disse o deputado.



Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/imperialismo-dos-eua-esta-em-xeque-diz-vice-do-parlasul

Saudades do Império e de Bob Fields

No "Fórum da Liberdade", dividindo palco com elogios ao liberalismo, o príncipe Bertrand de Orleans e Bragança estrela seminário em defesa das “liberdades”. Texto e foto: Felipe Corazza

Logo na chegada a Belo Horizonte, pelo caminho que sai do aeroporto de Confins, um outdoor gigante informa: “Surge um novo líder”. Antonio Anastasia, governador eleito do estado. O imenso cartaz é pago pela prefeitura da vizinha Vespasiano. O “novo líder” é um dos participantes ilustres do Fórum da Liberdade – MG, promovido na capital mineira pelo Instituto Millenium e pelo Instituto de Estudos Empresariais na segunda-feira 22.

Na companhia do advogado Ives Gandra Martins, da senadora ruralista Kátia Abreu, do “príncipe” dom Bertrand de Orleans e Bragança e de outros palestrantes, Anastasia é a segunda atração do cardápio. A primazia na abertura fica para Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, agraciado com o Prêmio Liberdade. O comitê que decide o destino da honraria é do próprio fórum. Acompanhado por seguranças e assessores, Civita chega ao hotel. Um assessor espana-lhe as caspas do paletó, antes da entrada no saguão.

A caminho da sala vip, Civita há de ter notado certos detalhes. Alguns indicavam que a militância da direita aprendeu com a esquerda. A banquinha de camisetas, CDs, adesivos e outros badulaques – indispensável em qualquer evento progressista – ocupa um canto na entrada do Fórum. Mas, no lugar de camisetas com imagens de Che Guevara, pode-se adquirir uma com a efígie de Roberto Campos, ex-ministro e embaixador da ditadura. Generosamente e atenta à evocação histórica, a camiseta cuida de apresentar Campos como Bob Fields, apelido que ganhou por sua afeição às ideias americanas.

Um grupo de jovens, que se autointitulam anarco-liberal, distribui panfletos e um teste para quem quer descobrir sua real posição política. Um dos jovens critica o próprio Fórum: “Os verdadeiros defensores da liberdade não estão aqui”.

Enquanto isso, na entrada do hotel Mercure, manobristas estacionam Mercedes, Porsches e Lexus. De vez em quando, um carro popular. Pouco antes da abertura do evento circulam pelo saguão, fardados e portando crachá vip, dois representantes do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar mineira. Junta-se a eles na expectativa o ex-senador tucano Eduardo Azeredo. Um terceiro fardado chega em carro oficial da corporação. Apesar de ser uma viatura dos bombeiros, o veículo – identificado pelo código CBMG 0493 – é tranquilamente entregue ao manobrista.

Todos acomodados, começa o evento. Discursam os fundadores do Instituto de Estudos Empresariais, Silvia Araújo e Felipe Quintana. Ambos criticam o Estado, o “excesso de regulação”, a “burocracia ineficaz” e os “impostos absurdos”. Terminada a sessão, Civita sobe ao palco para receber o prêmio.

No discurso de agradecimento, loas ao empresariado, e mais algumas palavras mornas. O tom de voz grave, porém manso, altera-se um pouco apenas no final, quando entram na pauta as tentativas de regulação da mídia. São ameaças à liberdade, diz, para satisfação dos presentes. A peroração chega ao ápice com uma citação a Adam Smith: para o boss da Abril, a “mão invisível” do mercado há de regular a mídia. É aplaudido de pé, inclusive pela empolgada espectadora que, segundos depois, vira-se para um repórter e pergunta: “Esse aí que falou, quem é mesmo?”

Sucede a Civita no palco o governador Anastasia. É a primeira voz no recinto a defender um Estado forte – por motivos óbvios. Mas, para não perder totalmente o apoio da plateia, prega uma mudança radical nas estruturas burocráticas, profissionalização e eficácia. Governador da terra da Inconfidência, ele não se esquece da presença, entre os espectadores, de um herdeiro da família real, a quem faz uma saudação de súdito fiel: “Sua Alteza”.

“Sua Alteza” está no fórum para participar do painel Reforma Agrária: Progresso ou retrocesso. Vestido com apuro e com os cabelos grisalhos impecavelmente penteados, o autoproclamado nobre é acompanhado na tarefa pela senadora ruralista Kátia Abreu e pelo professor José Ambrósio Ferreira Neto, coordenador do Movimento Paz no Campo.

Neto é o primeiro a falar. Defende a reforma agrária “nos termos em que está na Constituição”. Quando diz que a reforma é um avanço, especialmente contra os latifúndios improdutivos, discretos protestos surgem entre o público, talvez vindos da plateia anarco-liberal. E o professor cede lugar no palco ao “príncipe”.

Bertrand começa por desautorizar a Carta Magna. Pudera, é a base da República. Para ele, a reforma agrária, “por mais que esteja na Constituição, é contra o direito natural. A propriedade privada é um direito natural que antecede o Estado”. Contra o argumento das terras improdutivas, a lógica é peculiar: “Se todos os produtores plantarem em 100% das terras, faltarão bocas para comer tanto alimento”. Em momento de humor, Bertrand arranca aplausos da plateia, ao chamar de “TerraBras” o programa de auxílio à agricultura familiar. Ao classificar os assentamentos de “favelas rurais”, vai adiante: “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, logo, inteligente e capaz de decidir. O Estado não pode decidir o que o homem vai plantar ou fazer com suas terras”. Aplausos efusivos.

A senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, soa ponderada ao assumir o microfone depois de “Sua Alteza”. Agradece o convite, evoca Azeredo, “que insistiu tanto” para que ela fosse a Belo Horizonte para o Fórum. A senadora não renega a reforma agrária, apenas exige que seja feita dentro “das regras estabelecidas”. Segue a mesma linha de dom Bertrand e elogia o direito de propriedade, ao qual atribui uma “origem maravilhosa”, e ataca o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra: “O MST usa a bandeira da reforma agrária como pretexto para uma bandeira revolucionária”.

Já se encaminhando para o fim do discurso, a senadora faz uma revelação bombástica para a plateia liberal: “Tenho lido sistematicamente Gramsci, para entender os que pensam diferente de mim”. As gargalhadas do distinto público quase impedem que Kátia Abreu termine a frase. Findo o libelo da senadora, o ex-presidente e príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso prepara-se para subir ao palco e palestrar no encerramento do Fórum da Liberdade. Lá fora, os manobristas agitam-se em aquecimento para a trabalheira que se anuncia.



Fonte: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/saudades-do-imperio-e-de-bob-fields

Wikileaks: documento diz que MST e movimentos sociais são obstáculos a lei antiterrorismo no Brasil

30/11/2010 - 13:00 | Marina Terra




Um documento elaborado em novembro de 2008 pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, cita o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e os movimentos socias como obstáculos à criação de uma lei antiterrorismo no Brasil.

O texto menciona o analista de inteligência estratégica na Escola Superior de Guerra André Luis Woloszyn (citado no documento como "Soloszyn"), que, em conversa com Sobel, disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "repleto de militantes esquerdistas que tinham sido alvos de leis da era da ditadura militar criadas para reprimir a violência politicamente motivada", dificilmente promulgaria uma lei que poderia enquadrar atos de grupos com os quais simpatiza, pois "não existe maneira de redigir uma legislação antiterrorismo que exclua as ações do MST".

Além disso, a mensagem vazada pelo Wikileaks afirma que Brasília voltou atrás no desenvolvimento de uma legislação antiterrorismo por razões "políticas".

O MST ainda não se pronunciou sobre o assunto. De acordo com a assessoria de imprensa do movimento, o tema não foi debatido internamente.

A divulgação de mensagens das embaixadas e consulados dos EUA pelo mundo causaram grande constrangimento à diplomacia da Casa Branca. Foram numerosos os casos de críticas a dirigentes de vários países, escritas por representantes dos EUA ao redor do mundo, que se tornaram públicos.

Clique aqui para acessar o texto divulgado pelo Wikileaks.

De acordo com Soloszyn, poucos no governo e no Congresso brasileiro dão atenção para o tema do terrorismo, assim como para a existência de "potenciais bolsões de extremismo islâmico entre segmentos da grande comunidade muçulmana brasileira".

Leia mais:
EUA condenam vazamento de documentos pelo Wikileaks
Wikileaks: embaixador dos EUA diz que golpe em Honduras 'foi ilegal'
Países árabes e Israel pediram aos EUA que atacassem Irã, diz Wikileaks
Documentos revelam que Itamaraty é considerado inimigo da política dos EUA
Wikileaks: em troca de abrigo a presos de Guantánamo, EUA ofereceram visita de Obama e dinheiro

O analista brasileiro ainda sugere que o único fator que poderia modificar a "indiferença" com relação ao tema do terrorismo seria outra onda de violência como a que foi desencadeada no estado de São Paulo em 2006 pelo grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital).

Na época em que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) elaborou anteprojeto de lei que trata dos crimes terroristas e de seu financiamento em território brasileiro, adversários da lei, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), se pronunciaram.

Foi o caso do então presidente da organização, Cézar Britto, que afirmou em 2008 que a lei oferecia risco de restringir direitos humanos. “O problema de uma lei que não define o que é terrorismo é que ela pode ser aplicada em várias ações. Se não há uma definição clara do crime a ser punido, corre-se o risco de transformar em ato terrorista qualquer greve ou manifestação em que ocorra alguma ação de violência não prevista”.

Sem consenso

Sobel também conversou com José Antonio de Macedo Soares, secretário-assistente do Secretariado de Monitoramento e Estudos Institucionais do GSI, e o assessor do GSI Janer Tesch Hosken Alvarenga, que afirmaram ser "impossível" chegar a um consenso no governo em relação à definição de terrorismo. Alvarenga é quem disse a Sobel que a decisão de derrubar a proposta de uma legislação antiterrorismo foi "política".

Leia mais:
Análise: Uma guerra ao Wikileaks?
Justiça sueca retira ordem de prisão contra fundador do Wikileaks
Escândalo do Wikileaks reativa debate sobre a guerra no Iraque
Documentos dos EUA revelam mortes de civis e missões secretas no Afeganistão
Wikileaks: Militares dos EUA mataram 680 civis iraquianos em postos de controle

"Quando lhe foi pedido que confirmasse notícia publicada no jornal diário Correio Braziliense dando conta de que a ministra Dilma Rousseff (chefe-de-gabinete do presidente Lula na Casa Civil) teria derrubado a proposta, Alvarenga tergiversou, sugerindo que vários 'clientes' teriam contribuído para a decisão, incluindo o Ministério da Justiça. No final, ele não negou o relato do jornal, afirmando que a decisão tinha sido 'política'", detalha o documento elaborado pelo funcionário norte-americano.

Conclusão dos EUA

Após abordar o tema com funcionários do governo brasileiro, Sobel diz ser "lamentável" a falta de apoio a uma legislação antiterrorismo no Brasil e considera "plausível" a hipótese de que o impedimento ao desenvolvimento da lei tenha partido da Casa Civil.

"Tirando algumas agências voltadas a questões de segurança, este governo evidencia muito pouco interesse por questões ligadas ao terrorismo, muito menos por legislação que sua base de apoio não tem interesse em ver promulgada e que exigiria capital político considerável para ser aprovada no Congresso".

Para Sobel, o Brasil desenvolve uma abordagem "Al Capone" (mafioso que fez fortuna traficando bebidas nos EUA durante o período de vigência da Lei Seca, nos anos 1930, e foi condenado apenas por sonegação de impostos) contra o terrorismo, ao enquadrar " os terroristas com base em violações alfandegárias, fraude fiscal e outros crimes que, infelizmente, incorrem em penas de prisão menores".


Fonte: http://operamundi.uol.com.br/noticias/WIKILEAKS+DOCUMENTO+DIZ+QUE+MST+E+MOVIMENTOS+SOCIAIS+SAO+OBSTACULOS+A+LEI+ANTITERRORISMO+NO+BRASIL_7924.shtml

“Hay una demonización de Chávez”

Há uma demonização de Chávez. Isto é fato. Por isso começo esta publicação com as aspas do jornalista e escritor Eduardo Galeano, autor de “As veias abertas da América Latina”. Gaelano era um dos autores censurados no Brasil durante a Ditadura.

Em entrevista ao Jornal El País, ele afirma: “Antes Cuba era la mala de la película, ahora ya no tanto. Pero siempre hay algún malo. Sin malo, la película no se puede hacer. Y si no hay gente peligrosa, ¿qué hacemos con los gastos militares? El mundo tiene que defenderse. El mundo tiene una economía de guerra funcionando y necesita enemigos. Si no existen los fabrica. No siempre los diablos son diablos y los ángeles, ángeles. Es un escándalo que hoy, cada minuto, se dediquen tres millones de dólares en gastos militares, nombre artístico de los gastos criminales. Y eso necesita enemigos. En el teatro del bien y del mal, a veces son intercambiables como pasó con Sadam Husein, un santo de Occidente que se convirtió en Satanás”.

Uso Galeano como base para uma interpretação heterodoxa dos vídeos que se seguem. Nós, filhos do oligopólio midiático, temos medo de falar sobre Chávez. Do mesmo modo que muitos temiam (e ainda receiam) dizer que apoiam a terrorista-mor e comedora de criancinhas senhora Dilma Rousseff. Vivenciamos o império das agressões. No entanto, nesta entrevista para o programa “Hard Talk”, da BBC, foi de outro império que falou Chávez ao abrir o estômago ulcerígeno do jogo político internacional. “Hard” mesmo foi pro tal do Stephen, o jornalista. Os comentários são por minha conta.

Stephen questiona a eficácia do socialismo frente aos problemas econômicos da Venezuela. Chávez retruca: “eu acredito que mais problemas tenha a Inglaterra; e Espanha (ri); e em toda a Europa. É um desastre! Mais problemas há nos Estados Unidos do que aqui. Aqui temos um crescimento econômico de 7,8% do PIB nos últimos anos, para te dar um exemplo”.

‎(MAIS NA FRENTE) “Eu também acreditei na “Terceira Via”. É uma farsa! Eu pensei que era possível pôr uma ‘face humana’ no capitalismo. Mas me dei conta de que não. Estava equivocado. Em um sistema capitalista é impossível a democracia. Capitalismo é o reino da injustiça e a tirania do mais ricos sobre os mais pobres.”

(CITA ROUSSEAU:) “Between the powerful and the weak all freedom is oppressed”. (CONTINUA) “Por isso o único caminho para salvar o mundo é através do socialismo, o socialismo democrático”. Aqui não é ditadura. Eu sou eleito por três vezes… E quando o rico me tirou num golpe de estado, o povo me trouxe de volta ao poder. Eu sou um democrata. Governo com a legitimidade que me dá a maioria do povo. Esta é a palavra-chave: democracia, poder do povo.” (E CITA LINCOLN:) “é o poder do povo, pelo povo e para o povo”.

Stephen questiona se com a saída de Bush a relação da Venezuela com os EUA melhorou. Chávez responde: “eu espero que Obama se dedique a governar os Estados Unidos e esqueça suas pretensões imperialistas de controlar o mundo… Aqui na América Latina, na Colombia, estão instalando sete bases militares norteamericanas e este é um dos sinais muito negativos que Obama lançou logo no início de seu mandato…”

‎(MAIS NA FRENTE) “Bush decidiu em seu último ano de governo reativar a “Quarta Frota” para operar na América Latina, ameaçando, inclusive, incursionar em rios latinoamericanos. Agora, Obama devia ter suspendido isso. Do contrário, são sete bases militares só na Colombia. Se preparando para o quê? Para a guerra? Para dominar o continente latinoamericano?”

(QUESTIONADO SOBRE A RELAÇÃO COM O IRÃ) “Venezuela é um país livre e soberano para ter a relação política, diplomática, econômica com o país que a Venezuela quiser. E felizmente isto está ocorrendo hoje na maior parte dos países da América Latina e do Caribe. Por exemplo o Brasil, que também tem excelentes relações com o Irã e muitos outros países da AL. Não aceitamos ser uma colônia de ninguém, somos livres.”

Num dos melhores momentos de toda a entrevista, Stephen pergunta sobre o ex-ministro da defesa na Venezuela, Raúl Baduel, o fato d’ele ter sido amigo de Chávez por muito tempo, depois preso e contrário a ele. Chávez dispara: “Eu acho que você não sabe nada do que está dizendo. Acho que você não tem estudado bem a situação que estamos vivendo aqui. Desculpe, Stephen, você está falando sobre um corrupto. Cite qualquer outro exemplo menos este. Você não está aqui para defender a corrupção, certo? (ri!) A BBC em Londres defende a corrupção? Você defende a corrupção na Inglaterra? Onde estão as pessoas corruptas na Inglaterra? Você as ataca ou as defende?”

Stephen pergunta também sobre a hostilidade na relação da Venezuela com alguns países vizinhos. Chávez nocauteia again: “Bem, são conjunturas. São eventos… Na Europa, quantos problemas não há entre vocês, europeus? Havendo guerras e sendo destroçados ingleses e franceses, invadindo um povo e outro, sendo bombardeados, os alemães…? A história da Europa é uma história violenta. E de sangue e de morte. Que história essa que vocês têm! A nossa é uma história distinta. Somos um mundo colonizado que tem despertado agora.”

(CHEGANDO AO FIM) “Tudo que eu tenho de vida eu vou dedicar à revolução pacífica da Venezuela.” (CITA CHURCHILL:) “Sangue, suor e lágrimas”, fazendo referência ao estado em que pegou o país. (DEPOIS JIMMY CARTER:) “É o mais transparente do mundo”, se referindo ao sistema democrático venezuelano. (FINALIZA) “E digo mais, eu me habilito a ocupar qualquer papel que a revolução exija de mim. Desde presidente até professor de escola primária. Eu sou filho de uma revolução.”

Chávez e a Fox News

Repórter da FOX NEWS, leia-se, parte do império midiático de RUPERT MURDOCH (decorem esse nome), questiona Chávez quanto a sua amizade com Armadinejad. Chávez descasca: “Você de onde é?… Sabe como chamamos o pessoal da Fox News? Os estúpidos da Fox News! Você me pergunta sobre as mortes no Irã… e você, não tem visto as imagens do Iraque? Não tem visto como matam os soldados, as crianças… Você tem visto? Você tem visto isso? Você tem visto que teu canal de televisão tem tapado esse crime? Você não disse nada sobre o presidente que é um genocida, George Bush, que estão a apoiar. E estão criticando Obama porque ele é negro. Sua mente está cheia de veneno. Você não disse nada sobre o assassinato em Iraque, no Afeganistão e na América Latina… e não disse nada sobre o genocídio dos índios da América Latina. Vocês ocultam! Digam a verdade ao mundo. Eu sou amigo de meus amigos, mais nada.”



Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/hay-una-demonizacion-de-chavez

Wikileaks: documentos revelam que Itamaraty é considerado inimigo da política dos EUA

Opera Mundi 30 de novembro de 2010 às 11:29h

Mensagens confidenciais reveladas pelo grupo ativista Wikileaks, mostram que o governo norte-americano considera o MRE (Ministério das Relações Exteriores) do Brasil um adversário que adota uma “inclinação antinorte-americana”. Os telegramas foram divulgados no Brasil pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (30/11).

Os telegramas também mostram que, para os EUA, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é um aliado, em contraposição ao Itamaraty. Jobim, que continuará no cargo durante o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, é elogiado e descrito como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”.

Em documento enviado no dia 25 de janeiro de 2008, o então embaixador norte-americano em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço com Jobim dias antes. No encontro, o ministro brasileiro teria contribuido para reforçar a imagem negativa do MRE frente aos norte-americanos.

Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim mencionou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães. Segundo o relato de Sobel, “Jobim disse que Guimarães ‘odeia os EUA’ e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]“.

Já em memorando datado de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos EUA. Ao tratar sobre essa visita, realizada entre 18 e 21 de março de 2008, os EUA afirmaram que “embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema”.

Combate ao terrorismo

Outros telegramas enviados pela embaixada dos EUA em Brasília para Washington revelam que, embora o governo brasileiro sempre tenha negado a existência de atividades terroristas no país, a polícia federal e a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) seguem recomendações do serviço de inteligência norte-americano para realizar operações de combate ao terrorismo no país desde 2005.

“A Polícia Federal frequentemente prende indivíduos ligados ao terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não relacionados a terrorismo para não chamar a atenção da imprensa e dos altos escalões do governo”, segundo mensagem enviada por Sobel em janeiro de 2008.

De acordo com o relatório enviado a Washington, o general Armando Félix diz ser importante que as operações de anti-terrorismo sejam “maquiadas” para não afetar negativamente a “orgulhosa” e “bem-sucedida” comunidade árabe no Brasil, presente principalmente na Tríplice Fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina.

“A sensibilidade ao assunto resulta em parte do medo da estigmatização da grande comunidade islâmica no Brasil ou de que haja prejuízo para a imagem da região como destino turístico. Também é uma postura pública que visa evitar associação à guerra ao terror dos EUA, vista como demasiado agressiva”, afirmou Sobel, que ocupou o cargo de embaixador entre 2006 e 2010.

Pouco antes, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional havia agradecido o apoio dos EUA por meio do RMAS (Regional Movement Alert System), sistema que detecta passaportes inválidos, perdidos ou falsificados. A partir de informações do RMAS, a ABIN e a PF estariam monitorando “indivíduos de interesse” no país.

“Além das operações conjuntas, o governo brasileiro também está pedindo que filhos de árabes, muitos deles empresários de sucesso, vigiem árabes que possam ser influenciados por extremistas ou grupos terroristas”, diz o relato. Para Félix, é de total interesse da comunidade “manter potenciais extremistas na linha”, evitando assim chamar a atenção mundial para os árabes brasileiros.

Segundo o telegrama enviado pelo ex-embaixador Sobel em 8 de janeiro de 2008, a preocupação em não admitir atividades suspeitas de terrorismo seria maior ainda dentro do MRE que, assim como o governo brasileiro, considera o partido libanês Hezbollah e o palestino Hamas partidos legítimos, e não terroristas. Por isso, disse ele, o Brasil participa “relutantemente” das reuniões anuais sobre segurança que reúne diplomatas, oficiais de segurança e inteligência da Argentina, Paraguai e Brasil com os EUA para discutir segurança na fronteira.



Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/wikileaks-documentos-revelam-que-itamaraty-e-considerado-inimigo-da-politica-dos-eua

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

América Latina deve se preparar para crise mundial prolongada

Seminário internacional sobre o projeto do Banco do Sul, convocado pela presidência da República do Paraguai terminou com prognósticos compartilhados com relação ao fato de estarmos transitando em meio a "uma crise mundial prolongada" e advertência sobre o fato de que a "América Latina tem uma grande oportunidade", mas ficará em uma situação de "tremenda vulnerabilidade" se não tomar as precauções necessárias a tempo. Encontro também defendeu necessidade da participação dos movimentos sociais na defesa e na implementação do Banco do Sul .

Publicado originalmente em português no IHU-Unisinos

Com prognósticos compartilhados com relação ao fato de estarmos transitando em meio a "uma crise mundial prolongada" e advertência sobre o fato de que a "América Latina tem uma grande oportunidade", mas ficará em uma situação de "tremenda vulnerabilidade" se não tomar as precauções necessárias a tempo, terminou quinta-feira o seminário sobre o projeto Banco do Sul, convocado pela presidência da República do Paraguai.

Pedro Páez, ex-ministro coordenador de Políticas Econômicas do Equador, e Felisa Miceli, ex-ministra de Economia de Néstor Kirchner, foram os encarregados, respectivamente, do primeiro e último discurso da jornada. "Passaram-se seis anos desde que foram assinados os primeiros acordos para o Banco do Sul e, apesar de que ele já ter a sua ata fundacional, a sua capital e sua sede definidas e a colocação em funcionamento do Conselho de Administração, ele ainda não consegue ser uma realidade. Sem a pressão e o acompanhamento da sociedade, é impossível que os governos realizem esses projetos", destacou Miceli, responsável ainda do Centro de Estudos e Monitoramento de Políticas Públicas da Universidade das Mães da Praça de Maio.

A necessidade da participação dos movimentos sociais na defesa e na implementação de projetos como o Banco do Sul foi um dos eixos das intervenções da tarde no encontro de Assunção. Sua instalação como novo ator político na crise do neoliberalismo, como resposta a necessidades não satisfeitas pelo mercado, foi mencionada em várias intervenções.

Desempregados, comunidades aborígenes, agricultores, operários de empresas recuperadas, grupos microempreendedores e outras formas de organização social com experiências diversas e o papel que lhes cabe em uma nova construção política foram algumas das questões de debate entre os acadêmicos, profissionais e funcionários que participaram desse fórum.

Páez, um dos articuladores e projetista da proposta do Banco do Sul, traçou um quadro cru da crise mundial e de seu provável prolongamento e desenlace. "Não é uma crise financeira que se torna uma crise econômica. Também não é uma crise por corrupção de alguns banqueiros, nem produtos do ciclo endógeno de autodepuração do sistema: é uma crise do regime de acumulação, dos eixos fundamentais da economia atual, dos critérios de rentabilidade e de eficiência. Não é apenas uma crise das políticas neoliberais", assinalou o economista equatoriano, colaborador próximo do presidente do seu país, Rafael Correa.

Em seu diagnóstico, Páez deixou claro que as condições estão dadas para que haja impactos sobre a economia mundial mais graves do que os acontecidos em 2008. "Está desatada uma disputa pela hegemonia, na qual o eixo anglo-saxônico (Estados Unidos e Grã-Bretanha, defensores do dólar como moeda forte) está ferido de morte e, como não pode se recuperar, fará todo o possível para que os demais fiquem piores do que ele", assinalou. Ele defendeu que "o ataque especulativo lançado contra a Europa (e à sua moeda, o euro) entre maio e junho" foi uma demonstração dessa disputa. Ataque do qual resultaram, como resposta para defender o euro, as políticas de ajuste na Grécia, na Espanha, na França e agora na Irlanda.

O economista equatoriano também prognosticou novas bolhas financeiras produzidas pelas apostas especulativas que continuam sendo o fato dominante do sistema financeiro. "Das hipotecas subprime (sobre dívidas de propriedade de alto risco de inadimplência) passou, nos Estados Unidos, às prime e às dívidas soberanas (de países). A superacumulação de capital pela alta concentração continua buscando opções de rentabilidade das bolhas especulativas", assinalou Páez.

Felisa Miceli concordou no diagnóstico. "Quem está por trás das compras de hipotecas?", perguntou-se, para responder imediatamente: "As megacorporações emparentadas aos fundos de investimento. A crise tornou-se em uma maior concentração de recursos, que essa elite empresarial vai continuar derivando ao mercado financeiro. O aparecimento de bolhas financeiras vai ser recorrente. Um cenário muito escuro nos espera".

Ambos coincidiram na imperiosa necessidade de uma nova arquitetura financeira para a região, que permita blindar as economias latino-americanas e promova a integração. "O primeiro instrumento é o Banco do Sul, que não há razões para que não esteja funcionando", apontou Miceli.

Páez afirmou que uma nova arquitetura financeira, com um banco de desenvolvimento regional como primeiro passo, não é suficiente para libertar a região das consequências da crise, mas é uma condição "necessária" frente ao atual marco internacional. Lembrou também a proposta de um sistema de compensação de pagamentos recíprocos que liberte a região da dependência do dólar, mediante uma moeda comum "que não reproduza os defeitos do euro".

Mediante essa moeda, disse, deveria se fixar o valor dos produtos que socialmente se considere benéfico amparar. "Os preços internacionais de hoje não são os corretos, estão distorcidos pela especulação e os subsídios. Qual é o sinal que pode receber um produtor latino-americano para orientar sua produção a partir dessas cotizações? Ele pode tomar decisões de produção eficientes? Em favor do interesse de quem? Assuntos tão delicados como a produção de alimentos ficam subordinados aos vai-véns especulativos. É uma situação tremendamente frágil e implica em uma alta vulnerabilidade para nossas economias se permanecermos atados a ela", expôs o economista equatoriano.

A proposta do Banco do Sul fixa como objetivos a soberania alimentar, energética e de saúde, como áreas prioritárias para financiar e sobre as quais construir um novo modelo de desenvolvimento. Mas Felisa Miceli acrescentou que a América Latina deve assumir "um duplo desafio de integração, entre países desiguais, mas também atendendo as assimetrias internas". Ela assinalou o conflito de países como a Argentina, que, pelo Mercosul, deve atender as assimetrias com o Paraguai e o Uruguai, mas, quando o propõe, recebe a reclamação das províncias do Norte com situações sociais semelhantes às dos países vizinhos. "Se não conseguirmos gerar espaços complementares, é difícil que a soberania seja vista em termos concretos", advertiu

(*) Tradução IHU, de Moisés Sbardelotto



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17222

Ministro faz balanço sobre educação e diz que promessas foram cumpridas

Ao fazer um balanço das ações no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou hoje (29) que não há uma área na pasta que deixou de ser aprimorada nos últimos oito anos. “São mais de 100 atos normativos. Nós praticamente redigimos uma nova Constituição. Todo o capítulo da educação foi reescrito”, disse.

Haddad citou o que considera uma coleção de indicadores importantes para a educação do ponto de vista quantitativo e qualitativo, como a ampliação de universidades federais, de campi, de escolas técnicas e da frota escolar.

O ministro citou ainda as definições sobre o piso salarial dos professores e as melhorias na merenda escolar. “Nenhuma promessa deixou de ser cumprida”, afirmou.

Para Haddad, a decisão do governo de triplicar o orçamento da educação foi fundamental. “Quero crer que os próximos dez anos serão ainda melhores do que os últimos dez anos. Não há um único indicador que tenha sofrido qualquer retrocesso, ao contrário de décadas passadas. Conseguimos compatibilizar quantidade e qualidade”, concluiu.

Agência Brasil


Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/governo-lula-10/ministro-faz-balanco-sobre-educacao-e-diz-que-promessas-foram-cumpridas-31881.html

PT deve liderar processo de transformação e aprofundar debate político ideológico

O PT terá papel central no aprofundamento do projeto de país iniciado no governo Lula e que continua a partir de 2011, com a presidente eleita Dilma Rousseff. Essa foi uma das principais conclusões do 2º Seminário Nacional da chapa O Partido que Muda o Brasil (PMB), encerrado neste sábado (27) em Guarulhos, São Paulo.

Entre as tarefas que cabem ao PT, na avaliação dos participantes, estão o combate à onda conservadora desencadeada pela direita durante a campanha eleitoral; a ampliação do debate ideológico junto à sociedade; a formulação de políticas que garantam a continuidade do crescimento com distribuição de renda; a elaboração de um sistema tributário mais justo e eficiente; a articulação de uma reforma que fortaleça os partidos, reduza o financiamento privado e ponha fim à judicialização da política; a realização de programas que atendam às necessidades das novas classes médias; e atenção especial para áreas como saúde, educação, segurança pública e Juventude.

Mais de 200 dirigentes nacionais, parlamentares e governantes petistas participaram do evento, que também contou com a presença de integrantes de outras correntes partidárias, como a Democracia Socialista, a Articulação de Esquerda e o Movimento PT.

O seminário começou na sexta-feira (26), com uma mesa de Conjuntura Política formada por José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT; Carlos Árabe, secretário nacional de Formação Política; e Iole Ilíada, integrante do Diretório Nacional.

Na mesa seguinte, sobre Conjuntura Econômica Nacional e Internacional, falaram Márcio Pochmann, presidente do IPEA; Nelson Barbosa Filho, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda; e Ricardo Berzoini, deputado federal.

No sábado (27) de manhã, os participantes assistiram a uma palestra da professora Tânia Bacelar, que fez uma explanação sobre Desenvolvimento Regional, mostrando com o conjunto de políticas públicas do governo Lula vem provocando mudanças sociais, econômicas e demográficas no mapa do Brasil.

Ela reuniu vários estudos, dados e gráficos que apontam, pela primeira vez na História do Brasil, para um maior equilíbrio entre as condições que permitam o desenvolvimento das cinco regiões do país.

Para ver a apresentação, clique aqui.

Por fim, uma última mesa discutiu as Perspectivas Eleitorais para 2012.

O seminário dará origem a uma publicação com a transcrição das intervenções de todos os debatedores.

www.construindoumnovobrasil.com.br



Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/institucional-3/pt-deve-liderar-processo-de-transformacao-e-aprofundar-debate-politico-ideologico-31781.html

Classe D já é o dobro da A nas universidades

Em 2009 os alunos do estrato social mais pobre eram cinco vezes mais que em 2002


A classe D já passou a classe A no número total de estudantes universidades brasileiras públicas e privadas. Em 2002, havia 180 mil alunos da classe D no ensino superior. Sete anos depois, em 2009, eles eram quase cinco vezes mais e somavam 887,4 mil.

Em contrapartida, o total de universitários mais ricos caiu pela metade no período, de 885,6 mil para 423, 4 mil. Os dados fazem parte de um estudo do instituto Data Popular. Renato Meirelles, responsável pela pesquisa diz que essa é a primeira geração de universitários desta classe sócioeconômica.

- Cerca de 100 mil estudantes da classe D ingressaram a cada ano nas faculdades brasileiras entre 2002 e 2009, e hoje temos a primeira geração de universitários desse estrato social.

Essa mudança de perfil deve, segundo ele, ter impactos no mercado de consumo a médio prazo. Com maior nível de escolaridade, essa população, que é a grande massa consumidora do país, deve se tornar mais exigente na hora de ir às compras.

O estudo, feito a partir dos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE (do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela também que as classes C e D atualmente respondem por 72,4% dos estudantes universitários. Em 2002, a participação dos estudantes desses dois estratos sociais somavam 45,3%.

São considerados estudantes de classe D aqueles com renda mensal familiar entre um e três salários mínimos (de R$ 510 a R$ 1.530). Os estudantes da classe C têm rendimento familiar entre três e dez salários mínimos. Já na classe A, a renda está acima de 20 salários mínimos (R$ 10.200).



Fonte: http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/classe-d-ja-e-o-dobro-da-a-nas-universidades-20101129.html

OTAN, EUA e o escudo nuclear: o espaço da hegemonia

OTAN, EUA e o escudo nuclear: o espaço da hegemonia



No caso do escudo antimisseis, observa-se a mudança mais significativa da administração Obama: a promessa da retomada da construção e instalação do escudo, com implicações óbvias para os arsenais chinês e russo, e não só para as ameaças “oficiais” iraniana, norte-coreana e mesmo de terroristas que poderiam obter armas ilegalmente. Em março/abril, Obama e Medvedev tinham chegado a um acordo para a suspensão da instalação, devido ao interesse norte-americano em contar com o apoio russo às sanções contra o programa nuclear iraniano. No entanto, o rechaço à suspensão do escudo, na OTAN e em casa, levou ao anúncio da reativação do projeto. O artigo é de Cristina Soreranu Pecequilo
.

*Cristina Soreanu Pecequilo



Em meio às turbulências externas e internas da economia e da política norte-americanas, a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) realizada em Lisboa nos dias 19 e 20 de novembro de 2010, e a reunião do Conselho OTAN-Rússia, representaram uma inflexão para a administração de Barack Obama. Três dimensões puderam ser identificadas nestes eventos: o lançamento de novas diretrizes estratégicas; a tentativa de dar continuidade a políticas de 2009/2010 e o atendimento de demandas republicanas.

Sem sucesso, Obama e diversos líderes europeus utilizaram o evento como cortina de fumaça frente os problemas econômicos e para manter seus compromissos na OTAN, em particular a Guerra do Afeganistão, cujo custo doméstico é elevado. Para isso, as “grandes” questões temáticas da Cúpula, o lançamento do “Novo Conceito Estratégico da OTAN” e do “Novo Conselho OTAN-Rússia”, buscaram ser definidas como históricas.

Entretanto, estas abordagens não trouxeram novidades. Tomando como base o “Novo Conceito Estratégico”, observou-se a reafirmação do papel global além do espaço geográfico (operações out of area) e a modernização da aliança.

Tais mecanismos já constavam das revisões anteriores de 1991 e 1999, marcos da transformação da instituição no pós-Guerra Fria. Em 1999, ano da operação militar em Kosovo, foi iniciado o processo de expansão ao Leste Europeu, que, em duas ondas, 1999 e 2002, completou-se. Diferente de outras alianças que simplesmente definharam ao atingir seu objetivo principal, a OTAN reinventou-se a partir do fim da contenção da URSS, ampliando sua missão além de suas fronteiras e seu discurso pró-democracia.

Mesmo os que se declaram isolacionistas ou unilateralistas nos EUA acreditam que a OTAN possui papel relevante. Além de representar a unidade do eixo ocidental, a aliança sustenta-se nesta trajetória de “sucesso”. Mais do que uma organização militar de segurança coletiva, que visava defender-se de um inimigo, desde o tempo da bipolaridade, a instituição foi apresentada como sustentáculo da democracia e do capitalismo na Europa Ocidental, i.e, do modelo liberal contraposto ao socialista-comunista. Militarmente, ela foi, e é, funcional para os interesses dos EUA, mas também europeus ocidentais, apesar das criticas eventuais.

A organização preserva o continente de custos e ônus econômicos e políticos. Mesmo em momentos de maior tensionamento como nos anos 1960 (França) e a Guerra do Iraque em 2002/2003, na qual EUA-Grã-Bretanha e os novos membros da Europa Oriental apóiaram a invasão, enquanto Alemanha e França mantiveram-se no “Eixo da Paz”, chegou-se a uma acomodação. Para o Leste Europeu, ela é a Cortina de Ferro sob outro signo, o da proteção diante do revisionismo russo, e, para as antigas repúblicas soviéticas um alvo almejado, mas que dificilmente será conquistado sem forte reação de Moscou.

Padrão similar observou-se na reunião do Conselho OTAN-Rússia, visando a construção da “Parceria Estratégica”. Em retrospecto, este foi seu terceiro lançamento, antecedido por 1999 e 2002. Em 1999 e 2002, as tentativas fracassaram por ações unilaterais norte-americanas que afastaram a Rússia das negociações, a Guerra de Kosovo e a Guerra do Iraque, respectivamente. No atual contexto o risco é similar, uma vez que os EUA demonstram sinais confusos em alguns compromissos negociados bilateramente. Dentre estes, menciona-se o “novo START”, Tratado de Redução de Armas Estratégicas, assinado em 2010 na cúpula bilateral Obama-Medvedev, que se compromete com a redução significativa de ogivas e de mísseis balísticos intercontinentais; as negociações “rumo ao zero” para o banimento de armas nucleares; e a instalação do escudo antimisseis no continente europeu.

Nestas dinâmicas, inserem-se as dimensões da continuidade (ou não) da agenda e as demandas republicanas. Tanto o “Novo START” quanto o “rumo zero” já sofriam inúmeros questionamentos, uma vez que eram considerados políticas de fraqueza diante dos Estados “bandidos”, Irã e Coréia do Norte. Os dois países continuaram desenvolvendo seus arsenais e a Coréia do Norte detém comprovada capacidade nuclear, mesmo com as pressões da comunidade internacional e as Conversações das Seis Partes (EUA, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Japão, Rússia e China). Ainda para ser votado no Congresso, o novo START pode ser revisto ou bloqueado, prática comum do Senado norte-americano.

No caso do escudo antimisseis, observa-se a mudança mais significativa da administração Obama: a promessa da retomada da construção e instalação do escudo, com implicações óbvias para os arsenais chinês e russo, e não só para as ameaças “oficiais” iraniana, norte-coreana e mesmo de terroristas que poderiam obter armas ilegalmente. Em março/abril, Obama e Medvedev tinham chegado a um acordo para a suspensão da instalação, devido ao interesse norte-americano em contar com o apoio russo às sanções contra o programa nuclear iraniano no CSONU. O impasse, contudo, permanece, contando com a resistência da China, e o pendor unilateral dos EUA no tema. Mesmo a Turquia, membro da OTAN, que negociou com o Brasil o Acordo Tripartite com o Irã, foi criticada por sua iniciativa de apaziguamento.

O rechaço à suspensão do escudo, na OTAN e em casa, levou ao anúncio da reativação do projeto. Apesar da Rússia negar que isso levaria a tensões renovadas, mantendo a pauta do presente Conselho OTAN-Rússia é preciso observar como o tema afetará as relações bilaterais de forma abrangente. A postura russa é de pragmatismo, consciente da impossibilidade de confrontar os EUA e a OTAN, mas preparado para a consolidação de alternativas via Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Embora para os democratas o escudo não seja central, tendo sido abandonado pelo governo de Bill Clinton (1993/2000), para os republicanos sua prioridade é alta desde seu surgimento na Guerra Fria com Ronald Reagan (1981/1988), na forma da Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), conhecida como “Guerra nas Estrelas”. Para muitos, foi a sombra do IDE um dos principais responsáveis pela aceleração do colapso soviético. A administração W. Bush (2001/2008) recuperara o programa como Teatro de Defesa de Mísseis (TMD). Nos cálculos da Casa Branca, ceder ao TMD envolve a aproximação com os republicanos para a aprovação do pendente START e para a continuidade da missão no Afeganistão desenhada pela Casa Branca: a ofensiva em 2010, o início do desengajamento em 2011 e o término do conflito em 2014. Resta aguardar se estas “trocas” políticas terão o efeito desejado, ou se no setor estratégico observar-se-á um recrudescimento do unilateralismo.

Mais importante do que estas táticas compensatórias, é a contínua percepção de que entre as instituições multilaterais, a OTAN continua sendo um dos poucos consensos remanescentes na agenda externa e espaço preferencial do exercício da hegemonia. Enquanto em outras esferas político-econômicas-sociais a projeção da liderança encontra-se limitada por seu declínio relativo, a ascensão de novos pólos e perda de vigor, na aliança transatlântica prevalece o poder militar norte-americano, sem diluição e sem, na maioria das vezes, contestação.

(*) Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17209

"A Guerra do Rio – A farsa e a geopolítica do crime"


José Cláudio Souza Alves. Seropédica, 25/11/2010

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônica na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo adan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farça da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado finaneiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem."